A Rainha Branca escrita por luanafrotah_


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hello people!!
Como foi o feriado de vocês?? XD



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         O cachorro latia insistentemente e tentava se soltar da corrente. Um rapaz alto saiu da casa e tentou acalmá-lo. Olhou em volta, não havia ninguém. Era certo que cercas de arame farpado não davam muita proteção a uma propriedade, mas o mal que poderia invadir aquele local ultrapassava até a mais forte das muralhas.

          Tentou voltar ao trabalho, mas o animal não se aquietava, então decidiu investigar toda a propriedade, armado de um arco tosco e algumas flechas. Foi uma revista longa, mesmo assim não viu ninguém.

         Um ou outro carro passava na estrada, que era bem próxima, e ele sentia que o que quer que fosse estava vindo por lá. Entrou na casa e saiu de lá com um gordo pedaço de carne. Atirou-o para o cachorro, se algo iria realmente vir, que ao menos viesse em silêncio. Seus olhos escuros estavam fixos no caminho que dava para a estrada. Prendeu os cabelos, se fosse lutar, não seria aquilo que tiraria sua concentração.

         Estava chegando. Pôs a flecha no arco e mirou a porteira aberta. Aquele som não parecia ser de carro, o mal viria a duas rodas, então. O som foi aumentando gradativamente e finalmente uma motocicleta invadiu a propriedade, duas pessoas em cima, ambas com capacete. Parou com uma manobra rápida.

         O arco imóvel na direção dos intrusos, qualquer movimento brusco e dispararia. Um desceu da moto e tirou o capacete, era uma garota.

         -Ah, Deus... Eu tinha esquecido de como você era cismado. Nem todo mundo é inimigo, viu?

         -Mara! – Ele abaixou a arma e suspirou aliviado – pensei que fosse outra pessoa, ou outra coisa. Por que não avisou?

         -Por que ele é um apressado.

         -Quem...?

         -E aí? – Cumprimentou Ricardo com um aceno de mão – Você que é o cara? Cadê minha arma?

         -Como eu ia falando... Esse é o Ricardo. Ele é igual a nós. Minha espada não tem nada de errado, a arma que te pediram é pra ele.

         O Rapaz olhou Ricardo de cima a baixo e perdeu alguns segundos pensando. Em seguida se virou para Mara.

         -Eles já o ensinaram a lutar? – Ela balançou a cabeça negativamente – Sigam-me – falou ele entrando na casa.

         Não era muito grande. Os cômodos aparentavam ser bem pequenos e tinham móveis bem simples, mas a casa era toda decorada com armas. Havia arcos, lanças, espadas de todos os tipos e tamanhos e armas de fogo. A maioria delas era decorada com metais preciosos.

         Eles seguiram até um quarto nos fundos da casa. A sala que se escondia atrás daquela porta era tamanha que podia ser maior que o resto da casa. Nela, não se viam armas penduradas nas paredes, e sim projetos e desenhos. Ricardo reconheceu alguns, das muitas armas espalhadas pela casa, e o desenho da espada de Mara. Haviam, também, muitas mesas lá, abarrotadas de papéis e peças, pedaços de armas.

         O rapaz foi andando e parou, encostando-se em uma das muitas mesas.

         -Muito bem, Antes de qualquer coisa vamos esclarecer alguns pontos. Primeiro: o que eu faço aqui é muito resistente, de altíssima claridade, se você quebrar pode ter certeza de que é um completo inútil. Segundo: minhas armas não são para fracos, fracos são inúteis. E, por último: eu não costumo dar armas para quem não sabe lutar inda, então é bom você ter um motivo muito convincente ou nada feito! Alguma dúvida?

         -Eu tenho um bom motivo pra você: – falou Ricardo impaciente, agarrando a gola da camisa do outro – Eles mandaram!

         -Não podem me obrigar a isso – Respondeu o rapaz cruzando os braços serenamente, como se não tivesse ninguém estivesse grudado à gola da sua blusa.

         Ricardo procurou uma resposta em Mara, ela virou a cabeça para um lado e depois para o outro.

         -Ele está certo – falou ela – e eu só ganhei minha espada depois que me ensinaram tudo. Mas, Blank, sabe que esse é um caso sério. Eles não teriam te pedido isso se não fosse realmente necessário.

