Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 24
Capítulo 24 - Nunca Conte pra Ninguém


Notas iniciais do capítulo

Acabei escrevendo metade do que eu queria com 3 vezes mais palavras. Capítulo longo pra compensar os dias de demora. Tem continuação em breve. ;)

Boa leitura pra todos. ;)



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Julie não resistiu e voltou ao assunto: - Por que o hotel tem o seu sobrenome?

– Bem, esse hotel pertencia à minha família. Mas eu não sou dono. Não oficialmente. Um parente distante comprou essa propriedade há quase 200 anos atrás. Mas depois de algumas gerações, só sobrou minha mãe e ela foi embora pro Brasil. Há alguns anos o castelo foi arrendado e transformado em hotel. Mas deixaram com o mesmo nome.

– Como pode ir embora assim? Deixar tudo pra trás? Perderam tudo?

– Eu não tenho como provar que a propriedade é minha.

– Claro que tem! Ainda mais uma causa multimilionária como essa. Qualquer advogado pegaria a causa rindo.

– Julie, essa propriedade é assombrada! Não deu pra perceber não? Ninguém ia querer assumir esse caso. As pessoas que procuram esse tipo de lugar sabem disso, é o que eles querem! Aventura, adrenalina, medo.

– Ora, eu não acredito nessa bobagem! Foi coisa inventada pra ganhar muito dinheiro! Isso sim! Alguém inventou essa história absurda!

Daniel lembrou que era exatamente isso que ela respondeu no questionário do hotel. Essas últimas palavras dela o deixaram paralisado. Ficou calado olhando pra ela, mas com a dúvida martelando sua cabeça.

– Aqui no povoado ninguém tem coragem de vir até o hotel. Eles chamam o hotel de Black House, algo como: “A Casa das Trevas”. Dizem que quem tenta entrar aqui sem ser esperado, é recebido pela morte. – Daniel carregou sua voz de drama.

– Cruzes! – Julie se lembrou do “acidente” do carteiro. – Existem crocodilos aqui?

Ele estranhou sua pergunta: - Nesse lago? Não! Claro que não! – respondeu. – Por que? Você está com medo de sermos atacados por um?

– Não! – ela disfarçou – Só estava pensando no que você falou.

– Ok. Essa pergunta não faz o menor sentido, mas não temos crocodilos nem monstros do lago, senhorita.

– Daniel, onde está sua mãe? – ela voltou a especular a vida dele.

Ele olhou pra Julie, mas mudou totalmente de assunto. – Fica essa noite comigo? – pediu à queima-roupa.

– Não posso! A Bia não merece ficar preocupada comigo. E eu tenho mil coisas pra pensar, pra resolver. E não é só isso, você esqueceu que te pedi um tempo?

– Calma! Já entendi, você não quer ir. Mas é que até agora a pouco não parecia que você estava preocupada com isso. – se referia aos beijos e declarações de amor.

– Nem tudo a gente pode resolver com o coração. – ela deu uma de filósofa.

– Eu só quero conversar com você. Tem algumas coisas que nós precisamos conversar.

– Claro. Vamos conversar. Mas eu preciso ter uma conversa muito séria com o Nicolas primeiro. E isso inclui decidir o que vai ser da nossa vida.

– Só você não vê que entre vocês não existe amor? Me fale que você não sabe disso!

– Sabe o que é, nós nos conhecemos há 4 dias. O Nicolas, eu conheço a mais de 4 anos! Eu preciso conversar com ele. E não é só sobre nós.

– E isso que aconteceu agora? O que foi? Não estava fingindo, ou estava?

Se encararam em silêncio. O ar ficou pesado.

– Claro que não! Foi tudo verdadeiro. Nunca mentiria pra você! Eu vim pra cá às cegas, nem sabia o que iria encontrar aqui.

– O quê? – ficou surpreso porque ela disse tão naturalmente que não sabia o que ia encontrar. Mas era mentira! “Nunca mentiria pra você!” . Daniel concluiu que ela mentia descaradamente! Enquanto ele se apaixonava, ela brincava com a sua cara! Claro que ela mentiu! Mais uma vez!

