Ally

Eu gelei diante daquele casaco levemente perfumado, o cheiro era sem dúvidas igual ao da minha roupa naquele dia e sei que não estou errada, o aroma é inconfundível. O que estava havendo? Porque Austin não me contou? Será que aconteceu alguma coisa naquela noite e por isso ele estava tentando se afastar? Franzi meu cenho por conta das inúmeras perguntas que se formavam na minha cabeça. Eu deveria estar preocupada pelo fato de que não o conheço e que possivelmente passei a noite com ele, mas mesmo diante de todos esses fatos só consigo sentir meu coração acelerar.

Eu confio nele apesar de não saber quase nada de sua vida, há algo de especial nisso tudo o que não entendo é o porquê de ele não ter mencionado o assunto, talvez ele ache que eu me lembre. Cheirei mais uma vez aquele casaco, particularmente a área do capuz onde seu cabelo ficava escondido. Ele é tão lindo, seus cabelos loiros parecem raios de sol de tão brilhosos e amarelos que são.

Eu queria resolver aquele assunto, queria resolver naquela mesma hora, mas eu não sabia onde era sua casa e nem ao menos o número de seu celular. Coloquei o casaco em cima da minha cama e parti para o banho, logo que sai me deitei e me aconcheguei na peça de roupa do loiro.

– Estou enfeitiçada, não há palavra pra isso. – suspirei em minha cama.

– Eu.. eu- não consegui completar as palavras, respirei mais uma vez e enfim disse em voz alta o que no fundo eu já sabia.

– Eu estou apaixonada por um estranho. – senti meus lábios se abrirem num sorriso suave ao me lembrar do nosso quase beijo.

Haviam se passado exatamente 45 minutos e eu não conseguia tirar o garoto da cabeça, estava se tornando impossível dormir naquelas circunstância. Não era tão tarde então resolvi chamar Trish para me fazer companhia, só ela entenderia todo o meu interesse no loiro.

....

– Eu sabia que você estava caidinha por ele Ally! – Trish sorria - mas o que você vai fazer agora que sabe que esteve com ele depois da festa? – ela me perguntou curiosa.

– Eu quero tirar satisfações, quero que ele conte o que aconteceu. – revelei confiante e minha amiga me deu um tapinha nas costas.

– Garota de atitude em? – nós rimos abobalhadas no quarto.

– Trish.. me conte um pouco sobre você. – pedi, não sabia quase nada de sua vida e cada dia ficávamos mais próximas.

– Ah Ally... não tenho tantas coisas pra contar. – ela sorriu e eu insisti.

Aos poucos ela foi se abrindo e me contou que era filha única, descendente de espanhóis, mas que amava morar nos estados unidos. Disse também o quanto amava os pais e que tinha uma boa vida, mas o que eu não esperava ouvir foi o que ela disse por último.

– Já fui amiga de Cassidy. – ela revelou.

– Como assim? – arregalei meus olhos, sempre fui amiga de Cassidy desde pequena e nunca tinha visto Trish antes.

– Bom, antes de você aparecer nessa escola eu andava com Cassidy, mas as coisas foram se transformando com o tempo e foram surgindo os populares. Pra ser sincera nunca achei isso muito legal, mas a minha “amiga” achava e então ela foi se afastando até que não sobrou nada da nossa amizade e o resto você sabe.

– Nossa, eu nunca imaginaria que isso tinha acontecido antes de eu me matricular lá. – pausei ainda confusa com as informações.

– É por isso que você não gosta muito dos populares não é? – insinuei e ela sorriu.

– Acertou, eu já vivi muitas situações humilhantes por causa deles e isso me fez não simpatizar muito. – ela fez uma careta, mas continuou - Não me leve a mal, não tenho nada contra você! Na verdade Te acho muito diferente dessas pessoas e ainda não consigo entender porque faz parte desse grupo.

– Na verdade não foi uma opção sabe? Eu sempre me dei bem em ginástica e essas coisas e logo entrei para as líderes de torcida, acredito que esse foi meu ponto de partida. – suspirei lembrando da época em que namorava Dallas.

– Mas concordo com você, muitas dessas pessoas são ruins. – admiti pensando em toda a traição.

