We Are Infinite escrita por Leonardo Leone


Capítulo 1
Keep Holding On


Notas iniciais do capítulo

YAAAAAY *--*
Hoje é seu aniversário, bolo e guaraná, muitos doce pra você. Minha irmã está completando 13 anos, minha gente! Tá ficando velha e fazendo eu me sentir mais velho. Enfim... Essa homenagem de mais de 13,000 palavras fiz com muito amor e carinho, embora tenha demorado um mês para ficar pronta.
Baseado na songfic musica da nossa diva Avril Lavigne!
Se achar erros e tal'z ignore. Eu sei que há. Mas tinha que postar hoje por você e não consegui nenhum beta!
Eu espero que você goste e se emocione. É. É isso!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381190/chapter/1

Murmúrios podiam ser audíveis através do meu grande fone de ouvido preto, que tocava uma música relativamente alta, mas não poderia combater o falatório do aeroporto. Meus passos estavam lentos e constantes, pois a grande mala preta que eu puxava atrás de mim não me deixava ser rápido.


- Até quando você vai ser mãe coruja, dona Rosângela - resmunguei, desviando de uma velhinha.

Retirei o fone esquerdo e sondei o grande vasto aeroporto que agora abriga mais de duzentas pessoas que entram e saem afobadamente com inúmeras malas e seus familiares aos seus encalces. Alguns com aparelhos telefônicos e outros com sorrisos de orelha à orelha por estarem reencontrando seus familiares e amigos; alguns ainda com rostos chorosos pelas despedidas indesejáveis. Voltei o fone ao meu ouvido e deixei a batida da música me contagiar, me livrando dos pensamentos monótonos.

Desta vez, lentamente me direcionei à uma área bem pacata onde provavelmente seria o refeitório. Sentei-me na cadeira mais próxima e encostei a mala aos pés da mesa.

- Quer alguma coisa senhor? - a atendente loira perguntou.

- Hum... - olhei para o grande banner. - Pão de queijo?

- Claro! Já trago - ela se prontificou e eu assenti.

Retirei os fones de ouvido e guardei no bolso da calça. Observei o movimento do local mais uma vez. Onde está Bela? Já era para ela estar aqui, não? Olhei para o relógio de pulso que marcava três e meia da tarde. Talvez essa lerda esteja pensando que eu irei procurá-la. Levantei-me e acenei para a atendente que estava distraída com outros pedidos e clientes.

Transitei por mais algumas pessoas até que avistei na grande sala de espera que continha inúmeros assentos, uma única garotinha de madeixas castanho-claro, que no momento se encontrava com chiquinhas. Um pequeno livro pairava em suas mãos e ela o lia avidamente, balançando seus pés uma hora outra.

Sorri.

Depois de dois anos de amizade virtual, eu pude encontrar essa grande garota. Isabela Oliveira – ela odeia ser chamada de Isabela, mas isso não vem ao caso -, 14 anos, obtinha 12 quando a conheci. Muito carismática, fofa, inteligente, ativa, amiga. Eu prometi para ela que um dia eu a visitaria por um fim de semana. E aqui estou eu cumprindo minha promessa, vindo nos dois dias mais preciosos e importantes para ela.

Eu tinha que compartilhar esse momento junto dela.

Assoviei desajeitadamente e todos olharam. E de todos, os olhos orbes marejados que mais se destacaram foram os dela. Verdes. Mas é aquele verde brilhante que agora, lágrimas caiam lentamente deles.

- LÉO! - ela gritou aos prantos, deixando seu livro cair.

Um fato sobre Bela que esqueci de mencionar: ela é chorona.

Ajoelhei-me e seu corpo magro se chocou contra o meu e um emaranhado de cabelos castanhos atingiram meu rosto. Com o impacto do abraço eu a levantei ao alto, e seus soluços penetravam meus tímpanos cortando meu coração.

- Bela, não chore - sussurrei.

Mas foi inútil.

Ela não dizia palavra alguma depois do grito, apenas chorava e mais chorava. Pessoas passavam e nos olhavam confusos, como se fosse uma espécie de reencontro, a qual fizessem anos que não nos víamos, porém, tecnicamente era isso.

- Léo... - ela choramingou no meu ombro.

- Sim? - perguntei a abraçando fortemente.

— Preciso de ar, você está me sufocando – pediu e eu afrouxei o abraço, colocando-a no chão.

Ela limpou as lágrimas e constatei suas pálpebras demarcadas – como se estivesse chorando há dias. Seus olhos estavam vermelhos através das grandes lentes. Usava uma blusa branca simples; um pequeno short jeans, e um all star preto. Depois de nos encarar ainda estupefatos, para aliviar toda a tensão, perguntei:

- Bela, que short é esse? - ela ruborizou.

- Léo, achei que gostaria, ele é jeans - sorriu, fazendo uma pose.

- E dai que é jeans? Ele é colado - pestanejei.

- Para de ser careta, aliás, quem vai olhar para minhas pernas? - revirou os olhos.

Um pivete passou perto de nós, secando as pernas de Bela. Fuzilei-o com os olhos, abraçando-a pelos ombros e ele abaixou a cabeça prosseguindo com seu videogame patético.

- Não sabia que você ciumento era fofo - ela murmurou e eu a belisquei.

- Ai! - recuou. - Quanta violência. É a primeira vez que nos vemos, e você me trata assim? - fingiu drama.

Como só ela sabe fazer.

- Menos, Bela - peguei na sua mão. - Agora vamos comer alguma coisa! – quando pensei em me virar, alguém berrou atrás de nós.

- PEDÓFILO COM A MINHA FILHA! - desta vez, eu recuei.

Uma loira com um corpo de tirar fôlego, corria até nós feito uma louca, e eu me perguntava mentalmente como ela conseguia correr por cima daqueles grandes saltos e não cair.

- Ma... - Bela começou a dizer, mas foi interrompida, quando o salto da mulher atingiu meu órgão sexual.

- AHH! - arquejei caindo de joelhos, pondo as mãos sobre a área atingida.

- Desgraçado! Nunca mais rele a mão na minha filha! – ela apontava a mão para mim.

- MÃE! - Bela berrou. - É o Léo, lembra? Não é um pedófilo – a pequena se dirigiu até a mim, me ajudando a levantar.

- Léo? Desculpa – começou a falar desajeitadamente. - Não foi a minha intenção – a loura me abraçou.


- Desculpe, Tia Andreia - falei sem jeito e com uma dor desgostosa ainda.

- Tia? Pra você eu sou Andreia – ela gargalhou alto.

- Mãe! – Bela a repreendeu.

- O que foi, filhinha? Não sabia que o Léo era tão... bonitinho – passou a mão pelos meus cabelos.

- Obrigado, acho – murmurei sem graça.

- Estou atrasada – jogou seus cabelos para trás e viu a hora no relógio. - Léo, você leva a Bela? – quando pensei em responder, me interrompeu. - Claro que leva! – beijou sua filha na bochecha. —Tchau, Léo – ela piscou e eu assenti desajeitado mais uma vez.

- Não sabia que sua mãe era tão... - comecei a dizer.

- Desagradável? – Bela me cortou com as sobrancelhas arcadas.

- Não! Meio... Alegre e protetora? – sugeri.

- Pode ser! – contraiu os ombros.

Pessoas nos encaravam como se fossemos uma trupe de loucos, depois que o som do salto de Tia Andreia não pôde mais ser escutado. Ajoelhei-me novamente e perguntei para Bela:

— Próxima parada? – ela mostrou seus dentes brancos.

— Casa! – respondeu.

Esse final de semana vai render...

(…)

- Merda! – levei a mão na testa. - O pão de queijo!

A chuva caia feroz do lado de fora do carro. Sons dos trovões eram impiedosos e o transito estava embargado. Fazia mais de duas horas que não saíamos do lugar. O aquecedor do táxi era confortável, mas eu gostava que a brisa fria da chuva pudesse invadir o veículo.

- Que pão de queijo? - Bela indagou confusa ao meu lado.

- Quando eu cheguei, eu fui para o refeitório e pedi um pão de queijo. Só que eu fui te procurar, teve todo o rolo e eu esqueci. A atendente deve ter ficado lá atoa me esperando – respondi, lembrando da loura.

- Tem pão de queijo em casa, Léo, relaxa – concordei. - NOSSA! - Bela berrou e, desta vez, levou as duas mãos na testa e o motorista pulou do banco.

- O que foi? – pedi confuso.

- Meu livro! A Culpa é Das Estrelas! Eu deixei no aeroporto quando te vi – ela estalou os olhos. - Eu estava na metade do livro. O que acontecerá com Hazel e Gus? AI MEU DEUS!

Lembrei quando seu livro havia caído ao chão.

- Calma. Bela! Eu te darei um livro novo – pus a mão no seu braço, tranquilizando-a.

- Léo, você não está entendendo! Era apenas o último exemplar das únicas livrarias aqui de Goiânia. Se tiver, é só pela internet. Eu preciso recuperar o livro – ela agarrou meus braços.

- Que livro é esse? Conte-me até onde leu – ela suspirou.

Enquanto contava o que já havia captado do livro, o táxi andou apenas mais algumas quadras, pois o engarrafamento só tendia a aumentar mais e mais. O crepúsculo já havia dito adeus. A noite chegava e ficávamos enfunados dentro do veículo.

- É isso! – finalizou a história dramática e romântica.

- Nossa! Ambos tem câncer, mas parece que o câncer da Hazel é pior. Será que ela morrerá? – perguntei rapidamente.

- Eu não sei... É imprevisível! Qual será o final de Uma Aflição Imperial? Eu preciso ler... - ela fitou seus joelhos nervosa.

- Também quero saber. Parece ser uma história linda, e quero lê-la depois. Prometo recuperar o livro por você, certo? – motivei-a.

- Valeu, maninho – nos abraçamos. -

- Já estou me enchendo disso – o motorista murmurou. - A casa de vocês está perto, não querem ir andando? – perguntou encarando o carro à frente.


- A chuva tá forte, moço, iremos nos molhar – Bela disse. - Se importa, Léo? – nos entreolhamos.

- Por mim – dei de ombros -, você que sabe – falei, olhando relógio e constatando sete horas da noite. - Já estamos há muito tempo aqui.

- Seu irmão te protege da chuva – o motorista sorriu amarelo.

- Certo! Quanto que é? – perguntei.

