Kokoro = Locked escrita por Fur Elise


Capítulo 7
Chuva de Calcinhas


Notas iniciais do capítulo

De início... Sim, eu me sinto uma pervertida com esses nomes de capítulos... (lol dane-se, eu SOU pervertida).
Aproveitem ♥



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Já eram por volta das quatro da tarde e o sol forte de verão estava a pino, produzindo uma bonita iluminação amarelada sobre a paisagem. O astro rei dividia no céu a atenção com as diversas nuvens finas e brancas como algodão que salpicavam o azul celeste, mudando suas formas conforme a brisa gostosa de fim de tarde batia. As folhas das árvores em volta mexiam-se lentamente, provocando um burburinho agradável que era somado ao canto de uma ave diferente que estava nas redondezas a passeio. De vida humana a rua estava vazia mas, próximo dali, podia ouvir os sons de carros e de vozes enquanto as pessoas aproveitavam aquela quarta-feira de sol a sua maneira.

Lia gostava de se pendurar na janela da cozinha para olhar a rua e a paisagem e observar as nuvens, tentando imaginar nelas alguma figura divertida. E essa foi a forma que decidiu usar para aproveitar aquele final de tarde.

Enquanto os pais corriam para lá e para cá com malas e coisas aleatórias, ela apenas continuava parada e alheia ao seu desespero. Luca e Kimiko estavam juntos no quarto mas não nutria esperanças quanto a qualquer mudança na relação de ambos. O motivo? O garoto havia cochilado e por ser seu irmão, tinha informação privilegiada sobre este, uma delas era que ele se assemelhava a um verdadeiro urso quando se tratava de dormir: Mais parecia uma hibernação que um descanso. Sabia que Kimiko estava lá lendo seus mangás e trocando vez ou outra seu paninho úmido enquanto o ouvia roncar e o via babar.

– Estou com muita fome, céus. - Exclamou Kimiko enquanto entrava na cozinha, bocejando. - Oi, Lia. Você pode ir lá em cima e ficar dando uma olhada no Luca enquanto vou ali em casa? Tenho de pegar minhas coisas, comer e me despedir do Hitoshi.

– Ele não precisa de uma babá em tempo integral, mesmo que esteja doente. - Ela revelou, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão. - Você está exagerando em cuidado, Kimi.

– É. Talvez seja a culpa. - Comentou. - Deixa pra lá, eu estou indo. Volto logo.
– Está bem.

Lia continuou com o corpo voltado para o interior da casa até ver a maior deixar o cômodo e então voltou a olhar para a rua, onde viu a garota sair e pular o murinho para seu terreno assim como Luca sempre fazia.

– Liiiia~ Onde você está, meu bem? - Chamou a mãe, a voz cantarolada.

– Estou indo, mamãe.

Enquanto a morena ia ajudar a mãe, a ruiva entrou em sua casa. Hitoshi estava parado no pequeno corredor de entrada, vestido com um terno chique. Gabryel, seu namorado, estava também vestido na mesma linha e arrumava a gravata do japonês, calmamente.

– Ah, imoto-chan! - Cumprimentou o ruivo enquanto esticava um pouco o pescoço para olhar a garota. - Já soube da viagem que eu e Gabryel faremos?

– Sim, Hitoshi. Eu soube. - Respondeu calmamente enquanto tirava os calçados. - Os pais de Luca e Kimiko irão também. Eu e eles combinamos de deixar nós todos juntos na casa deles durante a ausência de vocês. Ah! Olá, Gabryel!

– Alô. - Ele respondeu o cumprimento, virando o rosto para ela assim que terminou de ajeitar a gravata de seu amante.

Gabryel era um homem muito alto, o corpo definido em proporções tão perfeitas que até causavam algum desacreditar a quem via. Seus cabelos negros que já passavam dos ombros estavam presos e jogados sobre um dos ombros; Os olhos verdes azulados ocultos por de trás dos óculos de sol, a barba rala do maxilar quadrado e forte no momento mal-feita lhe davam um ar desleixado sexy. Falava pouco mas era um bom cunhado, sendo também um renomado modelo. Kimiko até ficava impressionada de um pintor contemporâneo como o irmão ter conseguido um bom partido daqueles, mas inegavelmente ficava feliz por eles.

