O shopping ficava a 40 minutos da casa de Julie. Nicolas tentou fazer o que pôde pra fugir do trânsito. Fez o percurso em 30 minutos.

Talita não suportava ver a preocupação dele com aquela tolice. “O que são 2 horas de atraso!” – obviamente porque não era com ela.

– Nicolas, vai mais devagar! Você vai acabar batendo! Já tá atrasado mesmo! O que são 40 minutos a mais!

– Você sabe como a Julie é!

– Eu tô cansada de ver ela te fazendo de gato e sapato! – Talita disse como se ela mesma não fizesse isso.

Parou o carro em frente a casa dela. Desceu do carro correndo e nem falou nada com Talita, foi correndo até a porta da casa e tocou a campainha. Não teve sorte, foi a própria noiva que abriu a porta. Soltava faíscas pelos olhos.

– Legal você hein! Já não te falei que eu ODEIO que você esqueça seus compromissos comigo? E o que foi dessa vez?

– Me perdoa amor. Eu, eu acabei indo comprar umas coisas com a Tatá. É eu... fui com ela no shopping. É verdade! Pode perguntar pra ela. Tá tudo ali no carro.

Julie olhou pro carro e viu de longe um sorriso de vitória nos lábios da Talita. Olhou de volta pra Nicolas. Não conseguia falar nada, tamanha era a raiva.

– Você só pode estar de brincadeira! – disse irritada – Eu sabia que essa pirralha tinha alguma coisa a ver com isso! Como ela consegue te convencer assim hein? Não é possível! Ah! Sem falar que nem comigo você tem paciência de fazer compras no shopping! Mas não... com a coitadinha da Talita você é OUTRO.

– Você vai me perdoar, amor? Juro, nunca mais vou esquecer.

– Hum. Acho bom! Mas isso não vai ficar assim não. – olhou de novo pro carro. Talita estava se divertindo às suas custas. “Falsa” – Eu ia te dar um castigo! Mas mudei de ideia. Espere-me aqui!

Nicolas nem se moveu, ficou parado na porta esperando igual um cachorrinho.

Julie entra no quarto e começa a falar sozinha.

– É guerra que você quer? Então vai ter guerra! Ah Talita! Você não vai levar essa barato não.

Ela abriu o guarda roupa e pegou o vestido mais caro que tinha. Se produziu, passou um perfume novo que tinha acabado de comprar. Calçou um sapato de salto combinando com o look. Depois reforçou a maquiagem e prendeu um pouco os cabelos. Olhou no espelho e aprovou o que viu. Levou cerca de meia-hora pra se arrumar assim. Pegou sua bolsa e desceu de volta pra porta onde Nicolas a esperava do jeito que tinha ficado.

– Pronto. Estou pronta e quero ir num restaurante comemorar nossa viagem.

– Nossa!- Nicolas parecia uma criança quando via um brinquedo novo, completamente fascinado. – Você está maravilhosa! – Posso te dar um beijo?

– Não! Ainda não! Vamos?

Ele ficou decepcionado. Sabia que ela andava com raiva de seus atrasos e compromissos. Afinal 3 vezes por semana ele tinha reunião com os amigos do RPG. Sobrava assim apenas dois dias da semana e o sábado e domingo. Mas felizmente faziam cursinho juntos. Estavam fazendo um intensivo porque pretendiam passar numa federal. Nicolas queria passar para Medicina e Julie pra Música.

Nicolas acompanhou Julie até a porta do carona. Abriu a porta e falou com Talita, sem cerimônia.

– Talita, dá licença e vai lá pro banco de trás.

Ela escutava um som eletrônico no último volume.

Ela já ia falar que estava há mais tempo no carro, mas levou um choque quando viu Julie produzida e morreu de inveja.

– Aonde você vai assim? – falou passada.

– Nós vamos curtir a balada juntos, não é amor. – e deu um beijaço nele, na frente da sua “cunhada”.

Talita virou o rosto. Era demais pra ela. - “Como ela consegue acabar com a minha felicidade em tão pouco tempo?” - a noite acabou pra Talita. Ela passou pro banco de trás calada.