         -Nesse caso... – falou Blank pensativo – a arma é dele. Se... – Chegou bem perto de Mara – se você sair comigo.

         -Nem pensar! – Replicou ela, dando um empurrão nele e fazendo-o recuar alguns passos – Sabe, você já tem vinte anos e eu ainda tenho dezessete. Eu posso te denunciar, sabia?

         -Ok, ok, desculpa, era só brincadeira. Mas, sobre ele, você sabe que isso é um problema. Eu não sei no que exatamente ele é melhor, e assim, não sei o que dar para ele.

         Mara enfiou a mão no bolso traseiro de Ricardo, pegou a arma dele e atirou-a sobre a mesa.

         -Será que isso ajuda?

         Blank pegou a arma e a analisou por vários minutos.

         -Então quer dizer que você gosta de atirar, hein? – ele se dirigiu até outra mesa e, atirando ao chão a maioria das peças que estavam sobre ela, Pegou uma pistola e entregou a Ricardo.

         Ricardo pegou-a e a observou bem de perto. Ela tinha um estilo antigo, com um cano fino e longo, em prata, e um cabo pequeno e arredondado, decorado com uma madeira muito clara.

         -Modéstia à parte, eu acho que me superei quando fiz essa. Dá pra ver que ela é bem leve, é pra facilitar o manuseio dela. A força dessa arma está nas balas, elas explodem no alvo, como uma bomba de água benta. Se você ficar com essa, eu vou te mandar balas periodicamente, e...

         -São de prata também? – perguntou Ricardo fechando um olho e tentando olhar dentro do cano da arma – As balas?

         -Aí já é demais! Eu acabaria toda a prata do mundo se fizesse as balas de prata! Eu tenho sim, balas de prata – falou sorrindo – Mas é um estoque muito pequeno, elas ficam guardadas dentro de uma caixinha ali naquela mesa e são só pra vampiros!!

         -Blank, os vampiros estão extintos – declarou Mara – Foram exterminados há um tempão.

         -Eu sei, eu sei... Mas é só por precaução.  Afinal, nunca se sabe quando um par de dentes afiados pode aparecer – falou com os olhos brilhando.

         Ela revirou os olhos e deu as costas para ele. Sempre achou ridícula a obsessão que Blank tinha por vampiros. Como se ela não soubesse que todas as armas que ele faziam tinham prata “Só para o caso de aparecer um par de dentes afiados”

         -Então eu atiro com o quê?

         -Ora, com o quê? Você nunca viu uma bala convencional, não? Pois é a mesma coisa. Só... – Seus olhos começaram a brilhar novamente – que com umas pequenas modificações minha. Vamos lá! Dê um tiro! Em qualquer canto!

         Ricardo atirou na parede. Seus ouvidos demoraram um pouco para se recuperar do barulho, que era o mesmo de uma arma convencional. O cachorro começou a latir. Quando ele olhou para a parede viu que, do pequeno buraco que a bala fizera, escorria um fiozinho de água. Ele olhou para Blank.

         -Não vi nada de mais. Você já disse o que isso fazia.

         Blank fez uma careta. Não gostou dele. Não gostava de qualquer pessoa que não se impressionasse com suas invenções.

         Ricardo tirou as balas da pistola, pegou uma e a observou atentamente. Era feita de um metal escuro, mas a fração metálica era muito pequena. Havia um orifício que se abria na parte anterior e ocupava mais da metade da bala, deixando apenas cerca de um centímetro de metal maciço.  O diâmetro era praticamente o mesmo, abrindo saída de lados opostos da bala. Dentro desse espaço estava um pequeno tubo, de vidro muito fino, com água dentro, que Ricardo julgou ser água benta.     

         -Legal, né? – começou Blank empolgado. Em seguida pegou um rolo de papel e estendeu sobre a mesa. Os outros dois se aproximaram – No projeto original, a água ficava na parte de trás da bala – falou apontando alguns desenhos – mas o vidro é muito fraco e sempre quebrava na hora do disparo, então eu...

         Mara fingiu interesse, sabia que ele adorava ter com quem compartilhar suas idéias, mas Ricardo estava visivelmente entediado, e os latidos incessantes que vinham de fora pioravam seu humor.

