A Rainha Branca escrita por luanafrotah_


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeeeeeeeeeeeee!!! Sorry a demora, esperam que tenha se divertido com aquele preview ^____^
Mas agora vamos ao capítulo na íntegraaa. Gente, demorou um bocaaaaaaaado, mas tb foi pq ese cpítulo ficou uma bíblia, eu nunca tinha escrito um tão grande.
A novidade agora é que eu tenho um leitor beta!!(Ah, as maravilhas do 24H de fama.... heuheuehueh)O Crédito é todo do meu colega Hades. Deus, lhe dê em dobro amigo!! o/
Bom, então é isso, vamos ao capítulo antes que vocês me batam!!



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         Ricardo estava trancado em uma sala. Batia desesperadamente na porta, e gritava, mas parecia que ninguém ouvia. Nem parecia que estava em uma delegacia de polícia.

         Desistiu de bater na porta, não estava adiantando muito mesmo. Sentou em uma cadeira e ficou olhando para o nada durante alguns minutos. Depois se levantou e foi até a janela, também trancada, e perdeu mais alguns minutos fitando o céu através das vidraças, procurando avistar Natã. Nem sinal dele.

         Não teve mais notícias do anjo desde que o enviara para falar com Mara. Pensou que talvez ela pudesse fazer alguma coisa, mas naquela altura não tinha mais certeza de nada. Estava a beira de um ataque de nervos, não agüentava mais ficar ali.

         Chutou a porta e xingou alto.

         Até que finalmente ouviu o barulho da porta destrancando. A porta se abriu e um policial nervoso entrou na sala.

         -Ô moleque, fica quieto aí que aqui não é a casa da mãe Joana não! Isso aqui é uma delegacia e tu tem que respeitar, viu?

         -E por que eu deveria? Ninguém tá me respeitando aqui! – resmungou Ricardo cruzando os braços.

         -Pois muito bem... – o policial se sentou em uma cadeira acolchoada atrás de um gabinete e apontou uma cadeira para Ricardo – em que posso ajudar?

         -O negócio é o seguinte, Seu Zé: Faz um tempão que to tentando fazer uma denúncia e não tem ninguém me dando a mínima atenção. O que é que eu preciso pra fazer essa denúncia?

         -Então quer dizer que você ficou o dia inteirinho aqui e não prestou sua queixa ainda? – perguntou erguendo uma das sobrancelhas.

         -Não é isso! Eu quero fazer outra denúncia: Uma garota vai morrer!!

         O policial entrelaçou os dedos sobre a mesa e começou a encarar Ricardo com um olhar de desdém. O garoto ficou sem ação, não estava sendo levado a sério. Viu o nome do policial bordado na farda dele: Reginaldo.

         Respirou fundo.

         -Ok, vou tentar de novo – Ricardo levantou e se apoiou na mesa com as duas mãos, para ficar mais próximo do policial - Então, companheiro... Reginaldo, não é? Eu fiquei sabendo, através de fontes muito confiáveis, que uma garota vai morrer. Você não pode ficar aqui parado, sem fazer nada.

         Reginaldo, então, levantou e olhou em volta.

         -Onde estão suas fontes, garoto? Não vejo nada. Olha, garoto, é melhor você ir embora logo, que aqui não é lugar de brincadeiras. A tua mãe tá te esperando lá fora e...

         -Isso não é uma brincadeira! – gritou Ricardo, segurando Reginaldo pela gola do uniforme – Você tem que fazer alguma coisa, ela vai se jogar de uma passarela!

         Nesse momento o delegado entrou na sala. Ele olhou para Ricardo com um olhar tão ameaçador, que o garoto se intimidou e soltou o policial. Mas sem desistir do que queria.

         -Eu quero fazer uma denúncia! – declarou, encarando o delegado.

         -Sua denuncia já está feita, rapaz, pode ir pra casa agora.

         -Ele disse que é outra – falou Reginaldo enquanto ajeitava o uniforme.

         Ricardo bateu com violência na mesa.

         -Eu quero denunciar um suicídio – falou quase gritando.

         Os outros dois olharam atônitos para ele.

         -Garoto... – começou o delegado, sentando em sua cadeira – isso é uma coisa que eu não admito. Não se brinca com um assunto sério assim, vai logo pra casa antes que eu te bote no xadrez. Sabia que foi complicado pra caramba explicar pra tua mãe, que tá lá fora te esperando, que tu ficou esse tempo todo aqui porque depois de uma horinha cochilando tu decidiu virar bicho?

         -Peraí, Mas não foi bem assim! Ninguém queria me ouvir, eu tinha que fazer alguma coisa pra me notarem!

         -Pois então se quer fazer essa denúncia, faça! Agora vamos conversar sobre ela – então o delegado apontou a cadeira para Ricardo.

         Ele sentou novamente, mas qualquer coisa lhe dizia que ainda não estavam acreditando nele. Talvez fosse a expressão de deboche que o outro policial ostentava toda vez que olhava para ele ou a incredulidade evidente no rosto do delegado. Mesmo assim estava determinado a salvar a vida daquela garota.

         -Então..? Pode começar a falar – disse o delegado desinteressado.

         -Ela vai se jogar de uma passarela.