- Que isso! Nem fiz todo o trajeto! Não cobrarei vocês.

- Certeza? – insisti, e ele assentiu.

A porta se abriu e eu pulei para fora, enfrentando a chuva abraçadora. Bela me passou a mala.

- Tem chumbo ai dentro? – indagou zombeteira.

- Bela, não enche – mordi os lábios, sentindo grossos pingos gélidos se chocarem em mim

Retirei minha jaqueta de couro preta e a garota, pulou nas minhas costas se alojando em meu pescoço. Entreguei-lhe a peça e ela cobriu sua cabeça. Eu preparei a mala em mãos, fechando a porta do táxi em seguida.

- OBRIGADO! – agradeci aos gritos para o motorista que acenou - Vamos! – gritei.

- LÉO! – Bela berrava aos risos.

Corria pela calçada enquanto ela se posicionava em meus ombros. Por mais que a mala e o peso de Bela me incomodasse, eu não pararia porque aquele momento estava se tornando cômico e único. Pisava em poças d'Águas e desviava de algumas pessoas que nos olhava amedrontadas por sobre seus guarda-chuvas. O som das gargalhadas de Bela se reverberava pelo meu corpo, preenchendo lacunas gélidas.

- Próxima quadra! – Bela informou.

- Entendido, capitã! – seu riso gostoso ressonava cada vez mais alto.

Virei na próxima curva que me fora ordenada. Uma trilha de casas se estendia pela rua ladrilhada. Deixei Bela no chão que se vestiu com a jaqueta e tremia os dentes compulsivamente – se tornando fofa. À segui lentamente até um grande portão amarelo.

- Você deveria ser mais leve há dois anos – murmurei gesticulando meu braço. Ela me olhou atravessado. - Brincadeira, Belinha, eu que sou fraco – balbuciei pondo a mão no seu ombro.

- É isso ai! – contrai os olhos.

Ela abriu rapidamente o portão, e entramos na área coberta de seu lar. Encharcados, retiramos nossos all star's deixando-os na porta principal da casa e a abrindo em seguida, recebendo o calor protetor que a casa abrigava.

- Essa mala é muito pesada – Bela comentou.

- Meu violão está aqui dentro – disse.

- Você toca? Que top! Nunca me contou! – ela alegrou-se, resgatando uma toalha na bancada.

- Um pouco! Escrevo algumas músicas, mas nada demais.

- Quero escutar uma depois! – exclamou, secando os cabelos rapidamente.

- Quem saiba eu consiga terminar uma – falei sorrindo.

- Você conseguirá! – sorrimos. - Precisamos de um banho! – assenti rapidamente. - Segue esse corredor, o último quarto é o seu e lá tem um banheiro – peguei a mala. — Fique à vontade, certo? Vou tomar um banho rápido e assar nossos pães de queijo.

- O.k, Belinha, estou faminto!

- Eu sei. – riu – eu também estou! – e correu saltitante para o outro corredor, cantando uma música que agora não sabia identificar de qual língua era.

A sala não era tão grande, mas continha um carpete cor ocre, dois grandes sofás e, de frente, uma grande televisão. Andei lentamente pelo corredor que me fora ordenado, entrando pela última porta. O cômodo era um pouco pequeno. Obtinha apenas uma cama casual, um armário, uma escrivaninha e o banheiro. Abri a mala, tirando o violão enclausurado na capa preta, jogando-o na cama, constatando peças de roupas todas bagunçadas ao fundo.

- Minha mãe vai me matar, se ver isso – murmurei.

Retirei uma pasta e sentei na cama a abrindo. Havia vários rascunhos de músicas que havia feito, mas ainda não tinha terminado. Tudo bagunçado, serviços incompletos. Então, parei numa folha que se intitulava ' Nós conseguiremos '. Uma das primeiras canções que começara a escrever, porém, agora eu tinha que terminá-la. Fechei o portfólio, suspirei e me levantei, pegando uma toalha.

- Terminarei por você, Bela.

(…)

- Léo, não vale! – Bela deu um tapa em meu braço, mas já havia engolido dos pães de queijo de uma vez. - É um por cada vez, idiota! – gargalhei.

- Ah, Bela, lembra das regras? Elas são feitas para serem quebradas – mostrei a língua.

- Regras não se quebram, seu chato! – disse, engolindo mais um pão de queijo.

Estávamos trajados com nossos pijamas, sentados de frente a grande televisão com um pote contendo vários pães de queijo, e dois copos de coca ao lado.

- Sua mãe chega tarde? – indaguei.

- Às vezes... Por quê?

- Você fica sozinha? – indaguei mais uma vez.

- Às vezes... Por quê? – repetiu e rimos em seguida.

A programação chata sobre animais silvestres era bem mais interessante que às novelas e alguns desenhos bem infantis. Bela que obtinha uma mente adulta de muitos conhecimentos, se tornava uma nerd completa, mas eu a admirava muito pela sua qualidade. Enquanto a observava, reparei as olheiras demarcadas, e questionei novamente

- Bela, você andou chorando? – ela baixou a cabeça e depois me encarou. - Não minta!

- É... Sim! – limpou a garganta e fitou a televisão.

- O festival? – instiguei.

- Léo, eu tô nervosa, minha professora tocou no assunto do meu peso – respondeu austera.

- O que tem o seu peso? Você está adequada – falei balançando a cabeça.

- Não! Preciso emagrecer mais! – sua voz saiu entrecortada. - Mais cinco quilos e eu não quero estar fora do grupo, ou cair do palco e desapontar as garotas – levei a mão no seu queixo.

- Bela... Para com isso! Você não está gorda! Irá perder o peso nesses próximos dias numa boa, e vai arrasar no festival! Eu sei disso.

- Você me disse que estava pesada – uma lágrima escorreu. - Eu sou feia, diferente das garotas da minha idade, gorda – mais lágrimas escorriam.

- Meu Deus! Pare de chorar por um instante, garota! Amanhã você tem que estar linda! Você vai acreditar em você, eu sei que vai! Deve ser um momento de drama, o.k? – ela se aconchegou nos meus braços e encostou sua cabeça no meu peito.

- Não sei, Léo... Só queria que tudo desse certo, sabe? Fosse perfeito... Mas não é – senti a lágrima filtrar minha camisa.

Aninhava seus cabelos distraidamente e o silêncio pairou sobre o cômodo. Passei minutos tentando encontrar palavras certas para confortá-la, mas foi em vão. Depois de um tempo, reuni coragem e comecei a falar:

- Nem tudo é perfeito, sabe? Deve ser ruim se sentir, feia e gorda, mesmo sabendo que as pessoas dizem ao contrário, mas deve ser difícil acreditar nas palavras delas – olhei para baixo e Bela dormia feito um anjo. - Obrigado por me deixar falando sozinho – murmurei.

Desliguei a TV com o controle e firmei meu corpo recostado no sofá. Não poderia me mexer, se não a acordaria. Acomodei-me desta forma e comecei a ressonar baixinho, deixando que o sono me levasse também, mas alguém irrompeu à porta.

- Já estão dormindo? – Andreia perguntou com os olhos esbagulhados.

- Shh... - levei a mão a boca em forma de silêncio.

- Foi mal – sussurrou e fechou a porta devagar.

Ainda podia ser audível o barulho da chuva. Andreia estava encharcada depositando às sacolas em cima do balcão. Desenlacei Bela e peguei-a no colo, a pondo no sofá em seguida, cobrindo-a com uma manta. Andei até sua mãe que colocava as coisas na geladeira.

- Está gostando da hospedagem? – indagou sorridente.

- Claro! Só tenho que agradecer.

- Fiz isso por Bela, ela fala tanto de você – arrumou seu cabelo que caia em sua face.

- Também vim para cá, por ela. Dividir esse momento – encostei no batente do balcão.

Ela me fitou e sorriu.

- Você faz bem para minha filha. Ela precisa de uma companhia como a sua, já que ando tão ocupada com o trabalho, mas faço de tudo para ser uma mãe coruja – comentou, cortando o pão.

- Era isso que queria conversar com você – ela passava a maionese e assentia. - Bela precisa de mais atenção, precisa... De mais motivação, entende?

- Hum. Seja mais direto – suas expressões tornaram-se rígidas.

- Precisa dizer para sua filha que ela está magra. Que ela não precisa emagrecer. Ela é só uma criança. É muita pressão em cima dela.

- Sabe, Léo, eu cuidei dela sozinha por esses anos, eu tento fazer de tudo para ela. Amanhã é a viagem do festival e eu quero que tudo seja perfeito – Andreia monologou calmamente, mordendo seu lanche.

- Então, Andreia, você faz tudo pra sair bem e perfeito, mas esquece do principal – falei meio cabisbaixo e ela tomou mais um gole de seu suco. — Sei que trabalha duro todos os dias, mas pense mais em sua filha.

- Talvez você tenha razão – murmurou terminando a refeição.

- Vamos tornar esse final de semana perfeito – peguei em suas mãos.

- Com certeza! – apertou firmemente. - Preciso de um banho, dia exaustivo... Põe a Bela na cama?

- Claro! Boa noite, durma bem.

- Você também! Sinta-se em casa – concordei em silêncio.

Ela passou por Bela e depositou beijos em sua bochecha seguindo pelo corredor. Primeiramente, depositei o copo e os restos dos pães de queijo na cozinha. Em seguida, peguei Bela no colo, levando-a lentamente para seu quarto. O cômodo que a abrigava todas às noites, era grande. Jazia uma cama branca, ao lado seu grande guarda-roupa e ao fundo, uma estante com seus inúmeros livros e seu computador na escrivaninha; a janela com um vitral de borboletas brilhava à luz da lua, deixando o quarto num clima delicioso.

Depositei-a na cama e a cobri com seu edredom.

- Era só o que faltava – ronronou baixinho.

- O quê, sis?

- Você e minha mãe... Amigos? – seus olhos estavam brilhantes.

- Você escutou? – perguntei.

- Um pouco! – respondeu. - Léo, posso te pedir algo?

- Claro! – ansiei pelo pedido.

- Lê uma história para mim? – sorri.

Peguei um livro na sua estante e sentei-me na beirada da sua cama, ao seu lado. Lentamente comecei a ler no mesmo instante que Bela estava sendo aprisionada pelos sonhos irreais. Aquela história que falava sobre um mundo diferente onde as coisas e as pessoas eram perfeitas, porém, nós realmente sabíamos de que não se tratava do mundo real.

