Ally

Estava ali parada no meio do caminho sem saber se deveria continuar atrás de Austin ou se deveria deixar pra lá, podia sentir uma força maior me puxando pra perto dele e isso era inegavelmente forte, então decidi continuar com aquilo. Prossegui caminhando lentamente e notei que na verdade ele não estava indo ao banheiro, o garoto parou ao chegar no estacionamento do local e se encostou em um carro qualquer. Fui chegando mais perto ainda sem saber o que fazer ou ao menos o que dizer, mas ele parecia bem irritado.

Na tentativa de me aproximar acabei tropeçando em algo, uma pedra talvez, a dor foi forte, mas tentei segurar o gritinho abafado que eu adoraria poder deixar sair. Olhei pra frente e percebi que meu esforço para não fazer barulho tinha sido em vão, pois o garoto do capuz estava olhando fixamente pra mim.

– Precisa de ajuda? – ele se pronunciou com um sorriso levemente estampado. Senti meu coração saltar pela boca, eu não tinha o que dizer.

– Eu só...só... – gaguejei me sentindo a maior idiota e com certeza a essa altura ele também estaria achando.

– Tudo bem. – ele respondeu. Tudo bem? Do que ele estava falando?

– Eu notei que você estava bem atrás de mim, achei que quisesse algo. – ele concluiu por fim, me deixando mais constrangida do que antes. Ele já tinha me visto o seguindo?

– Me desculpe, não foi minha intenção. – disse tentando consertar o constrangimento que não tinha conserto.

– Sem problemas. – ele soltou uma piscadela e o meu ar faltou.

– Você veio com alguém? – perguntei quando notei que o silêncio se estabelecia e que o garoto não iria fazer nada pra mudar isso.

– Com o Dez, mas acho que você não deve saber quem é. – ele me olhou tão intensamente que senti as pernas tremerem.

O silêncio foi se prolongando cada vez mais, eu estava atordoada e ao mesmo tempo sem reação. Mas o que diabos estava acontecendo comigo? Eu nunca fui tão sem atitude como quando estou na presença de Austin. Notei que ele me analisava, talvez também estivesse perdido na situação.

– Ally? Ally? O que você está fazendo ai? – uma voz familiar falava alto, olhei para trás e me deparei com Lindsay.

– Ah, oi Linds! – disse um pouco sem graça, quanto tempo havia se passado?

– Você me deixou lá sozinha, fiquei preocupada com você. – ela disse, sua expressão estava um pouco irritada.

– Desculpa, acabei encontrando Austin e ficamos conversando. – disse sabendo que aquilo era uma meia verdade, o garoto nos olhou e assentiu com a cabeça.

Pude notar o olhar de Lindsay cair sobre Austin, como se ele fosse algum tipo de verme ou coisa parecida e aquilo não me agradou nada.

– Hmm, certo. Vamos agora? – ela disse praticamente me puxando para longe, mas o problema maior é que eu não queria ir.

– Está tudo bem. – me desvencilhei cuidadosamente de seu braço para não parecer um ato grosseiro.

– Estava trocando umas informações da aula de matemática com ele, pode ir indo eu vou logo depois. – sorri tentando persuadi-la.

Ela me olhou como se estivesse me achando alguma louca ou coisa do tipo, mas não dei bola e permaneci ao lado de Austin que por sinal não havia dito nada hora nenhuma.

– Ok, nos vemos depois então. – ela enfim concordou e logo desapareceu me deixando a sós com o garoto.

– Informações da aula de matemática? – ele soltou um riso e eu não pude deixar de rir também.

– Desculpe pela mentira, mas não estava muito a fim de voltar. – disse chegando mais perto do carro o qual ele permanecia encostado.

– Posso? – perguntei enquanto nossos olhares se encontravam me fazendo novamente sentir as pernas tremerem.

– Claro. – ele respondeu sem pensar duas vezes e eu me encostei ao lado dele no mesmo carro.

Estava feliz com minha atitude, enfim tinha tomado algum tipo de coragem para me aproximar mais dele. Todo esse mistério me deixa completamente hipnotizada, a curiosidade de conhece-lo cada vez mais e toda essa sintonia que sinto quando estamos perto um do outro é inexplicável.

– Acho que sua amiga não gostou muito de mim. – ele disse soltando um riso.

– É porque você é incomum. – eu respondi buscando o olhar dele, mas ele não me correspondeu.

– E isso é bom ou ruim? – ele perguntou ainda sem olhar pra mim.

