Shell Hudson escrita por RobertaC


Capítulo 19
Fogo grego destrói a minha última lembrança.


Notas iniciais do capítulo

Meus amores!!
Demorei, mas voltei!
So... como prometido ( para aqueles que perguntaram quando eu iria postar - o capitulo 19 is here for you.
Então, vou explicar umas coisitchas:
Nesse capitulo - como é de se esperar - a Shell está bem... "deprimida" não é a palavra certa, acho que "em choque" é melhor.
Então vocês vão perceber que muitas partes vão estar separadas pelos " *** " que indicam que um certo tempo passou.
Acontece que, nesse estado de choque que a Shell se encontra, ela passa o tempo tentando "empurrar" as emoções para fora e ignora-las. Sabem, aqueles animais, que quando vêem um predador ficam parados, se fingindo de estátuas e esperando não ser vistos?
É isso que a Shell está fazendo. Por alguma razão, o subconsciente dela resolveu que se ela só ficar sentada olhando fixamente para frente e ignorando o mundo, as emoções simplesmente não vão atingi-la. Na mente dela, as emoções são o predador e a Shell é o animalzinho tentando sobreviver.
Então ela só conta aquilo que ela viu e entendeu, que são as coisas que chamaram a atenção dela e a tiraram de seu transe, nem que só por pouco tempo.

Other thing:
Eu comecei a escrever uma original - nada que vá atrapalhar o desenvolvimento de Shell Hudson -, até agora só postei o prólogo, mas pretendo postar o primeiro capitulo em breve.
Dêem uma passada lá, se interessar vocês.
http://fanfiction.com.br/historia/477216/A_Formula_da_Eternidade/

E um último aviso:
Eu achei que teria mais tempo esse ano, mas me enganei, na verdade tenho muito menos. Então só vou postar quando puder. Isso NÃO quer dizer que eu vou largar a fic, só vou demorar um pouco mais para postar do que costumava demorar ano passado.

Lembrem dos meus reviews!!!!
Beijos e aproveitem o capitulo.



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Era um milagre. Só podia ser.

Era impossível que no meio de todo aquele fogo – e não qualquer fogo, fogo grego, que queima até debaixo d’água – aquele envelope de papel, a minha carta, tenha sobrevivido sem uma mínima queimadura.

Sem pensar nas consequências, eu tomei impulso e saltei sobre uma pequena linha de fogo que se formava. Eu teria ido mais longe se uma mão não tivesse agarrado meu pulso com força e me puxado bruscamente para trás. Annabeth tinha me alcançado.

– Annabeth! – Me debati. – Ela está bem ali! Me deixe pega-la!

– Não seja idiota, Shell! – Ela apertou seus braços envolta de mim com mais força. – Isso aqui vai explodir assim que o fogo chegar na cozinha.

Ela tinha razão, eu sabia que tinha, mas não me importei. Eu queria a carta: eu iria tê-la. Continuei a lutar: me debati, chorei, gritei, me esperneei.

Annabeth se contentou em me manter no lugar, me impedindo de correr para o meio do fogo, até que aconteceu: a primeira explosão.

O chão tremeu e o fogo aumentou, destroços fumegantes voaram pelos ares. Annabeth pulou, agarrou minha mão e começou a puxá-la.

– Vamos Shell! Corre, vamos!

Sua voz parecia assustada, mas não me virei. Eu estava paralisada, olhando enquanto uma pequena flama avançava por um pedaço de grama intacto, aumentando a medida que consumia tudo em seu caminho. Então ela chegou na carta, dançou um pouco em sua volta, como para me provocar, e se esticou, tocando a pontinha do envelope.

Foi como se um botão de alto destruição tivesse sido acionado, a carta virou cinzas em um segundo, transformou em pó qualquer chance que eu tinha de possuir as últimas palavras de John para mim.

Eu gemi, chorando mais alto do que antes, os soluços balançando meu corpo, e uma nova explosão – maior que a primeira – me jogou no chão.

No segundo seguinte Annabeth já estava me pondo de pé, me puxando, correndo. Desta vez eu me deixei levar.

***

– Percy! – Annabeth chamou.

Tínhamos andado mais um pouco puxando a estátua e decidido passar o dia no pomar de uma fazenda.

Eu não falei nada durante o caminho, nem chorei, só caminhei atrás dos outros. Quando chegamos puxei a estátua até uma árvore e me sentei ao seu lado, encostando minhas costas no tronco e olhando para os galhos da árvore à frente.

