Por Que A Empregada Gosta Tanto Da Minha Irmã? escrita por Sayurin Konata


Capítulo 1
Capítulo Único




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Naquela manhã ensolarada o sol irradiava uma luz terna e um calor aconchegante. O ambiente do lago estava quieto - já que Cirno e Daiyousei tinham ido brincar com as três fadas travessas para os lados do templo Hakurei. Um cheiro doce acompanhava a brisa vinda da floresta, expressando a delicadeza de muitas flores simples, largadas à própria sorte, mas surpreendentemente fortes e bonitas. Vez ou outra um peixe resolvia saltar no grande lado e produzindo som gentil de água batendo em consequência de seu pulo baixo. Estava tudo perfeito para a soneca rotineira de Meiling Hong*.

Não que a youkai ruiva e alta tivesse qualquer autorização para isso, mas era quase sempre certo que durante a vigília cairia no sono. Entre seus suspiros pesados com um sorriso bobo e o ronco baixo, todas as centenas de lembranças de Sakuya a advertindo - verbal ou dolorosamente - eram apagadas de sua memória, assim comprometendo perigosamente o futuro da porteira.

Um passarinho azul que vinha do sul pousou sobre seu chapéu verde enviesado na cabeça, sentindo o movimento dos ombros enquanto respirava profundamente, cochilando de pé, usando o grande muro como apoio para as costas enquanto mantinha os braços cruzados frente ao peito. Subitamente se ouviu uma voz falando alto:

Meeiliing!

Aaah!

Tanto o pássaro quanto a youkai levaram um susto. Por ter sido um chamado muito próximo, Meiling acordou com um pulo e tremedeiras, fazendo o chapéu escorregar e não conseguindo ver a tempo o animalzinho que já tinha disparado floresta a dentro.

Com o coração acelerado e a respiração ofegante, um pouco desconcertada arrumou o chapéu verde sobre a cabeleira e girou nos calcanhares para ver quem se apoiava nas grades escuras do portão de ferro. O que viu não ajudou a acalmá-la. Dentro dos terrenos da Mansão do Demônio Escarlate, segurando uma sombrinha e olhando-a fixamente com seus grandes e arredondados olhos vermelhos, Flandre Scarlet parecia inocentemente não ter entendido a razão daquele grito.

— Por que você gritou, Meiling?

— F-Flan-sama?! O que está fazendo aqui fora?! - acabou questionando no calor do momento.

Meiling sabia da rigidez submetida à pequena vampira de asas de cristais. Devido à sua personalidade instável, tornava-se seriamente perigosa, podendo destruir toda e qualquer coisa. Consciente disso, Remilia Scarlet, irmã mais velha e regente da Mansão, confinara Flandre no porão, sozinha na companhia de brinquedos que acabavam rasgados e decapitados. Era uma regra muito dura, com pequenas flexões, pelo que sabia, que se limitava a alguns cômodos por tempo limitado. Nunca, porém, havia visto Flandre no quintal, tampouco perto da saída.

Mentalmente dando graças por estar do outro lado dos altos portões, Meiling ouviu com surpresa a resposta da vampira loira.

— Remi deixou eu sair. Mas - acrescentou com certo desgosto ao virar meio corpo para trás - só se ela viesse comigo. - e apontou para a figura de Sakuya vários metros atrás, entretanto ainda numa distância apropriada para um interferência nas ações de Flan.

Meiling havia acompanhado o dedo da garota e ao se deparar com a empregada, notou um olhar gélico que lhe rendeu calafrios na espinha. Aquela havia passado muito perto.

Tentando disfarçar o medo, riu, passando a mão na nuca e se voltando novamente para a loirinha.

— Não ligue, Flandre-sama. - foi dizendo relaxada. - Pelo menos você pôde sair um pouquinho. É bom tomar um ar puro.

Flandre suspirou.

— Mas você não imagina a dificuldade de convencê-la a me deixar vir para os portões sozinha. - foi resmungando com um bico, ainda olhando para a empregada albina. - Cabeça dura.

— Eh? - fez Meiling sem entender - Por que você quis vir sozinha?

Mirando a porteira, respondeu:

— Eu queria falar sobre ela com você.

— Eeeh?! - fez de novo, agora cheia de espanto - Sobre a Sakuya?! Você ficou sabendo dos enchimentos?!

— Não é nada disso.

— Ah, eu sabia. Quero dizer - ou melhor...

Flandre a interrompeu, aproximando-se mais ainda das grades e começando a explicar sem hesitar:

— É que o jeito que a Remilia trata a cachorrinha branca estava me irritando, então fui perguntar para a Patch sobre isso. Ela me disse uma porção de coisas, mas agora eu quero saber porquê a cachorrinha branca gosta da minha irmã. A Patch disse que você saberia.