– Imagino, você sentiu na pele não é? – ela sorriu triste pra mim e eu assenti.

– Mas foi bom sabe? Por causa disso conheci você e agora te considero uma amiga e ainda tem o Austin e tudo o mais. – sorri lembrando do loiro e das vezes em que passei o tempo com Trish.

– Verdade, fico muito feliz por ter você como amiga. – ela sorriu pra mim.

....

Estávamos olhando algumas coisas na internet, sites de moda e maquiagem até que entramos na página do blog do colégio.

“Falcatrua descoberta! 1 lugar em competição de skate foi fruto de suborno do participante Vitor!”

– MEU DEUS! – arregalei meus olhos ao ler aquilo, era inacreditável.

– Por isso a festa na casa dele já estava toda montada, ele sabia que venceria. – falei para Trish e ela permanecia boquiaberta.

– Será que saiu alguma notícia minha? – olhei para ela apreensiva, já havia contado do episódio da roupa rasgada.

Vasculhamos o site a procura de alguma informação, mas não achamos nada e eu fiquei intrigada.

– Eu já percebi que nunca há notícias ruins sobre mim nesse blog, não consigo entender. Minha maior curiosidade é saber quem publica essas postagens. – revelei para Trish enquanto a mesma franzia o cenho.

– Nunca reparei nisso Ally, mas pensando bem é verdade. Nunca aparecem informações ruins sobre você.

– Será que é alguém que eu conheço? Lindsay? – arregalei meus olhos com a possibilidade.

– Acho difícil, talvez seja só uma coincidência – trish disse sem muita empolgação e logo mudou de assunto.

As horas passaram e Trish seguiu para sua casa, eu estava menos afoita em relação a Austin, mas não conseguia parar de pensar no que pode ter acontecido naquela noite e o porquê de ele não querer me contar. Dormi em meio aos pensamentos e no outro dia quase não acordo, não havia raios de sol ultrapassando a pequena varanda do meu quarto para me despertar com sua claridade.

– Nossa, o tempo deve estar fechado. – balbuciei ainda acordando, olhei para o lado e vi o casaco do loiro.

Aquela simples peça de roupa me fez levantar num pulo, eu precisava resolver algumas coisas com o garoto e não podia esperar mais nem um segundo para enche-lo de perguntas. Corri para o chuveiro e me arrumei rapidamente.

Austin

Não conseguia tirar meus pensamentos da garota, os pingos de chuva batiam na janela caindo na noite escura e eu me lembrava do nosso momento no carro, dos seus olhos e de sua boca esperando um beijo meu, um beijo proibido.

– Droga! Porque tudo tem que ser tão complicado? – resmunguei esmurrando o travesseiro

Levar comigo todas as partes obscuras da minha vida sempre foi doloroso, lembrar que eu poderia ter evitado o acidente dos meus pais me causava uma dor tão forte e estar com Ally Dawson apagava parte dessa dor. Porque eu tinha que sonhar com ela também? Porque tinha que haver um maldito abismo? Nada se encaixava, a única coisa que eu sabia é que pra sua própria segurança a garota dos olhos castanhos não podia fazer parte da minha vida.

Eu estava decidido a exclui-la e por mais difícil que fosse resistir eu tinha que ser firme na minha decisão porque no fim das contas eu só queria protege-la, mantê-la segura. O sonho sempre vem para atormentar meu sono e eu não posso ignorar os sinais, não dessa vez. O que me intriga é que agora nossos dedos se tocam e isso não acontecia antes, é como se alguma coisa estivesse mudando. Suspirei fundo e resolvi dormir, mesmo que o final do sonho não fosse nem um pouco bom não deixava de ser uma forma de tê-la perto de mim.

Ally

Andei até o colégio, achei melhor mamãe não me levar, pois papai havia chegado muito tarde e ela não tinha conseguido dormir quase nada. Espantei os maus pensamentos e me foquei no loiro o qual eu esperava ansiosamente na porta do colégio, foi quando o vi cruzar meu caminho e para minha surpresa ele fingiu que não me viu.

– Hey Austin! – o chamei, mas o loiro prosseguiu sem me dar atenção.

– Para com isso, sei que está escutando. – disse em alto e bom som enquanto o seguia, mas ele nem assim se virou.