(...)

- Esqueci meu livro! – Bela saltou do carro pela enésima vez esquecendo mais algum item de viagem. - Já volto!

- Bela, anda logo! Iremos nos atrasar – Andreia gritou. - É sempre assim, Léo! Essa garota é esquecida demais – ela olhou pelo retrovisor.

- Imagino – murmurei, ajustando o cinto de segurança.

Foi uma correria para sair de casa. Bela trocou de roupas inúmeras vezes; praticamente a obrigamos comer alguma coisa no café da manhã, e ainda por cima esquecia várias coisas fazendo nos atrasar. Depois da noite desconfortável que eu tive de dormir ao pé de sua cama, eu esperava ter uma ótima noite de sono mais tarde.

- Foi rápido, eu disse – Bela afirmou ao sentar do meu lado, ajustando seu cinto de segurança também, fechando a porta do sedan em seguida.

- Rumo à Caldas Novas, Centro de Convenções Di Roma, para a vitória da minha filhinha! – Andreia anunciou num berro, e acelerou o carro pela estrada.

- PERA! EU ESQUECI ALGO! – Bela gritou.

O carro deu um solavanco e meu rosto bateu com tudo no banco do carro.

- O que desta vez, porra? – Andreia sussurrou nervosa.

- Brincadeirinha! Vamos logo! – gargalhei, e Andreia acelerou mais rápido pela estrada.

- Idiota! – dei um tapa em seu braço.

Tínhamos que nos distrair com algo, pois a tensão que se fixava em Bela, atingia Andreia e a mim. A viagem ocorreu tranquila, por via. A mãe de Bela é uma ótima motorista. Assumo que no início havia ficado com medo por suas acelerações rápidas, mas depois eu constatei que era só para ganhar o tempo perdido. Os borrões de casas e comércios passavam rápidos por minha visão, Bela lia seu outro livro e logo lembrei que A Culpa é Das Estrelas, estava dentro da minha mala. Sim, eu havia recuperado, e farei a surpresa daqui a pouco.

- Que livro é esse? – perguntei, após virarmos uma curva.

- Como se sentir bem com regime – respondeu.

- Tá falando sério? – suspirei.

- Claro! – murmurou.

Rolei os olhos e fitei a estrada ao lado. Ela só pode estar brincando com a minha cara, por que ela está lendo um livro desses? Bufei, e ao olhar para o lado, observei que na capa está escrito ' Insurgente '. Belisquei-a.

- Hey – protestou. - O que eu fiz?

- Você está cheia dessas trolagens, hein? – começou a rir descontroladamente.

- Foi mal, Léo, queria ver sua cara – voltou a rir.

- Ha. Ha. Muito engraçado – fingi riso. - Me explica como que vai acontecer esse festival – ela fechou seu livro e começou a declarar.

- Bom, hoje à noite é a semifinal. Os quatro grupos se apresentarão e apenas dois irão para final de amanhã à tarde. Por isso o nosso grupo tem duas danças ensaiadas. Antes de encontrar você no aeroporto ontem, estava no último ensaio. Claro que antes de nos apresentarmos terá o ensaio geral. São os quatro grupos: Goiânia; São Paulo; Rio de Janeiro e Espírito Santo. Todas são muito boas e estou com medo – ela perambulava os dedos nos joelhos enquanto falava. - E se eu estragar tudo? Cair do palco? Sei lá!

- Para de ser pessimista, filha – Andreia disse. - SAI DA RETA OTÁRIO! – gritou para fora do vidro.

- É, Bela, você é boa que eu sei. Para de ser menosprezar e você vai arrasar! – tentei motivá-la, mas um sorriso sequer ela esboçou.

Fui até a mochila ao meu lado, e retirei o livro perdido no aeroporto. Assim que Bela o viu, o seu semblante de desmotivação perpassou para um sorriso lindo. Entreguei-lhe o exemplar e ela o pegou pulando no meu colo.

- Léo, você conseguiu!

- Cuidado – ri e nos afastamos. - Consegui porque sou Corvino, eu posso tudo!!!

- HA.HA. Você foi no aeroporto? – perguntou animada.

- O.k, vou te contar.

#FlashBackOn#

O movimento do aeroporto estava calmo nessa manhã de sábado. As pessoas se mantinham calmas e serenas. Não havia tanta afobação como ontem à tarde. Caminhei devagar passando pela sala de espera, mas não havia sinal algum do livro de Bela. Vasculhei por todos os bancos e cantos da sala, porém era inútil. Comecei a ir por todos os lugares sondando com os olhos, mas desistindo cada vez mais.

— O senhor está procurando algo? – o segurança ruivo me perguntou.

— Sim! Minha irmã... - parei ao pensar na palavra que usei para me referir à ela – estava me esperando ontem na sala de espera, e esqueceu seu livro lá. Tentei vir procurá-lo, mas não achei. Sabe se tem algum lugar que as pessoas deixam objetos que viram perdidos, ou vocês resgatam?

— Pode ir nos achados e perdidos – apontou para a ala lá no fundo. — Se não achar, provavelmente a sua irmã o perdeu ou alguém pegou.

— Certo. Muito obrigado – ele assentiu e eu me dirigi para a última ala.

Uma garota loura estava por lá, ajeitando caixas e inúmeros papéis ao um som alto. Pigarreei, e assim que me viu, retirou seus fones de ouvido.

— Posso ajudar, senhor?

— Sim! Minha irmã perdeu um livro ontem na sala de espera. A culpa é das estrelas! Sabe se alguém o deixou aqui? Ou vocês viram e pegaram?

— Desculpe, mas não há livros por aqui! Provavelmente pegaram e levaram para casa – suspirei.

— Certo! Obrigado – ela concordou.

Sentei-me, me sentindo um inútil na cadeira do refeitório. Alguém havia pegado só pode. O relógio marcava nove da manhã e já estava há meia-hora por lá.

— Seu pão de queijo, moço – a atendente de ontem depositou o alimento em cima da mesa.

— Oh! Desculpe-me por ontem! Eu esqueci, e... - ela me interrompeu.

— Tudo bem! Eu vi você e sua... irmã? Que reencontro, hein – minhas bochechas esquentaram.

— É!

— Esse livro é dela – a moça me estendeu o exemplar.

— Você pegou? – perguntei admirado pegando o livro.

— Um garoto o deixou aqui. Sabia que era dela!

— Estou louco atrás deste livro! Muito obrigado! – a abracei desajeitadamente e ela prosseguiu.

— Agora o leva para ela! – sorriu e disse ao nos afastar.

— Claro – peguei o pão de queijo e joguei cinco reais na mesa. — Obrigado novamente! - e corri para fora dali, sem olhar para trás.


#FlashBackOff#

- Essa atendente nutriu uma paixão por você – Andreia comentou.

- Não... - disse rapidamente.

- Ele tem a Juh, mãe – Bela falou e concordei. - Obrigado, maninho, terminarei esse livro hoje ainda – abraçou o livro ao dizer.

- E depois me conta – completei.

- Só à noite porque estarei ocupada o dia todo – tossiu se gabando.

- A celebridade – zombei.

- Estarei ocupada com ensaio, roupas e maquiagens, mas vocês como meus acompanhantes poderão entrar no camarim e ver tudo.

- Ótimo! – exclamei.

- Chegamos! – nossa capitã anunciou.

O carro adentrou um grande clube. Ele era extenso com um gramado incrível, embora a chuva de ontem não deixasse o jardim com um brilho tão intenso. Estátuas podiam ser vistas cada vez mas que nos aproximávamos. A convenção parecia um grande prédio onde carros chegavam e estacionavam em suas vagas. Crianças das idades de Bela, adolescentes e adultos, conversavam animadamente e utilizavam seus Ipod's e tablet's. Descemos do veículo, depois de estacioná-lo.

Bela engoliu em seco ao meu lado esquerdo e pus a mão no seu ombro para tranquilizá-la. Andreia pairou ao lado esquerdo dela também, e sorriu transpassando segurança.

— Hora de irmos – murmurei, e começamos a caminhar.

Bela sussurrou ao meu lado.

— Que a sorte sempre esteja ao meu favor.

(…)

Às três horas da tarde de sábado, o Sol queimava intenso acima de nossas cabeças. Entretanto, quem estava abrigado dentro da convenção se dispunha de um ar-condicionado agradável. O treinamento das garotas no grande salão corria intenso. Todas apreensivas, nervosas, com unhas roídas, mas, Bela, era aquela que mais transpassava isso. Encostado no batente eu estava há mais de duas horas às observando. Bela realmente era talentosa, fazia movimentos graciosos e se destacava em meio à todas, já era de se esperar da líder do grupo.

- Vamos lá, meninas! - Matheus, o coreógrafo de Bela, gritava para todas.

Uma hora ou outra, ele olhava de esguelha para mim, sorrindo amigavelmente e eu apenas retribuía, constatando sua atitude um pouco estranha. Andreia estava arrumando os documentos de Bela, para o festival e eu já imaginava que ela estaria enfrentando uma fila gigantesca neste momento. Eu não sabia como me orientar por aqui, eu poderia estar nos bastidores quando quisesse, já que sou o acompanhante de Bela.

- Intervalo! Vocês já estão há uma hora e meia ensaiando, vou dar um descanso para vocês almoçarem - Matheus anunciou e todas afirmaram a ideia e logo já se dispersavam.

Bela correu em meu encontro, toda suada e com os cabelos desgrenhados.

- Vamos almoçar? Estou faminta! - Bela declarou, retirando as sapatilhas e calçando chinelos confortáveis.

- Claro! - eu realmente estava morrendo de fome.

- Eu vou tomar um banho rápido e já volto, o.k? - e, antes que eu pudesse assentir, ela sumiu por entre as portas do vestiário.

Depois de tanto tempo, me sentei num banco que se encontrava ao lado. Encostei na parede e logo me surgiram ideias de trechos para mesclar na musica. Xinguei-me mentalmente por não estar com a minha pasta aqui. Depois de alguns minutos, Matheus sentou-se ao meu lado de pernas cruzadas, e logo arquei minhas sobrancelhas.

- Você é de onde? - perguntou gentilmente.

- Interior de São Paulo - respondi tentando forçar uma simpatia, a qual nunca obtive abundante em meu estoque.

