Eu sequer consegui pegar no sono novamente depois que o meu pai me acordou, quando havia voltado da... balada (eu ainda não podia acreditar nisso), então passei a minha manhã ouvindo música, compondo e tentando me distrair ao máximo possível até que chegasse o temido horário de ir para o Studio. Durante todo esse tempo que passei refletindo e devaneando, eu pude me dar conta de que esse ano as coisas seriam muito diferentes, e eu sequer tinha um futuro planejado. Subiu-me um frio na espinha ao pensar que eu sequer tinha um emprego, ou estava estudando, ou fazendo qualquer coisa útil para o mundo... talvez todo o meu tempo estudando música no Studio poderia ter sido só perca de tempo e dinheiro, e isso me dava medo.

Nas últimas semanas eu sempre parava e me pegava pensando nessas coisas horríveis, mas é quase impossível não pensar quando você começa a perceber que você está dentro de umas “férias sem fim”, eu diria que isso se torna até meio desesperador. Será que os outros alunos do Studio também se sentiam assim? Pelo menos não demoraria muito tempo até que eu descobrisse.

Depois de muito tempo devaneando, a hora finalmente estava chegando e eu corri para me arrumar. León havia me mandado uma mensagem mais cedo, afirmando que passaria aqui em casa para me buscar e então nós iríamos ao Studio. Não me arrumei com muita frescura, coloquei meu jeans mais básico e uma camiseta, e então já estava pronta.

Desci para a sala a fim de esperar León chegar, e então pude ver o meu pai todo jogado no sofá, como se nada tivesse acontecido. Ele olhou para a minha cara e abriu um meio sorriso, sequer se deu o trabalho de perguntar onde eu iria, o que era MUITO estranho, aliás, TUDO ficou estranho depois que a Angie abandonou ele no altar. Perceber isso me fez pensar em como estaria Angie, só esperava que as “férias” dela surtissem algum efeito. De qualquer forma, em poucos minutos eu a veria.

Não demorou muito até que eu ouvisse uma buzinada vinda do lado de fora da casa, não fiz cerimônias e então me despedi do meu pai com pressa e fui correndo até o carro (novo, se diz) do León. Abri a porta do carro com afobação e então entrei depressa, sem ao menos me lembrar de cumprimentar León, que ficou parado enquanto me observava.

- Tudo bem? – Ele perguntou em um tom estranho, cauteloso eu diria.

- Tudo. – Eu respondi estranhando a pergunta.

- Então tá, né. – León respondeu com um ar ainda desconfiado.

Nenhuma palavra fora dita até que León ligou o carro e deu partida no mesmo. Eu estava prestes a ligar o rádio quando León abriu um sorriso estranho e voltou a falar:

- Vilu, minha mãe quer que eu faça festa de aniversário. – Ele disse como se isso fosse a coisa mais ridícula do mundo e então começou a rir.

Foi aí que eu me dei conta de que o León, garoto cujo eu havia conhecido com dezesseis para dezessete anos estava para completar vinte anos de idade.

- Faça, ué. Não é todo dia que se faz vinte anos. – Eu ri com um certo desespero.

- O que foi, amor? – Ele deu um meio sorriso ao ver o meu riso nervoso.

- C-cara, você já vai fazer VINTE anos, você tem noção do que é isso? A gente tá velho.

León arregalou os olhos.

- Você tá doida? Para com essas ideias, se a gente tá velho nossos pais então...

Eu respirei fundo.

- Não o problema não é esse. Na verdade eu estou ficando desesperada porque não sei o que fazer da vida, sequer tenho um emprego, León. E não quero viver sob o teto do meu pai pra sempre.

- Se você está desesperada por isso, imagine eu. Você pode ficar tranquila que eu te sustento quando a gente casar, o ruim é que eu ainda não tenho emprego nenhum. – Ele riu sem humor.

- Para com isso! – Eu quase gritei.

- Tá vendo como é ruim? – Ele retrucou.

Antes que pudéssemos prosseguir com aquela “discussão”, nós finalmente chegamos ao Studio e a conversa foi cessada para a alegria de todos. Eu fingi que aquele último momento não tinha acontecido e então desci do carro sem pressa. Esperei León sair do carro e então peguei a sua mão para nós adentrarmos o Studio.

De início nada de novo pôde ser notado. As coisas estavam como sempre: Pessoas cantando e dançando por todo lugar que fosse, sempre transmitindo alegria e toda a mágica que a música poderia oferecer. Fiquei feliz ao estar novamente naquele lugar, lugar onde eu havia conhecido... pessoas maravilhosas.