– Quero ir pra festa! Vamos, por favor. – Julie pediu.

Daniel ficou pensando: “Não adianta falar com ela, a Srta. Corajosa! Ela que fique! E vai se lembrar do que eu estou falando! Quer saber, acho que seria melhor que ela fosse mesmo embora!”. Mas o que falou pra ela foi bem diferente. Ele de repente parecia calmo e desinteressado:

– Claro! Como quiser. – disse isso, mas estava enciumado e se remoia só de pensar no Nicolas fazendo as pazes com ela. Mas ele não era de desistir do que queria. “Ignore Daniel, seu otário! Ignore essa garota e ela vem correndo pra você.” – sorriu pra Julie, um sorriso enigmático.

Julie estranhou que ele aceitou rápido demais. Não entendeu nada. - “Como ele é inconstante!”.

Ele ia dizer por que tanta certeza de que ela estava no seu destino, mas seu orgulho falou mais alto. – “Eu pedi naquela fonte que me mostrasse quando encontrasse o meu amor verdadeiro. Meu amor único. Diferente de todas que conheci até hoje. E nenhuma mexeu tanto com meus sentimentos quanto ela.” – Ele tinha certeza de que esse alguém era ela, desde a primeira vez que a viu. Mas talvez pudesse ser algum tipo de magia daquela fonte, talvez ele pudesse estar enganado. É o que ele tinha dúvida.

No barco, a festa já rolava há um bom tempo. A luz era fraca, meio avermelhada. Tinha uma banda tocando ao vivo, espremida na parte de trás do barco. Os músicos eram bons. Até Félix já tinha tocado bateria dua vezes. O que pra Bia foi uma surpresa.

– Nunca tinha te visto de óculos. – Bia comentou com Félix.

– Ééé, acho que estou ficando cego... Você já tinha ouvido falar de Wish?

– Não! Eu até tentei! Só que não consegui encontrar NADA na Internet>!. É como se esse lugar não existisse.

Félix ouvia atentamente.

Bia continuou: - Só por curiosidade, por que a cidade se chama Wish?

– Bom, quase ninguém sabe, mas segunda a lenda, aqui existia um poço dos desejos. Muitas pessoas vinham de longe pra fazerem pedidos. Daí o nome Wish.

– Hum... é, isso me parece bem óbvio.

– Aliás, a cidade começou porque cada vez se espalhava mais essa história. Muitos foram ficando por aqui, e criaram um vilarejo. Mas daí começou a ser invadida por bandidos e saqueadores que vinham pra cá roubar a fonte. Aí uma família italiana resolveu comprar a propriedade onde ficava o poço. Isso já faz quase 200 anos. E pra dificultar o acesso, construíram um labirinto vivo ao redor dele. Depois disso ninguém mais conseguia encontrar o caminho sozinho.

– Então é aquela fonte que nós fomos ontem!

– Exatamente! É onde ficava o poço, que foi transformado em fonte.

– Como podem falar que é uma lenda se a fonte existe, e as histórias que o povo conta?

– Eu acredito! Não gosto nem de brincar com esse assunto.

– Bem que podia ser verdade! – Bia sorriu. – Porque eu pedi...

Félix interrompeu-a imediatamente, tapando sua boca com a mão.

– Não! Você não pode contar o que pediu! Senão não acontece!

– É mesmo? – de sorridente já passou a preocupada. – ainda bem que não terminei de falar então! Porque eu quero muito que isso aconteça!

Se encararam discretamente. Ela continuou:

– Eu não sei se já te perguntei isso mas, vocês sempre se envolvem com as hóspedes assim?

Félix engasga com o refrigerante que estava tomando e fica quase transparente de nervoso.

– Que isso! Imagina se a gente ia fazer isso. A regra é muito clara: não podemos nos envolver com hóspedes.