- Então você é o famoso Leonardo? - ele se aproximou.

- E você o famoso, Matheus? - afastei-me relutante.

- Sim! A Bela fala tanto assim de mim?

- Tipo, ela fala tanto desse festival e fala de você também, é claro - sorri amigável.

- Ela ama o coreógrafo perfeito dela - ele se remexeu no banco, como se estivesse dançando uma musica agitada.

Aproximou-se mais de mim.

- Coreógrafo humilde - ressaltei brincalhão.

- Quer me conhecer... - antes que terminasse de pronunciar, Bela apareceu saltitante.

- Do que estão falando? - perguntou confusa.

- Vamos almoçar, mana - saltei do banco, segurando-lhe a mão e saindo de lá.

Pelo trajeto até o refeitório, Bela questionou ainda mais confusa:

- Por que não me respondeu?

- O Matheus... É gay? - instiguei, avistando o refeitório lotadíssimo.

- Diz que é Bi... Ah, é uma longa história, ele já se envolveu com mulheres, mas nunca me disse se envolveu com homens... - respondeu.

- Então ele quer se envolver comigo - disparei aflito.

Bela riu, mais riu, de tal forma, embora ninguém escutasse.

- Qual a graça?

- Você amigo da minha mãe, e agora meu coreógrafo lhe flertando - gargalhou se esgueirando pelo fluxo de pessoas, e eu fiz o mesmo.

- Não tem graça... - murmurei inalando o cheiro de comida.

Se eu dissesse que havia muita gente neste local, não estaria mentindo. Até pelo estranho fato de observar que habitava diferentes tipos de pessoas, a cada passo que eu dava. Jurei até ver um Coreano por lá, ou até quem sabe um Albino; Meu estômago ronronava em protesto, quando cheguei perto do ' Banho Maria ' onde abrigava variados e diversos tipos de alimentos, dos exóticos aos mais sofisticados. Resgatei um prato e acompanhei Bela, servindo-me daquelas regalias.

- Aproveite, Léo...

- Opa! - exclamei, após despejar um jato de liquido fumegante pela torta.

Depois de nos servir, o próximo desafio era encontrar uma mesa vazia. Parecia que todas estavam ocupadas, embora uma hora ou outra, pessoas abandonavam as suas anteriores, enquanto eram ocupadas no mesmo momento. Esgueirávamos ainda mais, por entre mais fluxos de pessoas.

- Ali! - Bela apontou para uma mesa vazia composta por três lugares.

Aceleramos nossos passos até chegar ao destino proposto, porém, uma bandeja pousara a centímetros da minha no mesmo instante que havia colocado-a. De esguelha, observei um cara de estatura mediana semelhante a minha, no entanto, seus cabelos eram louros e sua pele tão branca como o leite. Estava acompanhado de uma loira da idade de Bela, que mantinha um semblante enojado e logo eu já constatei o que estava por vir.

Treta.

- Desculpe, mas chegamos primeiro aqui - tentei ser educado de primeira.

- Errado! Nós chegamos primeiro - ele rebateu, e eu inspirei profundamente.

- A minha bandeja chegou primeiro que a sua, - bati a palma da minha mão na mesa - portanto, ela é nossa! - Bela tocou sua mão no meu braço.

- Não vi o seu nome escrito aqui não, meu irmão - balbuciou em um tom mais elevado.

Meu irmão? Mas o quê...

- Escuta... - comecei a falar, mas Bela me interrompeu.

- Léo, chega, vamos encontrar outra mesa - ela começou a argumentar, mas a cortei.

Eu não perderia essa.

- Encontre outra mesa, chegamos nessa primeiro... - e, desta vez, ele me interrompeu.

- Se enxerga, cara, procura seu rumo que eu e minha campeã sentaremos aqui - ele ergueu o braço da loura enojada.

Gargalhei forçadamente.

- Desculpe mais uma vez, meu irmão - entonei um tom sarcástico -, mas a campeã está aqui do meu lado.

- Essa... - ele avaliou Bela de cima a baixo, enquanto eu cerrava os punhos. - Garota?

- E essa? - apontei para a branquela - Competição de pele mais clara? - Bela me acompanhou nos risos.

- Querido, quando me ver arrasar lá no palco, nem lembrará dessa... projeto de dançarina - ela se manifestou e mostrou a língua.

- Eu avaliei sua capacidade mental, e refleti que não imaginaria que você seria capaz de utilizar a palavra ' projeto ' - Bela disse, esboçando um sorriso lindo.

- Vamos, Rafael, - ela pegou na mão do loiro - eles verão hoje à tarde o quanto eu brilho como um diamante.

- Pois é, mana, não vale à pena discutir com esses suburbanos - e só agora eu percebi olhares postos sobre nós.

- Ilusão só abala o coração, queridos, - pisquei - e ah, cuidado para não cair do palco, burguesinha, quanto mais alto o ego, maior a queda - e eles apenas sumiram por entre a multidão.

- E a mesa é nossa! - declarei vencedor e me sentei.

- Léo, você foi demais - Bela falou ao sentar-se de frente. - Mas você falando de ego? - revirei os olhos. - Cômico demais!

- Não enche, Bela!

- Ah, vocês estão ai - Andreia apareceu, sentando-se e depositando sua bandeja em cima da mesa.

- Que demora, mãe, onde estava? - Bela indagou, despejando sal por sua comida.

- Arrumando seus documentos! E aquela fila... Estou faminta! - respondeu atacando seu prato. - Eu só espero que vocês tenham se comportado.

- Mas é claro, Tia Andreia - sorri e fitei uma Bela sorrindo de esguelha.

- Não curti esse tom - ela comentou. - Enfim... Filha, depois do almoço tem mais um ensaio e se preparar para a apresentação, certo?

- Certo... - Bela confirmou nervosa.

- Hey, vai dar tudo certo, lembra? - motivei-a, antes que pudesse estar completamente nervosa.

— Lembro, mas parece que meu coração irá sair pela boca - encarei-a.

- O engula - ela pareceu obedecer. - E mostra quem é você hoje naquele palco.

(...)

Os burburinhos se reverberavam pelo corredor enquanto eu me aproximava das grandes portas de carvalho do Auditório. Quanto mais eu transitava pela convenção, mais pessoas eu encontrava dentro daquele grande vasto local. Andreia estava ao meu lado trajando uma camisa social branca, seguida de uma legging e sandálias de salto alto preto. Seu cabelo estava esplêndido, e a forma como ela andava só mostrava como uma mãe elegante e fina ela era. Usava uma camisa xadrez de manga comprida preta e branca, calça jeans e um par de all star branco. Eu me sentia tão nervoso que não deixava isso transparecer, e perambulava meus dedos pela minha pasta de musicas, desejando que no decorrer das apresentações as ideias fluíssem em minha mente.

- Temos lugares reservados para nós - Andreia informou e eu assenti, seguindo-a.

As pessoas despreocupadas em suas bonitas roupas, se acomodavam procurando seus respectivos lugares, ou ocupando lugares não reservados. O Salão do Auditório era imenso, e tinha capacidade de abrigar mais de 500 pessoas que no caso era perceptível para aquela quantidade abrangente de seres humanos. Depois de transcorrermos o único corredor - que separava 250 bancos para um lado e 250 para o outro -, viramos para esquerda e nos sentamos na primeira fileira de bancos. A5 para Andreia e A6 para mim. Acomodei-me e estendi a pasta preta ao meu colo. Andreia sorriu tranquila e, desta vez, fitei o imenso palco que estava encoberto por uma grande cortiça preta. O teto parecia um céu enegrecido.

Perfeito para uma apresentação de Balé.

Alguém sentou-se ao meu lado, e eu não me preocupei em olhar, porém, a mesma voz de hoje à tarde, ressonou em meus ouvidos:

- Pronto para ver o grupo de sua irmã ser desclassificado dessa fase? - olhei para o loiro.

- Cara, senta em outro lugar, por favor? Ou você me ama demais para sentar ao meu lado? - o encarei e ele respondeu despreocupado:

- Esse é o meu lugar! O que posso fazer? - o bilhete A7 pairava em suas mãos.

- Era só o que me faltava - virei-me em um bufo.

- Quem é este? - Andreia indagou.

- Um idiota! - ralhei.

- Não ligue, o evento irá começar - e sua voz fora cobrida pelas palmas frenéticas.

As cortinas se abriram num átimo, e rapidamente um homem de terno perto surgiu por entre à fumaça, gorjeando para os telespectadores:

- Olá povo lindo! - exclamou aos sorrisos. - Como vocês estão? - algum otário gritou que estava ' bem ' ao fundo. — Ansiosos para às apresentações? Eu estou muito! - ele recuou mais para trás e prosseguiu: - Ressaltando, que os 4 grupos que se apresentarão, dois deles dirá adeus e os outros dois irão para grande final de amanhã - mais palmas e gritos. - Por ordem de sorteio que serão feitas às apresentações, certo? - mais consentimentos e, desta vez, forcei a bater palmas. - Sem mais delongas, entre o grupo do Rio de Janeiro! - sua voz galanteadora sumiu, após entrar um grupo de garotas.

A maioria das garotas que eram compostas no grupo, se destacavam as mais louras em suas roupas rosas de balé. Então eu identifiquei a menina central no círculo, mas o grito ao meu lado correspondeu com o que eu estava pensando.

- Vai Tiffany! - o loiro berrou e eu tive que segurar meu almoço dentro do estômago.

Tiffany?! Que mau-gosto para nome. A mesma sorriu e a coreografia começou. Um silêncio súbito tomou conta do local. Gesticulei-me na cadeira cruzando as pernas enquanto fitava meu portfólio. Retirei minha caneta do bolso e adicionei mais alguns trechos ao esboço. A musica estava em um andamento perfeito e logo já a finalizaria. Preciso disso o mais breve possível, pensei.

- O que é isso? - Andreia sussurrou ao meu lado.

- Uma musica - sussurrei de volta. - Para Bela!

- Sério?

- Sim, mas é surpresa, o.k?

- O.k! - o silêncio retornara, mas depois de alguns minutos Andreia reatou o diálogo. - Quero ouvir depois!

- Todos ouvirão - sorri e percebi aplausos, pois a coreografia já estava encerrada.

- Tiffany, sua linda! - o loiro gritou e a loirinha desceu do palco saltitante, pulando em seus braços. - Você arrasou, mana!

