About Sirius Black escrita por Ster


Capítulo 51
Depois - 1979




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381260/chapter/51

THE GIRL WHO BELIEVED

1979

SALA DE JANTAR DE EMMELINE

POV MARLENE

– Deixe ver se eu entendi, você mora no hospital? – perguntou Emmeline, em seu terceiro copo de hidromel. Suspirei, limitando-me a apenas tomar mais um gole de Água de Gilly e sentir o leve teor de álcool descer por minha garganta. Sirius girava a azeitona em seu prato, deixando bem claro o quão entediado estava, mas Emms preferia debochar para passar o tempo. Graças a Merlin, Cadaroc era um homem inocente em partes, e não conseguia captar o sarcasmo da minha suposta amiga.

– Não... Digo, eu passo muito tempo lá. – ele deu de ombros, sorrindo. O sorriso era coisa mais linda que Cadaroc tinha, deixava claro toda a pureza em sua alma tão boa. – Sou quase o pai de todos.

– Uma vida muito glamorosa e agitada. – ironizou Sirius, dando seu melhor sorriso falso. Ele estava com uma camisa do Black Sabbath, mostrando seu braço com símbolos e frases. Ele estava muito, mas muito diferente do Sirius que eu deixei em Hogsmeade. Seu cabelo estava mais longo e cacheado, ele preservava sua barba e seus olhos estavam mais escuros. Deve ter visto coisas horríveis, pensei comigo mesma. Mas como Lily disse, ele ainda tinha um charme que fazia as mulheres quebrarem seus pescoços para vê-lo. Eu estava ardendo de curiosidade para saber sobre essa tal de Piper que Remo comentou em alguma carta. Mas eu preferi me calar, já irritada com as atitudes infantis de Sirius e Emmeline.

– Só porque Cadaroc não é um vagabundo drogado que fica o dia inteiro em casa totalmente bêbado, significa que ele não aproveita a vida? – ergui minhas sobrancelhas para Sirius, o fazendo reprimir um sorriso magoado. Continua o mesmo idiota de sempre. E bêbado. Girei o anel em meu dedo anelar, absorvendo o silêncio após meu corte em Sirius.

– Lene Moo, você é tão brilhante. – sorriu ele, erguendo a taça. – Um exemplo.

– Nós te idolatramos. – Emmeline entrou na brincadeira. Cadaroc olhou-os, sorridente.

– Com razão. Mar é a mulher mais... Extraordinária que já conheci na vida. Uma guerreira. A pessoa mais centrada que já conheci.

– É, você sempre foi assim, não é Lene? – debochou Sirius, fazendo Emmeline engasgar com sua bebida. Eu sabia o que estava acontecendo ali. Ele estava com raiva, magoado, sentido. O motivo eu não sabia qual dos, mas eu sabia que ele estava sentido, por isso estava descontando.

– Não seja malvado, Sirius, ela é uma boa garota agora. – riu Emms.

– Você é um idiota. Não mudou muito. – retruquei, afastando-me da mesa e cruzando os braços.

– Bem, queria dizer o mesmo sobre você. Sua cara está menos... Verde.

– Parou nos dezessete?

– E você pulou pros quarenta? Se liga Marlene, estamos apenas brincando, não fique irritada. As coisas funcionam assim aqui... Mas você ficou tempo demais longe para lembrar, não é? – ele ergueu a taça e virou todo seu uísque. Cadaroc limpou a garganta e terminou seu macarrão em silêncio.

– Então... Como se conheceram? – perguntou Emms, cortando a música ambiente. Mas ainda assim, Sirius e eu nos olhávamos de uma forma que poderíamos atear fogo um no outro a qualquer momento. Cad empolgou-se e riu, preso em memórias.