— Quem, eu? - indagou surpreendida novamente. Estava tudo acontecendo tão rápido que ainda tinha dúvidas se estava sonhando ou não. Pensando um pouquinho sobre o assunto, continuou com um sorriso: - Bem, é verdade que Sakuya e eu conversamos um pouco, mas não sei se conseguirei responder à sua pergunta, Flandre-sama. Nós da Mansão sabemos pouco sobre ela. Quem melhor poderia responder é a Remilia-sama.

— Não quero perguntar para ela. - retrucou de imediato, emburrando-se um pouquinho. - Minha irmã provavelmente vai responder - e fingindo uma postura elegante ao mesmo tempo em que balançava a mão com movimentos do pulso, continuou numa voz pomposa - "Por que está perguntando? Isso não interessa a você, Flan. Agora volte para o seu quarto". Seria bem assim.

As duas acabaram rindo depois da imitação zombateira.

— Também acho que ela não responderia. - admitiu Meiling, mantendo a simpatia de sempre. - Bem, se quiser eu posso contar o que eu sei. Só não conte para a Sakuya, está bem? - brincou, pondo o dedo indicador na frente dos lábios que desenhavam um sorriso maroto.

— Certo, me conte!

— Talvez você não saiba, mas ela não é daqui.

— O quê? - questionou confusa. - Ela veio do mundo exterior?

— Ou de uma dimensão paralela. - acrescentou. - Só não sei se isso existe, haha! E também Sakuya nem sempre gostou de vampiros.

— Mesmo? Já ouvi que minha irmã e eu não fomos as primeiras que ela viu. É verdade? O que acontecia quando ela se encontrava com algum?

— É... bem... - enrolou, suando frio e desviando o olhar enquanto punha a mão na nuca outra vez, sem saber bem como pular a parte da aniquilação. - Ela... só não se dava muito bem com eles, só isso mesmo. Nem com a Remilia-sama ela simpatizou, veja só.

— E como Sakuya conseguiu mudar tanto? - perguntou num tom que claramente expressava sua antipatia à mudança de um extremo para o outro.

— Desculpa, isso eu também não sei. - respondeu pondo uma mão de cada lado, ambas erguidas com a palma para cima ao balançar brevemente a cabeça. - Sakuya foi bem arrisca no começo. Acho que foi a convivência - e completou numa voz malandra - ou algum truque hipnótico. Para uma mudança dessas talvez tenha sido - e riu alto, pondo as mãos na cintura.

Quando terminou acabou imediatamente olhando para Sakuya por acidente. Ela continuava no mesmo lugar, mas seu olhar tinha mudado. Continuava sério, porém como uma repreensão contida. Parecia saber que era tema da conversa e estava dizendo algo como "Não exagere". Dando conta disso, Meiling deu um pigarreio para assumir uma postura um pouco mais adulta. Sorrindo de leve, devolveu logo sua atenção para Flandre.

— Isso é tudo o que eu posso lhe dizer, Flan-sama. Se existe algo além disso, eu não sei. Sinto muito não poder ajudá-la.

Flandre notou a mudança de aspecto da serviçal com a boca no formato de um pequeno "o", assumindo uma expressão inocente de surpresa que conquistou Meiling. Aquele semblante, porém, durou pouco.

Com traços friamente sombrios, a vampira perguntou sem rodeios:

— Você não está escondendo nada, né?...

Consciente da periculosidade da mudança de traços, a ruiva pôs-se a responder de imediato, suando frio e um tanto atrapalhada:

— N-Não, não estou não! Eu realmente não sei mais nada, juro! Acredite em mim, por favor, Flan-sama!

Convencida, Flandre olhou pelo canto dos olhos para o chão e deu um estalido audível com a língua, insatisfeita.

— Parece que terei de conviver com minha própria teoria.

Curiosa, Meiling baixou a guarda sem perceber ao questionar sem pensar duas vezes:

— Eh? E qual é a sua teoria?

Flandre não falou. Limitou-se a mirá-la bem nos olhos, o que era possível já que decidira bater as asas para ficar na mesma altura da porteira. Tinha olhos de alguém concentrada, mas um sorriso brincalhão. Meiling recuou um passo quando Flandre deu o impulso para voar, um sorriso temeroso estampado. Aquela mescla de características poderiam significar muitas coisas, a maioria puxada para um lado pessimista. Mais atrás Sakuya também ficou tensa, os olhos claros presos na figura de vestido vermelho, com a mão no bolso do avental pronta para usar suas habilidades caso fosse necessário.

