Era uma bela tarde de sábado. Eu estava maravilhada por tudo o que havia acontecido nas últimas semanas, simplesmente eu havia feito a melhor viagem da minha vida (apesar de a mesma não ter saído como o esperado). Durante todo o caminho eu só conseguia observar as milhares de árvores molhadas pela chuva na estrada enquanto voltávamos para casa no carro dos pais de León.

León?

León dormia igual uma criança, recostado em meu colo no banco de trás do carro, e eu não conseguia me conter em entrelaçar a minha mão pelo seu cabelo, o que só o fazia dormir mais profundamente. Eu abri um sorriso involuntário ao ver aquele rosto tão sereno e tão calmo. E claro, suspirei como sempre.

Os pais de León só conseguiam rir durante todo o caminho de volta, principalmente quando León ficava todo folgado e confortável em meu colo. Eles definitivamente eram muito bem humorados, mas o que mais me deixava encantada em relação a eles era a paixão evidente que eles sentiam um pelo outro, apesar de tanto tempo de casados. Aquilo era simplesmente incrível.

Ok, o que os pais de León faziam conosco?

Depois do casamento (fracassado, eu diria) de papai, León e eu decidimos fazer a tal viagem, mas como sempre nossos planos foram completamente distorcidos e acabamos sendo obrigados a ir na companhia de um adulto. Como papai estava muito mal pelo casamento, os pais de León se ofereceram para ficar conosco (senão eu não poderia ir). Apesar de eles serem muito liberais e divertidos, eu e León não dedicamos tanto tempo um ao outro como queríamos, mas a viagem foi boa de qualquer forma (nós escapávamos e corríamos para a praia sempre que podíamos).

Já estávamos quase chegando na minha casa, e então eu acordei León sutilmente que abriu o maior sorriso ao me ver, enquanto passava a mão no seu cabelo na tentativa de arrumá-lo.

- Errr... Desculpa, amor. – Ele disse envergonhado enquanto coçava a cabeça e se arrumava.

- Desculpa o que? – Eu ri enquanto o observava.

- Ter dormido desse jeito em cima de você.

Os pais de León começaram a rir.

- Você não dormiu, querido. Você capotou. – A mãe de León disse enquanto se virava para observá-lo.

- Eu estava cansado. – Ele fez biquinho.

- Nós percebemos. – Todos dissemos em uníssonos.

Continuamos por algum tempo entre muitas risadas até que finalmente chegamos na minha casa. Não fiz muita cerimônia e então desci do carro, enquanto o pai de León já abria o porta-malas para pegar a minha mala. Eu estava realmente muito cansada, então me despedi rapidamente dos pais de León e logo iria entrar em casa. Mas como sempre, León se sentia na OBRIGAÇÃO de me levar até a porta e carregar a minha mala.

- Tchau. – Eu disse entre risadas enquanto abria a porta.

- Não vai me convidar para entrar? – León fez uma cara de surpreso.

- Seus pais estão esperando você, seu mané.

Ele fez uma carinha triste, mas evidentemente estava blefando.

- Você nem me ama mais. – Continuava com aquele biquinho encantador.

- Dramático. – Eu disse e então selei nossos lábios.

- Sou dramático, mas pelo menos consegui o que eu queria. – Disse enchendo o peito.

Nós rimos e então fomos nos aproximando lentamente para dar um beijo de despedida, mas quando já estávamos roçando os nossos lábios, fomos surpreendidos pelo meu pai que abriu o resto da porta com afobação.

- Violetta! Que saudade da minha filhinha! – Ele praticamente gritou e me puxou brutalmente para um abraço esmagador.

- O-oi papai. – Eu disse enquanto me soltava dele. – Não vai cumprimentar o León?

- E aí, cara? – Ele disse enquanto estendia a mão para cumprimentá-lo. – Espero que tenha cuidado bem da minha filhinha hein?

- Ah, eu cuidei muito bem dela, senhor. – León sorriu.

Papai  fechou a cara.

- Muito bem quanto? – Arqueou uma das sobrancelhas.

- B-bem... – León estava evidentemente desesperado.

- Papai! – Cortei a conversa dos dois. – Pare de assusta-lo!