Não demorou muito até que eu e León fôssemos abordados por Pablo, que recepcionava os alunos com alegria (como sempre), ele nos guiou até o zoom porque era ali onde aconteceria a reunião, e ao entrar ali eu pude ver vários rostos conhecidos, rostos que eu não via há algumas semanas.

Nós nos sentamos e então esperamos aqueles que faltavam para começar a reunião. Como sempre, os únicos que faltavam era a Ludmila e o Tomás, que depois de uns quinze minutos adentraram o local como se nada tivesse acontecido. O que foi mais surpreendente naquele momento foi ver COMO a barriga da Ludmila havia crescido em tão pouco tempo, parecia que ela ia explodir... ou ter gêmeos.

Pablo anunciou que iria dar inicio à reunião e então algumas pessoas (do youmix, claro) adentraram o local. Tudo corria perfeitamente bem até o momento que eu vi alguns indivíduos que eu não gostaria. Marco, o garoto cujo havia dado uma patada na Francesca no dia do apagão (nunca me esqueço disso), e aquela assanhada cujo eu havia tacado uma pedra na fuça há algum tempo, Lara. Cerrei meus punhos e tentei me acalmar, aqueles realmente eram pessoas que eu não gostaria de ver, mas eles não estragariam o meu dia.

- Pessoal! – Pablo deu início à reunião. – Isso não vai levar muito tempo. Eu só os chamei aqui pra anunciar que o Studio vai mudar de local, nós iremos para um lugar maior, o que implica em salas maiores, mais alunos e consequentemente mais professores. Então, vocês que estão aqui hoje foram selecionados para fazer um estágio como professores durante um ano, parabéns! – Ele sorriu. – Mas é óbvio que vocês não são obrigados a aceitar a proposta, afinal, tem alguns aqui que já estão ocupados. – Ele olhou para Tomás e Ludmila no momento, lembrando que ambos mudariam para a Espanha em breve. – Bem, quem tiver interessado é só ir na direção e acertar as coisas com o Antônio e os outro funcionários, que estarão lá à disposição do que precisarem.

Só isso? Ele faz uma reunião pra ISSO? Aliás, ele reúne até a vadia aqui pra isso? Ótimo. Eu me levantei da cadeira a fim de ir para a direção, já que obviamente iria aceitar a proposta do estágio porque estava desempregada, mas fui surpreendida novamente por Pablo, que então veio até mim e León.

- Vocês dois não.

Eu estranhei, mas deixei ele prosseguir.

- León, vá até o Marotti, ele quer falar com você e os meninos. E você, Violetta, a conversa vai ser comigo mesmo.

- Tudo bem, pode falar. – Sorri.

- Então, não temos estágio para você.

Eu gelei ao ouvir aquilo. Então por que raios ele havia me chamado?

- Como assim, Pablo?

- Bem, se você quiser você será nossa professora de canto efetiva, junto com a Angie.

Eu quase dei um pulo da cadeira naquela hora, mas resolvi conter a minha felicidade e tentar agir como uma pessoa normal.

- Sério Pablo? Claro que eu quero! Nossa, muito obrigada! – Corri para abraçá-lo.

- Imagina, você merece! – Ele deu um sorriso tímido. – Bem, de qualquer forma amanhã passe na direção e converse comigo, nós teremos que arrumar a papelada e tudo mais. Agora eu tenho que ir porque deve estar um caos na direção, a gente esqueceu de como organizaria as coisas. – Ele riu e se retirou depressa.

Eu fiquei por um tempo devaneando sobre aquilo. Há minutos atrás eu estava desesperada por não ter um emprego, então DO NADA me surge um emprego maravilhoso. Me peguei pensando se essa seria a mesma proposta para o León, e então direcionei os meus olhos até ele, que estava do outro lado da sala, juntamente de Marotti, Maxi, Broduey, André, Marco e para o meu desgosto, Lara.

Fiquei sentada esperando impacientemente a conversa deles até que finalmente León e os outros se dispersaram, quando então, para a minha surpresa, León se aproximou de mim com o maior sorriso no rosto e eu não pude conter a minha curiosidade.

- E aí, o que foi? – Eu perguntei com ansiedade.

- Violetta! O Marotti disse que depois do sucesso na Espanha o pessoal ficou FISSURADO pela banda que eu tenho com os meninos, então ele nos fez uma proposta.

- E...? – Continuava impaciente.

- Ele quer nos produzir! – Ele finalmente disse e então sorriu.

Aquilo era maravilhoso e naturalmente eu sairia correndo para parabenizar León naquele momento, mas algo ainda martelava na minha cabeça: O que raios aquela garota tinha a ver com isso? Porque se ela estava na conversa, obviamente algo tinha relação com ela. Eu não podia me elevar e nem deixar o ciúme tomar conta de mim, mas que isso me preocupava, com certeza preocupava.