Sabia o que os outros dois estavam fazendo. Tinha consciência da presença de Leo, duas árvores à minha esquerda, remexendo no sistema de irrigação. Senti quando o sistema foi ligado e um esguicho de água começou a molhar uma macieira, formando um arco-íris sob a luz do céu, que ia clareando. Ouvi Annabeth jogando uma moeda e pendido à Íris para falar com Percy e depois tentando acordá-lo. Mas em momento algum demonstrei interesse. Estava lá, imóvel, ignorando o mundo.

– Annabeth! – Ouvi meu irmão exclamar com a voz sonolenta. – Estão todos bem? Onde estão? Já conseguiram alguma coisa?

Ela o acalmou, e disse que estávamos todos fisicamente bem, então, baixou a voz, achando que assim eu não escutaria a sua narração do que tinha acontecido.

Bem... Eu escutei.

– Como ela está? Posso vê-la? – Percy pediu.

Leo sussurrou algo em resposta, seguido de alguns ruídos. O esguicho de água estava mais próximo.

– Shell? – Ele chamou.

Eu o ignorei, olhando diretamente através da mensagem de Íris.

– Shell, Percy quer falar com você. – Leo tentou, falando gentilmente. Ele também foi ignorado.

– Vamos lá, fale comigo. – Percy esperou que eu respondesse. – Bem, você já sabia que isso era provável, não é Shell? – Encolhi os joelhos até o peito e os abracei. – Quer dizer, ele estava com a Medusa, e ficou com ela por um bom tempo, era praticamente óbvio e...

– Percy! Pare de falar essas coisas! – Annabeth repreende-o , mas já era tarde demais, o primeiro soluçou rompeu pela minha garganta.

***

Já havia amanhecido à um bom tempo.

Eu estava deitada, encolhida ao lado da estátua. Leo estava dormindo do outro lado dela, ele tinha se deitado ali mais cedo e tentado conversar comigo, não funcionou.

Annabeth estava de vigia, encostada no tronco da árvore mais próxima. Virei-me para olhá-la e encontrei seus olhos me encarando, preocupados.

– Sinto muito. – Falei, tão baixinho que pensei que ela não ouviria.

Mas ela ouviu, e pareceu surpresa.

– Por que?

– Eu fui idiota lá atrás, quase nos matei – Expliquei. – Eu só... só queria ter a carta, só isso. Mas eu sinto muito.

Ela baixou os olhos, fitando o chão, e começou arrancar tufos de grama. Ficou em silêncio por um bom tempo.

– Já te contaram sobre quando Percy desapareceu? – Perguntou, sem tirar os olhos do chão.

– Quíron mencionou isso. – Lembrei-me.

– Foi horrível. Um dia nós estávamos lá, tudo muito bem, e então, no dia seguinte, ele simplesmente some, ninguém sabia de nada, ninguém tinha visto nada. Eu me desesperei, fiz tudo que estava ao meu alcance para achá-lo, sem nem pensar nas consequências, acho que, se fosse preciso, eu não hesitaria em botar em risco a minha vida e a de outras pessoas e, de certa forma, eu botei. Fui imprudente e irresponsável, fui idiota, uma vergonha para os filhos de Atena. – Ela respirou fundo e voltou a me olhar. – Eu te entendo Shell.

– É, acho que sim. – Concordei, e me virei para o outro lado.

Ela não entendia. Por mais horrível que fosse para ela enquanto ela estava procurando Percy, ela o tinha encontrado no final e ele estava bem. Não foi o que aconteceu comigo. John não estava bem. John estava morto. Ela não tinha como me entender.

Mais alguns minutos de silencio se passaram antes que Annabeth falasse de novo.

– Shell?

– Hum?

– Já te contei sobre quando o Grover se vestiu de noiva? – Ela perguntou.

Uma história. Uma história que eu não queria ouvir. Eu podia ter mentido, podia ter dito que sim, já tinha ouvido aquela história, mas não o fiz. Eu percebi o que ela estava fazendo: tentando me distrair, contando histórias para que, por um segundo apenas, eu pudesse esquecer. Não funcionaria, eu sabia disso. Mas pelo menos eu teria tentado.

– Não. – Respondi.

