Soul escrita por Writer


Capítulo 30
Em algum lugar do passado


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos seguidos pra vocês, espero ter uma resposta por isso ein.



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O ar estava frio, mas eu estava fazendo o máximo pra me aquecer. Eram apenas sete horas da noite, mas as florestas quase sempre eram frias. Estava sentada próxima a uma fogueira e estava com um cobertor feito de pele de animal. Um lobo, eu acho. Estava comendo um pão com manteiga e tomando vinho, para me manter distraída.

Aella estava doida para ir até Tebas dançar e ver os homens bonitos que sempre ficavam nos nossos pés. Como sempre. Estava ocorrendo uma festa lá, em honra a Deméter, Perséfone, Ártemis e Dionísio. Em agradecimento ao bom mês de sustento que tiveram, eu acho.

As pessoas sabiam quem éramos, a conexão que tínhamos com Hécate e ou outros deuses. Algumas nos temiam, outras adoravam. Mas havia uma pequena parcela que nos tratava como se fôssemos pessoas normais, o que era a melhor forma de tratamento que podíamos receber, na minha opinião.

Mas Korinna, não queria nem sair da tenda. O que não era muito normal. Ela gostava de sair bastante.

Aella saiu da tenda de Hécate, e antes que dissesse algo, já sabia o que ia dizer. Ela estava feliz e saltitante. Praguejei.

–A deusa nos deixou ir ao festival. - Ela anunciou e eu bufei. Já sabia aonde a conversa ia dar.

–Mas eu não estou a fim de ir.

–Você tem que ir. Não posso ir sozinha. E você sabe que vai ser legal.

–Ter gente nos pedindo coisas sem o total sentido, não é legal. Ter gente sempre nos sufocando.

–Você odeia pessoas, não é uma boa opinião para nada!

–Eu gosto de nós todas! - Protestei.

–Nós não somos pessoas normais.

–Eu só não gosto de ser sempre perseguida! Não gosto que me tratem como porcelana. Eu sei lutar melhor do que a maioria daqueles homens que se acham superiores apenas por terem um aparelho reprodutor maior.

–Aimée! - Aella me repreendeu.

–Mas é verdade!

Nós estávamos em um impasse, ela brava comigo e eu brava com ela. Ela cruzou os braços e me encarou.

–Aquele príncipe de Tebas vai estar lá. - Ela murmurou, tentando me convencer. - E terá comida, vinho. Música e dança. Talvez até consiga mostrar àqueles homens que é melhor que eles.

–O festival é em Tebas. É claro que Nicteu vai estar lá.

Fechei os olhos e respirei fundo, como sempre fazia quando estava estressada com algo.

–Você não vai desistir, não é? - Perguntei ainda com os olhos fechados.

–Não, você me conhece.

–Ótimo, eu vou.

Aella tentou convencer Korinna a se juntar a elas, mas ela disse que estava com dor de cabeça. O que é uma desculpa estranha por que nós não ficávamos adoecidas.

Me arrumei para a festa, coisa que eu gostava mais de fazer do que ir a festa em si. Usei um vestido longo de algodão, decotado e aberto nas costas. Aella usava um parecido, apenas de cor diferente. O dela era vermelho e o meu azul escuro, quase preto. O que seria uma cor quase que de mal gosto, se eu não fosse quem eu era.

Coloquei um colar pesado, dourado e vários anéis. Usei meu cabelo solto, com apenas os cantos presos uma fivela e os cachos estavam pesados e definidos nas pontas.

Haviam certos privilégios que você ganhava ao ser considerada divindade.

Nós voamos, por grande parte do trajeto. Por nós três sermos filhas de Tânatos, possuíamos asas como ele. O que facilitava muito, por que chegamos à cidade na metade do tempo que levaríamos se estivéssemos andando.

A festa estava como a maioria das que eu já havia visto. Mulheres dançando, metade dos homens sendo nojentos e a outra dançando com as mulheres. O cheiro das carnes assadas estava no ar, assim como vinho.

Pousamos fora da cidade e completamos o resto do caminho a pé. Não iríamos chamar mais atenção do que o normal.

No pequeno trajeto na floresta encontramos um casal, unindo sua carne. Senti nojo, pois alguns faziam aquilo por que era dito que os deuses gostavam daquilo. Na verdade eles faziam por benefício próprio, não pelos deuses. E também, grande parte dos deuses não gostava daquilo.