– Gabryel, esqueci os documentos do carro lá em cima. Pode pegá-los? - Perguntou Hitoshi em tom pedinte, baixo e meloso. O moreno concordou, subindo e deixando os irmãos sozinhos no corredor. - E como está o nosso Romeu sem Julieta? - Questionou em tom de zombaria, referindo-se a Luca.

– Pé torcido, gripado, tossindo e com febre.

– Nossa, desta você fez estrago! - Ele riu-se, fazendo carinho nos cabelos da menor. - Duas palavras: Femme. Fatale.

– Não tem graça, Hito-oni-chan! - Ela choramingou, tentando afastar sua mão de seus cabelos. - Eu sou uma boa garota! Não tenho nada disso aí!

O irmão riu abafado, agarrando-a pelos ombros e jogando o peso contra ela.

– Sim, você é a minha anjinha. - Disse no maior tom de pai coruja. - Você vai se comportar enquanto eu estiver fora?

– Sim, Hito.

– Vai me ligar?

– Uhum.

– Vai me mandar SMS?

– Hito...

– Entre no Skype. Eu quero ver sua cara de bolacha todos os dias. - Pausa para uma beliscada nas bochechas da menina. - Se não eu morrerei de saudade.

– Pára, oni-chan! Você está parecendo uma criancinha! Está me dando vergonha!

– Não tem ninguém aqui, imoto-chan. - Respondeu, se agarrando ainda mais a ela.

– É certo ter ciúme da irmãzinha do meu namorado? - Proferiu Gabryel, deixando claro que havia sim outra pessoa. - Pois eu estou sentindo isso. E um bem forte.

– Deixa disso, Byel. - Respondeu o ruivo com um bico enquanto soltava a garota relutando, vendo o quanto ela se encontrava vermelha. - Eu criei essa pirralha. Posso ser meloso o quanto desejar com essa pestinha.

– E-E-EI! - Gaguejou, ficando ainda mais vermelha enquanto ele encaracolava uma das mechas de seu cabelo entre os dedos.

– Se cuida, imoto. - Ele pediu, beijando-lhe a testa com carinho. - Voltamos em uma semana.

– Até lá, ga-garotos.

Acenou para ambos bem de leve, enquanto via os dois saírem da casa de mãos dadas.

~Nyah! Nyah!~

– Acha que o pessoal vai demorar muito? - Perguntou Kimiko para Lia enquanto as duas subiam as escadas.

Os pais dos irmãos tinham acabado de sair da casa cantando pneus dado o atraso e antes disso se despedido com beijos demorados e palavras que indicavam a saudade que sentiriam. As coisas de Kimi acabaram de ser trazidas em duas mochilas e estavam na sala ao pé do sofá.

– Não sei... Mas partamos para outro assunto importante: Aqui em casa não temos quartos o suficiente para todo mundo. Podíamos dividir os três quartos e ficarmos com Luca e Trevor no quarto dele, eu e você no meu e Yoko e Bea no quarto de hóspedes.

Kimiko parou, paralisando no último degrau da escada. Lia parou também a três passos de onde ela estava e se virou, olhando-a enquanto permanecia com o ursinho de pelúcia marrom e felpudo entre os braços. Fixou seus olhos nela sem expressão aparente e deixou a cabeça pender para a direita.

– Algum problema?

– E-Eu... Hm... A-Acho que não é muito se-seguro de-deixar a B-Bea num qua-quarto sozinha com al-alguma ga-garota.

A menininha apoiou a mão no queixo (ainda virado para a esquerda) produzindo um som parecido com 'hm' enquanto pensava.

– Você acha que ela vai agarrar alguma de vocês no meio da noite? - Perguntou, apontando para a menina para dar ênfase.

– B-Bem... É-É. - Respondeu a mais velha, virando o rosto avermelhado para um ponto qualquer. Ficou em silêncio até uma ideia estalar em sua cabeça. - Ei, vocês ainda tem aqueles montes de futons?