         -Você não quer dizer que ela vai cair?

         -Não. Vai se jogar mesmo.

         -“Vai”? – o delegado franziu o cenho.

         -Eu não sei! Se vocês tivessem me deixado sair antes, eu ia poder saber se já aconteceu ou não!

         -Hmm... Certo. Mas continue, de qual passarela? Essa cidade é enorme, existem inúmeras passarelas.

         -Eu não sei, tá?! Só sei que ela vai se jogar.

         -Você viu isso?

         -Não.

         -Alguma testemunha?

         -Não.

         -Provas?

         Ricardo abanou a cabeça e soltou outro “não” quase mudo. O que fazer agora?

         Então outro policial entrou na sala e chamou por Reginaldo.

         -O que aconteceu?

         -Bom, nós temos um problema. Um acidente no centro da cidade, embaixo daquela passarela.

         Ricardo empalideceu. De novo não conseguira.

Natã surgiu atrás dele e pôs a mão em seu ombro; não teve tempo para falar com aquela garota, quando Mara chegou lá ela já havia pulado.

Reginaldo havia perdido totalmente a pose e agora parecia muito confuso e o delegado olhava embasbacado para Ricardo. O policial que entrara na sala há pouco não entendia a cena que se passava.

Ricardo levantou e decidiu finalmente ir embora. Mas antes de passar pela porta, deixou escapar:

-Belo serviço de proteção à comunidade...

E foi embora.

 

***

 

         A sirene da ambulância soava pedindo passagem, juntamente com a viatura policial. Conseguir abrir passagem em uma das avenidas mais movimentadas da cidade é um tanto complicado, principalmente se ela está interditada por um acidente.

         Os curiosos se amontoavam no local do acidente, todos queriam saber o que aconteceu. Os que viram contavam aos que não viram: parecia que uma garota havia caído da passarela bem na frente de um caminhão. O motorista tentou parar, mas perdeu o controle e, além de atropelar a menina, se chocou contra dois outros carros.

         As equipes dos jornais locais começaram a chegar e a colher informações tanto das testemunhas, como da polícia e até dos curiosos.

         Em meio à toda a confusão uma garota observava. Observava como quem não queria nada, com os braços cruzados e um olhar inexpressivo... Simplesmente olhava.

         -Você não acha que está na hora de irmos embora? – perguntou um anjo que surgiu atrás dela.

         -Não. Eu não achei a alma dela ainda, e ele também não chegou. Continue procurando, não podemos deixar a alma dela se perder nas mãos de um demônio qualquer.

         O anjo desapareceu e ela continuou olhando. Viu outro anjo, bem próximo da equipe médica. Os bombeiros haviam conseguido tirar a última vítima das ferragens de um carro vermelho, o estado era grave. Continuou olhando para o anjo. Ele estava perdendo sua luz aos poucos, até que apagou totalmente e tombou sem vida. Ela deu um suspiro, outra vítima fatal. Viu o anjo se transmutando em uma luz pálida e amarelada, e viu essa luz subir, em direção ao céu, até se perder de vista.

         Então ouviu um barulho na multidão, atrás dela, de pessoas murmurando e reclamando. Elas brigavam com um garoto que abria caminho entre as pessoas de uma maneira um tanto rude, nada de importante. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela falou antes.

         -Você demorou.

         -Nem tanto. Assim que a viatura saiu da delegacia, eu saí bem atrás dela. Mas eu fui te procurar lá em cima da passarela, foi o Michael que me disse que estava aqui.

         -E ele encontrou alguma coisa?

         -Não.

         Mara continuou procurando com o olhar. Os corpos agora estavam sendo embalados com plásticos pretos e colocados no carro do IML, e a polícia interrogava o motorista do caminhão e de um dos carros.

         -Vamos embora. – ela disse visivelmente mal-humorada – Não tem mais nada pra ver aqui.

         -Mas e a...

         -Nós perdemos essa também.

         Mara foi embora, Mas Ricardo continuou lá. Olhou para as manchas de sangue no chão e para os dois corpos engavetados no carro do IML. Ouviu a ambulância deixando o local, levando os sobreviventes do acidente.

         Não queria mais.

         Estava cansado de ver aquelas coisas. De que adiantava ver se nunca conseguia impedir que acontecessem?

         Foi embora, finalmente. Não queria ver mais nada além do que já vira em sonhos.

 

***

 

         O dia seguinte amanheceu triste. Nuvens negras e pesadas encobriam o céu e uma fina garoa caía, convidando todos os habitantes da cidade a continuarem em suas camas.

         Mas todos continuaram sua rotina, e Mara foi para a escola mesmo sem querer ir.

         -Bom dia! – Falou Patrícia radiante logo que viu a amiga entrar na sala de aula.

         -Bom – Mara respondeu desanimada.

         -Ô entusiasmo... – Retrucou Patrícia, perdendo o sorriso – só por que vai chover hoje não significa que você tem que ficar triste não, viu?

         -É... – Mara respondeu vagamente – não tenho não... – concluiu olhando em volta, para os rostos dos colegas de classe, procurando. Depois foi até a porta e olhou para os dois lados do corredor. Não tendo encontrado quem queria, voltou para sua carteira e cruzou os braços.

