Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 8
Desaparecida


Notas iniciais do capítulo

Miranda já havia fugido de sua família, da escola e da ajuda alheia, mas aparentemente ainda não se encontrava. Será que realmente ela precisava de ajuda?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382318/chapter/8

Existe uma vasta diferença entre o que você é, o que você quer ser e o que querem que você seja.

As pessoas acham que estão ajudando dizendo "seja quem você é e as pessoas vão gostar de você".

Afinal, quem você é? Quem você nasceu pra ser? Existe diferença entre as duas coisas? Será que existe alguém apto a julgamentos? Se Deus existe, ele seria totalmente capacitado de julgar alguém?

São muitas perguntas e poucas perguntas que nos levam a mais respostas. Mas o ponto é: As pessoas dizem que querem que sejamos o que somos, o que queremos ser, quando na verdade elas nos impõem a ser algo já combinado, moldado na moral e bons costumes e, claro, os padrões de beleza.

As pessoas são é hipócritas, isso sim. Porque elas nos levam a acreditar que querem que a gente seja algo que não podemos ser, e no meio de tantos paradoxos nem sabemos mais quem somos.

Me assustou, naquele dia, perceber quem eu era: A garota desaparecida com o rosto estampado em postes.

Logo, algumas pessoas já olhavam pro meu rosto e pegavam seus celulares, assim que me viam. Eu não sabia ao certo quem procurava por mim, mas sabia que isso nem da minha conta era mais. Eu seria levada sem nenhum questionamento, sabe-se Deus para onde.

Fiz uma coisa que pareceria dramática. Fui até uma praça movimentada e me sentei em um banco bem no centro, totalmente despreocupada.

De que me adiantaria fugir, me esconder ou impedir que me levassem? O que poderiam fazer? Me matar?

- Miranda Lima? - perguntou uma mulher que por enquanto não entrarei em detalhes sobre sua aparência.

Saiba apenas que ela tinha tudo pra ser invisível.

- Sim, sou eu - respondi.

- Sou Carla Ferreira, assistente social.

- E aí, vocês vão me levar pra onde agora?

Ela hesitou e forçou um sorriso.

- Está com fome? Posso te pagar o almoço.

- Não, obrigada. Acabei de almoçar.

Ela assentiu.

- Então vamos para onde você quiser ir, por hora.

Eu entendi o jogo dela. Ela deixaria ser do meu jeito pra que eu me acomodasse, pra depois ser do jeito dela. Eu odiava quando alguém esperava que eu dançasse conforme a música.

Eu assenti.

- Então vamos pra uma daquelas mesas de piquenique. Se for pra conversarmos, quero estar olhando diretamente pra você.

Ela sorriu e fomos até a mesa.

- Nós estamos procurando um lugar específico pra você. A polícia recolheu depoimentos, sabia? Nós sabemos o que fez com aquela garota, Miranda. Você não poderia esconder por muito tempo. Sabe o quanto é difícil lidar?

Fiquei meio inquieta, incomodada.

Sabia que os dois homens da mesa ao lado e o trio da mesa atrás de Carla trabalhavam para ou com ela. Sabia que eles estavam ali preparados para quando a garotinha perturbada explodisse. Agora eu era um problema a ser monitorado. Malditos hipócritas. Cadê a assistente social quando eu era a vítima?

- Carla, não é mesmo? Ouve só: Vocês assistentes sociais têm seus truquezinhos, não têm? Sabe que sou inquieta, que não sinto remorso e muito menos medo de ninguém, porque percebeu isso só olhando pra mim. E aposto que sabe também que sou observadora. Tudo bem, é o seu trabalho. Mas também sei que você rói as unhas. Você fecha o casado até a gola, mesmo nesse sol, teu cabelo tá preso em rabo baixo e parece que foi penteado compulsivamente. Você não tem furos nas orelhas, e nem se dá o trabalho de passar um gloss. E eu já senti o seu hálito quando você começou a falar. Você não quer que saibam que você fuma, não é Carla? Isso te faria perder o emprego? Por isso disfarça com pastilhas? Olhando pra você, me leva a crer que é insegura, tem a auto estima baixa e mania de limpeza. Chega a ser compulsivo, já que pessoas como você deveriam apertar a mão ao cumprimentar, mas não tirou as mãos de dentro do casaco. E você zela pelo seu emprego, né? Mas sabe o que me parece, Carla? Que foi seu pai que escolheu essa carreira pra você.

Ela parecia abalada. Surpresa com tudo que eu tinha dito pra ela. Parecia que continha o choro.

Joguei o feitiço contra o feiticeiro.

- O que você quer com tudo isso? - Ela perguntou, o queixo baixo, a voz quase um sussurro.

Eu forcei um sorriso.

- Porque acho que você não tem aptidão pra me ajudar. Não sabe cuidar nem de você mesma e acha que vai conseguir cuidar de mim?

Dois homens vieram por trás de mim e seguraram meus braços.

-Vai me dizer agora pra onde estão me levando? - perguntei, começando a me irritar.

Ela sorriu.

- Você vai pra uma casa com outras meninas que precisam de ajuda, querida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!