– Ah! – Senti quando ela sentou-se ao meu lado, dei uma olhadinha e ela bateu as mãos na coxa, indicando para que eu deitasse a cabeça ali. Hesitei um pouco, mas acabei fazendo. – É engraçado. Ele estava procurando por Pan, sabe, o deus da natureza, e ...

Fechei meus olhos e me deixei relaxar, forçando-me a esvaziar a cabeça. Fui me acalmando, sentindo suas mãos acariciando meus cabelos e ouvindo sua voz calma, talvez fosse impressão, mas ela me parecia quase hipnótica.

Eu adormeci.

***

Quando acordei, o sol ainda estava se pondo. Levantei a cabeça do colo de Annabeth e olhei para a estátua. Eu já sabia o que fazer com ela.

Peguei minha mochila, tirando de dentro uma das guias de remessa do Expresso Noturno de Hermes que havia encontrado no dia anterior e comecei a preenche-la.

“À deusa Hécate”

Parei, percebendo que não sabia aonde a deusa estava. Sem um endereço, era pouco provável que a estátua chegasse à ela. Decidi tentar mesmo assim. Acrescentei apenas uma frase.

“Sua vez.”

Ela entenderia.

Nós tínhamos achado John, cabia à ela nos ajudar com o resto.

Dei um jeito de prender a guia na estátua e coloquei vários dracmas na bolsa de couro, torcendo para que funcionasse. Funcionou. A estátua sumiu, deixando um grande espaço vazio, ao lado da árvore, onde ela tinha passado a noite.

Sem querer acordar os outros, mas também não querendo ficar parada, resolvi dar uma volta pelo pomar.

A propriedade era grande e, sem me importar com o caminho que tomava, acabei chegando à casa principal.

Era uma casa antiga, de estilo vitoriano e enorme, embora a única luz acesa fosse a da cozinha. Aproximei-me da janela, tomando cuidado para que não me vissem.

Uma família estava sentada à mesa, uma grande travessa de lasanha no centro, mas eles não comiam, estavam discutindo. A mãe gritava com os dois filhos mais velhos – um deles devia ter uns dezenove anos e o outro dezessete – e eles respondiam, irritados – era algo sobre eles quererem ir à uma festa que terminaria muito tarde -, o pai e a filha mais nova, uma garota que tinha cerca de 14 anos, pareciam entediados, como se o assunto já tivesse sido discutido mais de uma vez.

De repente, a garota os interrompeu, pedindo silêncio e apontando para a TV de plasma, que estava ligada no jornal.

– Olha, olha! – Ela dizia. – É o que eu falei, o que aconteceu no trem!

Isso chamou a atenção de todos, inclusive a minha, e eles passaram a olhar para a tela.

A repórter estava parada no meio de uma estação de trem muito movimentada, um policial se encontrava ao seu lado. Ela começou a falar:

– Noite passada um grupo de adolescentes causou tumulto em um trem que vinha de Nova York. Duas garotas e um garoto de quinze à dezessete anos atacaram parte do grupo do coral feminino da escola Newton High. Eles as perseguiram por todo o comprimento do trem e depois pularam, levando as vitimas junto. As câmeras de vigilância do veículo registraram a ação.

Senti meu coração acelerar. Ai, caramba! Eles estavam atrás de nós. Porcaria de pessoas cegas, entenderam tudo errado.

O vídeo da gravação começou a passar: nós, correndo pelo trem, atacando as dracaenae – pobres garotas indefesas -. Felizmente, a gravação era de muito má qualidade, apenas quem nos conhecesse poderia nos reconhecer. A gravação acabava quando nós saltávamos do trem.

– A polícia está, agora, tentando identificar esses três adolescentes, e já está fazendo buscas e coletando informações. Acredita-se que esses adolescentes também causaram um incêndio em uma loja abandonada situada à alguns quilômetros de onde eles saltaram do trem. Ninguém mais ficou ferido, porém ainda não se sabe nada sobre o paradeiro das meninas do coral que foram sequestradas.

Assim que a reportagem acabou, voltei correndo, encontrando os outros dois já acordados.

– Temos problemas. – Avisei, e já fui contando sobre o que havia visto.

– Ah, bem, isso era de se esperar... – Leo comentou quando terminei.

– É, mas agora temos que ir.

– Ir para onde? E como? – Perguntou Leo.

– Sei lá. – Dei de ombros. – Qualquer lugar, mas não aqui. Vamos achar um jeito.