Há muito mais beleza na pureza, Hécate havia nos ensinado.

Olhei para Aella, em busca de uma concordância e eu só vi sua expressão furiosa. Ela também não gostava desse tipo de coisa.

Chegamos na cidade, e seguimos até onde imaginamos que seria a comemoração. A cidade estava bem movimentada, apesar do horário. Passamos pela rua principal com várias pessoas nos estudando, algumas chocadas e outras com medo.

Fomos até a grande plantação, perto do castelo do rei, onde imaginamos que iria ser o festival. E acertamos.

Chamamos atenção da mesma forma que sempre ocorreu. Eles podiam dizer quem éramos apenas ao nos olhar, na verdade podiam dizer quem eram as pessoas ali apenas por olhar. A roupa dizia um pouco, se o tecido for fino ou não, se a cor era forte ou não. Também havia o ouro. Quase ninguém possuía no total, o tanto de joias que estávamos apenas naquela noite. O perfume e os cabelos também contavam muita coisa.

E também havia algo marcante sobre nós, Espectros de Hécate. Nós possuíamos cabelos pretos e pesados, todas nós. Pele muito clara, comparado a todo mundo que morava ali. Haviam os olhos, todas as três partilhavamos olhos azul gelo. E haviam também as marcas nas costas.

Para não andar sempre com asas arrastando por ai, e chamando mais atenção que o normal, nós conseguíamos ocultar elas. Mas uma coisa que está ali, sempre vai estar ali. Não importa a forma em que se faça presente. No nosso caso, ganhávamos marcas. Arabescos delicados desenhados em preto, que muitas vezes deixávamos à mostra, por causa das costas do vestido. Como hoje.

As pessoas que nos viram primeiro, cutucaram umas às outras. Falando sobre nós.

O lugar em que estávamos era um campo aberto com algumas pedras grandes, cheios de tendas espalhadas e uma fogueira grande no centro onde eram assadas as carnes. Haviam pessoas de todo tipo, o que era raro de se ver.

A música estava tocando, e fiquei feliz de que eles tiveram a decência de não parar quando chegamos. Era sempre grosseiro quando faziam isso.

Como resposta à nossa presença o fogo se tornou mais forte, devido a ser o domínio de Aella, e as cores ficaram mais vívidas.

Com um pouco de relutância, me separei de Aella e ambas nos misturamos, como se isso fosse realmente possível. Conversei com várias pessoas, tomei vinho o suficiente para fazer um homem adulto ficar extremamente bêbado. Mas não fazia efeito algum em mim.

Pessoas me bajularam. Não disfarcei minha falta de interesse no que me falavam, mas também não os incentivei a pararem de falar.

Me afastei e fui em direção às bebidas e me serviram com um pouco de vinho. Uma mulher veio até mim. Ao dar uma olhada com um pouco de atenção vi que era a rainha, mãe de Nicteu. Ela usava um vestido marrom, de tecidos não tão finos como o meu. Em uma mão portava um anel em cada dedo. Estava sendo seguida por várias servas, mas ela as dispensou ao se aproximar de mim.

–Eu darei a você a mão do meu filho, se me fizer um favor. - Espera. O que? A encarei com a expressão em branco, mas mesmo assim a dei atenção.

–Me conte mais.

Ela apontou para uma área elevada no terreno designada para se sentar, com um tapete no chão cheio de almofadas. Eu segui para lá com ela no meu encalço, pensando em que infernos ela queria de mim.

No segundo em que nos sentamos ali, ela começou a falar.

–Meu marido tem muitas concubinas. - Isso estava longe de ser novidade para mim. Ele havia tentado me adicionar na sua coleção. - Ele sabe que isso me incomoda extremamente, mesmo com eu sendo, segundo ele, muito amada. Um dia, tivemos uma briga. Então ele disse que só iria largá-las, se todas morressem. Pelo contrário, ele iria mantê-las.

Eu já havia entendido onde ela queria chegar mas deixei que continuasse mesmo assim.

–Então, o que eu sugiro é o seguinte. Se você matá-las, todas elas, não importa a forma que faça, eu a deixo casar com meu filho. - Ela diz como se eu casar com o filho dela, fosse algo que dependesse apenas dela. Ela me encara com expectativa, enquanto eu respiro fundo antes de perder a paciência.

–Rainha mortal, - A provoco, porque até onde eu saiba, isso irrita muito os mortais. Lembrá-los de sua mortalidade. E irritá-la é o que eu quero fazer. - você ao menos sabe que divindade eu sou?