– Não sei para os outros, mas para mim é bom. – criei coragem para dizer e senti que ele havia ficado surpreso com a minha resposta.

– Porque? – ele soltou, estava nítida a sua curiosidade em cima da minha resposta. Sorri de leve e ele me analisou.

– Porque você foge do comum e de todas essas pessoas fúteis. – disse e ele correspondeu com um sorriso.

– Obrigado, acho que gostei disso. – sorri com seu comentário.

Ficamos mais um tempo em silêncio apenas na companhia um do outro, foi quando ele resolveu se afastar dizendo que precisava ver a apresentação de Dez, eu assenti e nós nos separamos.

Austin

Sair de perto dela não era algo que eu quisesse, mas estava sentindo que se ficasse ali por mais tempo iria perder o controle da situação. Eu estava ansiando por um toque, por qualquer coisa que a mantivesse em contato com a minha pele, queria sentir as faíscas do sonho. Se eu a assustasse com minhas atitudes precipitadas talvez ela se afastasse e eu não quero isso.

Andamos cada um para seu lado e antes que estivéssemos completamente separados eu resolvi falar algo.

– Nos vemos amanhã no colégio, certo? – notei seu rosto iluminar me causando algum tipo de arrepio na nuca, ela sorriu indo embora.

Ally estava feliz em saber que me veria amanhã? Ela definitivamente é muito diferente das outras, ela estava se aproximando de um cara como eu e não se incomodava. Pensei ao lembrar do rosto de Lindsay ao se deparar comigo ao lado de Ally.

Eu caminhei e notei a tal Kira sentada perto de uma outra garota loira bem longe do lugar de onde eu a tinha deixado, dei de ombros e me acomodei novamente na arquibancada. Anunciaram a entrada de Dez e senti um alivio por não ter perdido sua apresentação.

Dez realmente arrebentava na parada e não era exagero, ele mandava super bem em cima dos outros competidores, o aplaudi e assobiei. Quando a apresentação dele terminou fiquei me perguntando o porque de Dez não ser um popular também, afinal o lance com o skate era uma forma de se sobressaltar.

O torneio terminou e Dez se aproximou de mim para que pudéssemos ouvir o resultado juntos. Infelizmente ele não ganhou, um outro garoto conseguiu o troféu deixando Dez em segundo lugar, mesmo assim uma vitória.

– Você mandou muito bem cara. – o parabenizei enquanto caminhávamos para o carro a fim de ir embora.

– Valeu cara, apesar de não ter ganho gostei do resultado. – ele sorriu e eu o acompanhei.

– Você sumiu da arquibancada, eu vi. – ele me olhou buscando respostas.

– Estava um pouco incomodado com uma tal Kira que sentou do meu lado. – disse enquanto ele me olhava assustado. Entramos no carro e ele continuou.

– Incomodado com Kira Star? Ficou louco cara? Ela é perfeita. –ele suspirou e eu sorri dando partida.

– Ela é bonita, mas não faz meu tipo. – respondi deixando o ruivo mais perplexo ainda.

–Você só pode ser louco Austin. – ele me repreendeu com um riso.

– Mas você ficou fazendo o que? – ele me perguntou e eu automaticamente sorri lembrando-me de Ally.

– Conversei um pouco com... Ally Dawson. – respondi ainda sem jeito, ela é popular e Dez sabe disso.

– Puta que o pariu! Você é sortudo mesmo em? poxa numa mesma noite duas? – eu não pude evitar rir e ele me acompanhou.

O deixei e nós nos despedimos, eu segui rumo a minha casa e podia sentir um sorriso enorme se formando em meu rosto, culpa dela, culpa da garota dos olhos castanhos. Continuava dirigindo, mas no meio do caminho resolvi parar na praia.

Eu desci areia a baixo, precisava pensar um pouco na minha vida, pensar nos últimos acontecimentos. Deitei na areia e deixei que o barulho das ondas quebrando chegasse a meus ouvidos, isso me lembra a época em que minha mãe me trazia à praia.

– Hey, você de novo. – alguém se pronunciou. Olhei pra cima sem acreditar no que via, Ally Dawson.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei atordoado enquanto me levantava quase que num pulo.

Ela começou a rir e eu analisei ao redor a procura de alguma pista, foi quando notei ao longe uma casa iluminada cheia de gente na varanda.

– O Vitor fez uma festa pra comemorar a vitória no campeonato. – sua voz estava brincalhona e ela ria sem parar, estranhei aquela atitude até que vi um copo em sua mão.

Ally estava bêbada?