Shell Hudson escrita por RobertaC


Capítulo 2
Eu salvo a vida de um... Semideus?




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UMA DICA : quando você for lutar com monstros, tenha um plano, porque eu não tinha.

Me lembrei do que o Leo tinha me dado e olhei para minha mão. Nela estava uma adaga com um cabo trançado e uma esmeralda presa na ponta, a lamina tinha uns vinte e cinco centímetros e era tão afiada que podia arrancar a cabeça de alguém, mas mesmo assim, era uma arma muito pequena para se lutar com um cão gigante, tenho que me lembrar de falar com o Leo sobre isto depois.

Olhando para cima, eu percebi que a cadela – eu decidi que era uma fêmea – estava andando em minha direção. Eu dei as costas para ela – o que é uma coisa bem perigosa de se fazer – e me concentrei em subir no murinho da fonte, que era tão alto que me deixava da mesa altura que o monstro na minha frente.

Acho que o bicho entendeu meu movimento como “Vem me pegar, Mané!”, porque logo que eu consegui me equilibrar ele começou a vir mais rápido, abaixando a cabeça e abrindo a boca, pronto para abocanhar minhas pernas assim que estivesse perto o suficiente.

Dizem que situações difíceis trazem boas idéias, eu esperava que fosse verdade, já que o plano que eu tinha acabado de criar era muito, muito louco.

O que fiz foi dobrar os joelhos e me preparar para saltar. Quando o cão chegou perto, eu pulei e cai de pé na sua cabeçona, me virei e me sentei em suas costas – que eram bem confortáveis para falar a verdade -. Ela não deve ter gostado muito disto já que começou a se sacudir desesperadamente, parecia que eu estava num daqueles torneios, só que em um touro maior e mais selvagem.

Infelizmente, não tinham muitos lugares onde eu pudesse me segurar – à não ser os pelos -, então eu logo cai. Antes que eu pudesse me levantar ela ficou em cima de mim e dobrou sua grande pata para me rasgar ao meio, eu consegui rolar para o lado, mas uma das garras alcançou meu braço esquerdo, que explodiu em dor.

Pelo menos a ferida no braço me fez perceber que eu ainda estava segurando a adaga em minha mão direita. Assim, como ultima esperança, quando a cadela abaixou a pata para me ferir novamente eu estique a mão e furei a pata do monstro. A pobre criatura ficou tão assustada que só teve o tempo de ganir, antes de virar pó.

Meu braço estava doendo, e tudo o que eu queria era ficar ali deitada, mas eu me forcei a levantar para ver como os dois garotos estavam se saindo.

Leo tinha acabado de matar um dos pastores, o ultimo monstro estava ocupado tentando se livrar de umas raízes que saiam do solo e se enroscavam em suas patas, sob o efeito da melodia que Grover tocava.

Me arrependi de ter me levantado assim que o fiz. Meu movimento chamou a atenção de Grover e, sem pensar, ele parou de tocar para me dar um sorriso.

Durante esse tempo que a melodia da flauta parou, as raízes enfraqueceram e o cão se soltou. O bicho não devia considerar Grover como uma verdadeira ameaça, porque ele avançou direto para Leo, que estava olhando para baixo, remexendo em seu cinto de mecânico.

– Leo! - Eu gritei, para alertá-lo, o que se mostrou ter sido uma péssima idéia.

Meu grito fez com que, ao invés de olhar para o lado e ver o cão-fante, como era a minha intenção, o Leo olhou para frente, em minha direção. Um segundo depois, o cão saltou sobre ele, os martelos nas mãos do Leo voaram para as arvores e o cão rosnou algo muito parecido com: “Enfim, jantar!”.

Eu olhei para Grover, esperando que ele fizesse alguma coisa, mas o garoto parecia estar paralisado, em choque eu acho.

Finalmente, eu é que teria que fazer algo. Obviamente, fiz a primeira loucura que passou pela minha cabeça: eu corri até o grande trazeiro do cachorro.

Em algum lugar eu ouvi um grito, aí percebi que era eu quem estava gritando.

