A Maldição De Afrodite escrita por Rafael Piotto


Capítulo 13
Superação




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Acordei com minha camisa pegando fogo, esse não foi o jeito mais estranho de me acordar, mas admito que chega bem próximo. Quando acordei estava no chão do primeiro andar do galpão, Marco estava de pé em minha frente lutando contra os guardas como ele podia, mas parecia estar sendo dominado.

—Len acorda, eu realmente preciso de sua ajuda! – Ele dava passos para trás enquanto os guardas o cercavam, ele havia feito as mangas de minha camisa pegar fogo para me acordar (eu me certifiquei de fazer ele me pagar outra depois disso.), mas após usar seus poderes divinos tantas vezes no mesmo dia ele estava visivelmente exausto. – Droga o que aconteceu com você...

Quando tentei me levantar, percebi que havia uma nevoa me cercando e drenando meus poderes, eu via a suposta Deusa de antes parada em minha frente debochando de mim.

—Seu amigo tem uma habilidade considerável com magia, mas deveria estudar mais sobre mitologia. Não sou Até como vocês achavam, como a maioria das pessoas acha na verdade... Eu sou a grande Hybris! – “Grande?” Pensei comigo mesmo, as historias contavam sobre uma Daemon pervertida chamada Hybris, porém não me lembro de nenhum feito impressionante dela apesar de sua habilidade natural com ilusões. – Sou a personificação de insolência, violência, orgulho imprudente, arrogância e tudo mais que semideuses como você, Hanson Len, esbanjam sem nem perceber. Você está tão inundado com esses sentimentos que eu posso entrar e sair dentro de você em um piscar de olhos, semideuses orgulhosos como você são meu prato favorito... – Diz ela passando o dedo em meu rosto, Marco parecia não perceber sua presença novamente.

Ok, nojento.  Mas mais importante que isso, a fumaça que me rodeava não me deixava respirar! Eu já estava a ponto de perder minha consciência, olhando em volta eu vi Marco já no chão sem consegui se mexer e não havia sinais de Franky ou Sarah por perto também. Ou seja, vamos morrer. Eu ia morrer sem resgatar minha irmã, nem resolver meus problemas com o acampamento ou com Sarah... Comecei a sentir ódio acima de tudo naquele momento, remorso pelas minhas ações, arrependimento por ter deixado Rin ser capturada em primeiro lugar, ódio pelo fato de Marco ser tão inútil, por Sarah ser tão teimosa, por eu ser tão... Tudo o que Hybris disse que eu era.

Comecei a entender o porquê de Marco não ver nem ser afetada por ela... Comecei a relembrar as palavras dela; “insolência, violência, orgulho imprudente, arrogância” será que alguém inocente como Marco seria imune a ela, pois não sentia nenhuma dessas más emoções? Já alguém estragado e podre como eu, era facilmente dominado por ela... Após perceber que eu morreria pelo meu próprio orgulho, comecei a sentir a mais profunda tristeza, somada com uma vergonha que parecia corroer meus ossos.

Entrei nessa fábrica pensando somente em resgatar minha irmã o mais rápido possível, que se precisasse derrubaria tudo a força. Eu tinha treinado tanto, que ninguém poderia me enfrentar, certo? Antes eu odiava Marco por ser quem ele era, odiava Sarah por ela ter brigado comigo, Quíron e o resto do acampamento pelo que aconteceu, mas somente no momento em que eu estava prestes a morrer que eu percebi o quão errado eu estava em relação a todos em volte de mim...

Isso tudo era culpa minha e eu havia atraído meus únicos amigos para a morte como meu ultimo ato. –Me desculpem... –disse com meu suspiro final. – Eu sou um idiota, é tudo culpa minha... Rin...

Quando eu finalmente voltei a respirar, lagrimas desciam pelo meu rosto sem parar. Por algum motivo voltei a me levantar sem problemas e quando olhei pra baixo, vi Hybris me encarando com um olhar assustado. Por algum motivo, agora ela não tinha mais efeito sobre mim. Quando olhei em volta vi Marco desmaiado, mas sem nenhum ferimento no corpo além de não ter ninguém na fabrica além de mim e da Hybris que agora eu podia ver claramente. Sua forma estava diferente agora, ainda era a forma de uma garotinha, porém  tudo nela era do mais puro tom de preto desde seu vestido até seus olhos. Um par de asas pretas saia de suas costas. Ela parecia um demônio feito de carvão.

—Então é isso? Todos seus poderes vêm das emoções de quem você enfrenta? – A encarei enquanto falava calmamente. – Quem está com medo de morrer acaba vendo inimigos que não pode derrotar e até sente na pele como se estivesse sendo derrotado por eles, quem tem sentimentos exagerados como inveja ou remorso perde controle total de seu corpo perto de você, mas caso a pessoa admita seus erros e pecados... Sua verdadeira forma aparece e você não consegue fazer nada. – Desembainhei minhas laminas. – Que digno de pena.