– Na verdade, eu sei para onde ir. - Anunciou Annabeth.

– Como?

– Ah, você não é a única que tem sonhos por aqui. E também recebi uma... ahn... Visita esta noite.

– Quem? – Eu e Leo a apressamos.

– Abraham Lincoln. – Ela disse, e depois, percebendo nossa confusão, explicou. – A estatua dele, na verdade, mas a voz era feminina.

– Abe Lincoln tem voz de mulher? – Leo riu.

– Não, mas a pessoa que me mandou o sonho sim. Acho que era Hécate.

Lembrei-me do meu próprio sonho com a deusa, duas noites atrás. Para mim ela também tinha aparecido como uma estátua.

– Provavelmente. – Concordei. – Para onde vamos, então?

– Para o lugar mais obvio para uma feiticeira.

– Hogwarts? – Foi o chute de Leo. – Ótimo! A Shell mostra o caminho.

– Não é Hogwarts. – Annabeth corrigiu-o, enquanto eu dava um ponta pé nele. – É Salem, a cidade das bruxas.

– Oh, legal. Eu preferia Hogwarts, mas também sempre quis conhecer Salem.

– Sim. Olhem eu dei uma pesquisada enquanto a Shell estava fora. A primeira coisa que apareceu foi um artigo sobre as Bruxas de Salem. Ouçam:

“Os julgamentos das bruxas de Salem é um episódio muito conhecido da história colonial dos Estados Unidos que levou à condenação e execução de pessoas acusadas de bruxaria em 1692, no estado de Massachusetts. Geralmente analisado como resultante de um período de lutas internas e da paranóia puritana, este julgamento resulta na execução de vinte e cinco pessoas e a prisão de muitos mais.

Fatos:

Em 1692, na Vila de Salem (agora denominada Danvers, e não, ao contrário do que se acredita, na cidade vizinha de Salem, onde o julgamento ocorreu), algumas meninas, incluindo Abigail Williams, Ann Putnam e Betty Parris, acusaram alguns cidadãos de serem bruxas ou feiticeiros, os aliados de Satanás, e de tê-las enfeitiçado.”

– Então nós estamos indo para Salem, Massachusetts, certo? Tem como você ver quanto tempo de viagem? – Perguntei.

– Eu também já vi isso. São cerca de nove horas e meia de viagem. Mas nós vamos ter que arranjar um carro. Não podemos pegar ônibus nem trem, pelo menos até sairmos da região, eles vão estar nos procurando nas estações e paradas.

– Bem, nós podemos pegar uma carona até uma certa parte do caminho... Depois nós pegamos um taxi, ou até mesmo um ônibus se for bem longe daqui. E eu acho que sei onde conseguiremos a carona.

Foi uma sorte danada, na verdade. Eu tinha ouvido eles conversarem, mas não tinha certeza de nada, pois não tinha prestado atenção na hora, e também não sabia se eles realmente nos dariam a carona. Só que era nossa melhor aposta, nós tínhamos que tentar. Então juntamos nossas coisas e fomos para as árvores mais próximas da casa, as que formavam um túnel acima do caminho de cascalho que levava à saída da propriedade.

Annabeth percebeu que eles não recusariam duas garotas sozinhas, mas se elas estivessem acompanhadas por um garoto, a carona não seria tão fácil de conseguir assim. Por isso ficou decidido que o Leo ficaria escondido e apenas eu e Annabeth apareceríamos primeiro. Também achamos melhor tirar o excesso de sujeira do corpo.

Nós duas deixamos Leo vigiando e fomos mais adentro das árvores, com a camisa molhada com um pouco de água dos cantis, fomos nos esfregando, tomando um banho “às antigas” e tentando parecer menos com moradoras de rua.

Vesti o short que havia trazido e a única camiseta limpa que ainda sobrava na mochila – uma velha, que eu normalmente só usava para ficar em casa, mas que ainda estava em bom estado -. Então Annabeth, que já tinha colocado sua própria roupa, puxou uma tesoura da mochila e ajoelhou-se à minha frente.

– Peguei a tesoura com o Leo. – Ela explicou. – Olhe, eu não queria fazer isso, mas vai aumentar nossas chances.

Ela começou a cortar minha camiseta, deixando-a na altura da cintura, curta o suficiente para que a leve brisa de verão me causasse arrepios. Com dois pedaços do tecido frontal da camiseta que ela havia mantido mais longo, Annabeth fez um nó, marcando minha cintura e fazendo-a ficar bem justa.

