A tensão atravessava todo seu corpo levando-a a pensar coisas que ela não gostaria, mas de todos os pensamentos o que mais a perturbava era o fato de ela não poder intervir no que quer que fosse acontecer ao seu pai. Do que adiantaria ela possuir aquele dom se ela não pudesse usá-lo para o bem ou para...
Nicole suspirou e fechou os olhos, ela tentou elevar seus pensamentos ao mais longe possível daquela palavra com a letra M, pois ninguém poderia impedir a vinda da morte — a não ser Deus.
— Relaxa, vai acabar quando você menos esperar. — Afirmou uma mulher chamando a atenção da loura que abriu os olhos e assentiu.
Ela dizia aquilo porque não era ela que estava naquela maca e com a pressão de ter que conviver com imagens dolorosas de pessoas se machucando e não poder fazer absolutamente nada, bem, pelo menos havia uma grande chance de ela não poder fazer nada, ela tentava ter pensamentos positivos, todavia o medo estava a deixando sem saída para pensamentos otimistas.
Nicole não sabia dizer exatamente o que aconteceu nos minutos seguintes, pois a sonolência a dominou.

Seus pés balançavam de um lado para outro, ora ou outra eles tentavam alcançar o chão, mas sem sucesso, a maca era alta e ela pequena, chegava a ser cômica a cena, mas ela não estava se importando, pois estava fazendo aquilo para passar o tempo. Ela não sabia dizer o que eles haviam conseguido escanear de seu cérebro, mas eles estavam há tempos do outro lado da sala e aquilo a estava irritando.
Seu celular vibrou em seu bolso e ela o pegou rapidamente, era uma mensagem de John e ao ver o nome dele brilhando no visor do aparelho o coração dela acelerou sem que ela tivesse tomado conhecimento daquilo, mesmo que tenha sido tão abruptamente. Ela rapidamente desbloqueou o celular e depois de alguns toques na tela ela leu a mensagem.

Oi, espero que esteja bem. Prometi ligar de manha, mas tive certas complicações. Preciso que você venha ao hospital o mais rápido que você puder.

Nicole franziu o cenho e releu a última frase. O que será que havia acontecido? A loura apertou o celular entre as mãos e respondeu a mensagem de John rapidamente.

Que tipo de complicações? O que aconteceu?

Não demorou muito para o celular vibrar mais uma vez em suas mãos.

Não gostaria de te dizer isso por sms, Nicole, mas é o Cho, ele não está nada bem. Venha depressa.

Se antes o coração da Faith havia disparado por apenas ter lido o nome de John, agora ele havia perdido uma batida ao saber que o problema era Cho. Aquilo não fazia sentido para ela, pois o Cho era um homem saudável, o que poderia ter de fato acontecido? Essa pergunta rondava a sua cabeça e desobedecendo ao que haviam a dito (que permanecesse na sala enquanto seus resultados ficassem prontos) ela pulou da maca e correu até a porta.
— Nicole! — Tony chamou por ela e a loura se virou, deparando-se com ele e com Nick que acabara de sair da sala que era o compartimento da que ela havia estado durante longos e torturantes minutos. — O que foi?
— Precisamos voltar, pai. — Pediu enquanto caminhava até ele.
— Não quer ver os resultados? — Perguntou com a sobrancelha arqueada.
— Quero, mas a gente precisa voltar.
— O que aconteceu?
— O Cho está no hospital, aconteceu alguma coisa. John disse para que eu fosse para lá agora, vamos? — Ela segurou nas mãos do Tony e ele viu o desespero no olhar dela.
— Vamos.
— Mas Stark... — Nick começou, mas logo foi cortado.
— Quando estiverem prontos os resultados você me avisa, precisamos ir agora.
Fury preferiu não ir contra a decisão deles — pela primeira vez.
— Tudo bem. — Ele assentiu e Tony puxou Nicole pela mão para que eles saíssem dali o mais rápido possível.

Flashback On

— Senhor? — Cho se aproximou dele com sua bengala e com um copo de café na outra mão direcionando-a para Tony, que o olhou com uma expressão de dor. — Pegue. — Tony acabou por aceitar o copo de café e assentiu com a cabeça.
— Obrigado.
— Eu sou o Cho. — Disse se apresentando.
— Tony. — Ele bebericou o café. — O que o senhor estava fazendo no quarto da minha filha? — Com o tempo a palavra filha havia se tornado um prazer para os lábios de Tony.
— Estava dizendo a ela a quão linda era a boneca de pano que o senhor havia lhe dado, depois comecei a ler a Bíblia para ela, então eu percebi que aqui — apontou para o canto de seu próprio olho — havia uma lágrima e o aparelho começou a fazer mais barulho do que antes, porque quando eu entrei no quarto da criança já estava fazendo muito barulho, mas não tanto quanto depois. — Umedeceu os lábios e prosseguiu: — E a criança abriu os lindos olhos. — Tony sorriu internamente com aquelas palavras. — E o aparelho começou a apitar e eu chamei o doutor. — Relatou todo o ocorrido.
— Eu não tinha percebido que os batimentos cardíacos dela haviam aumentado quando eu sair do quarto. — Disse amargamente, pois era capaz que se Cho não estivesse no quarto com ela ninguém teria visto que ela havia sofrido parada cardíaca e... ele preferia nem imaginar.
— A culpa não é sua Tony. A criança logo vai está por ai correndo. — Disse sorridente e tentando animar ao Tony, que acabou por sorrir ao perceber como o ancião chamava Nicole.