 –Isso NÃO vai ficar assim. – Assim que ela falou isso, abriu suas asas e saiu voando pela primeira janela que conseguiu encontrar. Naquele momento eu não sentia nada além de remorso pelos meus amigos e até mesmo um pouco de agradecimento por ela ter me feito superar parte dos meus problemas (mesmo que a força), então não senti necessidade em finalizar ela.

Peguei Marco no colo, chequei e confirmei que o pen drive de Franky ainda estava comigo e fui embora daquele lugar usando o painel de controle do escritório para abrir a garagem principal. Assim que sai de lá encontrei Sarah e Franky, eles vinham correndo em nossa direção com armas em mão.

—Que demora cara, nós achávamos que vocês dois já eram! – disse Franky enquanto empunhava seu machado. – O que aconteceu?

—Não se preocupe, estamos bem. – entreguei o pen drive para ele e juntos, levamos o corpo de Marco até o carro. Antes de entrarmos no carro puxei Sarah para podermos conversar a sós. – Antes de irmos, vamos mandar uma mensagem de Iris para Quíron, essa fabrica ainda pode ter semideuses ou até criaturas mágicas presas lá dentro, seria bom alguém dar uma olhada.

—Então – Disse Sarah olhando para baixo. – lembra quando eu disse que esse carro era nosso plano de fuga caso nós precisássemos correr? Então, nossas malas estavam lá dentro, porém quando estávamos distraídos algo que se parecia como uma sombra passou por dentro do carro e roubou todas nossas malas, com exceção da mala de Franky que era pesada demais para ser levantada. – Naquele momento comecei a querer voltar no tempo e matar aquela Hybris travessa. – Dentro da mala do Franky só tem suas invenções, isso explicaria o peso dela, mas também nos deixa com zero dracmas ou até mesmo dinheiro humano. Não temos como gerar uma mensagem de íris agora.

Pensei no que fazer agora, até que uma voz chamou nossa atenção. –B-bem... Eu acho que posso ajudar.

Monet estava do lado do carro, sua respiração estava pesada como se tivesse corrido uma maratona antes de chegar lá. Ela carregava uma mala que parecia pesada demais para ela e ao seu lado havia um homem alto com uma barba robusta e um avental de hospital. Seu cabelo era longo até a altura dos ombros e ele tinha um sorriso gentil, seus olhos estavam atentos como se ele estivesse nos analisando... Principalmente me analisando dos pés a cabeça.

—Monet! Como você chegou aqui? Na verdade... Por que você está aqui?

Assim que conseguiu recuperar o fôlego ela colocou sua mala no chão e disse. – Assim que eu fiquei sabendo que vocês fugiram eu corri para falar com Quíron, ele realmente estava irritado... Mas eu consegui o fazer falar o que aconteceu, o Sr. D estava por perto também, ele acrescentou os detalhes e me contou sua motivação, algo sobre sua irmã... Mas ele também não sabia por que seus amigos vieram junto nem onde vocês estavam indo, então eu fui atrás... Bem, do meu pai, e ele me levou até você.

—S-seu pai?!? Então esse homem, é o deus Asclepio?

Assim que falei isso o homem abriu um grande sorriso. – Sim, filho de Ares. – Sua voz era calma e gentil, me lembrava muito Quíron. Pelo menos nos momentos que ele estava explicando algo. – Eu sempre fui conhecido por andar entre os mortais ensinando as artes da medicina. Por isso não tenho um trono no Olímpio nem uma casa no acampamento. Mas eu prefiro assim, assim posso ajudar os que precisam de mim assim como minha filha querida. – Assim que disse isso ele passou o braço em volta dela, a deixando com o rosto vermelho. – Como minha filha já te curou diversas vezes antes, não foi difícil para mim encontrar sua localização, mas agora infelizmente tenho que ir... – Disse ele se abaixando até ficar na mesma altura que Monet e a olhando nos olhos. – O tempo que passamos juntos foi ótimo, mas agora tenho que ir. Até depois.

E com um abraço apertado (que a deixou mais vermelha ainda) ele desapareceu. Uau, eu não consigo nem imaginar como seria ridículo se Ares fizesse algo do tipo comigo. O mais próximo que posso imaginar seria um tapinha no ombro junto de um “Mandou bem.”

—B-bom, esse é meu pai... – disse Monet

—Ae Len, conheceu o futuro sogrão hein, que legal! – Disse Franky de dentro do carro enquanto ria alto, não preciso nem dizer que tanto eu quanto Monet ficamos tão vermelhos quanto tomates.

—De qualquer forma... Monet. – disse me aproximando dela. – Porque você nos seguiu? Não estou reclamando, é claro. Nós realmente precisamos de suprimentos a mais e cuidados médicos agora. Mas nós estamos fugindo do acampamento e indo em direção a uma missão muito perigosa, eu nunca pediria para você se arriscar por mim dessa forma!