– Sim, estão guardados ali no armário debaixo da escada. - Disse, desmontando a expressão antiga para atuar agora em uma confusão fofa, desenhada em seu rosto infantil. - Por quê?

– Vamos montar um acampamento na sala! Assim todos poderemos nos divertir mais juntos e cuidarmos do Luca melhor.

– E também a Bea não poderia agarrar alguém. - Completou a menina estalando os dedos da mão direita enquanto segurava o ursinho com a outra. - O sofá será do Luca! E nós ficamos com os futons!

– Sim! Só precisamos levá-lo lá pra baixo. Vamos fazer isso agora que o pessoal não chegou ainda.

– O.K.!

Correram até o quarto do garoto não contendo suas animações. Isso até pararem na porta e o olharem, a alegria toda se esvaindo e virando uma depressão fúnebre.

– Assim que conseguirmos acordá-lo... - Completou a ruiva em tom baixo e derrotado.

– É...

~Nyah! Nyah!~

– Ei ei, cuidado! - Gritou Luca ao ser jogado no sofá, já preparado com cobertas e travesseiros.

– Cale-se! - Mandou Kimiko enquanto ofegava, arrumando os cabelos. - Sabe o quão difícil é te trazer para cá? E além disso, você não queria acordar, seu desgraçado! - Reclamou, dando uma série de tapas nos braços dele enquanto ele ria e se encolhia.

– Kimi, vamos pegar as coisas. Já são quase sete horas. - Pediu Lia, chamando-a. - E eu não consigo desenrolar as coisas!

– O.K.

A ruiva e a morena saíram da sala rapidamente e deixaram o loiro para trás. Este apenas bufou e se tampou, agradecendo pela garganta agora parecer aveludada e não seca pela tosse - Que havia cedido um pouco com o chá que sua mãe lhe arranjou.

Enquanto se acomodava a campainha tocou. Ele gritou que estava aberta e que entrasse para quem quer que fosse.

Seguido o grito, um furacão loiro armado de duas malinhas entrou: O cabelo liso um pouco desarrumado e o rosto corado, da boca pequenos bufos escapavam dado ao cansaço. Bea largou as malas de qualquer jeito sobre o tapete e jogou o cabelo para trás, ajeitando-o.

– Onde elas estão? - Questionou em tom acusativo enquanto o rosto se movia para lá e para cá, procurando as duas garotas.

– Kimiko foi buscar os futons com a minha irmãzinha e Kiyoko não chegou ainda.

Os olhos da jovem se focaram no rosto de Luca com desprezo. Ele pode perceber então que ela não estava usando o óculos e sim uma lente de contato com coloração vermelha, que lhe davam um aspecto mais selvagem.

– Essas mochilas são dela...? - Perguntou curiosa, se aproximando das dita cujas.

– São... - Ele concordou, vendo a loira se ajoelhar próxima delas e puxar uma, passando a abrir o zíper. - Você não devia pegar as coisas dos outros sem a permissão deles!

– Não quer que eu olhe? - Ela perguntou, erguendo os olhos em posição de desafio. Viu-o concordar em tom decidido. Sorriu e pegou uma delas se afastando até estar bem longe do sofá, encostada no raque. - Venha me impedir então, Ken versão otakinho!

Luca então lembrou que não podia se levantar com o pé torcido então apenas bufou e revirou os olhos.

– Uh, ganhei fácil. - Ela comentou enquanto fuçava o conteúdo da mochila. - Credo, o que é isso aqui? - Disse com uma careta, enfiando a mão dentro para pegar a peça.

– Bea!? - Kimiko chegou na sala, agarrando dois futons que ainda estavam amarrados. - O que diabos você 'tá fazendo com a minha mochila?

– Bom que você chegou. - Respondeu na maior cara de pau. - Agora pode me explicar o que é isso!

Puxou de dentro das coisas da menina um pedaço de pano branco com desenhos do Ryuuku. A garota corou furiosamente, largando os futons no chão e avançando para a loira. Luca olhou o tecido por um curto espaço de tempo e então percebeu: Era uma calcinha. Corou furiosamente também.