Me coloquei em sua frente o fazendo parar e enfim ele me olhou, estava sem o capuz e seus cabelos levemente despenteados só o deixavam mais bonito.

– O que você quer? – ele respondeu grosseiro.

– Você vai me tratar assim? – deixei escapar uma voz chorosa.

– Olha Ally todo mundo aqui me acha um esquisitão, porque você não entra pra essa lista? Me deixa em paz, já disse que você não me conhece direito. – ele me bombardeou, suas palavras eram grosseiras, mas seus olhos permaneciam bondosos.

– Isso é da boca pra fora. – retruquei ainda incrédula.

– Acredite no que quiser, só me deixe em paz. – ele passou por mim me deixando sozinha no corredor.

Corri até o banheiro aquilo não podia estar acontecendo, eu queria chorar, mas tinha que ser forte porque tinha algo de errado acontecendo. Austin não podia estar falando sério, ele me ajudou tantas vezes e essa frieza não fazia nenhum sentido.

– Ally? – ouvi Trish entrar no banheiro.

– Ai Trish! Você não sabe o que aconteceu. – disse chorosa e ela logo me abraçou.

Contei todo ocorrido e Trish também concordou que havia algo errado na historia.

– Acho que você devia procura-lo Ally, insista! Você tem o direito de saber o que aconteceu e ele tem a obrigação de te contar. – ela me aconselhou e eu acatei.

– Você tem razão, não posso desistir agora. – sorri e minha amiga me abraçou.

As aulas se arrastavam, nos intervalos eu via Cassidy correr atrás de Dallas enquanto ele a esnobava. Era estranho não sentar naquela mesa, eu sempre alternava entre ela e a mesa das líderes de torcida, nesse momento eu estava com Lindsay porque Trish disse que precisava fazer uma prova de segunda chamada.

Austin

Não estava sendo fácil ignorar ela daquele jeito, eu estava sendo grosso e não é do meu feitio agir dessa maneira. Não conseguia parar de pensar em como seria complicado continuar fingindo que ela não significa nada, mentir sobre tudo. As aulas se arrastavam e eu mal conseguia prestar atenção no que Dez dizia, eu queria dar assistência a ele, mas Ally não saia de meus pensamentos.

– Cara nem acredito que o Vitor roubou o concurso, eu ganhei alguma coisa na minha vida! – ele sorria exibindo suas covas.

– Dez você é uma boa pessoa cara, vai ganhar muitas coisas na vida. Não fale assim. – disse com um sorriso e ele riu.

– Se eu ganhasse Kira Star já seria o bastante pra mim. – ele suspirou pela garota de cabelos negros que passava na nossa frente.

– Você fica bem melhor sem o capuz. – pude ouvir a garota dizer com uma piscadela pra mim, porque ela estava fazendo isso?

Dez me olhou incrédulo, ele a queria tanto que aquele simples comentário o havia magoado.

– Você fala com ela? – Dez me perguntou.

– Claro que não, a única vez foi naquela competição de skate. – respondi tão confuso quanto o ruivo. Aquilo me cheirava a coisas ruins, ela não iria me dar mole à toa.

Dez se conformou e voltou a falar normalmente comigo. História, literatura, geografia e tantas outras matérias seriam bem melhores do que encarar um horário de matemática com Ally daqui a cinco minutos. Eu peguei meu material e fugi da aula, não podia fazer isso sempre, mas pelo menos hoje eu iria fazer.

Ally

Eu estava monitorando o loiro, não poderia vacilar já que agora ele estava brincando de se esconder. Eu estava a caminho da aula quando o notei andando quase despercebido nos corredores, ele estava indo embora? Corri o seguindo, ele já estava indo em direção ao estacionamento então me apressei mais ainda.

– Precisamos conversar. – ele parou ainda de costas ao me ouvir, estávamos apenas nós.

– Se for por causa do casaco pode ficar, não precisa devolver. – ele respondeu grosseiro ao se virar pra mim.

Os pingos de chuva caiam fracamente em cima de nós e eu me aproximei, ele tentou recuar, mas aparentava não ter forças.

– Quero que me diga o que aconteceu, eu sei que estive com você na noite após o campeonato. – perguntei ansiosa por uma resposta, seus olhos não desviavam dos meus.