         -Quem você tá procurando? – perguntou a amiga, curiosa.

         -Sua busca terminou!!

         Mario irrompeu na sala, gritando animadamente. Soltou sua mochila em uma carteira ao lado da de Mara e continuou falando animadamente com a garota.

         -Eu sei que você estava procurando por mim, não negue! Saiba você que eu também te amo. – disse piscando para ela.

         -Se manca – disse uma Mara irritada – tá pra nascer o dia em que eu vou correr atrás de você!

         Mário respondeu a esse comentário com uma careta, demonstrando o quanto seu orgulho fora atingido.

         -Quer saber? Se me perguntassem... – começou Patrícia com um olhar malicioso – Eu diria que você está esperando o Ricardo. Acertei?

         Mara fez que sim com a cabeça.

         -Ah, qual é?! – Mário se revoltou – O que você quer com ele? Ele quase te matou e você ainda anda com ele?

         -Eu que te pergunto: Qual é o seu problema com ele?

         Patrícia segurou o riso.

         -Ah, é mesmo... – disse Mara rindo – o seu problema é que desde que ele chegou você ficou com ciúmes.

         -Não fiquei não! – o garoto respondeu ofendido.

         -Ah, mas ficou sim! – Patrícia ria cada vez mais – A gente sabe que você adora a fama que tem de ser o garoto mais bonito da sala e de sempre ter o máximo possível de meninas atrás de você. Só que depois que ele chegou, ele tá fazendo concorrência com você. Ou seja, você tá com raiva por que metade da sala já tá atrás dele.

         -E ele deve estar gostando muito disso – Declarou Mário cruzando os braços e mordendo o lábio inferior com raiva.

         -Não fala do que não sabe. Ele não gosta dessas coisas de ser popular como você. Por ele, ele bem que podia ser um daqueles excluídos, que sentam sozinhos no canto da classe, que tava de bom tamanho pra ele. É... Ele prefere assim... – declarou Mara apoiando o queixo em uma das mãos e olhando através da janela que dava para o pátio de entrada com um olhar vazio.

         -E como você sabe disso?

         -Ele me disse.

         -E quando ele te disse?

         -Nesse sábado.

         -Você já saiu com ele?! – exclamou o rapaz indignado – Tudo bem... E como você sabe que ele não está mentindo?

         -Não está – respondeu ela ainda olhando pela janela.

         Mara respondera as perguntas com tanta segurança que Mário desistiu de fazer mais questionamentos.

         -Hmmm... Então eu acho que é por isso que a Mara gosta dele e não gosta de você – Patrícia disse para Mário.

         Mara corou até a raiz dos cabelos, mas seus amigos não perceberam, pois estavam discutindo fervorosamente sobre de quem Mara gostava mais. E assim a manhã passou, com os mesmos professore chatos de sempre falando as mesmas coisas chatas de sempre sobre o vestibular.

         Depois de ficar a manhã inteira esperando por Ricardo, que não apareceu, Mara saiu do prédio da escola um pouco preocupada e muito irritada.

         -Então?

         Mara fingiu não ter visto Michael, que aparecera ao lado dela, ignorando a pergunta dele e acelerando o passo.

         Michael se colocou na frente dela com uma manobra rápida.

         -Ele não veio?

         -Não! – ela respondeu e desviou dele, continuando a andar a passos rápidos.

         Michael a seguiu e a segurou pelos ombros.

         -O que é que você quer agora? – Mara perguntou quase gritando.

         -Primeiro: Fala mais baixo. Já estão olhando para você.

         -Pro inferno com eles – ela retrucou, mas com um tom de voz mais baixo.

         -Segundo: Você quer ficar calma?

         -Não, obrigada, eu estou bem assim – respondeu a garota se soltando bruscamente das mãos de Michael – Agora some!

         O anjo alçou vôo e foi embora.

         Mara foi até a parada de ônibus, sentou em um banquinho e cruzou os braços. Então percebeu que aquele era o mesmo banco que Ricardo estava vandalizando naquele dia, quando descobrira sobre ele. E começou a pensar nele novamente. Será que Ricardo estava fugindo dela? Mas por quê? Não era errado ela querer saber como ele sempre descobria o que iria acontecer com aquelas garotas. Ou seria? Oras, de qualquer jeito não ia custar nada falar!

         Na noite anterior ela fora tão insistente com ele que os dois brigaram, e brigaram feio. Além do mais, o que ele quis dizer com “você tem certeza que não sabe?”? Mara deixou dois ônibus passarem direto enquanto pensava.

         Michael apareceu sentado ao lado dela.

         -Olha, o fato de ele não ter vindo à aula hoje não significa nada.

         -Não – Mara fechou os olhos – isso diz tudo.

         -É? E o que isso diz?

         -Que ele é um babaca, e que eu sou estúpida o suficiente pra achar que ele vai me contar alguma coisa. Me diz, por que ele tem que ser assim? – ela levantou de repente – quer dizer, ele podia me contar! Sem essa de “Você não entenderia”! Como é que ele pode saber isso se ele nem me disse o que é? Quem ele tá pensando que eu sou?

         Ela andava descontroladamente de um lado para o outro enquanto Michael tentava acalmá-la e alertá-la de que estava chamando a atenção de algumas pessoas do outro lado da rua.