– Bea, guarda isso! - Pediu a ruiva em choramingo tentando pegar a peça das mãos da maior, que a levantava no ar para impedir, balançando-a que nem uma bandeira.

– Você não quer pegar ninguém na sua vida, né? Isso além de ser ridículo é mais grande que o de uma freira. O garoto vai brochar na hora! Até a menina, se assim você preferir. - Dizia ela enquanto via a menor se agarrar nela e pular, tentando recuperar a calcinha. - Olha isso, cara!

Puxou da mochila outras duas peças com a mão livre, se aproveitando da distração da garota. Ambas eram em estilo caleçon, uma preta com desenhos de pandas e a outra colorida em tons de azul e verde e com gatinhos estampados.

– Caramba, isso é coisa que crianças usariam! - Disse com zombaria enquanto Kimiko quase choramingava, tentando recuperar as peças. - Me fala Luca, isso não é tão fofo que chega a brochar?

– Ehr... E-Eu... - O garoto não podia conter a vermelhidão em seu rosto enquanto via aquilo, sem saber o que fazer.

– Espera aí! Se você tem isso nas suas coisas... - Bea parecia pensativa baixando as mãos e possibilitando que a menor reavesse suas calcinhas e se afastasse. - O que será que você está...?

A loira passou a se aproximar novamente da garota que a olhou intimidada enquanto apertava ainda mais as peças contra o peito.

– O que você...?

Kimiko compreendeu assim que a loira deixou as mãos contornarem o cós do shorts jeans que usava. Desvencilhou-se das mãos da loira e se afastou rápido, sendo seguida por ela.

– Para com isso, Bea! - Gritou ela, começando a correr pela sala, dando voltas em torno do sofá. - Não tem a menor graça!

– Então pare de correr e me deixe terminar logo com isso! - Respondeu a maior na mesma altura, seguindo-a em uma corrida milhares de vezes mais graciosa.

Luca as acompanhou com os olhos por um bom tempo, ouvindo pedidos e ordens de ambos os lados enquanto corriam e posteriormente começavam a ameaçar mudar de direção. Lhe passou pela cabeça o porquê de Lia não ter aparecido ainda em algum momento, mas não se pronunciou. Quando já estava ficando tonto finalmente a correria teve alguma mudança significativa. Bea, que tinha parado bem em frente ao sofá, subiu em cima deste - quase pisando na barriga do garoto - encurtando em segundos a distância que havia entre as duas e deixando a ruiva um pouco sem reação.

Kimiko saiu correndo em disparada, mirando a porta que levava ao corredor de entrada e escadarias com Bea na sua cola. Ao olhar para trás enquanto continuava correndo, tropeçou em um dos futons que trouxera e caiu de quatro no chão, largando as peças que até aquele momento havia segurado. Bea se lançou sobre ela, agarrando o cós do shorts que usava e puxando-o para baixo depressa, revelando uma calcinha caleçon rosa clara com vários Eevees e suas evoluções, amontoados e com caretas fofas.

A ruiva passou a se debater e tentar sair de baixo da maior, que as mantinha unidas pelo quadril. No exato momento que isso ocorreu, Trevor surgiu na porta, apenas para ser acertado nas canelas pelos tecidos ainda não-identificados. Luca se ergueu no sofá pelos cotovelos para observar o que estava acontecendo.

– Ch-Ch-Chuva de Calcinhas! - Disse o moreno, arrumando os óculos no alto do nariz enquanto uma fina linha de sangue escorria de seu nariz ao observar as garotas.

Luca arregalou os olhos e escancarou a boca, paralisado. Kimiko parou de se debater ao perceber os pés que estavam parados tão próximos e observou em volta, vendo a reação dos dois. Corou até os dedos do pé, desistindo de se soltar e encolhendo, os braços escondendo o rosto.

– Bea. - Exclamou com a voz embargada enquanto a garota a agarrava e olhava. - Eu te odeio.


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Notas finais do capítulo

Comentem, seus lindos ♥



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