—Não tem problema, ninguém no acampamento realmente se importa comigo por eu ser filha de um deus menor e não ter irmãos lá, mesmo que eu tente aprender mais sobre os interesses das outras pessoas, eu sempre fui ignorada por todos, menos você... Você foi gentil comigo. Mesmo eu não tendo talento nenhum em batalhar, mesmo quando você parecia conflitado ou quando você estava treinando com tanta intensidade que eu achava que seus ossos iam se partir, você sempre parava o que estava fazendo para me ajudar e eu não consigo nem explicar como aquilo foi importante para mim... Eu realmente quero te ajudar, não só como forma de agradecimento, mas também porque eu quero te ver bem!

Eu não sabia o que dizer, eu me sentia extremamente agradecido ao ouvir aquilo, tão agradecido que eu não sabia nem como responder. A única coisa que consegui dizer foi um tímido “Obrigado, estou feliz por você ter vindo...”. Por mais que eu tivesse decidido ser mais verdadeiro com meus sentimentos após minha luta com a Hybris, eu estava com tanta vergonha naquele momento que isso foi o maximo que eu consegui dizer.

Após um momento de silencio constrangedor, eu peguei o dracma da mão dela e junto de Sarah fomos procurar água para mandarmos uma mensagem de Íris para o acampamento enquanto Monet nos esperou no carro, cuidando de Marco e sendo obrigada a ouvir os deboches de Franky. Achamos uma torneira atrás da fabrica que ainda funcionava então nós aproveitamos aquilo para gerar um arco-íris e contatar Quíron. Ele estava na sala principal da casa grande, ele parecia estar lendo algo, porém assim que nos viu ele fechou o livro ficou encarando a mensagem com um rosto serio.

—Hm... Oi. Desculpe ter feito toda aquela bagunça no acampamento, matado alguém na floresta, machucado um espírito da floresta, fugido do acampamento e não ter comparecido ao julgamento. Eu sei que causamos muitos problemas para você, assim que pudermos nós vamos voltar e eu irei me apresentar ao julgamento. – “Não tenho outra opção na verdade” pensei enquanto apertava meu peito. – Mas nós encontramos uma fabrica que pode conter semideuses prisioneiros. Eu, Franky, Sarah, Marco e Monet vamos atrás de quem organiza tudo e tentar acabar com isso de uma vez por todas além de recuperar minha irmã, espero que compreenda...

—É, foi mal. – Disse Sarah com um ar de quem não se importava muito com aquilo tudo. E então após darmos o endereço a ele, terminamos a mensagem.

 Quíron apenas disse. – Voltem em segurança. – antes de a mensagem acabar. Meu coração parecia querer pular do peito de puro nervosismo. Algo do olhar que Quíron nos deu me deixava inquieto, ele tinha sido o mais próximo de uma figura paterna que eu tive durante minha vida, seu olhar não só parecia irritado, mas também decepcionado. Não sabia como lidar com aquilo.

Sarah se virou para voltar ao carro quando eu a puxei pela manga da camisa. Ela se virou para mim, cruzou os braços e disse. –O que? – a atitude dela me deixou um pouco irritado, como se ela estivesse dizendo “Vamos logo com isso, não tenho o dia todo.

 –Bem... Eu só queria dizer... –Estava começando a sentir o coração bater mais rápido novamente, não tinha pensado exatamente o que dizer e o olhar dela me deixava nervoso. – Ah que droga! Eu não sei o que quero dizer. Desculpe por fazer você passar por todos esses problemas, desculpe por te afastar no acampamento, por achar que você não se importava comigo, por colocar nossas vidas em perigo, por... – Naquele momento ela me interrompeu colocando o dedo indicador em meus lábios fazendo eu me calar. Isso me lembrou da primeira vez que nos conhecemos, quando estávamos presos no circo e ela me interrompeu da mesma forma para explicar seu plano. Aquilo já fazia tanto tempo, mas eu ainda lembrava claramente como se tivesse sido ontem.

—Len... – disse ela com um sorriso no rosto. – Você é um idiota. Você me ignorou por anos, brigou com meu namorado diversas vezes sem motivo nenhum, me fez virar uma fugitiva do único lar que eu já tive... Mas apesar disso tudo, eu ainda te vejo como um irmão. Eu não conseguiria ficar brava com você por muito tempo nem que eu tentasse. Claro que isso não muda o fato de você ser um grande idiota e eu ainda querer te espancar... –Disse ela enquanto beliscava meu braço. – Mas eu te amo e isso nunca vai mudar.

A forma que ela falou aquilo me deixou tranquilo, senti um enorme peso ser tirado de minhas costas naquele momento, o sorriso fazia eu me sentir tão bem de uma forma que nenhum outro poderia. Ela passou o braço pela minha cintura e disse– Vamos logo, temos que achar sua irmã, espero que ela seja menos complicada que você.

E assim fomos em direção ao carro para ver os dados que conseguimos roubar e com alguma sorte, tentar achar minha irmã.


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