Solar

Quando Jaime olhava para ela, ele via luz do sol.

Tudo começou quando vocês eram crianças. Ela tinha cabelos dourados — tão dourados quanto os seus — que caiam em ondas encaracoladas até metade das costas, e olhar para ela era como se ver no espelho. Você a achava terrivelmente linda — todos a achavam bela, mas você a achava quase santa em sua beleza de anjo — e especial, e mesmo que todos dissessem que você era mais importante (um homem) e destinado a grandes coisas maiores que ela (por ser um homem), você se recusava a acreditar. Vocês eram iguais em tudo, pensava, e seus destinos haveriam de ser iguais também. Sua mão era pálida e pequena e a dela também. Seu sorriso era discreto e animado e o dela também. Até o corpo dela, você pensava, tinha de ser igual ao seu.

Tudo nasceu de uma curiosidade infantil.

E o corpo de vocês não era igual, mas era como se fosse. Porque tocar a pele dela era como tocar um reflexo, mas um reflexo vivo, um reflexo lindo que sorria e continuou sorrindo mesmo quando as diferenças foram ficando mais óbvias — os vestidos e as armaduras, os seios e os ombros largos — e você continuava achando-a idêntica a você, outra parte sua que andava e comia e falava.

Seus olhos verde-Lannister seriam capazes de se encontrar em meio a multidões, suas mãos se tocavam discretamente o tempo todo, e mesmo quando ela se casou, você foi junto. Porque você nunca seria capaz de se separar dela por livre e espontânea vontade nem enquanto pudesse impedir — você era sua sombra.

Cersei era linda e era sua. Era a pessoa que você mais amava no mundo inteiro. Um relance no espelho de cabelos longos e sorriso infantil.