- Acho que vou vomitar - falei para Andreia, esperando que a indireta fosse atingida.

- Cuidado para não engasgar - Tiffany acrescentou e eu cerrei os dentes.

- Antes eu tenho que ver o quanto minha irmã sairá melhor, do que essa dança... - os olhei de cima a baixo. - Se é que aquilo possa ser chamado de dança!

- Só quero ver o fracasso - o vulgo loiro Rafael disse.

- Espere... - arquei minhas sobrancelhas.

- Pessoal, agora dão o ar de sua graça para o grupo de São Paulo - e mais gritos e aplausos da ala da direita.

Tentei prestar atenção para essa apresentação, porque a anterior nem sequer foi atrativa. Tinha de admitir que o grupo de São Paulo era bom. As garotas transmitiam charme e carisma, e eu até achei interessante o tema que elas estavam abordando. Fiquei vagando em pensamentos em como Bela deveria estar. Depois do almoço não tive tempo algum para poder desejá-la boa sorte, mas eu sei que ela irá se sair bem. Então mais uma frase veio à tona, e eu anotei no esboço.

- Muito bom pessoal de São Paulo! - o apresentador congratulou, e as garotas se dispersaram. - Em seguida, Espírito Santo! - e avistei que o murmúrios e berros de motivação vinham lá de trás, na maioria dos lugares ao fundo.

Deveríamos estar há mais de meia hora por aqui. Um calor indesejado começara a nos atingir, mas faltava pouco para tudo isso acabar. O pessoal de Espírito Santo, diga-se de passagem, não era muito bom. Eu não entendia nada de Balé, entretanto, eu percebia que não havia harmonia alguma e elas pareciam meios espalhafatosas ao realizar o que fora ensaiado. Só agora constatei um banco com três jurados à direita e me xinguei de cego mentalmente, ao observar isso só depois.

- Esse grupo será desclassificado de primeira - Andreia comentou.

- Com certeza! - assenti, anotando mais algumas frases.

- É isso! Muito bom Espírito Santo! - O homem de terno fino mais uma vez exigiu palmas já ensaiadas.

Remexi-me na cadeira.

Agora será à Bela!

- Minha filhinha - Andreia murmurou e me levantei junto dela pronto para aplaudir.

- Qual o nome dele? - apontei o apresentador.

- Caésar! - Andreia respondeu.

- Agora, o último grupo, e não menos importante... - Caésar limpou a garganta. - Goiânia! - berrei e aplaudi o mais alto e bravo que pude, enquanto Andreia fazia o mesmo ao meu lado.

- Bela! - berramos em uníssono quando avistamos nossa campeã.

Ela acenou de volta se posicionando ao meio. Uma tiara de flores jazia em sua cabeça se mesclando perfeitamente com seu sorriso lindo. Ela estava sem óculos e provavelmente usando lentes. Sua roupa branca e preta combinava perfeitamente, e eu de cara já percebi que aquele grupo sim era harmonioso. Uivos de protestos poderiam ser audíveis do grupo do Rio de Janeiro. Os olhei fuzilantes, mas Andreia pediu para me acalmar e rapidamente nos sentamos quando a musica havia acabado de se iniciar.

Livrei minha mente de pensamentos e neste instante eu prestava atenção sorridente. Os movimentos leves e cheios de clareza, gratificava qualquer um que observava avidamente. Bela tinha jeito para isso, ela era perfeita. Eu estava sentindo muito orgulho dela. Andreia deixava lágrimas escapar e eu a abracei de lado, transmitindo minha emoção. A coreografia prosseguia divinamente e, em meio a tudo, eu peguei minha pasta e mais frases eram transcritas e esse foi um momento perfeito para inspiração.

- Minha filha! - Andreia declarou emocionada.

- Isso é só o começo - falei.

Depois de encerrada, eu constatei suspiros e aplausos do grupos competidores.

- Perfeito, mana! - corri em direção à ela, e quando nos tocamos a levantei no alto. - Você foi... demais! - ela sorriu ainda chorona.

Desceu do meu colo e correu para os braços de sua mãe. Andei calmamente enquanto Andreia beijava compulsivamente sua filha, congratulando-a pela apresentação. Cena linda de se ver! Enfiei a mão nos bolsos e logo observei Tiffany e Rafael olharem torto para nós três. Aproximei-me das duas e abracei Bela novamente.

- Certeza que fui boa? Eu nem achei, os outros grupos foram tão bons - e só agora eu escutei a voz carregada de nervosismo.

- Goiânia está na final, com certeza! - exclamei. - E São Paulo provavelmente - completei.

- Acho que Rio de Janeiro - Andreia interferiu. - Eles foram muito bons!

- Sério? - estreitei minhas sobrancelhas.

- Léo, você não percebeu? - Bela perguntou perplexa.

- Não, cara - falei confuso e olhei de volta para trás, mas os dois estavam mais preocupados em dizer o quanto Tiffany foi boa.

- Enfim... Não tenha tantas esperanças - Bela murmurou sentando enfezada, no colo da mãe.

- O resultado saiu! - Caésar anunciou com um envelope cinza em mãos. - Todos se sentem por favor - pediu, e logo obedientemente todos se sentaram e o falatório aos poucos fora engulido pelo silêncio mórbido.

- A sorte está ao nosso favor - lembrei Bela em um sussurro quase inaudível.

- Primeiramente, queria agradecer a presença de todos vocês e parabenizar os quatro grupos, que foram extremamente ótimos! - Caésar pigarreou. - Os jurados disseram que foi muito difícil à escolha, mas que todos os grupos são vitoriosos! - mais aplausos e num tremor inconfundível eu aplaudi desajeitado. - Irei dizer apenas os dois grupos classificados para a final de amanhã, certo? Posso dizer, gente? - e todos murmuraram um 'sim'. Ele abriu o envelope.

Apertei firmemente as mãos de Bela, e sorri, mas ela não sorriu. Meu estômago ronronava de nervoso, e logo que Caésar retirara o papel branco, ele começou a declarar.

- Com 9,7, o primeiro grupo classificado para final de amanhã é... - uma pausa longa e o sons de tambores. - Rio de Janeiro!

Uma agitação nervosa na frente onde estávamos e ao lado. O pessoal da cidade maravilhosa berrava, gritava coisas incompreendíveis e se misturavam levantando as meninas do grupo de Tiffany ao alto. Eles foram tão bons assim e eu mal percebera? Os ignorei, mas quem disse que o louro não iria alfinetar?

- E ai, Goiânia? Prontos para voltar pra casa? - contudo, eu não me segurei.

Avancei em sua direção, mas Bela segurou meu braço com força interceptando minha ação. Eu poderia me soltar, porém, não estragaria ainda o que resta da alegria de Bela.

- Léo, não vale à pena! - Bela disse e eu parei. Logo a raiva já havia se esvaído.

- Quanta violência! É por isso que não merecem a final - persistiu.

Abracei Bela e, como esperado, Caésar reatou sua fala:

- Comportem-se, Rio de Janeiro! Ainda falta mais um grupo para comemorar - algumas pessoas se dispensaram sentando-se, e eu anotei mais alguma coisa no rascunho.

' Lutarei e defenderei '

— Agora, o próximo e último grupo classificado para a final de amanhã - ele leu atentamente. — Com 9,5 - uma tontura ameaçava a me atingir.

Se Goiânia sair da boca dele, a comemoração vai ser pior e geral, aguardem.

— GOIÂNIA! - foi como o esperado.

Enquanto o publico rugia atrás de mim, Bela abraçava a mãe aos prantos. Eu enchia os meus pulmões e soltava berros e gritos estridentes. Olhei para o lado, e falei:

- Prontos para serem humilhados amanhã? - eles apenas ignoraram e eu me agachei.

Bela pulou nas minhas costas. E, como se fosse ensaiado, eu corri por entre a multidão. Esbarrei em Rafael com Tiffany, retardando-os e os deixando para trás. Observava alguns rostos chorosos, outros felizes ou até outros enfezados; todavia, eu estava feliz, assim como, à garota nas minhas costas. Encarei o corredor com alguns seres aos pulos e outros de saída, e prossegui correndo por ele, e não me importava se amanhã Bela perderia ou ganharia, esse momento estava se tornando único, e eu me sentia infinito...

E eu espero que ela esteja se sentindo assim também!

(...)

Nos recônditos da minha mente, um barulho irritante me trás de volta à realidade. Batidas lentas eram aplicadas na porta de madeira do meu quarto. Minha visão turva sem meus óculos, me dificultava ao ter um simples vislumbre do cômodo. Então quando eu ouço uma voz chorosa através da porta, eu identifico rapidamente a voz de Bela.

Saltei da cama correndo até planície de madeira e a abri rapidamente. Uma Bela se encontrava de cabeça baixa, vestindo seu pijama branco e rosa e com um pequeno livro em mãos. Mas quando ela levantou sua cabeça, eu observei seu rosto tomado por lágrimas, e um par de olhos vermelhos esbugalhados.

- Bela, o que houve? - perguntei lentamente, o máximo que saiu de meus lábios.

- Léo, terminei de ler A Culpa É Das Estrelas - respondeu cabisbaixa, revelando a voz chorosa.

- Entre - convidei meio atordoado, e ela entrou.

A acompanhei pelo quarto e uma brisa fria entrou pela janela entreaberta. Enquanto Bela sentava meio entorpecida na cama, eu observei o céu estrelado e resmunguei mentalmente. " A culpa é de vocês. " Fechei a janela após o pensamento bobo e sem fundamento. Sentei-me ao seu lado e lentamente repousei meus braços em seu ombro, identificando no relógio ao lado, marcando meia-noite e meia da madrugada.

- Bela, está chorando por causa do livro? - ela me olhou e mais lágrimas escapavam.

- Sim, Léo, Gus morreu, mas por quê? Estava na cara que Hazel iria morreria, embora eu não quisesse que isso ocorresse, mas por que o Gus? Por quê? - ela disparava argumentos condizentes para quem obtinha um coração mole. - E o final ainda? John Green, eu te odeio! Mentira, eu não o odeio, pois ele criou essa história linda e maravilhosa, mas... - ela parou e chorou mais descontroladamente ainda.

Deitou-se e rolou pela cama chorosa. Eu não sabia o que dizer, e muito menos o que fazer. O único fator que me cabia a cogitar, era conversar, me expressar ou dar conselhos.