– Ah, sem essa!Quem segue essas regras? Porque eu já sei de tudo sobre o seu amigo e a minha amiga. Mas me diga, já perguntei alguma vez se você tem namorada?

– Eu? Não, eu acho que não. Quer dizer, eu acho que não perguntou. ..e-eu não tenho. E você? Quer dizer, claro né?

– Hum... eu tinha. Mas... acabou.

– Eu nunca me apaixonei. Essa coisa de amor, sabe, é muito complicada!

– É só descomplicar!

Depois disso ficou um silêncio no ar. Uma deixa pra algo mais...

Do nada Félix começou a cantar:

Mais um amor passado mais uma dor sentida,

Mais uma cor que coloria o sentido da vida,

Seja preta branca roxa, ou amarela,

Eu vivo todas sinto todas elas,

No final eu sei o meu eterno amor,

É o que sobra todas vezes que sinto dor,

São as letras os acordes e a alegria,

De poder dizer, tudo o que eu sentia.” *vide notas

– Nossa! Que lindo isso que você falou.

– Obrigado. É de uma música que gosto muito. Eu vou te emprestar um caderno de poesias e pensamentos que eu escrevo. Às vezes são meus, outras vezes de livros, discos, toda arte que eu encontro.

– Vou gostar muito de ler, vou amar.

Nem tinham percebido que estavam totalmente alheios à festa.

De repente Bia se lembrou da amiga e ficou preocupada. Julie ainda não havia chegado. Já tinha se passado mais de duas horas e nada dela aparecer.

– Ai meu Deus! A Julie!

– Sua amiga vai chegar! Deve ter se atrasado por algum motivo.

– Ah! Eu sei lá. Esse lugar é muito estranho. Não gosto daqui. Quer dizer, daqui eu só gosto de você!

Ele sorriu pra ela. - Bia, eu tenho que te contar uma coisa.

– Diga, o que é?

– Sua amiga não veio... érr por minha culpa. – ela não entendeu nada. – Eu quis ajudar o Daniel e ela a se entenderem.

– Não acredito!

– Eu só queria ajudar!

– Não! Eu não acredito que você me escondeu isso o tempo todo! Adorei!

– C-c-omo?

– Eu amei essa sua idéia deles conversarem! Ela estava querendo isso desde hoje de manhã!

– Que alívio! Pensei que ia ficar brava comigo.

– Não! Eu não sei por que, mas gosto de você assim, de graça.

Félix abriu o sorriso mais lindo que ele tinha.

Bia mexeu no cabelo e olhou de rabo de olho pra ele.

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Daniel parecia bastante conformado. Até demais, pra quem o conhecia.

– Olha! O barco ta se aproximando! – Julie falou.

Mais de uma hora tinha se passado e só então o barco da festa chegou perto de onde estavam.

Daniel falou com Julie:

– Você pode me dar licença um instante. - Passou o braço e puxou um edredom onde ela estava encostada.

– Não acredito! Daniel! Você sabia o tempo todo que esse barco era a motor! Por que não me disse isso antes!

– Você não perguntou! – respondeu naturalmente.

– Que ódio!

Eles chegaram perto do barco, e logo a tripulação foi ajudá-los a subir. Bia foi a primeira a ver a amiga, e correu até lá. Daniel saiu rapidamente por trás e deu a volta pra falar com Félix.

– Juliana Spinelli! Você tem que me contar TUDO! Já estou sabendo que vocês estavam sozinhos esse tempo todo!

– Não! Primeiro eu preciso de uma coisa BEM FORTE pra beber.

– Você está gelada! Vem, vamos pegar uma bebida pra esquentar.

Enquanto isso, Daniel chega perto de Félix.

– Quase vocês estragam tudo! Ainda bem que eu sou bom em convencer as pessoas.

– E convencido também! Mas e aí? Valeu à pena?

– Nem sei! O que eu vou fazer? Estou completamente apaixonado por ela. E ela ainda vai pensar sobre o noivado. Acha que devo seqüestra-la?

– Que isso Daniel! Ficou louco?