Flashback Off

Foi com as lembranças do senhor Cho passando pela cabeça de Tony que ele chegou ao hospital. Aquela havia sido a primeira vez que ele e Cho haviam se falado, um pouco antes de Nicole acordar do coma. Ele tinha grande gratidão pelo Cho, pois se fosse antes ele não acreditaria no ideal que ele possuia agora, que ele cria que Deus usou Cho de alguma maneira que despertou Nicole, que simplesmente ele cria em Deus. Seja o que tivesse acontecido com Cho, Tony pedia a Deus para guardá-lo, assim como o ancião havia guardado Nicole naquele dia, naquele dia que o Senhor o usara grandemente.
Mal Tony freou o carro e Nicole saltou do veiculo correndo para dentro do hospital, ele entendia a angustia que sua filha estava sentindo ou pelo menos imaginava, pois fora Cho que apresentara a pessoa mais linda e apaixonante que um dia Nicole ou qualquer outra pessoa poderia conhecer em sua existência: Jesus.
— John! — Nicole chamou por ele assim que o viu na recepção e o moreno logo andou até ela e a abraçou fortemente.
— Ah, Nicole! Que bom que você veio. — Ele se afastou. — Eu estou tão mal, eu ainda não consigo acreditar que fizeram isso com o Cho.
— O que foi que aconteceu com ele, John? Quem fez o que?
— Ele foi encontrado na rua, alguém bateu nele. — Respondeu com o rosto em uma máscara de irá. — Eu vou... — ele fechou os punhos, travou o maxilar e suspirou, jogando a cabeça para trás finalizou: — Estou furioso.
— Bateram nele? — Perguntou incrédula.
— Sim, a policia me ligou e disse que prenderam o cara, mas não é o bastante! Ainda não! — Sua voz era puro veneno.
— Calma John, agora nós temos que nos preocupar com o bem estar do Cho, como ele está?
— Nada bem, nada mesmo. — Respondeu frustrado.
— Onde ele está? — A voz que surgiu foi de Tony, ele logo estava ao lado de Nicole.
— Está na UTI, vocês não podem entrar, a não ser quando for à hora da visita.
— E o que aconteceu?
— Bateram nele. — Quem respondeu foi Nicole.
— Quem? — Perguntou após alguns segundos, enquanto a informação ia sendo absorvida e transformada em raiva.
— Um tal de Caleb Ryle. — John respondeu. — Ele foi preso.
— Só eu acho que isso não é o bastante?
Nicole arqueou uma sobrancelha ao ouvir o que seu pai disse.
— Na verdade estava acabando de dizer isso a Nicole. — John disse.
— Parece que finalmente concordamos em alguma coisa. — Tony disse desgostoso.
— Parece que sim.
— Vocês tem que se acalmar. — Nicole interveio.
— Acalmar como? Isso não existe! É simplesmente desumano qualquer pessoa que toma uma atitude cruel dessa. Você acha que Caleb vai pagar pelo o que fez? Por favor, eu não dou mais do que três anos atrás das grades.
— John, o Cho não vai sair dessa sendo o injustiçado, Deus...
— Deus? Onde estava Deus quando ele quase morreu? — Bradou.
— Do que você está falando? — Nicole não acreditava no que havia acabado de escutar. — Ele estava lá o tempo todo e o fato de Cho não ter morrido é uma prova disso.
John passou as mãos pelo cabelo e umedeceu os lábios.
— Você tem razão, eu só... — ele olhou para baixo e foi na direção em que os Stark haviam vindo, para a porta central do hospital, saída e entrada. Ele precisava respirar ar fresco e se acalmar.
— Dê um tempo ao garoto. — Tony disse para Nicole.
— Só não acho certo ele querer culpar Deus, coisas ruins acontecem com pessoas boas também, por acaso podemos aceitar só as coisas boas de Deus? Temos que aprender que seguir Jesus não é fácil, não e um passeio no parque de diversão, mas a recompensa é valiosíssima.

— Eu sei que não devo achar que a culpa é Sua e eu te peço perdão por isto Senhor meu e Deus meu. Mas o que fizeram com Cho me deixou tão perturbado e eu sei que o Senhor esteve com ele, mas porque com ele? Justo com ele? — John estava sentado em um dos bancos no Central Park e olhava para além das arvores a sua frente, pois ele tentava enxergar a razão real por detrás daquele acontecimento. — Eu sei que nada acontece por acaso, mas eu não consigo entender Senhor, por quê? Eu quero entender, eu quero poder compreender o porquê disso ter acontecido, por mais que eu tente descobrir o motivo eu não consigo, algo está tampando minha visão e tudo está escuro, mas o Senhor Jesus, o Senhor é a luz no meio da escuridão e eu quero, eu simplesmente necessito, ir até o Senhor para mais uma vez voltar a enxergar, mas para isso preciso da sua ajuda, pois o Senhor é o meu guia e eu sou o piloto, mas às vezes acelero mais do que deveria e acabo te perdendo no meio do caminho, me ajude a não cometer mais este erro Senhor.