         -Eu vou embora – declarou ela pegando a mochila e atravessando a rua.

         -Não vai pegar o ônibus? – Perguntou Michael, que voava baixo próximo a ela.

         -Eu vou a pé. Preciso me distrair pra esquecer a raiva.

         -E nós vamos pelo caminho mais curto ou você está com muita raiva?

         -Pelo maior caminho possível. E eu vou sozinha.

         -Você tem certeza?

         -Cai fora! Eu preciso pensar um pouco.

         -Não precisa disso tudo, Mara – o anjo falou num tom compreensivo – Você vai ver como amanhã vai estar tudo certo e ele vai falar com você como se não tivesse acontecido nada. – ele se aproximou mais dela e disse carinhosamente, com um sorriso no rosto – Eu vou ficar olhando você. De lá – apontou para cima e saiu voando.

         Mara deu um longo suspiro. E se ele não falasse com ela?

         Mas alguma hora ele vai ter que falar, aquele idiota! Ele não pode ficar fugindo o tempo todo. E ela vai ser a única pessoa para quem ele vai poder contar, ele não tem outros amigos! Quer dizer, não como ela.

         Ela parou e olhou para a avenida movimentada. Todos seguiam suas rotinas normalmente. Alguns sequer sabiam que na noite anterior uma garota havia morrido ali. Subiu lentamente os degraus da passarela, deu alguns passos e olhou novamente para a avenida, agora abaixo de seus pés. O fluxo dos carros era tanto que ela não conseguia localizar as manchas de sangue no asfalto.

         Fechou os olhos. Tentou visualizar a cena, ver a garota se atirando, tentou imaginar o que se passava na mente dela, mas não conseguiu.

         Enquanto percorria a outra metade da passarela, seu pensamento voltou para Ricardo. Será que ele não via que ela só estava tentando ajudar? Tudo bem... Ela até podia admitir que estivesse com uma pontinha de inveja... Mas ele já salvara a vida dela duas vezes, tentar ajudar era o mínimo que ela podia fazer! Mas não, ele tinha que ser cabeça dura! Mas se era assim que ele queria tudo bem! Ela não ia falar mais nada, ia esquecer aquele assunto.

         Mas ela não esqueceu.

         Durante toda a tarde ficou impaciente. Não conseguia se concentrar em nada, estava muito inquieta; tentou se distrair de todas as maneiras possíveis, mas não adiantou nada. Nem dormir um pouco ela conseguiu, apenas olhava para o teto. Em um dado momento teve a impressão de que o teto do seu quarto começou a encará-la de modo estranho.

         -Você está realmente preocupada com ele, não está? – Michael, de repente, estava sentado ao lado dela na cama.

         Mara não respondeu nada, limitou-se a virar o rosto para a parede e fechar os olhos com uma expressão irritada.

         -Ah, vamos... Disse ele com uma cutucada no ombro dela – qual é o problema?

         -Ele é. – Falou ela sem abrir os olhos e com o rosto ainda virado para a parede.

         -Quem? O teto?

         -Cala a boca! Você sabe que não é isso! – respondeu ela colocando o travesseiro sobre a cabeça.

         -Não, eu não sei de nada.  Você não quer me falar – retrucou Michael cruzando os braços.

         -Ah, quer falar sobre isso? – ele ouviu a voz dela abafada pelo travesseiro.

         -Eu não quero falar nada. Quem quer é você. Não é isso?

         -Tá! Tudo bem! – Mara atirou o travesseiro no chão – Quer falar sobre isso? Pois vamos falar! – sentou na cama e cruzou as pernas – o que você quer saber?

         -Isso tudo ainda é raiva dele?

         -Mas é claro que é!

         Depois dessa resposta, Mara permaneceu calada. A cabeça abaixada, os dedos entrelaçados sobre as pernas e um olhar perdido no nada. Parecia uma estátua.

         Michael levantou. Perdeu alguns segundos na janela, observando a paisagem, ele sabia que tinha que ser paciente com ela. Então ouviu a voz dela novamente.

         -Eu acho... Que é.

         -Você não está com raiva dele. Você está decepcionada, por que ele não te contou o que está acontecendo com ele.

         -Talvez... – ela disse, agora sem nenhum resquício de raiva ou irritação na voz – Mas... Ele disse que eu era amiga dele. Por quê ele não fala nada então? E agora isso... – disse Mara levantando e dando voltas pelo quarto – ele simplesmente some! Não tem nem a decência de me ligar pra dar sinal de vida. Quem ele pensa que é?!

         Silêncio. Mara continuava andando pelo quarto e Michael voltara a olhar a paisagem através da janela. De repente, escutam o telefone tocar. Toca uma, duas, três vezes e para. Passos no corredor, duas batidas na porta e a voz da mãe de Mara invade o quarto.

         -Mara, tele...

         Antes que pudesse perceber, a garota já havia passado pelo corredor e já estava na sala.

         -...fone pra você – concluiu a mulher. Se ela possuísse alguma sensibilidade, ela teria visto Michael seguindo Mara, caminhando serenamente pelo corredor.