– Essa história é engraçada. Mar estava passando mal por conta do tratamento, e o pijama do hospital é bem... Revelador, digamos assim. E ela estava de quatro com a cara na privada quando abri a porta. – Emmeline gargalhou com Cadaroc, e Sirius forçou-se a rir, enfiando a faca na azeitona e pegando um cigarro em cima da mesa e o acendendo. – Um ótimo começo.

– Marlene é toda desajeitada. – riu Emms. – Isso a torna mais adorável do que já é!

– E você Sirius... Como foi esse ano? – perguntei, servindo-me de mais Água de Gilly.

– Se não tivesse acontecido o que aconteceu, Lene, pode apostar que ele estaria casado agora. E adivinha, com uma Greengrass. – contou Emmeline.

– É mesmo? – admirou-se Cadaroc.

– Ela era minha tatuadora. – Sirius deu de ombros.

– Uau. Ela era uma tatuadora de talento. – sorriu Cad.

– Na verdade ela era uma traficante internacional de narciso. – O QUÊ? Emmeline, prendeu o riso enquanto Sirius cutucava as unhas com descaso. – Era casada, mas matou o Nott quando o pegou na cama com uma das Parkinson. E cara, ela tinha uma Harley vermelha incrível.

– Ela era uma traficante? E... E uma assassina? – perguntei, chocada.

– Tinha longos cabelos negros e as pontas azuis. E ela usava óculos. Piper Greengrass... Me apresentou tanta música boa que eu não tenho como agradecê-la. – ele falava dela com um carinho tão grande que ficou óbvio que ele gostava muito dessa mulher, talvez até mesmo a amasse. Pelo pouco que eu sabia dela, essa Piper estava fazendo Sirius entrar na linha novamente. Fazia sua Guzzi voar e o tatuou inteiro. Os dois viviam juntos, como um casal e tudo. Ele a fez entrar para a Ordem, e foi em um dos atentados que ela morreu. Era egoísta, mas eu me sentia melhor em estar bem longe quando isso aconteceu, pois eu não saberia consolar Sirius. Peguei-me pensando no que faria caso Cad morresse.

– Bem, vamos mudar de assunto. Vim pedir para se seja minha madrinha, Sirius. – sorri, batendo palmas animada. Ele ergueu as sobrancelhas, esforçando-se para não gargalhar.

– Madrinha?

– Isso mesmo, você e Lily.

– Vocês vão mesmo se casar? São novos demais pra isso. – Sirius já estava bêbado o suficiente para meter a garrafa na boca enquanto olhava torto para Cadaroc.

– É só para oficializar. – respondeu Cad. – Sabe, já somos praticamente casados.

– Ótimo... ótimo... – assentiu Sirius, abrindo outra garrafa. – Ótimo.

[][][]

Eu era medrosa, isso era fato.

Minha decisão de entrar na Ordem da Fênix foi algo impulsivo. Não tenho confiança o suficiente para achar que consigo vencer Comensais da Morte, isso é impossível. Mas eu tinha que admitir, eu realmente era boa naquilo. Desde que atendi um auror ferido em batalha no hospital Búlgaro onde eu estava estagiando e me tratando, seu comentário sobre meus feitiços fez com que eu me sentisse na obrigação de ajudar.

“Precisamos de pessoas como você.”

Talvez esteja no sangue dos McKinnon ser bom em duelos, pois eu não tinha perdido nenhum até agora. O treinamento para aurores era difícil e duro, mas eu estava encantada. Poções que nunca tinha ouvido falar, feitiços de proteção de todas as formas possíveis, técnicas de transfiguração, oclumência... Eram tantas matérias e tantos afazeres que eu fiquei ocupada durante o tempo que eu queria dedicar a todos.

Eu senti muito medo de voltar e tudo estar diferente, e realmente estava. James tinha adquirido um tom mais maduro e já não falava berrando como antes. Pedro havia aprendido a se vestir, e até mesmo Remo conseguiu ficar mais bonito do que já era. Lily superou-se, digo, casar com James Potter... Isso é fim de estrada! Emmeline e Dorcas continuavam as mesmas, tirando o fato de Emms ter conseguido ficar mais amarga do que já era e Dory passou a pentear o cabelo, e também lavá-lo, o que mereceu aplausos.