         -Sim, claro... Mas... Só por curiosidade, eu vou ou não ficar com essa coisa? Claro que vai ficar com “essa coisa”. Mas como eu não sei no que você é bom, mesmo que eu soubesse, só isso não é suficiente. Então eu vou te dar um brinde, pra lutas corpo a corpo.

         Ele saiu da sala, sempre seguido pelos outros dois, e parou no corredor em frente a uma série de bastões de prata, organizados em seqüência, do menos para o maior. Pegou um com cerca de 40 centímetros e entregou para Ricardo.

         Parecia ser feito de prata maciça. A base formava um cilindro perfeito, mas, depois de um espaço suficiente para segurá-lo com as duas mãos, seu formato modificava, ia ficando mais achatada, de modo que sua extremidade era fina e afiada como uma faca. Quem observasse mais atentamente, perceberia dois riscos, bem superficiais nas bordas da lâmina.

         Ricardo segurou, sentiu o peso dele, em seguida o segurou firme com as duas mãos e ensaiou alguns movimentos no ar.

         -Até que gostei... Mas eu não posso ficar com aquele maior, não?

         -Ah, claro que pode... Se você quiser que todo mundo na cidade, inclusive a polícia, fique te parando o tempo todo pra perguntar o que um cara metido à rebelde como você faz carregando uma lança pra cima e pra baixo... – respondeu Blank num tom irônico – é toda sua. Mas se quiser alguma coisa fácil de esconder, eu recomendo essa aí mesmo.

         Ricardo não falou mais nada, apenas fez uma expressão de desprezo. Mara viu ao ouvi-lo resmungando que não era um rebelde. Mas ele não soltou a estaca de prata, ao contrário, segurou-a com mais força.

         Blank chamou-os para testar a arma. Os dois estranharam um pouco, afinal, bastava olhar para ela para saber que o que ela pode fazer é algo tremendamente óbvio. Mas ele não falou nada, e, com um sorriso, seguiu para a cozinha da casa. Isso mesmo, a cozinha. Então ele foi até a geladeira, abriu-a e pegou um melão razoavelmente grande e o pôs em cima da mesa.

         -Isso seria meu café da manhã, mas hoje ele vai servir para outros propósitos. Aí está: sua vítima. Ataque!

         Ricardo olhou para Mara com um olhar de dúvida. Ela deu de ombros e fez sinal para que ele seguisse as ordens de Blank.               

         Hesitante, ele se aproximou da mesa e encarou o melão. Inofensivo. Por que diabos ele tem que atacar uma fruta? É cada coisa que aparece no mundo... Levantou o bastão e, com apenas uma mão, enterrou-o com toda a força no melão. O golpe foi tão forte que, teve certeza, acertara a mesa também.

         E foi só. Ninguém falou nada nem fez mais nada, ficaram todo imóveis. Só o cachorro continuava latindo incansavelmente.

         -É só isso? – Perguntou Ricardo cético.

         -Claro que não! – Respondeu Blank com um sorriso maior ainda –A melhor parte vem agora. Basta você apertar esse botãozinho que fica aí embaixo.

         Ricardo quase não encontrou, era muito discreto, quase imperceptível, que ficava na base. Quando pressionado, deixou escapar das laterais duas hastes finíssimas, mas bem afiadas, que partiram o melão ao meio.

         -Caramba... Isso é legal – falou um Ricardo de olhos arregalados.

         -Sabia que estou começando a gostar de você? Faça isso, gire e puxe... - Blank fez um movimento com um bastão imaginário - e eu duvido que alguém possa resistir. Acho que vai fazer um bom uso disso. Sabe... Eu não ia te dar isso, não mesmo, essas belezinhas eram para ser exclusividade do meu anjo da guarda, mas a ocasião pediu...

         -Nossa – disse Ricardo surpreso – Não sabia que você era tão apegado assim ao seu anjo da guarda.

         -Você diz isso – Falou Mara pegando o bastão de prata e recolocando as hastes no lugar – porque nunca viu o anjo da guarda dele. Toma. – entregou o bastão para ele – e acho que vai precisar disso também – disse colocando a pistola na mão dele.

         -E por que eu precisaria?

         -Você reparou que aquele cachorro idiota não se calou nem um minuto? – Ricardo respondeu balançando positivamente a cabeça – e você já ouviu aquela história de que os cães conseguem ver mais que os homens? Está sentindo o enxofre? E lembra que eles no seguiram até aqui?