–Obviamente. Você é a Adaga, o Cão de Hécate. É a detentora da Lua, mas também tem afinidade com a morte.

–Todas nós três, temos. - Comentei, antes que pedisse que ela continuasse.

–Eu poderia pedir para uma das outras Espectros. Mas como você ama meu filho, decidi fazer uma troca.

–Ótimo. Você sabia que Hécate é uma das protetoras do lar? Ainda mais das mulheres. - A Rainha empalideceu ao ver a fúria surgindo. - Como de efeito, eu também tomei um pouco disso. Então, está pedindo para uma das protetoras das próprias mulheres, matar cerca de sessenta concubinas a sangue frio. E em troca de que? Um homem, que eu não amo e muito menos preciso para viver. Se eu quisesse mesmo casar com ele, eu o tomaria como esposo mais facilmente do que você consegue dormir com seu marido, aparentemente.

Ela estava furiosa e assustada. Uma mistura estranha devido ao fato de ela geralmente não aparentar nenhuma nessas reações.

–Como ousa? - Ela gritou, chamando atenção de grande parte da festa, para nós.

–Não, como você ousa? - Respondi em um tom de voz mais forte que o dela, impondo mais poder. - Você, ousa fazer um trato com uma divindade sem ao menos saber sobre ela! - Eu odiava ter que frisar o fato que eu era uma divindade. Mas haviam situações que eram necessárias. - Você, me toma como uma mulher fraca que pode ser facilmente dobrada. Eu poderia te amaldiçoar a ser uma escrava da Lua, se transformar em um dos meus cães todas as noites ou quando ela se fizer mais presente!

Ela gritou pelos guardas, naturalmente. Antes que eles se aproximassem demais, ergui uma parte do meu vestido e peguei uma adaga que estava presa em minha perna. Era feita de ouro imperial, bronze celestial e ferro do estige. Cada parte da lâmina de um metal, indo como listras do cabo até a ponta.

Coloquei a adaga em seu queixo, com a ponta afiada pressionando contra a parte de baixo de sua cabeça. Apertei o suficiente até eu ver ela fazer uma careta de dor e uma fina linha de sangue escorrer pela lâmina. Os guardas pararam onde estavam.

Me coloquei de pé, não movendo um músculo do braço que segurava a lâmina longa e afiada.

–Você me enoja. Não é digna da posição que possui.

Sem precisar de muito esforço liberei as asas das minhas costas, ouvindo as pessoas que assistiam a cena arfarem de surpresa. Apertei mais a adaga em seu queixo, aumentando um pouco o corte. Então, retirei ela dali e a guardei na maior velocidade que pude. Apontei pra ela e vi minhas mãos tomarem um tom preto, sendo dominada pelas veias pretas que apareciam quando eu usava magia de morte. Mas também havia uma aura arroxeada em volta delas, indicando também o uso de magia. Simplificando, eu estava usando de dois poderes diferentes para criar uma maldição de morte.

Os lábios da Rainha tremiam de medo, quando ela se pôs para falar.

–Por favor, eu imploro. Não faça isso. - Eu deveria ser misericordiosa. De verdade. Mas ela simplesmente não merecia. Ela era uma pessoa extremamente má, não era a primeira vez que eu presenciava algo do tipo. Ela havia ordenado a morte de uma série de animais, por não gostar deles. Esse é apenas um dos exemplos. - Eu serei melhor. Você não defende as mulheres?

–Mulheres sim, não monstros. Pessoas não mudam.

–Se você me matar, vai criar uma guerra.

Coloquei a mão em sua garganta e apertei um pouco. Ela estava em pânico tentando tirar as minhas mãos, mas como geralmente acontecia, ela se queimou ao toque. Minha mão se tornava mais fria que gelo, literalmente.

Então eu a amaldiçoei, falando um feitiço simples que faria com que ela, novamente no sentido literal, fizesse mal a tudo que tocasse. Seja fazer com que a coisa ou pessoa em si morra ou seja fazer sofrer muito.

Quando acabou o silêncio era total. A música até havia parado, e eu podia ouvir apenas os sussurros distantes das pessoas. Eu não fazia ideia de onde Aella estava, mas provavelmente ficaria brava comigo.