E foi o que eu fiz.

Ela parou numa posição deitada no travesseiro ao lado do meu leito. O livro ainda se mantinha em mãos. Deitei-me ao seu lado e enquanto eu passei meus braços por detrás do seu pescoço, ela tombou a cabeça no meu peito. Suspirei ainda meio confuso espantando o sono, em um bocejo insistente, logo dizendo:

- Sabe, amor, história é algo que realmente mexe com o leitor - ela apareceu estar interessada no assunto. - Nos apegamos aos personagens e esperamos muito do enredo que acompanha de uma escrita incrível - uma pausa longa. - Mas pense, é necessário às vezes, pois o objetivo do autor é sempre nos emocionar e nos deixar totalmente acabados, enquanto ele vende mais e mais cópias - falei tudo um pouco rápido. - Diz algo... - pedi, vendo mais lágrimas se formarem naqueles orbes verdes.

- Léo, eu não me conformo com isso. E ainda mias, só piora tudo que está ocorrendo - ela argumentou e eu suspirei.

- Tipo, o quê? - perguntei e logo acrescentei algo para nos distrair. - Um dos nossos sonhos, não é ser escritores famosos? Teremos que escrever estórias com mortes de personagens queridos.

- Eu sei... Eu sei... - murmurou.

- E só piora o quê? - insisti na pergunta.

- A sua partida - declarou.

O meu coração se partiu. Naquele momento os meus olhos imploravam por lágrimas, mas as relutei. Olhei para os lados debilmente, tentando encontrar palavras confortáveis para dizê-la, no entanto, apenas frases desconexas vagavam em minha mente.

- Eu não queria falar isso com você logo - disse. - Mas você tocou no assunto mais rápido do que eu pensava.

- Eu também não queria dizer, mas, Léo, por que você tem que ir? - desviei o olhar novamente.

- Porque é necessário - respondi. - Mas não vai ser um adeus para sempre... - destaquei num sorriso.

- É amanhã, né?

- Sim, mas não precisamos falar disso agora, o.k? - pisquei e ela se remexeu fitando o teto de mármore.

- O.k... - suspirou e seus olhos se fecharam.

- Durma que amanhã o dia vai ser cheio - murmurei acariciando seus cabelos.

Em menos de uns dez minutos, Bela já dormia e ressonava minimamente uma hora ou outra. Retirei seus óculos, e limpei com cautela sua pele em um lenço branco. Desenganchei o livro de seus braços e uma vontade insana de lê-lo, me abateu. Será uma boa ideia? Ou não? Abri na primeira página e destaquei um trecho interessante:

" Enquanto a maré banhava a areia da praia, o Homem das Tulipas Holandês contemplava o oceano:
— Juntadora treplicadora envenenadora ocultadora reveladora. Repare nela, subindo e descendo, levando tudo consigo.
— O que é? — Anna perguntou.
— A água — respondeu o holandês. — Bem, e as horas. "

Então eu coloquei meus óculos e, num átimo, eu comecei a devorar àquela estória.

___

O relógio marcava cinco horas da manhã enquanto eu colocava o livro ao lado do aparelho. Desta vez, o meu rosto estava tomado por lágrimas. Realmente agora, eu entendia o porquê Bela chorar tanto e ter se apaixonado por essa história. Maravilhosa história, devo destacar. A vida dá reviravoltas incríveis, a quais alguns seres humanos não estão preparados para lidar-se com elas. Despedidas são inevitáveis, Bela deveria saber, mas não está preparada para isso. Não importa a circunstância e o argumento de ter que ir embora. Entretanto, por mais que doa, devemos estar preparados para sentir a dor.

E eu preciso terminar minha homenagem.

Limpei mais uma vez meu rosto e resgatei minha pasta preta. E então comecei a rascunhar mais na música com o objetivo de terminá-la antes de dormir. Estava quase pronta, estava quase no final; Bela precisava daquela homenagem, precisava saber que não estava sozinha, e o quão importante ela é.

E, finalmente, quando eu estou demarcando as notas exatas e finalizando com uma frase final, eu me lembrei do livro que li outrora, com uma frase que logo a mudei em minha mente, relacionando-a com o que estamos passando...

Talvez o amanhã venha ser o nosso pra sempre.

(...)

As luzes ofuscantes do novo dia atravessaram as frestas da janela e iluminou o meu rosto. Meus olhos abrem-se e resmungo por um momento, remexendo-me pela cama. Sentia a ardência em meus orbes e uma dor incômoda na nuca. Acho que dormi de mal-jeito. Lentamente o quarto entrou em foco. Uma bandeja contendo um café da manhã bem atrativo jazia na beirada da cama. Peguei-a e um grande envelope branco se encontrava escrito o meu nome. Abri lentamente e li o bilhete:

" Maninho,

Bom dia! Dormiu bem? Enfim... Acordei cedo porque tinha que ensaiar. Você parecia um anjo dormindo. Outro fator fofo de você que eu não conhecia. Pelo visto eu vi que você leu o livro na madrugada, temos muito o que conversar. Espero que goste do café da manhã que preparei, agradecendo os conselhos que me forneceu. E só para avisar, a final é às 14 hrs, então não se atrase, sweetie. Encontro você lá.

Com amor,

Bela. "

Sorri e peguei uma maçã logo mordendo-a. Olhei para o relógio ao lado da minha cabeceira e meus olhos saltam de minhas órbitas no mesmo instante. São 13:30 da tarde, eu não posso ter dormido dessa forma. Pulei da cama, ignorando o delicioso café da manhã. Liguei o chuveiro, orientando-me por debaixo daquela água quente. Depois de 2 minutos, me enxuguei, arrumei meus cabelos e escovei os dentes. Meu estômago ronronava em protesto enquanto me vestia.

- Droga!

Após arramar o cadarço do meu all star, eu resgatei a pasta preta, enfiando-a dentro da capa lustrosa do meu violão, pondo-o nas costas. Fechei as janelas rapidamente e abandonei o quarto faltando vinte minutos para as apresentações começarem. Desviando de algumas pessoas pelo corredor, meu coração parecia querer se dilacerar.

O som do balburdio das pessoas e da orquestra propagava-se pelo trajeto deixando-me mais nervoso ainda. Parei aflito na terceira quadra que levava aos bastidores. Andei apressado por ela e, como esperado, encontrei Andreia parada de frente à porta que Bela e as menina se preparavam.

- Andreia! - chamei e ela correu até a mim.

- Onde você se enfiou, garoto? - perguntou assustada.

- Eu dormi demais - respondi. - Onde está Bela? Preciso falar com ela - pedi.

- Não sei se você pode entrar, mas... - não a escutei, deixei o violão com ela e escancarei a porta com grosseria.

O cheiro de laquê e perfumes extremamente de odores fortes, penetram minhas narinas e me fazem tossir.

- Rio de Janeiro! - Caésar gorjeava e o grupo de Tiffany entrou ao palco.

Empurrei algumas pessoas até ver através de uma cortiça invisível o grupo de Bela e suas colegas reunidas.

- Meninas, nós podemos vencer e sermos melhores que elas... - Bela começava seu discurso. - Embora ... Droga! Esqueci que não posso usar palavras difíceis - sua voz começava a ressoar falha. - Mas eu amo vocês e nós conseguiremos, pois somos divas e poderosas - agora estava chorando e todas suas colegas a abraçavam.

Essa é minha garota!

Dispersaram-se para dar os últimos retoques na roupa, maquiagem e coreografia. Bela ficou parado meio estática repetindo mantras para se acalmar.

- Amor - murmurei, ajoelhando-me diante dela.

- Léo... Você veio me desejar boa sorte? - ela perguntou meio boba e seus olhos brilharam.

- Claro - estendi os braços e ela me abraçou.

- Por que veio só agora? - indagou ao se afastar.

- Estava dormindo... - falei. - Mas enfim, o livro é perfeito.

- Chorou?

- O que você acha? - ela riu. - Agora eu entendo... Jhon Green é do mal, não é mesmo?

- Nossa... Nem me fale, ainda estou meio depressiva por causa da história.

- Sabe, Bela, não importa se você ganhar ou se você perder - desviei o assunto. - Você é vitoriosa, lembre-se disso. Eu estarei torcendo por você!

- Não me faça chorar, Léo, vai borrar minha maquiagem - balbuciou chorosa.

- Minha meta é fazer você se emocionar... E não para por aqui - ela me fitou e antes que pudesse dizer algo, uma loura nos interrompeu.

- Desculpe, Bela, mas tá na hora. O senhor pode se retirar? - dirigiu-se a mim.

- Claro - sorri e beijei a testa de Bela, afastando-me.

Quando sai dos bastidores, Andreia ainda estava por lá segurando meu violão.

- Conseguiu despedir?

- Sim!

- A musica está pronta? - eram tantos questionamentos.

- Claro... - respondi meio sem jeito.

Nos entreolhamos e, como se fosse ensaiado, nos abraçamos. Eu parecia entender o sentimento de mão solteira de Andreia. Ela só precisava de alguém que estivesse ao seu lado suportando tudo o que estava ocorrendo com Bela. Uma mãe têm seus sentimentos fraternais por seus filhos e é claro que eu só fiz o meu máximo por sua filha. Andreia só queria me agradecer.

- Léo, obrigado por tudo! Você é uma pessoa incrível - disse meio enrubescida.

- Você é uma mãe incrível! Deixa disso, mas vamos ao que interessa... - ela assenti. - Bela!

Corremos para o Grande Salão.

Eu ficava abismado em ver Andreia correndo sobre aqueles saltos agulha de camurça. Aquelas jubas louras balançando-se uma hora ou outra. Uma mãe guerreira representada. Enquanto chegávamos ao local designado e andávamos silenciosos pelo único corredor, Caésar anunciava:

- Vem o nosso último grupo finalista! GOIÂNIA! - o povo da esquerda rompeu em aplausos.

Os segui atentamente a alguns gritos e assovios. Sentamo-nos no mesmo lugar de ontem. Estendi o violão sobre meu colo e retirei a pasta, abrindo diretamente na musica. Eu só precisava de alguns instrumentos para acompanhar o canto e ficar mais emocionante. Mas como? Avistei a orquestra contendo: Guitarras, violões, um piano, violinos e violoncelos.

Era tudo ou nada.