Mas ele em especial... Ele me intrigava.

[][][]

IMPEDIMENTA! – rajadas de luz saiam das varinha dos presentes na batalha que estava acontecendo na floresta nas proximidades de Bristol. Apenas eu, Remo, e James e Lily estávamos presentes, avaliando se o lugar era bom e seguro o suficiente para uma cerimônia. Estávamos todos pensando seriamente em fazer um casamento triplo, iria poupar mais tempo e seria bom fazer uma grande festa. Mas de alguma forma os Comensais foram informados que éramos presas fáceis no meio da floresta e lá estávamos nós lutando contra dezenas deles.

– Não dá para aparatar! – gritou Remo. – Protego!

Flippendo! – minha varinha tremeu com a azaração forte que eu soltei contra um dos Comensais. – Chamem reforços!

– CORRAM! CORRAM ATÉ CONSEGUIREM APARATAR! – ordenou James. Então fora o que fizemos. Eu corri o mais rápido que eu consegui, mas me obriguei a parar quando ouvi os gritos de Lílian, apavorados. A iluminação da varinha de Lord Voldemort contra Lily faziam meus olhos doerem.

Expecto Patronum! – o que antes era um texugo, havia se transformado em uma grande coruja por conta de Cadaroc. – Peça ajuda, ache todos e peça ajuda.

– Matem todos! Matem todos! – ordenou Voldemort, com o rosto contorcido de prazer enquanto duelava com James e Lílian de uma vez só. James tentava empurrar Lily para longe, mas ela continuava ao seu lado, atirando feitiços. Respirei fundo e apontei minha varinha para ele, preparando-me para o pior.

Confringo! – ele era ágil. Quando seus verdes com um brilho vermelho doentio viraram-se para mim, eu podia jurar que um sorriso saiu nos seus lábios frios. – Diffindo! Incendio!

– Finalmente alguém a altura. – sorriu ele, meus feitiços mal chegavam a tocar sua barreira. Nesse meio tempo em que eu consegui distraí-lo, eu ainda conseguia ouvir os gritos e os estalidos do duelo de Remo e James, que duelava e tentava de algum jeito fazer Lily aparatar com sua própria varinha. – Jogue feitiços de verdade, garota.

Incarcerous!

– Não... Não, sua tola! Deixe-me lhe ensinar... Crucio! – Eu fui rápida em desviar do feitiço, eu não conseguia pensar no que eu estava fazendo e nem o quão estúpida eu estava sendo em atirar feitiços tão imbecis, mas eu estava desesperada. Eu estava duelando com ele. E ninguém sai vivo de um duelo com Lord Voldemort.

Protego! – graças à Merlin, estalidos de luz brotaram na grama da floresta abandonada revelando grande parte da Ordem da Fênix. A presença de Sirius pareceu atiçar alguns Comensais, fazendo com que eles corressem em direção dele. Eu não consegui prestar muita atenção enquanto tentava desviar dos feitiços do meu adversário, mas eu pude ver Cadaroc correr em minha direção.

– DORCAS! – foi tudo extremamente rápido. Voldemort me mandou um feitiço e eu rebati com minha barreira. Quando Cadaroc finalmente me tocou, jogando-me bruscamente para o lado, fios louro escuro apareceram diante de uma rajada verde de luz. E foi tão rápido... Tão rápido quanto adormecer. Não fora um simples Avada Kedavra. Foi um combo... E era para mim.

Apesar de Moody continuar berrando ordens e grande parte dos Comensais terem se reunido a Voldemort quando ele explodiu o céu com sua Marca Negra, a Ordem da Fênix não conseguia me mover.