– Estou! Totalmente louco! Será que isso pode ser algum tipo de magia? Sei lá! Aconteceu tão de repente!

– Magia? E por que seria magia?

– Sei lá, aquela fonte...

– Ah não! Você não... – Felix logo deduziu o óbvio. O amigo estava apaixonado porque foi o seu pedido na fonte. – Você não pode falar o que você pediu, entendeu?! Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca e nunca!!! Nunca conte isso pra ninguém! Senão não acontece!

– Ah Félix! Acho que você já está exagerando!

– Nããõ!!! É sério. Ah! E nunca diga que duvida da fonte, senão...

Nesse momento eles são interrompidos por uma voz aguda! (e Félix nem terminou de falar que, se ele duvidasse da fonte, o que ele pediu seria aumentado)

– Ah!! Finalmente achei vocês!

Ambos sorriram quando viram a garota de seus 1,80 de altura, exuberante, com cabelos dourados, cacheados até a cintura. Usava um vestido vinho lindíssimo.

– Anabelle. – os dois cumprimentaram

– Ah eu estava morrendo de saudades! Quero conversar com os dois. Primeiro com o Daniel. Não fique chateado mon amour. – e deu uma piscada pro Félix.

Juliana tinha acabado de tomar um copo de vinho tinto. Correu os olhos pelo barco e avistou Daniel conversando sorridente com a garota loira. Uma mistura de raiva e ciúme se espalhou pelo seu corpo. - “Nem bem saiu de perto de mim, já está todo solto conversando com outra!”

Daniel ainda não tinha se dado conta que Julie o secava com os olhos. Mas Anabelle sim. E ela comentou com Daniel, que olhou pra trás pelos ombros e viu a morena tentando disfarçar.

– Quem é aquela, Daniel?

– Uma hóspede aí.

– Hum, sei. E esse olho brilhando agora hein?

– Tá bom! Não adianta querer te enganar mesmo.

– É que eu já te conheço muito bem.

– Eu estou apaixonado por ela, Anabelle. Estou ficando louco?

– Ah! Você admitindo isso? Como mudamos ...! Incrível isso, ela é linda, mas tem que ver se ela é pra você.

– Droga Anne. Eu não quero perde-la de jeito nenhum! O que eu faço?

– Bem, ela ta olhando muito pra cá. Vire-se.

Eles giraram e Daniel ficou de frente pra Julie.

– Continue conversando comigo assim mesmo, sorridente. – Anne fala com ele.

Daniel entendeu a jogada. Era pra fazer ciúmes na Julie. E deu um sorriso de lado.

– Impossível não sorrir pra você Anne.

– Isso mesmo! Vou te ajudar essa noite. Você me ensinou isso. Se quer conquistar, apenas ignore.

– É bem isso mesmo. Só que agora é comigo. Não parece ser tão fácil.

– Confia em mim.

Os dois terminaram a dança. E Daniel já ia andando, quando um rapaz o abraça forte, dando tapas na suas costas.

– E aí companheiro!!! Quando vai tocar lá no bar de novo! Vem cá, vamos tomar alguma coisa.

E os dois saíram conversando animadamente.

Anne acionou algumas garotas bonitas pra bajularem o Daniel a noite toda.

Bia conversava com a amiga, mas ela não estava prestando atenção em mais nada.

– Julie! Eu to aqui viu!

– Ãhn? Desculpa Bia, eu...

– Já deu pra perceber, amiga. Mas qual é a sua hein. Teve a noite toda pra se entender com o gato e agora ta aqui, encostada num canto igual uma vassoura velha.

– Ahhh é que... eu to confusa, com a cabeça a mil. Tenho que te contar uma surpresa muito desagradável que tive antes de vir pra cá!

– O Daniel é casado!

–Não! Quer dizer, isso não tinha passado pela minha cabeça ainda. –Será?

– Essa é uma pergunta básica né amiga. Ai, ai, tão esperta você né!

– Eu vi o padrasto do Nicolas nos fundos do hotel.