– Isso era mesmo necessário? – Reclamei, olhando para baixo, para a minha barriga descoberta.

– Talvez não, mas é melhor prevenir do que remediar, não é mesmo? – E me entregando a tesoura ela falou. – Vamos, faça algo parecido com a minha.

Sem ideias melhores, só cortei a camisa desigualmente na altura da cintura, mas sem amarrar, deixando a solta e folgada.

– Pronto? Não precisamos de mais nada, não é? – Questionei, esperançosa.

– Ah, bem... Eu estava pensando, sabe a nécessaire de maquiagem que as meninas de Afrodite te deram?

– Ah, não! Não mesmo! Nós vamos ficar parecendo garotas de programa! Vamos ficar que nem as filhas de Afrodite. – Ela me lançou um olhar e eu percebi o que tinha acabado de dizer. – Não que elas sejam garotas de programa, é só que... Nossa, pra quê exagerar? Fala sério, Annabeth, por favor?

Minhas contestações não adiantaram nada: tivemos que nos maquiar. Eu estava me sentindo uma Drew da vida – isso não é uma coisa muito boa no meu conceito -. Meu único consolo era que eu não estava sendo “chamativa” sozinha, eu tinha Annabeth comigo.

Mas a reação do Leo não ajudou.

– Espera! Afrodite fez aquele negócio de trocar as roupas e maquiar em vocês? E eu? Continuo sujo e fedorento?

– Não, ela não fez o negócio de trocar roupas e maquiar. Ela foi sequestrada lembra? E mesmo que tivesse feito, não ia te ajudar muito. – Respondi, mal humorada.

– Então? Algum carro em vista? – Annabeth perguntou.

– Não. Mas assim que a luz daquele quarto apagou. – Ele nos apontou uma sacada que era virada para a lateral da casa. – A luz dos dois quartos da frente acenderam. Acho que você estava certa, Shell. Eles vão sair.

– É. Bem, temos que esperar agora. – Disse, sentando-me ao seu lado.

Agitada demais para sentar-se, Annabeth decidiu dar uma volta pelo lugar. Leo aproveitou o tempo sozinho comigo para conversar:

– Você está bem?

Eu o olhei, tentando encontrar algum tipo de zombaria em sua expressão, mas não achei nenhuma, acho que ele sabe ser sério de vez em quando. Isso não me impediu de sentir um pouco de amargura.

– É, acho que sim. Não fui eu que virei uma estátua, não é mesmo?

– Shell... Você lembra que eu te disse que você podia conversar comigo? Sobre qualquer coisa?

Meus olhos se encheram de lagrimas com aquelas palavras. Uma razão idiota para se chorar. Mesmo. Acho que só estava meio cheia de emoções demais – raiva, desespero, esperança, tristeza, medo... -, como alguém pode sentir tanta coisa ao mesmo tempo?

– Eu sei disso. Eu me lembro. Só não quero falar com ninguém agora. – Expliquei. – Mas você ainda merece um obrigada. Acho que enlouqueci quando vi... você sabe. Você não tem ideia, eu realmente estava maluca, se vocês não tivessem chegado eu teria feito alguma coisa, não sei exatamente o quê, mas não seria nada bom. E você me acalmou. Sabe. – Eu funguei. - Se você fizer essas coisas de vez em sempre, daria até pra te aturar Leo Valdez.

Ele riu, mas não um riso feliz, só um riso, só um som. E eu gostei disso, porque ele não estava triste por mim, ele estava triste comigo. Então, quando ele esticou o braço e abraçou meus ombros, eu não o afastei. Era bom ter alguém para me acalmar de vez em quando, como a Annabeth esta manhã, e como o Leo agora.

– Você vai borrar a sua maquiagem, se continuar chorando. – Ele comentou.

Desta vez eu ri.

– Eu deveria saber que esse sentimentalismo todo não ia durar.

***

Demorou para acontecer, eu cheguei a achar que tinha escutado errado. Mas eles não me desapontaram. Por volta das onze da noite Annabeth veio correndo em nossa direção:

– Eles estão saindo. Vamos para o portão.

O espaço envolta do portão da casa estava vazio, nenhum carro esperando, por eles.

– Tem certeza de que eles estão vindo? – Perguntei.

Ela fez que sim com a cabeça e indicou para que o Leo fosse para trás das árvores, para não ser visto.

