Nicolas chegou em casa e se surpreendeu quando Talita foi ao seu encontro, toda produzida.

– Boa tarde, Nic.

– Boa tarde. Onde você pensa que vai assim?

– Não vou pra lugar nenhum, Nic.

– É! Mas tá parecendo.

– Nada, não. Eu só me arrumei um pouquinho.

– Tudo bem?

– Tudo bom. Sabe, Nic. Eu queria falar uma coisa com você.

– Algum problema?

– Bom. Eu quero te pedir uma coisa.

– Claro, pode falar.

– É que daqui a um mês, a Melissa vai fazer uma festa no sítio do pai dela pra comemorar os 18 anos.

– Daqui a um mês? - logo ele se lembrou da viagem.

Ela continuou: - Sabe, vai ser um fim de semana inteiro. Ela vai fazer uma rave.

– Você não vai! - ele cortou.

– O quê? Mas como assim Nic? Eu estou tirando notas altas na escola. Por favor, vai, deixa!

– Não! Tá longe. Falta um mês ainda. Até lá muita coisa pode acontecer.

– Pode mesmo, né Nic. Só sei que eu vou! Nada vai me impedir! Eu não tenho pai nem mãe pra me proibir!

– Não! Para com isso Talita! Você sabe que eu faço de tudo pra você ficar bem, pra você não sentir falta de nada.

– Então, me deixa ir, vai... - ela se pendurou no pescoço dele. - Por favor. - fez cara de choro.

Ele hesitou. Acabou decidindo contar a verdade.

– Não, Tatá. Você não vai poder ir porque... faremos uma viagem. Iremos pra Inglaterra daqui a um mês.

Talita abriu um sorriso de um canto ao outro. Seu plano tinha dado certo. Ela sabia o ponto-fraco do irmão. Ele nunca resistia quando ela o lembrava que só tinha ele no mundo.

– Nic. Jura? Eu também vou?

– Claro que sim! Minha irmãzinha não pode ficar pra trás.

– Eu não sou sua irmã!

– Verdade, não é. Mas é como se fosse!

Ela ficou contrariada. Odiava que ele a tratasse como irmã. Ela era filha adotiva do padrasto dele. Quando eram crianças brincavam de serem namorados. Mas aí o pai dela começou a proibir esse tratamento. E Nicolas, que não desobedecia ao padrasto jamais, acabou deixando isso de lado.

– O quê você vai fazer agora? - Nicolas perguntou, estalando os dedos pra ela acordar.

– Eu? P-por quê? - Talita o encara, perdendo seu olhar naqueles enormes olhos azuis.

– Quero saber a verdade! Por que você está toda bonita assim? Não que você não seja.

– Ahh.. sei lá! Me deu vontade de ficar bonita. Sem motivo. Mas que tal se a gente fosse ao shopping juntos?

– Agora? Fazer o quê?

– Sei lá, tá em cima da viagem e eu ainda não tenho nem a mala.

– Ahh! Eu sabia que você ia se empolgar demais! Não precisa ir agora, nós só vamos viajar daqui a um mês.

– O tempo voa, Nic. Se deixar pra última hora nem vou poder ir!

– Isso não está em discussão. A senhorita vai sim.

– Bom, vamos só dar uma olhadinha.

– Imagina se eu vou acompanhar uma mulher ao shopping pra fazer compras e pior, dar uma olhadinha. Isso é a pior coisa que um homem pode fazer na vida. Tenho uma ideia melhor. Vou ligar pra Julie e vocês fazem as compras juntas.

– Nããããooo! - Talita mudou sua expressão na hora. Ficou muito aborrecida. Era a última coisa que ela queria: compartilhar as compras com a sua indesejável quase-cunhada.

– Que foi? Não gosta da Julie?

– Não, Nicolas. Imagina. É que eu queria a sua opinião. A Julie só gosta daquelas roupas esquisitas, pretas, sem cor, sem vida! E você tem bom gosto. Não sei como não deu um jeito ainda naquele visual dela.

– Imagino é se gostasse! É o jeito dela se vestir! Eu acho que ela tem que ser ela mesma!

Talita suspirou alto e caiu sentada no sofá. Desanimada.

– Não fica triste, maninha. Ela vai ser uma ótima companhia.

Talita bufou. - É! Desde que ela não me atrapalhe a comprar meus vestidos com superdecotes! De preferência com muito brilho!

Nicolas torce a boca. Não gostava muito de imaginar sua irmãzinha querendo usar roupas tão ousadas. A Julie tudo bem, já tem 22 anos. Agora a Talita! Fez 17 anos agora!

Subiu pro seu quarto. Foi tirando os sapatos, tirou o relógio, ia guardar na gaveta sobre a mesinha, junto com uma foto muito antiga de sua mãe com ele no colo. Ele amava essa foto. Era uma das poucas lembranças que tinha da sua mãe. Pegou o celular e fez uma chamada.

– Oi.

– ......

– O que temos?

– ....

– Junte tudo o que puder e me mande. Vou precisar de tudo isso. Sigiloso, você sabe.

Desligou o celular sem maiores explicações.

Ficou olhando perdido pra foto. Na verdade com ódio. Foi na estante e pegou um álbum onde tinha fotos de sua infância. O álbum era bizarro. Nicolas havia recortado todas as fotos e tirado o seu padrasto. Deixou só ele e Talita nas fotos. Um grande vazio tomava conta de seus pensamentos. Era só ele e a pobre da Talita, que nem a mãe conheceu.

Guardou o álbum e foi tomar um banho. Depois quando estava se arrumando acabou mudando de ideia. “Quer saber? Eu não vou dizer não pra Tatá. Eu não suporto vê-la triste. Ela só tem a mim. Mais ninguém.”

Nicolas chegou na sala.

– E aí? Ainda quer que eu vá com você às compras?

Talita tentou segurar um pouco o sorriso, mas não conseguia. Estava explodindo de alegria. Provavelmente mais do que a sua querida quase cunhada.

Ela sabia que era muito consumista e que, se ela exagerasse, Nicolas ficaria com raiva.

Claro que sim Nic! - Pendurou-se no pescoço dele e deu um beijo no rosto. - Eu te amo!