– Ai meu Deus! Era uma assombração?

– Não, Bia. Era ele, em carne e osso.

– Não, porque só faltava você falar que viu o fantasma do padrasto do Nicolas. Julie, acho que esse hotel não está fazendo muito bem pra sua cabecinha não, amiga.

– E ele me mostrou uma coisa...

“Daniel!!!!!” – uma voz feminina super animada gritou no meio dos convidados. Julie fechou os olhos e contou até 3 antes de se virar.

– Ah não! Outra!

A moça com um penteado complicado, cheio de tranças, se agarrava no pescoço dele, que tentava se desvencilhar.

– Daniel! Não aceito um não! Hoje você vai ter que cantar uma música pra mim!

Lá de onde estava, Julie ouviu o que a garota disse e não gostou nem um pouco.

– O que ela ta pensando que está fazendo?

Daniel deu uma olhada na direção de Julie, o suficiente pra seus olhares se cruzarem. E voltou a atenção pra garota, que tinha se aproveitado da distração pra chegar ainda mais perto dele. Ele tirou um papel do bolso e um lápis e anotou alguma coisa, que Juliana logo pensou ser um telefone de mulher.

– Safado! – ela murmurou, mas Bia ouviu.

– Vai lá falar com ele, Ju. Assim você vai acabar quebrando o cotovelo.

Julie virou mais um copo de vinho e se animou a ir até lá.

No meio do caminho foi abordada por um jovem. Ele se apresentou já beijando sua mão.

– Excuse me, miss ... ?

– Juliana.

Ele deu um beijo demorado na sua mão. Ela puxou rapidamente.

– Wanna dance?

– No thanks!

– I insist.

O rapaz era do tipo ensebado, insuportável e grudento.

– NO, THANK YOU.

Puxou o braço e foi na direção onde Daniel estava. Se aproximou da mesa, onde ele conversava, estava de costas pra Julie. Ela tomou coragem, mas quando ia chamar sua atenção, duas garotas puxaram ele em direção à banda, numa euforia total. Pediam pra ele cantar uma música. Alguém gritou pra ele cantar “Wish You Were Here”. Mesmo querendo fazer ciúmes na Julie, estava se saindo melhor do que o esperado. Ele assumiu o vocal e desejou uma noite inesquecível pra todos.

– Essa música vai pra você, Maggie. Atendendo à pedidos.

“So... so you think you can tell, Heaven from Hell, blue skies from pain...” **vide notas

Maggie era uma amiga de muito tempo. Mal a música começou ela já estava aplaudindo e chorando.

“Affe” – Julie revirou os olhos. Passou a mão em cima do balcão e pegou um copo que nem sabia o que era. Virou rapidamente.

Daniel chamou Félix no palco:

– Agora eu queria chamar aqui uma pessoa que acredita nessas bobagens de magia, nessa lenda da cidade, acredita até que a lenda da fonte é real! Mas eu sou rock, eu acredito é em mim, e não nessas coisas! Vem pra bateria, meu amigo Félix!

Todos estavam olhando Daniel com uma cara estranha.

– Que foi gente! Ah! Cá entre nós, é uma grande bobagem essa história de fonte! Vou provar pra vocês como realizar os seus maiores desejos!

Félix correu até Daniel. – Você ficou louco! Como ficam os hóspedes? Está tirando o encanto do lugar! E pior! Você vai ter em dobro o que pediu!

– Ah, relaxa meu irmão! Ninguém ta se importando com isso, quando tem EU no vocal!

– Me recuso a tocar essa música! A não ser que você retire o que disse!

Daniel se virou pras pessoas. –Tudo bem gente, esqueçam o que eu falei, foi só uma brincadeira. – disse da boca pra fora.

Félix se sentou na bateria.

– Vamos tocar a próxima. “Hey Jude” ***vide notas

Não havia nada mais desejado do que ouvir Beatles na terra dos Beatles.

Fez sucesso, mas enquanto ele se exibia, Julie estava só ficando cada vez mais irritada com o assédio... principalmente das garotas mais atiradas. Só faltava jogarem a calcinha.