Continuei correndo, segurei a adaga com as duas mãos e a levantei em cima da cabeça, ignorando a dor no meu braço esquerdo. Por fim, eu alcancei o cachorro e o esfaqueei, bem acima do rabo.

A criatura olhou para traz, e desapareceu em poeira. Assim que ela foi embora, segui até o Leo, que já estava se recuperando.

– Tudo bem? - Perguntei examinando seu corpo à procura de um machucado serio. No geral, ele estava bem, alguns arranhões nas mãos e no rosto, muita sujeira, mas bem.

– Tudo maravilhoso. - Ele disse abrindo um sorriso. - Valeu..hã..?

Ah, claro! Ele não sabe meu nome.

– Shell... Hudson. - Falei, ele assentiu.

– Shell... é apelido de Rachel? - Perguntou Grover, juntando-se à nós.

– Não, meu nome é Shell mesmo. S-H-E-L-L.

– Tipo concha? Seu nome quer dizer concha? - Leo exclamou, um sorriso zombeteiro no rosto.

–Você vai mesmo rir do meu nome, sendo que eu salvei sua vida à dois minutos atrás e tenho uma faca na mão? - Eu o desafiei, mostrando a adaga.

– É... bom. Acho que você tem razão. - Ele aceitou. - Por que meninas são sempre tão violentas?

Grover deu de ombros em resposta.

– Ah, e outra coisa! Da próxima vez, vê se me acha uma arma maior.

– Sinto muito. Não consigo tirar coisas grandes de mais do meu cinto. - Ele parecia mesmo sincero. - De qualquer jeito você não precisou. Onde aprendeu a lutar assim?

Senti minhas bochechas corando com o cumprimento.

– Eu fazia esgrima na escola. - Expliquei.

– Sério? Legal, nunca estive em uma escola que tivesse esgrima, e acredite foram muitas. - Disse Grover.

– Acho melhor irmos andando, podem chegar mais deles. - Leo se adiantou.

– Ei! Calma aí! Eu ainda tenho perguntas para fazer! - Protestei.

– Leo tem razão. Te explicaremos tudo no caminho. Você disse que morava aqui perto?

– Sim, do outro lado da rua, mas...

– Ok, então mostre o caminho. - Leo me interrompeu.

Se fosse uma situação normal eu protestaria, nunca fui do tipo que aceita ordens, mas eu não estava nem um pouco afim de encontrar mais monstros, então comecei a andar em direção à saída do parque.

Quando saímos da clareira, eu diminui o passo, deixando os dois garotos me alcançarem.

– Então, que negocio é esse de semideus? - Perguntei, me dirigindo à qualquer um dos dois que pudesse me responder.

– Bom, você já ouviu falar dos Deuses gregos? - Começou Grover perguntando.

– Acho que sim. Você quer dizer, os Deuses Olimpianos, tipo: Zeus, Hades...?

– Isso! - Leo exclamou. - De quem mais você lembra?

–Hã... Atena, Hera, Afrodite, Apolo, Netuno, ... - Eu citei alguns dos nomes que eu lembrava.

– É. Só que Netuno é o nome romano, o nome grego é Poseidon. - Explicou Grover.

– Tem diferença? Afinal é o mesmo Deus, só muda o lugar.

– A maioria dos Deuses mudou de personalidade de uma civilização para outra. - Ele respondeu.

– Entendo, então, o que tem os Deuses do Olimpo?

– Você sabe que eles tiveram filhos com mortais e que estes filhos viraram heróis como Hercules, Perseu, Jasão,...?

– Sim... Espera! Você está dizendo que eu sou como eles? Quero dizer, os heróis?

AimeuDeusaimeuDeusaimeuDeus!

– Exatamente. Só que o termo correto é semideus.

– Impossível! Eu nasci aqui em Nova York, ninguém da minha família nunca foi da Grécia! - Discordei.

– Eu sei que você nasceu aqui, mas não é impossível. Olha só: o Olimpo, assim como os Deuses, muda de lugar, seguindo a civilização Ocidental. O centro do mundo, se preferir.

– Esta bem, você quer que eu acredite que o Olimpo está aqui, nos Estados Unidos? - Perguntei incrédula.

Grover simplesmente balançou a cabeça, em concordância.


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