Nicolas dirigia. Trocou a música eletrônica irritante por uma sequência de músicas que tinha no pen-drive. Músicas “dele e da Julie”.

Talita falou pela primeira vez. – Nicolas, dá pra você ir mais rápido? Não estou me sentindo bem.

Ele olhou pelo retrovisor e percebeu que os olhos dela estavam brilhando mais do que o normal.

– O que vocês tinham de tão urgente pra fazer no shopping? – Julie ignorou o que Talita disse e falou com o noivo.

– Fui comprar umas coisas pra Talita.

– Foi comprar roupas lindas pra mim, pra eu usar na viagem daqui a 1 mês. – Talita falou com raiva.

– Que legal! – Julie disse, ironicamente.

– Então Julie, eu já contei pra Talita sobre a nossa viagem.

– Que “ÓTIMO”, amor. – falou entre os dentes.

– Pois é. Ele pagou, mas o dinheiro é meu. Fique bem claro. – Talita rebateu.

Nicolas chegou em casa e levou as compras pra dentro. Talita foi junto, deixando Julie no carro. Nicolas voltou e falou com ela:

– Vamos entrar. Tenho que me vestir melhor. Não posso ir desse jeito do seu lado.

– Vamos, temos a noite inteira pra curtir.

Subiram pro quarto de Nicolas. Ela ajudou a carregar as bolsas dele.

– Você não tinha dito que fez compras também? Comprou o quê? O que tem nessas bolsas?

– É... São roupas também. Lá faz muito frio, você sabe. Eu não tinha roupas assim pra levar.

– É verdade. Enquanto você se troca eu vou desfazendo as bolsas.

– Não! Não precisa. Amanhã eu guardo tudo.

– O que você está me escondendo? Hein?

– Eu? – deu um sorriso amarelo. – Nada! Imagina amor. Isso é cansativo, eu gosto de arrumar minhas próprias coisas.

– Tá bom, eu sei! – passou as sacolas pra Nicolas. Uma delas escapou e caiu algumas peças no chão. Julie se abaixou e pegou. Quando então percebeu que eram roupas de estilo épico. “Mas onde o Nicolas pensa que vai com isso? A não ser que...”

– S-são de uma nova coleção, é... lançamento.

– Nicolas! Me diga que essa viagem não tem nada a ver com esses eventos de RPG que você gosta.

– Por que amor? É um lugar que se usa esse tipo de roupa. Não tem nada a ver com o jogo.

– Ah bem! Sei lá, por um momento me passou pela cabeça que essa viagem não era tanto por causa do nosso noivado.

– Não! Nem pense nisso amorzinho. Você é a principal razão dessa viagem.

– Principal por quê? Quais são as outras?

– Ah, você está cismada com isso. Não tem razão nenhuma. É só você que importa.

Ele aproximou-se dela e beijou-a, acabando com o ar rapidamente.

– Tem certeza de que quer sair? A gente podia ficar aqui. Juntos. – tentou beija-la de novo. Mas ela só retribuiu com um selinho.

– Não tem clima. A gente brigou hoje e eu quero muito esquecer essa bobagem. Eu exagerei, sei disso, mas você sabe que eu detesto quando me troca por qualquer programa.

– Nunca. Nem pense isso. Nunca passou pela minha cabeça te magoar.

– Então vai se arrumar e capricha porque hoje a noite é nossa!

Ele deu um sorriso e foi pro closet escolher uma roupa pra sair.

No outro quarto, Talita amargava um ciúme que consumia tudo por dentro. Ela precisava de uma oportunidade pra se declarar pro Nicolas. E tinha que afastar Juliana do caminho. Mas como?

Nicolas estava demorando um pouco, então Julie resolveu mexer no notebook dele. O computador estava em modo de espera. Ela entrou e viu que estava na página dele no Twitter. Começou a ler alguns tweets. Nada importante. Só papo-furado com os colegas de jogo. Mas outra coisa chamou sua atenção. Na página apareciam várias propagandas. Ela sabia que aquela publicidade era voltada para algum assunto que ele andou pesquisando. Mas o que isso tinha a ver com ele? Que ideia terrível podia estar passando pela cabeça do noivo? “Não estou acreditando!” – pensou aflita e uma angústia invadiu seu peito.