– Julie! – Bia falou. – Vai com calma viu, você já tomou uns 3 copos sei lá de que.

– Olha lá Bia! Não to acreditando! A garota jogou o sutiã neles.

Bia viu que o sutião caiu na cara de seu prete.

– Ahhh! Que absurdo! – Bia pegou outro copo e fez como a amiga, virou. – Vamos mostrar pra eles quem é que pode mais.

Daniel parecia que estava cantando pra uma multidão, seu ego estava nas alturas, as garotas, principalmente as que Anabelle tinha pedido uma ajudinha, se derretiam com a cara de cachorro sem dono que ele fazia.

No fim da música Daniel pede uma pausa, precisava beber alguma coisa. Saiu de lá desabotoando a camisa e não viu que Julie estava na tocaia. Ela correu até os instrumentos, pegou o microfone e se auto-anunciou.

– Agora vou cantar pra vocês minha mais nova música. Bia foi junto pra fazer a segunda voz. Felix voltou correndo pra tentar contornar a situação.

– O máximo que você pode fazer é sentar aí na bateria e tocar. Sem direito a sutiã! – Bia falou pra ele.

Julie passa a mão na guitarra de Daniel e toca o primeiro acorde

1,2,3 vai!

“Agora eu sei qual é o meu caminho

As escolhas que eu sempre fiz

Aprendi com os meus erros pra chegar aqui..” **** vide notas

Elas pegaram todos de surpresa. Daniel quando reconheceu a voz dela cantando olhou pra trás incrédulo. Seus olhos fuzilaram em sua direção. “Quem ela pensa que é pra roubar o meu lugar!?”

Torceu a boca, como só fazia quando estava muito contrariado e voltou a passos largos. Mas as pessoas começaram a gostar e acompanhar com palmas. Ele não podia fazer mais nada.

Os dois se estranharam com o olhar.

“Ela está me desafiando! “ - Daniel calculou.

Ela estava se sentindo vitoriosa por chamar a atenção de basicamente todos os rapazes que estavam na festa, de uma só vez.

Daniel ficou mal-humorado e sua raiva só aumentava cada vez mais.

Félix fez o que pôde pra acompanhar a música que ele nunca tinha ouvido na vida.

– Ela canta bem!! – um cara falou perto de Daniel.

– Canta bem como uma gralha engasgada! - desdenhou.

Julie e Bia fizeram uma bela apresentação, deixaram a festa ainda mais animada. Quando terminaram, a banda da festa voltou pros seus lugares e continuaram tocando. As duas sorriam com a pequena vingança. Um pouco alcoolizadas, talvez.

A banda começou a tocar “Twist and Shout” ***** o que fez todo mundo se levantar pra dançar. As duas subiram na borda do barco, mal conseguiam se equilibrar. Mas mesmo assim dançaram chamando a atenção de todos mais uma vez. Estavam adorando aquela pequena arruaça que causaram na festa. Acabando a música, desceram e foram para o outro lado do barco.

Ao passar pela última mesa percebeu que estava sozinha, e a amiga tinha ficado pra trás, falando com o Félix. Sorriu e continuou. Mas sentiu uma mão agarrá-la pelo braço e puxar pra dentro do pequeno compartimento do barco.

– Ei, que isso! – disse assustada. Mas então viu que era Daniel

– O que você pensa que está fazendo? – ele perguntou totalmente ríspido.

– Eu? Que eu saiba estou aproveitando a festa porque sou uma hóspede!

– Eu estou vendo tudo! Aqueles caras tentando te agarrar, você se exibindo!

– Ahh é mesmo! E você? E todas aquelas garotas te bajulando, te agarrando de verdade?

– Eu não tenho nada com elas! Não quero nada, nenhuma delas, eu só quero você!

Daniel empurrou-a contra a parede e começou a beijá-la com desespero. Ela nunca o tinha visto assim. Parecia louco. E não tinha tempo pra reagir, pra se afastar, porque na volúpia do momento tudo foi acontecendo muito rápido. Quando viu ele estava com a camisa toda aberta, descabelado e com um olhar quente como o inferno.