– MCKINNON, LEVANTE! – A voz de Moody me despertou. Levantei-me rapidamente e pulei o corpo de Dorcas em direção do foco da batalha. Ergui minha varinha para a marcara do homem que duelava com Sirius e não pensei duas vezes quando meus lábios sibilaram. Sirius virou-se para mim, de olhos arregalados, mas não havia tempo. Não mais.

Avada Kedavra. – o raio verde que saiu de minha varinha o jogou longe. Os comensais começaram a me rondar após eu ter matado um deles. Estava tudo tão desbotado, os berros agonizantes de dor dos Comensais sob meu Crucio saiam distorcidos sob meus ouvidos. As mortes passavam despercebidas e eu não tinha noção que estava explodindo tudo ao meu redor e somente quando Voldemort finalmente recolheu seus Comensais eu parei e respirei.

Olhei para o céu laranja.

Estava nevando.

Fora de época.

Estranho.

Estava nevando.

O chão estava coberto de neve e uma árvore engraçada havia aparecido ao lado do corpo no chão. Se você olhasse bem, parecia uma menininha. O louro escuro, o desespero no rosto desfigurado. O coturno amarelo, a jardineira azul escuro que havia se tornado vermelho escuro.

Você acha que conhece a morte. Mas você não conhece. Não até que você tenha visto. Realmente visto. E fica sob a pele e vive dentro de você. Você também acha que sabe vida. Você fica na borda das coisas, a vendo passar, mas você não está vivendo. Não de verdade. Você é apenas um turista. Um fantasma. E então você o vê. Realmente o vê. E fica sob a pele e vive dentro de você, e não há escapatória. Não há nada a ser feito, e quer saber? Isso é bom.

Isso é bom.

A imagem que eu vi, era a destruição do Remo que conhecíamos. Por completo.

Primeiro ele não se incomodou, agachou-se na poça de sangue e fitou os olhos desesperados da mulher deitada no chão. Ela parecia um peixe fora d’agua, sufocando aos poucos com a nova realidade. Tocou os diversos machucados, poderia tentar, mas era tarde demais. A mão de Remo tremia o suficiente para não tentar fazer nenhum feitiço complicado demais. Mas aqueles olhos castanhos eram auto explicativos quando com uma fragilidade digna de pena, ela empurrou sua varinha para longe de sua direção.

Então tudo que ele fez foi pegá-la, tentar segurá-la.

– R... R... Rem... R...

– Shhhh. Fique aqui comigo, tudo bem? Só fique aqui. – Ele tentou pegá-la, e um gemido de dor agoniante saiu da garganta de Dorcas, que entre lágrimas desesperadas, tentava a todo custo não gritar. Quando ele finalmente conseguiu pegá-la, para deixa-la perto dele, ela foi embora. Assim, sem avisar, sem um último adeus ou eu te amo. Ela foi embora entre os gemidos de dor e lágrimas. Remo se tocou do que tinha acontecido e eu tive medo do que ele ia fazer. Dei um passo a frente, mas James me segurou.

– Dorcas? – eu quis morrer ao ver os olhos penetrantes de Dorcas fitando Remo, mas sem vida. Sem brilho. Ele a olhava, chocado. – Não... Não faça isso... Nossa... Meu Deus... Não, não pode me deixar aqui... Não... Mas...

Lily saiu correndo, era possível ouvir seu choro dolorido longe dali. E Sirius segurava Emmeline, que não parava de chorar e repetir “Minha irmã, minha irmã”.

Remo começou a balançar-se para frente e para trás, como se Dorcas simplesmente fosse acordar. Era agoniante ver seus olhos grudados no rosto dele, era uma sensação horrível de vê-la ali e saber que ela não estava.

Que ela tinha morrido.

– Não faça isso comigo, minha Dorcas, por favor, não, não, não, não... – Remo abraçou o corpo morto de Dorcas. – Meu Deus... Por favor, não faça isso comigo... Por favor, eu imploro...