Me afastei da rainha e ao tirar a mão de seu pescoço, havia um queimado já com coloração negra e ela estava paralisada. Isso já não era culpa minha. Dei uns passos para trás e, cansada de ter que aguentar aquela atenção deles, estendi minhas asas e levantei vôo.

Ao chegar no acampamento, eu estava cansada e irritada. A noite foi muito menos do que produtiva.

A fogueira estava apagada, mas havia luz dentro da cabana de Korinna. Caminhei até lá no escuro com cuidado para não tropeçar em algum galho ou sei lá, mas ao chegar lá e entrar, não havia ninguém.

Vasculhei pelos cantos, para ver se estava tudo bem e não vi nada errado. A cama estava levemente bagunçada, a mesa que ficava no canto da tenda estava com livros abertos e jogados e as roupas estavam arrumadas em um canto. Nada estava errado, exceto pelo silêncio mórbido.

Sai dali e fui para a tenda que dividia com Aella. Me despi de tudo que estava usando e coloquei um par de calças largas de tecido com uma blusa confortável, ambos provavelmente eram masculinos mas para mim, serviam como pijamas maravilhosos.

A sensação ruim começou antes de eu ao menos começar a apagar as luzes que iluminavam a tenda. Era como a sensação de perigo, o coração subitamente para de bater no ritmo normal. Peguei duas adagas que estavam em cima de uma das mesas e me posicionei.

Olhei por todo o lugar em busca de algo, mas não havia nada ou ninguém. Eu estava para guardá-las quando ouvi o som de folhas secas se partindo e depois a entrada da tenda se abriu. Logo o lugar todo se encheu com o perfume de Korinna, Jasmin.

Ataquei a pessoa que entrou, colocando uma adaga na nuca e outra no pescoço. Quando olhei, vi que era Korinna.

–Ah, por Hécate! - Falei surpresa e assustada. Retirei as adagas dali. - Porque está aqui? Porque me assustou assim?

Ela ergueu as mãos em um sinal de rendição. Sua respiração estava rápida e ela usava um pijama igual ao meu.

–Eu só estava preocupada, não quis te assustar.

–Está tudo bem, eu só estava com uma sensação ruim.

–Me parece mais que isso. Onde está Aella? - Ela olhou para os lados em busca de minha irmã.

–Ainda no festival, eu acho.

–Algo aconteceu. O que foi?

Respirei fundo e permiti meus músculos relaxarem um pouco. Korinna não ia me matar nem nada.

Contei a ela a história da rainha e ela ficou tão revoltada quanto eu. Mas ficou relativamente feliz de eu ter a amaldiçoado do jeito que o fiz.

–Ela merece. Até onde eu saiba é uma megera. - Dei uma risada baixa.

Por alguns segundo, analisei Korinna. Ela estava muito mais séria do que o normal. E algo nela me parecia estranho, me dizia que ela não estava ali só para perguntar como eu estava.
–Então... Deseja algo? - Consegui perguntar.

–Sim, quero saber se quer ir lá fora comigo comer um pouco.

–Eu não sei. Comi muito até agora, principalmente no festival.

–Por favor. Então ao menos me faça compania. - Ela fez a melhor expressão dramática que era humanamente possível e eu dei uma risadinha novamente.

–Ok, vou só pegar algo quente pra não morrer ali fora.

–Claro.

Ela saiu da tenda, me deixando para trás. Procurei pelo meu cobertor de pelos e o encontrei em um lugar diferente de onde havia deixado ele. Me lembro muito bem de ter deixado ele na cama, agora estava no chão do outro lado do ambiente. Entrei em estado de alerta.

Examinei-o, em busca de algo diferente. Algo líquido, em pó, ou algo assim. Não achei nada. Fechei os olhos e cheirei, fazendo proveito dos meus sentidos muito mais aguçados durante a noite.

Cheirava ao meu perfume, terra e folhas secas e algo mais doce que meu perfume, difícil de distinguir o que era mas fácil notar que ele estava ali entre os outros aromas. Afastei o cobertor do meu nariz e respirei fundo, limpando um pouco a respiração. Mas o cheiro ainda estava presente.

Franzi o cenho. Cheirei o cobertor de novo, depois respirei o ar da tenda.

Não era qualquer cheiro doce que eu estava sentindo. Era o cheiro de Jasmim de Korinna.

Me afastei e encarei o cobertor, como se esperasse que algo mudasse. Fiz o mesmo umas três vezes seguidas para me convencer de que era mesmo aquele cheiro.