Naquela loucura ela conseguiu falar quase sem fôlego: - Daniel, aqui não!

Ele nem estava prestando atenção nisso.

– AQUI, NÃO!

Ele parou. Se sentiu meio perdido. Não sabia por que estava fazendo aquilo.

– Me desculpa, Juliana.

– Não, tudo bem! Mas é melhor a gente sair daqui logo, antes que a coisa esquente de vez!

– Mas eu quero mais é que pegue fogo. – sussurrou pra ela.

Só aquela voz já causava um arrepio em sua espinha...

– Por favor, me deixa sair.

– Tá bom – ele estava meio atordoado – mas não me provoque!

– Você é louco!

Ela se recompôs e saiu dali. Daniel demorou um pouco mais. Quando saiu de lá, viu que ela estava sendo perseguida pelo cara inconveniente, de novo. Foi na sua direção sem pensar duas vezes.

– Algum problema, Srta? – disse fulminando o indivíduo.

– Nenhum! E eu sei me defender sozinha! – ela replicou.

– Excuse me. – o covarde saiu no mesmo instante.

Daniel não disse mais uma palavra. Apenas se virou e foi pra mesma direção que o cara. De repente só ouviram uma voz gritando

– Heeeelp!!!! Heeeeelp!!!

O cara tinha “caído” no lago, “acidentalmente”.

Passado esse incidente, a festa parecia rolar normalmente. A não ser pelos olhares cheios de eletricidade que cortavam o ar entre ela e Daniel.

Ele estava inquieto e parecia ansioso. Anabelle chegou perto dele.

– Hi baby. E aí, deu certo?

– Não sei! To me sentindo estranho.

– Nossa! Pensei que aquela garota era recatada, tímida, mas olha! Me surpreendeu.

– E a mim! Estou até agora pensando naquilo.

– OMG! Então é mais sério do que eu pensava. Vamos dançar pra você me contar isso melhor.

Os dois saíram dançando uma música lenta que rolava na hora.

“Time will never mend, a careless whispers of a good friend..." ****** vide notas

Ele tentava aquietar-se mas estava tomado por uma paixão incontrolável.

– Daniel, você está saindo do foco! Eu disse pra VOCÊ ignorar. E você está fazendo o contrário.

– É ... tem razão. Vou me esforçar mais.

À medida que dançavam e giravam, toda vez que seus olhos se encontravam com o de Juliana a vontade que ele tinha era de correr até ela.

“I’m never gonna dance again, guilty feet have got no rhythm” ****** vide notas

Eis que um amigo do Nicolas chama Julie pra dançar.

– Claro, Álvaro!

Ele pegou sua mão e puxou pra dançar. Mas alguém ficou alterado quando viu. E alguém não estava gostando nada daquilo.

Seus olhares se cruzaram de novo, mas dessa vez, Daniel estava com um olhar fixo no amigo dela.

– Daniel! – Anabelle disse, tentando desperta-lo. – Chega! Vamos pra lá!

Ele foi muito a contragosto. Ele não podia fazer nada contra os hóspedes... mas sempre podia acontecer um acidente.

A música acabou. Quando o cantor já ia engatar na próxima, teve seu microfone arrancado da mão, e foi empurrado pra cadeira mais próxima.

– Essa canção eu quero dedicar pro amor da minha vida. A única dona do meu coração.

Todos se surpreenderam com a declaração dele. Principalmente Julie, que ficou sem reação, sem palavras e sem ar.


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Notas finais do capítulo

Músicas citadas no capítulo:
* "Amar, Errar, Acertar" de Fábio Rabello
** "Wish You Were Here - Pink Floyd"
*** "Essa Noite Somos Um Só" - Julie e os FAntasmas
**** "Hey Jude" - Beatles
***** "Twist and Shout" - Beatles
****** "Careless Whispers - George Michael"



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