Por ter cessado sua existência terrena,

Entregaremos seu corpo a terra.

Terra a terra, cinza a cinza, pó ao pó.

Eu lembro claramente de quando eu conheci Dorcas.

Ela havia encontrado um inseto morto, e perguntou a Emmeline o que fazer. Emms mandou que ela jogasse fora, que era nojento. Eu disse que podíamos enterrá-la. Mas sem auxílio da varinha, Dorcas acariciou a borboleta e diante dos nossos olhos, ela voou. Sua asa se reconstruiu e ela voou. Acho que isso resume muito bem uma vida inteira de Dorcas. As pessoas lhe diziam coisas muito ruins, a colocavam para baixo, faziam ela acreditar que era inferior e ela conseguia mostrar o quão estavam errados.

Sua mãe lhe disse que não servia para nada. Dorcas tinha conseguido um trabalho no Ministério da Magia como Tratadora de Criaturas Mágicas.

Emmeline lhe disse que Remo jamais gostaria dela. Dorcas estava noiva dele.

Todos riam ou duvidavam da capacidade mágica dela, se perguntavam se ela não caiu na Casa errada. Dorcas morreu como uma verdadeira Grifinória.

Estava fazendo um sol de matar no funeral de Dorcas Meadowes e Remo não havia dito uma palavra sequer desde a batalha da floresta. Emmeline estava com um xalé verde água, a cor favorita de Dory. Lílian não desgrudava seu rosto do pescoço de James, que fitava o buraco no chão com pavor. Se havia uma pessoa no mundo que tinha medo da morte, esse era James. Eu estava surpresa por não ter chorado nem um pouquinho. Nem uma lágrima. Cadaroc estava até mesmo me irritando com sua preocupação excessiva perguntando o tempo inteiro se eu não queria um lenço.

– Eu já disse que não, Cad! – estrilei, perdendo a paciência. Ele assentiu, desviando o olhar, com os dedos ainda entrelaçados no meu. Assim que olhei seu rostinho redondo, arrependi-me de ter sido grossa. – Perdão... É que...

– Eu sei, ela é sua melhor amiga, não é?

– Era, Cad. Ela morreu. – Suspirei, um pouco irritada com os soluços pesados do pai de Dorcas e as palavras do Padre que nunca acabavam. Eu queria acabar com aquilo logo, será possível? Fitei meus sapatos por alguns segundos e então me estressei de vez. – Preciso fumar.

– Marlene...

– É rápido. – Levantei-me e saí andando longe o suficiente do local. Eu estava sufocando, meu Deus. O lugar era tão verde e o céu estava tão azul que poderia ser um belo dia na piscina e não um funeral. Em pensar que eu que deveria estar sendo enterrada se Dorcas não tivesse entrado na frente e Cadaroc me empurrado. Coloquei o cigarro na boca e apontei minha varinha para a ponta do cigarro, tragando. Assim que expirei, dezenas de pássaros verdes saíram voando de uma árvore.

Oh meu Deus!

Pássarinho verde! Dorcas diz que dá sorte, preciso chama-la...

O espírito nós os deixamos nas mãos de Deus.

Esse é o ponto final de uma vida, no sepulcro não há obras,

Nem conhecimento nem sabedoria, e a ele todos nós iremos cedo ou tarde.

Confiemos naquele que diz:

Ah.

– Odeio funerais. – Sirius saiu dentre as árvores com um cigarro pendendo no canto da boca. – Me dão fome.

– Você chorou?

– Não... Eu só consigo lembrar da juba que ela chamava de cabelo. – Sirius riu, aproximando-se de mim e jogando um baforada em meu rosto. – Triste.

– Ela morreu por mim. Se jogou na minha frente.

– Eu faria a mesma coisa. – olhei-o, impedindo a mim mesma de não girar os olhos.

– Ah é?

– Sem pensar duas vezes.