         O coração de Mara deu um pulo ao ouvir as batidas na porta. Será que finalmente era ele? Saiu correndo do quarto, nem reparou no que a mãe estava falando. Suas mãos estavam tremendo quando pegou o telefone.

         -Alô, alô?! – mas ao ouvir a voz que vinha do outro lado da linha, todo o seu ânimo morreu – ah... É você Patrícia... O que foi? – perguntou deixando os ombros caírem - ... Não, eu não estava esperando ligação de ninguém não, o que te fez pensar isso? ... Ah, foi só impressão sua...

         A conversa das duas não durou mais do que alguns minutos, Mara inventou um pretexto qualquer para desligar o telefone. Depois de voltar para o quarto, se jogou na cama e simplesmente ignorou a presença de Michael.

         Meia hora deitada. Como não conseguiu dormir de novo, decidiu levantar de uma vez. Tomou um banho e se arrumou um pouco...

         -Para onde vai? Voltar à ativa? Caçar um pouco por aí? – Perguntou Michael mais animado, vendo que ela tinha levantado.

         -Não finja que não sabe.

         -Mas eu não sei. Sério.

         -Eu vou pra casa dele.

         -Olha, não sei se essa é uma boa idéia não...

         -Azar o seu, eu vou.

         -Você tem certeza?

         Ela não respondeu. Saiu do quarto andando devagar. Depois de alguns segundos voltou para o quarto. Pegou a espada embaixo da cama e saiu novamente.

          

***

 

         O interfone tocava desesperadamente na cozinha e um garoto vem correndo da sala para atender.

         -O que foi? ... Como? Quem? – perguntou assustado – tudo bem, pode subir.

         Desligou o interfone e deu um suspiro irritado.

         -Droga! – deixou escapar.

         -Meu filho, quem era? – ele ouviu a voz da mãe, vinda do final do corredor.

         -Era só um vizinho, não queria nada demais – berrou para mãe antes que ela decidisse ir até a cozinha.

         A campainha tocou.

         Ele abriu a porta dos fundos e viu uma garota de cabelos pretos e longos, braços cruzados e um olhar calmo. Bem ao contrário dele.

         -O que você quer? – perguntou ele nervoso.

         -Como assim o que eu quero? Eu fiquei preocupada, você não deu sinal de vida o dia todo!

         -Shh! – fez ele, pedindo que ela falasse mais baixo.

         Ele ouviu a voz da mãe perguntando quem era novamente.

         -E só a vizinha que veio pegar açúcar – berrou para dentro da casa.

         Em seguida fechou a porta do apartamento e ficou do lado de fora com a garota.

         -Isso quer dizer que você não vai me convidar para entrar? – perguntou ela sarcasticamente.

         -Cala a boca, Mara! O que você veio fazer aqui? – perguntou ele com a voz muito baixa, quase um sussurro.

         -Eu já disse: fiquei preocupada.

         -E como me encontrou? Não me lembro de ter te dito onde eu moro.

         -Eu dei meu jeito – respondeu Mara com um sorriso escancarado.

         Michael apareceu atrás de Mara.

         -Me desculpa por isso, Ricardo – pediu ele, muito encabulado.

         -Ah, depois você se desculpa. – falou ela com um abano de mão, num tom desinteressado – parece que não temos muito tempo pra conversar. O que está acontecendo, hein?

         -É que a minha mãe ficou preocupada depois que a gente saiu da delegacia, principalmente depois daquela estória da menina da passarela. Cara... – disse ele batendo de leve na própria testa – como eu me arrependo de ter aberto a minha boca pra falar daquilo lá...

         -Não se arrependa. Você tinha que arranjar uma maneira de salvá-la. Foi a única coisa em que você conseguiu pensar.

         -Uau! Desde quando você é tão compreensiva assim? – perguntou ele fingindo susto.

         -Muito engraçado. Continua falando... O que tem a sua mãe?

         -Como eu ia dizendo, ela ficou muito preocupada com essa estória toda e me perguntou como eu ficava sabendo dessas coisas. Então eu achei melhor contar logo tudo pra ela, por que eu pensei que se alguém pudesse ser capaz de me entender seria ela, afinal ela é minha mãe e...

         -Você falou sobre a gente pra ela? – perguntou Mara aumentando o tom de voz – Você é doido?!

         -Shhh! – Ricardo pôs a mão na sobre a boca da garota antes que ela pudesse falar mais alguma coisa – Já disse pra falar baixo! Minha mãe não pode saber que você tá aqui.

         -Mara respirou fundo, tentando se acalmar, e em seguida tirou a mão de Ricardo de cima de sua boca e perguntou:

         -Mas ela pelo menos já sabia que você pode ver espíritos e coisas do gênero?

         -Não... Por isso que ela ficou desse jeito.

         -De que jeito?

         De repente a porta do apartamento é aberta e uma mulher sai de lá. Ela tinha os cabelos castanhos muito crespos e olhos pretos.

         -Então a visita era pra você? Meu filho, eu já não falei que não quero que...

         A mulher finalmente olhou direito para Mara. Ao vê-la seu rosto mudou completamente, seu olhar sereno se transformara em um olhar de fúria e ela parecia metralhar Mara com os olhos.