Flandre ergueu o indicador ao nível de seus olhos e contou no que acreditava:

— Sakuya era uma cadelinha de rua maltrapilha do mundo exterior que foi maltratada por vampiros falsos, que veio para Gensokyo por acidente e que virou humana por causa disso. Um dia Remi a encontrou e pensou "Céus, ela sujará toda a Gensokyo! E eu não suporto sujeira! Tenho que dar um banho nela!". Mas a cachorrinha branca encardida não gostava de banho, por isso quando percebeu o que Remi queria elas brigaram e brigaram até que uma coleira foi posta na Sakuya e ela veio arrastada para cá. Desde aquele dia minha irmã dá o necessário para mantê-la aqui e isso acabou conquistando a Sakuya mesmo Remi sendo vampira. Mal sabe ela que Remi só faz isso para que ela não suje Gensokyo e deixe minha irmã neurada!

Caíram na gargalhada. As duas curvavam o corpo, dobrando-se de rir, Meiling mais baixada do que Flandre, a qual parecia se divertidamente contorcer sentada em uma alta cadeira invisível. A empregada-chefe não utilizou suas habilidades, mas o tempo congelou para ouvi-las. Tudo ao redor parecia interessado naquela exibição de alegria da solitária vampira com asas de cristais.

— Essa foi uma teoria muito boa, Flandre-sama!

— Não foi, não foi?! "Sakuya, pare de sujar tudo! Onde foi que eu errei?!" Hahahahaha!

Não souberam quanto tempo passou em meio as risadas. Souberam apenas que quando finalmente pararam era porque não haviam condições. Os músculos estavam muito doloridos e faltava ar nos pulmões. Com dificuldade as criaturas cessaram as gargalhadas. Meiling, que tivera de segurar nas grades do portão para não cair, enxugou uma lágrima de riso no canto do olho direito enquanto via Flandre tentando assumir uma postura reta. Foi quando notou Sakuya logo atrás.

— Com licença, Flandre-sama. - pediu com polidez, as mãos postas baixas frente ao corpo, atraindo a atenção das outras duas. - Já está na hora de retornar.

Abandonando qualquer resquício de humor, Flandre respondeu com veemência:

— Não quero voltar! Quero ficar com a Meiling, Sakuya!

— Sinto muito, mas não é possível, senhorita. - explicou de forma branda. - Sabe das orientações de sua irmã.

— Quero ficar mais um pouco! - suplicou.

A porteira preocupou-se. Analisando meticulosamente a cena percebia uma tensão. Sakuya poderia ter problemas, mesmo com seu relógio no bolso, afinal uma súplica de Flandre poderia não ser seguida exatamente por lágrimas. Pensando rápido, sorriu com casualidade, pondo-se numa postura ereta e segura.

— Se quiser posso te acompanhar até o quarto Flan-sama. Assim podemos conversar mais no caminho. Que tal? Sakuya, - dirigiu-se à empregada - pode assumir meu lugar até eu voltar?

A jovem albina cogitou sobre o pedido por breves momentos, enquanto a garotinha olhava esperançosa para Meiling. Por fim, concluiu:

— Por ordens de Remilia-sama eu devo acompanhar sua irmã mais nova, entretanto posso chamar uma outra empregada para guarnir o portão no seu lugar, Meiling.

Sakuya usou seu relógio para chamar uma serviçal em tempo reduzido e diminuir o tempo de espera. Quando uma fada de cabelos esverdeados com o vestido padrão azul e branco chegou ao trio, Meiling abriu os portões o tanto necessário para haver a troca de posto. Enquanto Sakuya dava rígidas instruções para a companheira de seviço, Flandre assistia a cena um pouco mais atrás. Nisso, a youkai alta se aproximou e, surpreendendo-a, estendeu sua mão para ela.

Com simpatia e uma maturidade não tão típica, mas não por isso ruim, Meiling incentivou:

— Vamos, Flandre-sama?

Flandre não reagiu de imediato, demorando para acreditar que algo daquele tipo estava acontecendo com ela. Cedendo à proposta, delicadamente pousou, segurou a grande e forte mão oferecida e sorriu com alegria.

— Vamos, Meiling!

Desde aquele dia Flandre quer ficar perto de Meiling e nunca mais questionou a relação de Remilia e Sakuya.


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Notas finais do capítulo

*Como todos os nomes coloquei no estilo ocidental, achei coerente pôr o da Meiling também. Só explicando já que pelo menos eu estranhei bastante.

Demorou, mas chegou! Espero que tenham gostado! Fiquei contente em tratar da relação da Flandre com a Meiling. Hesitei para aceitar que existia afinidade entre as duas, mas
achei uma boa ideia, afinal. Obrigada por lerem! Até a próxima Fanfic! o/

P. S: Fãs da Sakuya e/ou da Remilia, não se ofendam. Também adoro as duas, as zombações foram unicamente para o andamento da história!



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