- Eu sei que a apresentação de Bela sairá perfeita. Depois você me conta - falei para Andreia que me olhou assustada. - Já volto! - levantei-me e levei o violão junto de mim.

Engatinhei embaixo do palco até a outra extremidade da planície ouvindo o novo concerto para a apresentação do grupo de Bela. Xingava-me mentalmente por não estar vendo o ocorrido, mas valerá à pena. Assim que não estava mais no campo de visão de algum telespectador, eu subi para trás do palco e encontrei um homem moreno.

- Moço? - pigarreei.

- Oi? - ele se virou.

- Quem comanda a orquestra? - perguntei apressadamente.

- Aquele cara ali - apontou para o homem de estatura mediana entre 30 e 40 anos, que agora se mantinha ocupado liderando seus instrumentistas. - Por quê?

- Quero fazer uma homenagem para minha irmã que agora está se apresentando com seu grupo - declarei. - É uma musica! Eu cantarei e preciso de instrumentistas!

- Entendi, mas dá tempo? - ele incita, me deixando mais nervoso ainda.

- O tempo para Caésar anunciar o campeão, acho que é o suficiente - ele observou junto de mim o grupo de Bela.

- Qual é sua irmã?

- A líder - respondi orgulhoso.

- Ela é linda! - comentou. - Farei o possível para ajudá-lo.

- Obrigado! - e os aplausos seguidos dos instrumentos cessados, fez meu nervosismo dobrar de tamanho.

- Toma - entreguei-o a pasta. - Mostre a eles e o treinem! Preciso estar ao lado dela - ele relutou por alguns instantes, mas apanhou a pasta.

Sem pestanejar, eu corri de volta para o meu lugar enquanto o grupo descia do palco. Por sorte cheguei ao banco antes de Bela aparecer.

- Como foi a apresentação? - perguntei para Andreia.

- Perfeita! - respondeu com seu semblante coberto por lágrimas.

- Eu imaginei! - Bela vinha correndo em nossa direção.

- O que vocês acharam? - ela indagou meio afobada.

- Perfeito! - eu e Andreia exclamamos em uníssono.

- Acha que conseguirei? - ela balançou o corpo nervosa.

- Acho que saberemos agora - falei, vendo Caésar aparecer com um envelope dourado em mãos.

Bela, desta vez, sentou-se ao meu colo e eu a abracei. Andreia tombou sua cabeça no meu ombro. De esguelha, avistei Tiffany e Rafael com olhares semicerrados. Respirei fundo e vi uma movimentação agitada através da cortiça que abrigava a orquestra.

- Silêncio, por favor - Caésar pediu e o Salão mergulhou-se num silêncio infindável. - Nosso resultado saiu rápido, pois os jurados não tiveram duvidas. E, antes, de dizer o grupo vencedor, quero parabenizar todas vocês e dizer que em meio a tudo, são grandes campeãs - aplausos frenéticos seguidos de gritos.

- É agora - Bela murmurou receosa.

- Calma - fechei os olhos.

- O grupo vencedor do Centro de Convenções Di Roma, é... - sua voz saiu alta ao pronunciar e uma batida de bateria ressonou ao fundo. Meu coração queria sair pela boca e Bela suava frio, seguida de tremedeiras. - GOIÂNIA!

Tudo acabou de um jeito bom.

A festa foi de se esperar. O povo gritava, pulava, berrava, assoviava. O balburdiamento foi total. Enquanto saltava do chão com Bela ao meu colo, Andreia fazia uma dancinha ridícula ao nosso lado e, logo, passo sua filha ao seus braços. Minha felicidade não poderia ser medida, porém ainda não acabou. Bela e seu grupo pulavam em uma rodinha na frente do palco, em seguida sendo orientadas a subir para receber suas medalhas.

- Eu falei! Somos campeões - Andreia berrava e eu a abracei.

Eu não lembro da última vez que comemorei assim. Ainda mais com duas pessoas que não eram do meu sangue, mas que com certeza eu considero importante. Sentamo-nos suados em meio a alguns sorrisos.

- GOIÂNIA! GOIÂNIA! GOIÂNIA! - e os Goianienses deliravam.

- É uma felicidade e tanta para vocês - Caésar começava a falar enquanto as meninas se posicionavam ordenadamente. - Vamos ver a premiação dessas lindas agora!

As medalhas eram colocadas delicadamente nos pescoços das ganhadoras. Cada sorriso bonito, olhares emocionados e semblantes satisfatórios. Minha Bela estava linda com àquela roupa e maquiagem delicadas. Digna de uma bailarina de sucesso, embora não seja a carreira que ela queira seguir.

- Agora, a líder do grupo fará um discurso e representará-lo! Isabela Oliveira! - Bela seguiu meio envergonhada e pegou o microfone de Caésar.

Olhei-a presunçoso e acenando a cabeça para que ela se sinta confiante.

A luz dos holofotes tornavam sua íris esverdeada, e num súbito, ela olhou para a platéia e sorriu vagamente para mim. O arco íris foi visto nos olhos cheios de salgadas lágrimas por um segundo antes de Bela deixá-las escapar.

- Hey, mãe e maninho. Obrigada por tudo. Eu não vou falar mais nada, porque senão eu vou inundar Goiânia inteira. Só quero agradecer a vocês e a todos os nossos fãs, que nos ajudaram a chegar ate aqui, a todos que acreditaram em nós e beijos pra quem disse que nós não conseguiríamos - algumas  gargalhadas e eu não vi mais Tiffany e Rafael. - Mãe eu te amo! E Léo, seu lindo, a maninha te ama também - finalizou aos prantos.

Em meios a tantas conturbações e emoção, mal avistei o moreno acenando para mim atrás da cortiça.

Tudo estava pronto.

Levantei-me e lentamente subi ao palco. Todos me olhavam especulativo. Assim que me encontrava completamente na planície, Caésar falou:

- Senhor?

- É meu irmão - Bela o repreendeu.

- Posso fazer minha homenagem para Bela? - indaguei exaltado.

- Como? - Caésar pediu confuso.

- Eu cantarei uma musica com a orquestra - apontei os músicos. - Posso?

- Claro! - respondeu meio estupefato.

Passei por Bela e suas colegas e me sentei sobre uma banqueta com meu violão de frente a todo os músicos. Estavam prontos. Ajustei meu violão e o microfone, antes da musica começar, eu falei:

- Isso é só uma representação para dizer o quanto eu te amo e o quanto eu estou orgulhoso de você - Bela senta-se com suas companheiras na beirada do palco - seus olhos teimavam em cair lágrimas - e todos presentes ali me observavam. - Continue aguentando! - anunciei alto.

Posicionei meu instrumento. Ouvi as três batidas da baqueta e segurei a respiração, na mesma hora uma guitarra e violões iniciaram, sendo praticamente seguidos por violinos e eu podia ouvir o violoncelo trabalhando atrás.

- Você não está sozinha, juntos nós permaneceremos. Eu estarei ao seu lado, você sabe que segurarei sua mão - cantei e meu coração martelou forte no peito, eu relembrava vagamente a melodia da música. - Quando ficar frio e parecer o fim não há para onde ir, você sabe que eu não cederei. Não, eu não cederei...

Isso me fez lembrar de todos os medos de Bela, de todo meu jeito, desde o inicio, de como eu a obriguei a não desistir de tudo e eu estive lá.
O coro de mulheres cantarolavam um fraco ah ah, aaaah ah e eu balancei conforme a música me envolvia e descobria todo sentimento que nos consumia.

A bateria também começou a tocar no meio de minha fala e depois seguiu-se uma batida, que fazia chegar ao refrão.

- Continue aguentando firme, porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos. Apenas seja forte , porque você sabe que eu estou aqui por você.

Eu estava, assim como eu sabia que ela estava para mim também.

- Não há nada que você possa dizer, nada que você possa fazer. Não há outro jeito quando se trata da verdade, então continue aguentando firme, porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos. - trocamos olhares e sorrisos enquanto lágrimas rolavam de nossos rostos.

A minha surpresa era que eu podia ouvir outra voz ao fundo. Não cantava muito, mas num tom de barítono melhorava bastante a música, repetindo alguns trechos que eu cantarolava e construindo a voz atrás.

- Tão longe, eu gostaria que você estivesse aqui. Antes que seja tarde demais, isso tudo poderia desaparecer - Segui e eu ouvi a voz de outra garota me acompanhando e logo a voz do homem de outrora ajudando. - Antes que as portas se fechem, isso chegue ao fim. Mas com você ao meu lado, eu lutarei e defenderei. Eu lutarei e defenderei.

Soltei uma risadinha que foi abafada pela música, eu sempre a defenderia, sempre a protegeria, como estava fazendo agora, era o meu jeito de ser e eu apreciava, algumas vezes eu só queria ser protegido como eu fazia com ela. Dessa vez a voz do homem ficou mais acentuada. 

O refrão voltou novamente, todos os sons misturando-se e as vozes das mulheres do coro cantando baixo, mas também transmitindo a mim toda a segurança de que precisava para soltar minha voz.

- Escute-me quando digo, quando digo, que acredito que nada mudará, nada mudará o destino. - Nessa parte os instrumentos tornaram-se agudos, alguns baixaram para grave.

- O que quer que seja, nós resolveremos perfeitamente! Yeah, yeah, yeah, ye-ah.

Minha voz subiu uma oitava e soltei um grito, que me arrepiou e me fez sentir orgulho de mim mesmo e claramente de Bela. Eu sabia que havia transcrito esse trecho da musica sobre suas inseguranças e como se lidaria com o destino. O coro voltou a cantar, fazendo lararara algumas vezes e eu sorri abertamente, sentindo-me mais uma vez infinito. Intercalaram-se o coro e eu, eles cantavam e soltavam ah ah, e eu voltei a gritar, com minha voz firme e clara.

Continue aguentando firme, porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos. – terminei, os instrumentos morrendo ao redor.

Levantei-me ainda entorpecido e os aplausos frenéticos não ajudavam muito. Bela levantou-se chorosa. Aquela quantidade de lágrimas me dava medo, porém, eu as resultei. Ela correu em disparada até a mim e, como sempre, ajoelhei-me envolvendo-nos num abraço terno. Embalei-a transmitindo tudo o que eu sentia.

- Obrigada, Léo, e-eu te amo... - gaguejou chorosa.

- Eu também, querida - respondi - eu também! - peguei firmemente em sua mão.