         -Mara, eu acho melhor irmos logo embora – disse Michael, que ainda estava atrás da garota.

         Mara olhou para a mulher um pouco sem jeito. Deu um sorriso amarelo e um aceno tímido. A mulher, por sua vez, pegou os dois adolescentes pelo braço, os conduziu até o interior da casa e fechou a porta.

         -Mãe, o que...

         -Quieto! Com você eu converso depois sobre ter me desobedecido. O assunto aqui é com outra pessoa – disse lançando outro olhar assassino para Mara.

         Mara começou a ficar nervosa e a suar frio. Ela não era muito boa lidando com pessoas vivas, e a reação da mãe de Ricardo fora, com toda a certeza, mais agressiva que a de sua própria mãe. O melhor a fazer era sair dali o mais rápido possível.

         -Sabe de uma coisa? A senhora tem toda a razão. Eu realmente não deveria ter vindo aqui incomodar o seu filho, então... - falava Mara enquanto ia discretamente até a porta – Então eu acho melhor ir logo embora, e...

         -Espera. Eu tenho umas coisas pra falar pra você antes.

         A garota ficou imóvel. E enquanto a mulher falava, ela não se atreveu a dar nenhum piu.

         -É você, não é? É você que tá botando essas coisas na cabeça do meu filho? Agora ele pensa que pode ver fantasmas. Não só fantasmas! Meu filho agora acha que fala com os anjos, que luta com demônios! O que você quer? Que meu filho termine em um hospício? Escuta bem o que eu vou te dizer, menina, que eu só vou falar uma vez: Fica longe do meu filho! Para de falar essas besteiras pra ele! Eu não quero mais saber de fantasmas, de anjos, ou de porcaria nenhuma, muito menos de garotas vestidas de branco que pegam meu filho no meio da noite e o levam pra ver crianças se atirando de passarelas!

         -O que você disse? – Mara não se lembrava de ter levado Ricardo para alguma passarela no meio da noite, a não ser que...

         Finalmente percebeu do que se tratava. Olhou para Michael e ele lhe respondeu positivamente, mostrando que chegara à mesma conclusão que ela. Mas quando seus olhos procuraram Ricardo, tudo o que ainda pôde ver foi o vulto dele saindo rapidamente da cozinha.

         -Saia daqui – a mãe de Ricardo segurava a porta aberta – se for para ter amigos como você, eu prefiro que Ricardo não tenha amigos.

         Mara saiu em silêncio, contrariada por finalmente descobrir como Ricardo sabia tanto sobre as mortes e não poder conversar com ele sobre isso.

         A mãe de Ricardo acompanhou Mara com os olhos até a garota entrar no elevador, só para ter certeza de que ela não iria voltar mais. Fechou a porta e começou a andar até o quarto do filho.

         Quando estava a alguns metros da porta, ouviu a voz de Ricardo falando alto. Aproximou-se lentamente e encostou o ouvido à porta, ele estava conversando com alguém. Ela olhou para o telefone na sala, mas ele estava no gancho. Estaria falando sozinho? Então seu pensamento voltou para ela e seus olhos estreitaram, mas não era raiva que estava sentindo, era mais uma tristeza ou algo realmente parecido com desespero.

         Correu para o quarto, ajoelhou-se ao pé da cama e começou a rezar, olhando fixamente para o crucifixo pendurado na parede à sua frente, enquanto chorava muito.

         -Meu deus... Por favor, não o meu filho... Por favor...

 

***

 

         Ricardo entrou no quarto e bateu a porta com força, xingando alto.

         -Seria melhor se você ficasse calmo. Agir assim não vai ajudar em nada – Natã apareceu sentado na janela, uma brisa leve fazia suas asas farfalharem do lado de fora.

         -Como você quer que eu fique calmo? A minha mãe falou tudo pra ela! Você viu o que a minha mãe disse? Mas que droga – praguejou – Droga, droga, droga!  - E sua voz foi desanimando. Sentou no chão e abaixou a cabeça. Não era pra ter sido assim... Não era pra ela ficar sabendo desse jeito.

         -E como você queria que fosse, se você sequer estava querendo contar a ela o que estava acontecendo?

         -Claro que eu queria! Eu só... Só estava...

         -Estava com medo? De como ela reagiria.

         Ele fez que sim com a cabeça.

         -Bom... Talvez justamente por isso – disse Natã olhando para a porta do quarto, como se pudesse ver o quê, ou quem quer que estivesse atrás dela - Teria sido melhor você ter contado isso para ela e não para a sua mãe.

         -Do que você tá falando? Apesar de tudo, ela ainda é a minha mãe. Não seria capaz de fazer nada mais drástico comigo.

         -Eu sei, mas... – falava Natã, sem desviar o olhar da porta – É que a Verônica é...

         Ricardo levantou de repente. Correu até a porta e a abriu, não tinha nada lá. Deu alguns passos para fora do quarto e olhou atentamente à sua volta, mas não havia ninguém. Achou estranho. Natã parecia olhar tão fixamente para a porta, que até ele próprio, há alguns segundos atrás, poderia jurar que também sentira alguma presença lá.

         Olhou na direção do quarto da mãe, estava tudo muito silencioso. A passos leves, andou até lá e espiou pela porta entreaberta. Ela estava ajoelhada ao pé da cama rezando, como sempre.