Minutos depois faróis apareceram no final da estrada, vindo da cidade. O carro desacelerou e estacionou perto do portão. Era um BMW conversível prata.

Isso era tudo o que eu sabia dizer sobre o carro, mas aposto que se o Leo estivesse do nosso lado, estaria falando sem parar sobre o modelo, os cilindros, a quantidade de cavalos, o aro dos pneus... E também tenho certeza que, se o John estivesse aqui, ele também estaria impressionado.

Segundos depois que o carro parou, os dois garotos da casa apareceram. Como eles haviam dito que fariam, enquanto lavavam a louça, sussurrando, para que os pais não escutassem. Eles abriram a porta do carro.

– Ei! – Eu chamei, correndo para perto deles, evitando estremecer por causa do frio – Annabeth tinha pedido para que eu não colocasse o casaco até estarmos dentro do carro -.

Os três garotos – o que estava no volante também – viraram-se, surpresos.

– Ahn... Oi? – Falou o motorista, que devia ter a mesma idade que o mais velho, uns dezenove anos.

– Oi. Olha, a gente precisava de uma carona. Será que vocês tem espaço pra gente? – Perguntei, forçando um sorriso.

Annabeth apareceu atrás de mim, arrumando a mochila nas costas.

– Para onde vocês estão indo? – O irmão mais velho quis saber, nos examinando de cima a baixo, o que quase lhe causou um olho roxo.

– Ah, bem... – Annabeth começou. – A gente precisava ir para o Massachusetts, mas qualquer lugar perto da fronteira do estado, já está bom.

– Perto da fronteira? Mas isso são cinco horas de viagem!

– Ah, por favor... – Insisti, fazendo um biquinho e tentando agir como uma daquelas meninas atiradas. – Nós estamos tão cansadas. Vocês vão estar de volta pela manhã.

Eles trocaram olhares e nos examinaram mais uma vez – eu estava quase soltando fumaça pelas narinas -, então o motorista suspirou e começou a mexer no GPS do carro. Depois de dois minutos ele nos olhou de novo.

– Eu posso levar vocês até Williamsport. – Ele anunciou. – Fica à três horas e meia daqui. Não é muito perto da fronteira, mas é o máximo que posso fazer.

Deixei um sorriso aparecer e agarrei o braço do mais novo, soando muito agradecida:

– Obrigada! Vocês são maravilhosos.

Annabeth acenou com a mão e Leo apareceu, saindo do meio das árvores e sorrindo.

– Valeu, caras. Essa carona vai ajudar muito.

Tive que me segurar para não rir da cara de desgosto dos garotos, quando perceberam que não ficariam sozinhos com nós duas.

– Quem é esse? – O irmão mais novo perguntou.

– É o Leo. Ele está com a gente. – Annabeth falou, não tão simpática, agora que tínhamos conseguido o que precisávamos.

Quando entramos no carro, fiz com que Leo se sentasse no banco da frente, entre Annabeth e o garoto que dirigia - ganhando um sorriso, cheio de gratidão, dela por isso – e sentei-me entre os dois irmãos, no banco de trás.

– E aí? Qual é o seu nome? – O garoto mais novo me perguntou, virando-se meio de lado para me encarar, flertando comigo descaradamente. – Eu me chamo Adrian.

– Shell. – Respondi, sem emoção alguma.

– Shell?

– É. – Leo respondeu por mim, olhando para trás, irritado. – S-H-E-L-L. Shell. Eu sou o Leo e ela a Annabeth.

O irmão mais velho falou do meu lado, mantendo os olhos fixos em Annabeth e se divertindo pela irritação de Leo:

– Jesse. E o cara do seu lado... Leo, não é? Pois então, o cara do seu lado Leo, o nome dele é Vince.

– Bom saber. – Leo rosnou. - Então, Vince você vai resolver sair do lugar ou eu vou ter que te ensinar a dirigir?

Eu e Annabeth trocamos olhares. Eu começava a duvidar se essa realmente tinha sido uma boa ideia.

Sem responder à implicância de Leo, Vince girou a chave e trocou a marcha. Pisou no acelerador e avançou, à mais de 90 quilômetros por hora, em uma estrada onde a máxima era de cinquenta. Deixando para trás tudo o que eu queria esquecer, mas que nunca poderia.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram?
Não esqueçam dos reviews!
Bejos beijos
I love you



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