- Desculpa, força do hábito. – Papai disse e deu um sorriso simpático. – Bem, agradeça os seus pais por tudo, e mande um abraço para o seu pai. – Agora ele falava com León.

- Pode deixar, senhor! – León sorriu e então se virou para mim. – Você vai querer sair mais tarde?

Antes que eu pudesse responder, papai se intrometeu:

- Mais tarde quanto? – Voltou naquele tom desconfiado.

- Na verdade eu pensei em só ir pra casa arrumar tudo o que tenho pra arrumar, e então passar aqui pra buscar a Violetta e ir para o cinema, não sei... – León disse de prontidão.

- Mas vocês passaram duas semanas juntos!

- Isso na teoria, não na prática. – Eu finalmente disse. – Passe aqui as 21h, León.

-  Desculpa, mas HOJE não vai ser possível. – Papai interrompeu de novo.

- O que foi agora, pai?

- Não é nada demais, é que eu vou sair hoje e deixei o dia de folga para o Ramalho e a Olga, daí não queria deixar a casa sozinha e...

Eu estranhei aquilo.

- Sair? Sair pra onde? – Disse.

- Errr... para... um... baile. – Ele coçava a nuca?

- Baile? Que baile?

Ele suspirou.

- Tá bom, vocês me pegaram, é uma balada.

O QUÊ? PAPAI TINHA VIRADO UM BALADEIRO?

- Balada??? Como assim balada? Com quem, papai?

- Com uns amigos meus do escritório. Durante o tempo que você foi viajar eu não tinha companhia, daí estou saindo com eles agora.

Eu arregalei os olhos.

- Tá bom né, então nós saímos amanhã. – Eu disse e então dei um selinho rápido em León. – Tchau bobão.

- Tchau princesa. – Ele sorriu. – Tchau Sr. Germán.

Papai revirou os olhos.

- Tchau León.

León se retirou e então eu e papai adentramos a casa. Eu pensei em puxar assunto com ele e perguntar que história era aquela de balada, mas repensei e não fiz nada, afinal papai estava jovem e tinha todo o direito de viver, apesar de isso tudo ser muito estranho.

Subi para o meu quarto e coloquei as minhas roupas de volta no meu armário, e então arrumei todas as coisas que precisavam. Depois que terminei, praticamente corri para a banheira e me tomei um longo banho, estava cansada e precisava relaxar. Nada demais aconteceu naquele fim de tarde, já que eu não tinha energia para fazer quase nada.

Quando terminei o banho coloquei uma roupa confortável e deitei na minha cama, e então eu pude avistar o meu diário que estava praticamente jogado no chão... Abri um sorriso involuntário ao vê-lo, fazia tanto tempo que eu não escrevia ali.

Peguei o diário e então comecei a folhear as páginas a fim de rever todas as coisas que havia escrito ali, mas com certeza eu fazia uma careta no começo, já que eu praticamente só falava do Tomás, não sei como poderia ter me iludido tanto. Era engraçado ver a evolução das coisas, há dois anos atrás eu estava completamente apaixonada por Tomás e agora eu queria distância dele. Por isso que eu acho ótimo as pessoas crescerem e amadurecerem, pois com o amadurecimento vem a verdade como consequência.

Fiquei por tanto tempo ali que acabei pegando no sono por tempo indeterminado, e já estava no auge do meu sono quando eu ouvi um barulho estranho. Acordei e tentei me reformular, e então percebi que já estava escuro... Olhei no relógio e vi que o mesmo já marcava meia-noite, e caramba, como eu havia dormido.

O barulho persistiu e eu pensei em chamar alguém, quando me lembrei que papai já não estava em casa, então vi uma pedra atingindo a janela do meu quarto. Fiquei com muito medo e então me aproximei lentamente da janela e coloquei a cabeça para fora a fim de ver quem ou o quê estava fazendo tudo aquilo. Claro que eu não fiquei surpresa ao ver quem era.

- León, o que faz aqui? – Eu dizia no meu tom mais baixo enquanto ficava enfurecida com León.

- Desculpa, não pude evitar. – Ele coçava a cabeça evidentemente tímido.