– Mais uma vez, foi um prazer te conhecer, Lana. - Megan disse, antes que ela abrisse a porta do carro. Heitor e seus pais a levaram em sua casa.

– O prazer foi meu. - sorriu. - Tchau, gente. - saiu do carro e correu para a porta de sua casa, abrindo-a e entrando.

Acendeu a luz da sala e tentou ser o mais silenciosa possível, andando na ponta dos pés da escada até seu quarto, mas foi surpreendida quando estava prestes a abrir sua porta.

– Ei, mocinha. - ela literalmente pulou.

– Mãe! - afirmou, sussurrando.

– Me desculpe. - ela riu. - Como foi na casa de Heitor?

– Divertido, eles acabaram de me trazer. - afirmou.

– Que bom, não é? São quase uma da manhã e você tem aula. - fingiu estar brava, mas não estava. - Boa noite querida, conversamos amanhã no café. - deu um beijo em sua testa e foi para o outro quarto.

Lana, então, finalmente entrou em seu quarto, trocando toda aquela roupa por uma camiseta grande de seu pai antes de escovar os dentes e ir deitar. Naquele momento, desejou ter uma amiga realmente próxima pra quem pudesse ligar naquela hora e contar como tinha sido a noite com Heitor e sua família, mas não tinha. Ela tinha colegas, sim, não era sozinha na escola, só que nenhuma delas era o tipo pra quem se conta tudo e todo tipo de coisa. Ela realmente esperava que isso pudesse mudar agora que conhecera Alexis.

(...)

– Hora de acordar, Laninha. - seu pai ainda a chamava assim, mesmo ela não tendo mais cinco anos há alguns anos.

– Ahhh... - choramingou.

– Nada disso, hora de levantar. - cutucou seu braço. - Vamos, é sexta-feira, pense no quanto poderá dormir amanhã.

– Ta bom, já estou descendo. - seus olhos continuavam fechados. - Eu prometo. - isso mudou quando seu pai a cutucou novamente. - Pronto. - deu um sorriso daqueles que as pessoas dão para as tias ao ganharem meias de presente de natal.

Sexta-feira era o dia preferido de Lana, não só pelo final de semana, mas também pelas aulas. Esse era o único dia em que ela assistia a todas as aulas, o que era raridade no resto da semana. Também era o dia em que ela e seu pai almoçavam juntos em algum restaurante no caminho para a editora dele, onde ela escolhia alguns projetos de livros para ler e depois ia para casa. Seu pai a deixava fazer isso porque gostava da opinião de Lana a respeito sobre quais projetos investir ou não; ela dava chance a todos, até mesmo àqueles com nomes que não chamariam a atenção de leitores.

– Aqui estou eu. - falou enquanto descia as escadas. - Bom dia, família. - deu um beijo no rosto de sua mãe e outro em seu pai.

Ela estava um pouco atrasada e como não ganharia carona de seus pais, pegou um cookie, se despediu deles e foi em direção a porta. Iria para a escola caminhando, o que ela gostava, assim podia ouvir suas músicas e pensar em qualquer coisa até que chegasse. O qualquer coisa do dia não era uma coisa, na verdade, era um alguém. Heitor. Junto desse pensamento, se deu conta de que, com o final de semana, não o veria. Era estranho porque, em tão pouco tempo, ela se acostumara a vê-lo de manhã e se sentiu mal por pensar em duas manhãs sem conversar com ele. Não sabia como seria: se sentiria saudade ou se nem repararia.

– Heitor. - gritou assim que chegou na entrada da escola e o viu andando.

– Ei, Lana. - veio até ela. Ele sorria.

Um veio na direção do outro e, quando se encontraram, Lana o abraçou. Aquele foi um ato completamente impulsivo e ela não fazia ideia do motivo de tê-lo feito; o fato foi que, nenhum deles se incomodou. Ele passou seus braços ao redor do corpo dela e a abraçou de volta, ficando daquele jeito por mais alguns segundos. Ela reparou no quanto ele cheirava bem e ele, o mesmo em relação a ela.

– Me desculpa, eu... - ela estava um pouco envergonhada.

– Tudo bem. - ele riu.

– Eu não sei porque eu fiz isso. - falou rápido, mostrando o quanto estava nervosa.

– Tudo bem Lana, sério.

Eles foram juntos até o corredor principal, onde ficaram mais alguns minutos antes de o primeiro sinal tocar. Lana esperou encontrar Alexis no caminho para sua sala, mas ela não fazia parte da turma de cinema, ou seja, não se encontraram. A aula de cinema era uma das aulas preferidas de Lana.

– Mat, cara. - Heitor o encontrou no caminho para a sala de inglês.

– Ora ora se não é o Heitor-abandona-amigos. - brincou. - Cadê a Lana?

– Aula de cinema. - deu de ombros.

– Como foi apresentar a futura namorada pro seus pais, hein? - Mat tinha mania de zuar Heitor sempre que podia.

– Cala a boca. - deu um soco em seu braço. - Mas é dela mesmo que eu quero falar, ela, ela me abraçou agora pouco na entrada. Do nada. - não conseguiu conter seu sorriso ao dizer aquilo.

– Ihhhh. - foi tudo que Mat disse.

Foram em silêncio até a sala de inglês, onde sentaram nos mesmos lugares de sempre: as duas últimas cadeiras da fileira da parede. Heitor na frente, Mat atrás. Todo ano, no primeiro dia de aula, um deles chegava o mais cedo possível para guardar o lugar um do outro. Faziam aquilo desde a sétima série, quando se conheceram, na detenção, por terem brigado pra ver quem pegaria o lugar atual de Heitor sentar.

– Cara. - Mat deu um tapa em suas costas.

– Que foi? - Heitor virou pra trás.

– Eu sei que ainda é muito cedo mas, você ta afim da Lana? - falou baixo.

E aquela foi uma pergunta da qual ele não respondeu, não por não querer, mas por não saber exatamente o que dizer.