- Não solte - sussurrou cabisbaixa e eu murmurei:

- Eu estarei ao seu lado, você sabe que segurarei sua mão.

(...)

Existem 5 sentimentos que eu tive desde quando tudo isso começou. Desde o instante que eu cheguei em Goiânia, até o instante em que eu estou indo embora para casa. Eu senti medo, felicidade, emoção, orgulho e amor. Mas o sentimento que me invadia agora, era totalmente novo. Era pura e intensa dor. Eu não tinha espaço para medo ou felicidade, e nem mesmo o orgulho e o amor conseguia passar pelo escudo de dor interna que meu corpo havia se tornado.

E se eu tivesse que culpar algo pelo que eu estou sentindo agora.

Esse algo seria a distância.

Cada passo firme que eu aplicava, mais meu coração se dilacerava dentro de mim. A todo momento eu olhava de esguelha para Bela que se mantinha firme e olhando fixamente para frente, embora eu saiba que ela se encontrava no mesmo estado que eu. Andreia se mostrava tranquila, mas ela sabia como sua filha estava, e eu também.

- Chamada para São José dos Campos, São Paulo - o anunciamento da mulher se propagava por todo o aeroporto.

Olhei para os lados em busca de algo que não me fizesse já desabar em lágrimas, mas quando eu olhei para minha irmã e observei sua iris vermelha, eu constatei que lágrimas viriam e que a parte mais difícil de ter vindo para cá, estava ocorrendo agora.

- Léo... - ela choramingava meio entorpecida.

Andreia me olhou especulativa gesticulando sua filha com a mão. Bela estava de cabeça baixa e, como todas vezes, eu me ajoelhei. Levantei sua cabeça com as mãos e ela me abraçou. Aqueles soluços de cortar o coração penetrava meus tímpanos, deixando-me ainda mais dolorido por dentro. Ela me apertava forte e eu retribuía com a mesma intensidade possível. 

- Léo... Por que você tem que ir? - afastou-se indagando com a voz totalmente entrecortada. 

- Porque é necessário, meu amor - respondi com a voz embargada. - A vida é assim! As regras... - sussurrei enrubescido.

- Eu odeio essa vida - ela falou transtornada elevando a voz. - É sempre assim! Por que as coisas não podem ser como eu quero? - apertei seus ombros. - As regras são feitas para serem quebradas, lembra?

- Bela, não é assim que acontece e você sabe disso - pigarreei tentando encontrar mais palavras confortantes. - Você sabe que isso não é um completo adeus, meu bem - ela chorou mais, e mais lágrimas brotavam de seus orbes esverdeados.

- É-é sempre assim - gaguejou. - As palavras se calam, as presenças se vagam, as pessoas vão embora e... Eu me iludo novamente - declarou cessando seu choro e, desta vez, meus olhos deixavam as lágrimas escaparem. - Você não precisa ir, Léo...

- Eu não posso, Bela, minha vida está toda lá - murmurei meio desajeitado.

- Trás a Juh para cá, você publica seu livro e nós vivemos felizes para sempre! A Kah tá aqui também! Eu peço para Nana vir, eu... EU TENHO QUE FAZER ALGUMA COISA! - berrou, carregando olhares furtivos pairando sobre nós.

- Filha... - Andreia tocava seu ombro.

- Bela... - sussurrei.

- A gente viveu tanta coisa, cara - começou a balbuciar. - Nós rimos, nós nos emocionamos, vivemos momentos inesquecíveis. Você não pode me fazer sentir importante por esses dias e depois ir embora! - finalizou, limpando seu rosto.

- E você acha que eu esquecerei tudo que vivemos por aqui? Eu vou repetir para você... Isso não é um adeus! Nós nos veremos ainda e viveremos muito ainda, minha bailarina! - disparei torrentes de argumentos e ela pareceu bambear um pouco.

Segurei em seus braços.

- Aquela musica... - falou cabisbaixa. - Eu te amo!

- Eu também amo você! - apertei seu corpo contra o meu.

É claro que eu a amava e eu também sabia que ela sentia o mesmo por mim. Bela é uma garota incrível, maravilhosa e totalmente amorosa. Minha irmã mais nova. Minha grande garota. Uma das minhas heroínas. Esse abraço era possivelmente o que eu poderia transpassar para ela, depois da musica. Eu só espero que ela tenha gostado de tudo. Que ela tenha entendido o quão importante é para mim e também: O quão incrível ela é.

Afastamo-nos e abracei Andreia em seguida.

- Obrigado por tudo, Léo - agradeceu.

- Obrigado você! Esse final de semana foi inesquecível! - ciciei em seu ouvido.

- Última chamada para São José dos Campos, São Paulo - afastei-me de Andreia e ajeitei minhas malas.

Bela aparentava estar mais segura e tranquila. A abracei novamente sem dizer palavra alguma. Ajustei meu violão, segurei a mala, mas quando viraria de costas, Bela gritou:

- LÉO! - virei-me para ela. - Eu não sabia como me expressar, então eu fiz uma homenagem para você da melhor maneira que pude. Da melhor maneira que eu sou boa o suficiente.

- E qual é? - perguntei.

- Uma carta - ela se aproximou e me entregou. - Tchau, eu amo você, maninho.

Assenti, sorri e guardei a carta no bolso. Corri para fora do aeroporto deixando tudo para trás. Entretanto, eu olhei uma última vez e acenei e elas fizeram o mesmo. Passei pelo check-in e atravessei toda plataforma, saindo para à noite fria. O avião estava recebendo os passageiros que entravam afobadamente. Transitando por toda aquela extensão até o veículo, eu observei o céu estrelado.

- A culpa é toda de vocês - acusei meio triste. - Ou talvez minha vida seja como estrelas bagunçadas pelo céu, que eu não sei ajeitá-las em constelações! - lembrei-me do livro da madrugada passada.

Entreguei minha mala e meu violão para o bagageiro que monologava com um homem de meia-idade, que parecia meio atordoado e triste. Afastando-me meio como quem não quer nada, eu pude ouvir alguns trechos da conversa entre os dois.

- Eu não sei o que eu faço, cara - ele pareceu querer chorar. - Dói!

- Esse é o problema da dor, meu caro, ela precisa ser sentida! - o bagageiro exclamou.

E aquilo explodiu dentro de mim.

Direcionei-me para o lugar destinado a mim. A3. Uma senhora lia avidamente um livro quando sentei-me e ela nem sequer olhou em minha direção. Encostei minha cabeça e suspirei. O dia hoje foi cheio de emoções, surpresas. Estou esgotado e acho que qualquer coisa mais forte que eu presenciar por agora, vai me desabar.

O avião já estava em pleno ar. Debilmente com o sono já me atingindo eu levo a mão no bolso.

- Droga! - resmunguei.

A carta de Bela estava estacionada no meu bolso há alguns minutos e mal havia percebido e lembrado. Peguei-a calmamente e abri lentamente o papel. A letra dela estava linda, redonda, inclinada, o tamanho variando, a cor da caneta mudando. Ela tinha escrito a carta pelos dois dias, em graus de consciência variados.

" Maninho,

Sou uma pessoa boa segundo você! O.k, posso até ser,  mas uma escritora de merda. Não me bate. Você é uma pessoa metida e egocêntrica, mas um bom escritor. Nós formaríamos uma bela equipe. Aqueles dois irmãos que brigam avidamente a todo momento por besteira, ou até por uma coisa boba ou mais séria.

O bom de você é o seguinte: quase todo mundo é obcecado por deixar uma marca no mundo. Todos queremos ser lembrados, embora você seja obcecado em chamar a atenção demasiadamente. Eu também, por incrível que pareça.

É isso o que me incomoda mais, ser mais uma pessoa esquecida por esse mundo medíocre.

Nós temos que deixar nossa marca.

Mas, Léo: as marcas que os seres humanos deixam são, com frequência, cicatrizes. 

(Tá, talvez eu não seja uma escritora tão de merda assim. Mas não consigo organizar minhas ideias. Meus pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações. Like ACÉDE.)

Mas somos diferentes, Léo. Andamos suavemente, meu caro. Sabe qual é a verdade: é tão provável que nós consigamos ferir o universo quanto é provável que nós o ajudemos, e é improvável que façamos qualquer uma dessas duas coisas. Apesar que nada é impossível para você, ou para mim.

Os verdadeiros heróis, no fim das contas, não são as pessoas que realizam certas coisas; os verdadeiros heróis são as que REPARAM nas coisas. Você é observador demais, Léo. Nós somos observadores. Cada detalhe um por ou outro. Cada preocupação. Cada fato que queiramos impressionar até a nós mesmos.

Aquele dia quando acordei no seu quarto e você estava dormindo. Eu te vi como um anjo repousando e eu analisei que você veio por mim até aqui. Veio me dar forças. Veio me ver realizando o meu sonho. Apoiou-me. Ajudou-me. Quem faria isso por mim? Até aquela incrível musica!

O que mais? Você é tão lindo! Bobo! Contagiante! Divertido! Brincalhão e mais uns outros mil adjetivos que não poderia acrescentar aqui. Não me preocupo se você é mais inteligente que eu: sei que é. Eu te amo. Sou muito sortuda por amar-te e ter você como um irmão. Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, maninho, mas é possível escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas escolhas. Como sempre. Tudo passa. Um dia nem lembraremos o que fizemos por aqui. Não quero me menosprezar mais, afinal no fim das contas, você me conhece muito bem, e eu o conheço certamente. Espero que você aceite suas escolhas também,

Com amor,

Bela, sua sister."

Dobrei a carta e apertei-a contra o meu peito. Deixei mais lágrimas caírem e por um momento eu sabia que nós teríamos mais um bocado de tempo até o fim da nossa estrada.

- Eu aceito minhas escolhas, Bela! Eu aceito!

FIM.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não quero nem ver sua reação AHSUIAHSUAHSUAS'
Chorou? OMG! Você poderia gravar, eu riria muito KKKKK'
Enfim, espero que você tenha gostado, mana! Foi de ♥
Só espero que o seu dia seja maravilhoso e que você veja o quanto especial e maravilhosa você é. Desejo-lhe muita paz, amor, carinho, saúde, dinheiro e muito sucesso na sua vida!!
Não precisa ser o seu aniversário para ser o seu dia, portanto, meus parabéns!!
Eu te amo ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "We Are Infinite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.