Permaneci sentada no sofá, somente esperando a volta de León. O tempo que estivera sozinha fora simplesmente torturante, as imagens de momentos anteriores não paravam de passar pela minha cabeça e aquilo era aterrorizante, pois eu não fazia a menor ideia do que León estava pensando naquele momento.

Fiquei tanto tempo em estado de choque que nem me dei conta de quando León aparecera do meu lado, também se sentando no sofá. Dessa vez ele estava muito mais calmo (e gato, com aquele cabelo molhado). Olhei com desconfiança.

- L-león, me perdoa, eu perdi o controle e... – Eu comecei a me justificar da melhor forma possível.

León soltou uma risada.

- Você não precisa me pedir desculpas por isso, muito pelo contrário, eu estava no mesmo clima que você. – Ele riu. – Eu que devo lhe pedir desculpas, por ter pensado em quebrar a promessa por um momento. – Olhou para os próprios pés.

- Eu não me conformo, como você consegue ser tão perfeito? – Eu realmente estava inconformada com o fato de León sempre assumir a culpa, mesmo não sendo ele o culpado.

Ele permanecera tímido.

- Na verdade eu não sou perfeito. Como já disse antes, você que desperta vontades estranhas em mim. –Acariciou meu rosto.

Eu suspirei e naquele segundo pensei muito em partir pra cima dele e voltar a beijá-lo, mas como ainda estava tensa, resolvi que aquela não seria a melhor hora.

- Amor, vou dormir. Estou cansada. – Eu disse enquanto me espreguiçava e levantava lentamente do sofá.

León se levantou logo em seguida, e antes que eu pudesse dar um passo, fui abraçada por trás, sendo completamente envolvida por aqueles braços, impedindo-me de fazer qualquer movimento.

- Ei, a gente tá numa boa, não é? – Ele sussurrou no meu ouvido, me deixando completamente arrepiada.

León definitivamente tinha que parar com aquilo.

- C-claro. – Eu disse em um fio de voz. – Agora eu realmente preciso dormir. – Eu disse como tentativa de escapatória.

- Tudo bem. – León respondeu depressa. – Boa noite.

Virei e selei seus lábios depressa até que subi correndo para o quarto. Ao chegar lá, eu fechei a porta com afobação, então aproveitei a oportunidade para dar um longo suspiro, como se finalmente estar ali fosse uma forma de escapar de algo.

Era incrível como em tão pouco tempo de moradia, aquele quarto já tinha o cheiro de León. Prometi para mim mesma que não me perderia naquele cheiro, mas como sempre não obtive sucesso. Quando eu menos esperava já estava lá, parada no meio do quarto parecendo uma drogada louca.

Tentei ao máximo não me perder devaneando por muito tempo, até que voltei à realidade e decidi fazer alguma coisa. Fui até a cama e arrumei os lençóis para que estes ficassem de maneira adequada para dormir, então tirei o short enorme que vestia de León, para que pudesse fazer a sua camisa de camisola, já que esta media quase até o meu joelho. Qualquer dia desses pediria uma camisa de León emprestada, elas dão belos vestidos.

Não fiz mais coisas tão importantes, então logo me deitei. Ao fazer isso, mal havia deitado e já me dera conta de que nunca estivera em uma cama tão confortável antes. Eu praticamente afundava naquele colchão maravilhoso que haviam escolhido. Se eu iria morar algum dia ali, com certeza me acostumaria bem rápido.

Antes que pudesse dormir, as minhas lembranças fizeram questão de possuir toda a minha mente, dando-me certa inquietude para poder pegar no sono. Eu revirava ao máximo, e apesar de estar no lugar mais confortável do mundo, não conseguia deixar de imaginar como seria ainda estar com León lá embaixo. Tentei ao máximo afastar todos esses pensamentos que só alimentavam a minha insanidade, e então sequer percebi quando peguei no sono.

*****

Acordei da melhor maneira possível. Nada de sol batendo na cara, ou gente me incomodando, ou pessoas gritando no andar de baixo. Era somente eu, acordando na hora que queria sem dar justificativa para ninguém. Estranhei tudo aquilo quando me dei conta de que ainda estava no apartamento do meu querido namorado, e abri um sorriso involuntário ao lembrar de que aquele era o primeiro sorriso que eu veria pela manhã. Fiquei tão empolgada que me levantei praticamente em um pulo, corri para o banheiro e fiz minha higiene matinal, e então desci as escadas na maior afobação possível.

Fui até a sala e a única coisa que vi foram cobertores jogados no sofá, mas nada do León. Caminhei até a cozinha e então pude avistar aquele que tanto esperava, mas este me fitava de maneira cautelosa, eu diria até que seus olhos estavam praticamente grudados em mim. Então percebi que ele olhava algo em específico em mim, olhei para o lugar e me dei conta de que havia me esquecido de colocar o short de volta, o que deixava parte da minha perna de fora. Aquilo não estava vulgar, pelo contrário, a camisa tinha o mesmo comprimento do vestido que usara na noite anterior, mas por algum motivo isso chamava a atenção do León mais do que o normal.

- O que foi? – Disse enquanto ficava evidentemente corada.

Ele soltou um riso tímido.

- Primeiramente, bom dia. Quero dizer a senhorita que o café está na mesa. – Agora ria com um pouco menos de vergonha.

- Nossa, mas que homem eficiente! – Eu disse enquanto me aproximava mais dele, já levando meus braços até os seus ombros, enquanto ele levava suas mãos até a minha cintura. – Agora me diga, qual o problema?

Ele ficou mais corado que o normal, e então voltou a me olhar da cabeça aos pés.

- S-sabe, eu acho que posso me acostumar com isso. – Soltou um riso sem humor.

- Com o quê?

- Ah, com isso. Você morando aqui, vestindo a minha camisa todas as manhãs, eu vendo o seu cabelo despenteado e finalmente sentindo esse perfume a qualquer hora do dia.

Nem preciso falar que naquele momento eu quis enfiar a minha cara no chão. Fiquei tão corada que sequer conseguia formular uma palavra, então o abracei com toda a força possível.

León me envolveu em um abraço demorado, onde ele praticamente me esmagara, mas eu sequer me importava, aquilo era bom demais. Tentei por diversas vezes falar algo para ele durante o abraço, onde talvez eu o reconfortasse, afirmando que eu sentia o mesmo e que eu estava completamente fascinada com as ultimas palavras dele, mas nada saía da minha boca.

- Violetta, a-a gente t-tem que c-casar logo. – Ele disse em um fio de voz.

Eu só não entendia se aquilo era um pedido ou uma afirmação. Então o olhei assustada.

- Como?

- Calma, não estou te pedindo em casamento, pelo menos não agora. Quero que até isso seja especial, mas esteja preparada. – Ele coçou a cabeça, como se estivesse esperando ser rejeitado ou algo do tipo.

Eu simplesmente não podia acreditar. Aquilo era praticamente só uma introdução do que aconteceria daqui há algum tempo, e quando eu menos esperava, o que era somente devaneio, imaginação, estava prestes a se tornar realidade.