Antes de sair da tenda, me armei. Coloquei uma adaga em cada perna, por baixo da calça, obviamente. Me preparei, por que não fazia a mínima ideia do que iria acontecer.

Sai com passos cautelosos, procurando por Korinna em cantos escuros mas acabei a encontrando sentada diante da fogueira assando alguns pedaços de carne. A cena me parecia tão comum e tão normal para nós, que só serviu para me fazer ficar mais atenta.

–Sente-se comigo. - Ela disse sem ao menos olhar pra mim, para ter a certeza que eu estava mesmo lá.

Caminhei em passos cautelosos, mas não o suficiente para gerar suspeita. Analisei seu corpo em busca de que ela estivesse armada, mas não encontrei nada.

Mas pensando bem, ela não precisa de armas tendo essa magia toda. Pensei, um pouco paranóica.

Me sentei e ficamos em silêncio. Até que eu percebi que o silêncio não estava só entre nós duas, e sim em tudo. A floresta inteira estava quieta. Não havia um grilo, uma corrente de de ar balançando as folhas, o som distante de algum lobo. Era como se tudo estivesse morto.

Me levantei e sai de perto de Korinna, assustada. Esse silêncio mórbido só acontecia quando se estava praticando alguma magia forte.

–Korinna o que você está fazendo?

–O que? - Ela se fez de desentendida por alguns segundos mas ao ver a minha expressão, ela parou. - O que dedurou? Foi o silêncio?

Ela se levantou do tronco em que ambas estávamos sentadas alguns segundos antes e, ao dar um passo em minha direção, eu recuei e saquei as adagas.

–Eu acho que foi o conjunto da obra. - Respondi.

–Sim, sim. Você é uma observadora insuportável, eu estava meio que preocupada com isso.

–O que está fazendo? O que você quer?

–Eu quero te matar, querida Aimée. - Recuei mais alguns passos para longe dela. - Não é que eu quero matar você assim, à sangue frio. Mas eu preciso fazer isso se quiser terminar o que estou fazendo.

Eu gritei por Hécate o mais alto que pude. Depois, recuei mais e me preparei para sair correndo ou voando.

–Ela não está. Foi ao Mundo Inferior. E logo você estará lá.

Ela atacou, suas mãos estavam pretas com uma aura roxa como a minha estava mais cedo. Eu recuei, virei as costas e corri.

Foi uma vantagem enorme eu estar usando calças enquanto corria mata a dentro, até eu me lembrar que ela também estava usando.

Eu não conhecia o terreno, mas corri o mais rápido que pude. Eu podia ouvir ela atrás de mim, o som estando perto até demais. Então eu decidi usar meus domínios como vantagem.

Como sendo o meu animal simbolo, o cão (que na verdade era um lobo, mas estava muito aberto à interpretação), me dava certo controle para me transformar em um. Era natural pra mim, trocar de forma. Não me causava dor em nada e não me dava trabalho.

Então eu o fiz. Me soltei de tudo que me fazia humana e me tornei uma loba e mantive a consciência. A mata se tornou mais nítida, mesmo estando muito escuro. Eu via as coisas em cores desbotadas, quase preto e branco. Mas em compensação, sentia todos os cheiros e ouvia todas as coisas.

Olhei para trás e vi Korinna atrás de mim, bem próxima. Tornei a olhar para frente e fui mais rápido.

Em um minuto, já estava longe dela. E felizmente minha respiração estava controlada por enquanto, diferente dos meus batimentos cardíacos. Eu não sabia o que fazer além de fugir.

Minha visão tremulou, sem nenhuma razão aparente. Minha cabeça doeu e por um segundo me senti confusa. De repente, vi um penhasco. Eu diminui a velocidade e tentei parar. Mas estava rápida demais.

Eu estava quase parando quando cheguei ao limite. Mas quase não era o suficiente. Eu cai.


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Notas finais do capítulo

Tenho que admitir, esse capítulo foi um pouco cansativo de escrever. Por causa da época e por quê tive que vigiar a minha forma de escrita, as falas. Tornar tudo um poquinho mais formal.
Então meus leitores, conversem comigo e me contem sobre vocês. De onde vocês são? Qual o nome de vocês? Qual a idade? Me contem, eu queria saber sobre vocês que leem isso tudo que eu escrevo. A propósito, eu sou Giovanna e tenho 16 anos. Sou do Mato Grosso.