– Você deveria apagar seu cigarro e sentar-se entre Remo e Emmeline que estão sofrendo pela perda. É o mínimo. – Sirius finalizou seu cigarro e aproximou-se mais ainda, o suficiente para tentar jogar a fumaça em sua boca para a minha. Era estranho sentir-me ofegante ao senti-lo por perto, ou sentir minha pele queimar a um toque. Já se fazia um ano... Eu já tinha me esquecido de como era seu rosto, o sorriso contagiante, os olhos... Ele aproximou-se para um beijo, mas eu virei meu rosto.

– O que é isso? – questionei.

– Sou eu tentando te beijar e você idiota virando o rosto. – dei um soco no peito de Sirius e joguei o cigarro no chão. Dei outro soco. Um atrás do outro. Sirius apenas apanhou, sem tentar se proteger. Eu estava tremendo de raiva, eu queria mata-lo. Eu iria soca-lo até ele morrer de hemorragia interna. Eu ia quebrar aquele sorriso descarado e a cara deslavada, eu iria fazer arder aquele ar gélido e impassível que ele tinha para as coisas, eu iria fazê-lo sentir as coisas nem que fosse a força. – Au! Pare com isso!

– Você é um idiota!

– Eu?

– VOCÊ!

– Marlene... – ele riu, acariciando sua barriga. – Para com isso.

– Não... Você é retardado? Olhe só pra isso! Eu vou me casar, Lily e James vão se casar, Remo também ia mas OPS, a noiva dele morreu! TODO MUNDO ESTÁ MORRENDO, SIRIUS! Sua namorada morreu também, lembra? Pare de agir como se o mundo estivesse mil maravilhas, pare de ser tão frio, pare com isso, PARE COM ISSO!

– Marlene!

– Eu odeio você! Eu odeio tanto você porque eu amo você. Mas você me deixou! Você escolheu diversão, e agora que aguente a azia. Então você não vai me fazer pedir desculpas por algo que você quebrou.

– Eu... Espera, o quê?

– Eu passei por uma fase horrível, ok? E você esteve lá por um tempo e eu te agradeço por isso, mas eu quero sair disso e você não me deixa! Você me trata como um caso perdido, um caso que nunca acaba e eu não mereço isso. E... E todo mundo vê isso, pior, todos acreditam! Eu sou uma boa pessoa, eu sou, eu sou sim... E eu não mereço que as pessoas me menosprezem por causa de você! Então por favor... Por favor, será que você pode me deixar em paz?

Sirius parecia petrificado quando começou a assentir lentamente.

– Tudo bem.

Eu assenti freneticamente, respirando com dificuldade.

– E por favor, vista verde para o meu casamento. A gravata tem que ser verde. Verde água, porque Dorcas ama verde.

– Ok... Está bem. Eu vou arrumar.

– E penteie o cabelo.

– Sim... – finalmente eu comecei a sufocar, sentindo minha garganta trancar. Ofeguei desesperadamente, olhando ao redor, assustada. Meu Merlin... Meu Deus...

– Sirius! Sirius... Dorcas morreu! Ela morreu... E... Ela está morta? Merlin... Ela... Mas... – Sirius tocou meu ombro e puxou-me para um abraço, suspirando profundamente enquanto eu chorava extremamente alto. O que nós iriamos fazer sem Dorcas? Como iriamos viver sem ela? Como Remo vai sobreviver? Eu estava mesmo em casa. Ali era o lugar onde as coisas horríveis aconteciam. Onde eu estive doente por anos, onde fui abandonada e onde a guerra explodiu. E agora, era o lugar onde perdi minha melhor amiga.

E eu não fazia ideia do que eu iria fazer sem ela.

Mas o sol continuou brilhando.

E o céu nunca foi tão azul.

Eu sou a ressurreição e a vida aquele que Crê em mim ainda que esteja morto...

Viverá.

Dorcas Cassandra Meadowes

1960 - 1979


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!