         E então uma luz se ascendeu em sua mente. Ele voltou correndo para o quarto e trancou a porta.

         -Eu preciso da sua ajuda! – falou empolgado para Natã.

         O anjo, que ainda permanecia sentado na janela com os braços cruzados, olhou para Ricardo com um olhar repreensivo.

         -Escuta, eu tenho que falar com a Mara e quero que você me ajude.

         Natã continuou imóvel, a severidade estampada no rosto dele.

         -Que cara é essa?

         -Estou adivinhando o que pretende fazer e te repreendendo por isso.

         -Ah, qual é? – falou Ricardo desanimando – você nem ouviu o que eu tenho pra falar...

         -A Verônica está rezando, o que quer dizer que ela vai dormir em breve. Então você vai sair na calada da noite, sozinho, para falar com Mara. E como sua mãe tem um sono muito leve, eu teria que ficar aqui e dar um jeito caso ela te descobrisse. E isso é tudo, não é? Ou você pensou em algo mais?

         Ricardo olhava para Natã surpreso. Era tão previsível assim? Aparentemente sim, mas aquilo não importava muito no momento. Ele precisava falar com Mara e era isso que ele iria fazer. Colocou a jaqueta e já estava saindo do quarto quando ouviu a voz grave de Natã.

         -Eu não vou te ajudar.

         O garoto deu dois passos para trás, fechou a porta e deu meia volta. Os braços cruzados e um olhar questionador exigindo uma explicação.

         -Isso não está certo.

         -Como assim?

         -Você não deveria sair de casa, ordens de sua mãe.

         -Peraí! Não vem com essa de lição de moral, não. Não agora!

         -Mas Ricardo... – Disse Natã finalmente levantando e se aproximando do garoto.

         -Sem essa! Você é meu anjo da guarda. Você tem que me proteger e só! Não tem que ficar dando pitaco na minha vida.

         -Não é só isso não! Respondeu Natã exaltado – Como seu anjo da guarda, mocinho, minha missão não é apenas te proteger! É também te ajudar a colocar um pouco de juízo nessa sua cabeça dura e a encontrar um rumo na sua vida! – e finalmente voltou à sua voz serena – E isso não está certo, portanto eu não vou te ajudar – cruzou os braços e virou o rosto para o lado, numa atitude quase infantil. E depois acrescentou – E que tipo de anjo da guarda eu seria se te deixasse sair por aí sozinho quando tem um bando de demônios pendurados na sua janela só esperando por uma boa oportunidade?

         -Ok, ok, tudo bem... – falou Ricardo depois de se recuperar do susto – então não faça nada. Fique aí parado só olhando, por que eu vou falar com ela você querendo ou não! E eu sou grandinho o suficiente pra lidar com aqueles demônios fedorentos. – saiu do quarto fechando a porta de leve.

         Minutos depois a porta se abre silenciosamente. Ricardo entra no quarto e pega a arma escondida no fundo da última gaveta de seu guarda-roupa. Brinca com ela por alguns segundos e em seguida a coloca cuidadosamente no cós da calça.

         Depois deita na cama e cruza as mãos sobre a cabeça. Ao olhar para o lado dá de cara com Natã e seu olhar questionador, mas ao mesmo tempo severo.

         -É bom esperar mais um pouco. Só pra garantir, né? – e piscou para ele.

 

***

 

         Ricardo acordou, mas achou melhor não abrir os olhos. O lado bom de tudo o que aconteceu no fim de semana foi que a mãe o proibira permanentemente de ir à escola nos próximos dias, então ele podia dormir até tarde.

         Quando finalmente criou coragem para abrir os olhos, olhou para o relógio. Dez e meia da manhã e parecia que não havia dormido nada, a noite passada fora longa.

         Sentou na cama e pegou sua arma embaixo do travesseiro, seus olhos brilhavam ao lembrar-se da noite anterior. “Nada mal para a sua primeira noite!”, essas foram as palavras de Mara; ele dormiu com essas palavras ecoando em sua mente. Caçar é muito divertido, ao contrário do que Natã sempre fala, e ele mal podia esperar pela próxima noite. Não fazia idéia de como despistar a mãe em uma próxima vez, mas ele, definitivamente, tinha que sair para caçar de novo.

         Guardou a arma cuidadosamente na gaveta e voltou a deitar. Ficou imaginando como Mara conseguia fazer todas aquelas coisas e ainda se manter acordada para assistir às aulas. Talvez esse seja o tipo de coisa que se acostuma com o tempo.

         Tentou dormir novamente, mas a fome falou mais alto. Levantou e foi até a cozinha, onde encontrou sua mãe, o que não era normal, pois ela devia estar trabalhando àquela hora.

         -Bom dia! – ela cumprimentou sorridente.

         -Bom... Bom dia... Ô mãe, a senhora não devia estar no trabalho agora?

         -Tirei o dia de folga!

         Verônica, então, foi até ele e o guiou até a sala de jantar, fazendo ele sentar à mesa de jantar, uma grande mesa de vidro redonda, coberta por uma toalha de renda muito clara.

         -É que hoje eu queria conversar com o meu filhinho! – declarou dando um risinho e bagunçando os cabelos de Ricardo.

         -Mas conversar sobre o quê? – perguntou inquieto.

         Ela sentou diante dele.

         -Ah, você sabe... Sobre tudo... Sobre o que aconteceu nos últimos dias, sobre aquela sua amiga, sobre você ter me desobedecido – o sorriso que ela levava no rosto desapareceu de repente – onde você estava ontem à noite?

          Ricardo engasgou. Quando voltou para casa depois de sair com Mara havia comprovado que a mãe estava dormindo, ele estava certo de que ela não sabia de sua escapada.

         -Ah... Bom... Eu... Como assim onde?! Eu estava no meu quarto dormindo, oras! Onde mais eu poderia estar?

         -E precisa ficar tão nervoso assim só pra dizer que estava dormindo?

         -Mas eu não estou nervoso! – mentiu Ricardo. Na verdade estava tão nervoso que suas mãos, escondidas sob a mesa, estavam até tremendo.

         -Você foi falar com ela, não foi?

         -Claro que não!

         -Não minta pra mim, mocinho! Eu sei que você saiu ontem, eu vi! Agora me diga: você foi ou não falar com ela?

         -SIM! – gritou Ricardo levantando – Eu fui falar com ela sim! Algum problema?

         -TODOS! Será que você não consegue ver que tudo que está acontecendo com você é culpa dela?

         -Não é não! Só falta agora a senhora dizer que foi ela que colocou aquelas coisas lá em casa! Vai dizer, vai?

         -Eu não duvido nada. Aquela carinha de anjo dela deve ter muita coisa pra esconder... – Verônica respondeu  em um tom mais desdenhoso.

         Ricardo bateu com as mãos na mesa. Sentia o sangue correr rápido pelo seu corpo e a raiva junto com ele. Encarou a mãe com um olhar furioso, e apontou o dedo indicador para ela.

         -Você... Não tem o direito de falar assim dela!

         -E você não aponte esse dedo pra mim, rapazinho! Eu posso falar o que eu quiser dela.

         -Ótimo, pois diga o que quiser! Talvez as paredes gostem de ouvir, porque EU não tenho NENHUMA obrigação de ficar aqui ouvindo você falando mal da ÚNICA AMIGA QUE EU TENHO!! – disse enquanto se dirigia para o quarto.

         -Aonde você pensa que vai? – Verônica rapidamente se levantou e se posicionou entre ele e a porta do quarto – Essa conversa ainda não acabou.

         Ricardo respirou fundo tentando se acalmar, os punhos cerrados eram sinal de que não estava conseguindo. Se quem estivesse na sua frente não fosse sua mãe, certamente já teria levado um soco.

         -Eu não quero mais você com aquela garota.

         -Pois tente me impedir pra ver o que acontece!

         -Mas era só o que faltava agora, você ir contra mim por causa daquelazinha!

         -Eu não estou contra você! Só... Não estou a favor...

         -Mas é exatamente disso que eu estou falando! Aquela biscate tá te hipnotizando, ela tá tentando te seduzir!! Ela vai te tirar de mim!

         -Como assim? Que crise de ciúme é essa?! E não precisa xingar ela só por isso, respeito é bom de vez em quando, sabia? Mesmo porque... Se ela tá tentando ou não eu não sei, mas que ela conseguiu... – Ricardo deixou a frase no ar. Deixou as palavras saltarem de sua boca sem pensar e agora estava muito envergonhado.

         E Verônica agora simplesmente encarava Ricardo. Pouco a pouco a raiva foi tomando conta de seu corpo, dando ao seu rosto um colorido diferente... Até que finalmente explodiu.

         -Agora já chega! Isso foi demais pra mim, mocinho! – gritou num acesso de fúria – Você não fica nem mais um dia aqui!

         -Ah, ótimo!! Vai me expulsar de casa agora?

         -Claro que não! Eu vou te mandar pra passar uns dias na fazenda da sua avó!

         -O QUÊ??! – Ricardo agora parecia realmente assustado – Você não faria isso, faria?

         -Já fiz!

         -Mas lá só tem mato! O que é que eu vou fazer lá naquele fim de mundo?

         -Vai pensar. E vai tirar essas loucuras da sua cabeça. Essas coisas não existem!

         -Ah, qual é? Aposto que a vovó nem vai querer que eu vá lá agora... Ela deve estar muito ocupada com os assuntos de lá.

         -Você VAI para a fazenda da avó. Eu já falei com ela e ela adorou a idéia. Agora faça as malas que eu quero você lá ainda hoje!

         Ricardo entrou no quarto e bateu a porta com força. Estava quase tendo um acesso de fúria. Ele pegou o pequeno despertador que estava em cima da mesa de cabeceira e o atirou na porta com toda a força que pôde.

         -E não adianta quebrar o quarto que você vai do mesmo jeito! – ouviu a mãe gritar de algum lugar do apartamento.


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Notas finais do capítulo

.

E entãooo? Esclareci mais coisas ou deixei tudo mais complicado???
Particularmente eu acho que deixei umas coisas meio sem sentido nesse capítulo, mas meu objetico é justamente dar sentido à elas.

beijosmil, eu amo vcs!!
o/



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