         -Quer dizer que... Se o cachorro tá latindo, é por que...

         -Isso mesmo. – Respondeu blank antes mesmo que Ricardo concluísse a pergunta – Dizem que os cães vêem coisas... E essas coisas já estão aqui. Pra ser mais preciso, na minha oficina.

         Todos correram para lá e foram prontamente cercados por nove demônios. Seis faziam um círculo em volta deles e três planavam sobre suas cabeças.

         Mara não se preocupou com o fato de ter deixado sua espada em casa, não há motivo para preocupações quando se está na oficina de um inventor de armas. Sem movimentos bruscos, Mara e Blank se aproximaram de uma mesa próxima para tentar pegar algo para se defenderem.

         Os demônios estavam parados, olhando e babando, esperando o momento certo. Esperando pelo desespero dos três ao verem-se desarmados, pela hora em que poderiam atacar sem resistências. Mas o sinal de resistência veio.

         Mais um disparo ensurdecedor partiu da arma que estava nas mãos de Ricardo, e em seguida mais outro, e um demônio despencou agonizando. Enfiou as garras no próprio corpo e retirou as balas. Olhou-as, viu o grande espaço vazio que elas continham e compreendeu. Era um plano que nunca falhava: a destruição vinda de dentro, sem meios de ser interrompida... Uma idéia realmente magnífica, mas que só funcionaria uma vez.

         -Balas com água benta...

         Foi o que balbuciou em meio a gargalhadas antes de sucumbir à dor. Suas entranhas queimavam e seu corpo estava em brasas. A última coisa que seus olhos escarlates viram antes de se desfazerem em névoa negra foi a aparição de três pontos de luz acima dos três garotos.

         Numa fração de segundo, mais névoa negra pairava rente ao teto. Os outros dois demônios alados estavam liquidados. A partir daquele momento estavam empatados, seis contra seis.

         A cena que se seguiu foi muito rápida. Mara pegou a primeira coisa que sua mão alcançou, uma flecha, e Blank pegou uma espada inacabada e cada um tomou seu par.

         Dois demônios foram facilmente combatidos, mas Mara estava em apuros, não era fácil lutar com uma flecha sem arco; e Michael estava tendo dificuldades, pois sua missão era salvar Mara e ele não conseguia lutar com outros objetivos em mente.

         Blank procurava desesperadamente o arco, tinha que estar em algum lugar daquela sala. Gritava ao seu anjo que fosse procurar do outro lado da sala quando Michael conseguiu atirar seu demônio para longe.

         Ricardo também não estava tão bem assim. Ele simplesmente corria, com um demônio em seu encalço. A parede à sua frente se aproximava cada vez mais, estava em um beco sem saída. De repente o demônio, que estava atrás dele, em um salto se interpôs entre ele e a parede.

Deu um sorriso escancarado e ergueu as garras, pronto para atacar, até que sentiu um metal frio adentrando sua carne. Olhou para baixo, Ricardo havia enterrado a estaca de prata nele. Ergueu os olhos cheios de desdém e malícia para o garoto, estava vivo. Então ouviu um ruído sutil e sentiu sua carne ser cortada. Deu uma gargalhada. Só aquilo não era suficiente.

Ricardo, então, lembrou das palavras de Blank: “gire e puxe”. Ele girou e o demônio contorceu o rosto com a dor, e puxou, não para fora, mas para cima, e viu a cabeça do demônio se partindo em duas antes do demônio todo se transformar em névoa. Um suspiro de alívio, deixou os ombros caírem relaxados, conseguira afinal.

Então ouviu uma voz feminina.

-O garoto, está indo para o garoto!

         Todas as atenções se voltaram para lá. O demônio que Michael não tivera o cuidado de matar estava avançando para Ricardo. Ele se preparou para lutar novamente, as hastes saltaram do bastão. Natã empunhou a espada e se posicionou na frente do garoto.

         O bicho saltou, pronto para a briga. Uma flecha passou zunindo, e de repente, a cabeça dele estava mutilada junto à parede. Natã finalizou o trabalho separando habilmente corpo e cabeça. Todos olharam para trás. Mara segurava o arco ainda erguido.

         -Eu sempre disse que minha especialidade é o arco e flecha! Hmm? O que vocês tão olhando? Acabou... Nós matamos todos.

         Soltou o arco em qualquer canto e sentou no chão. Os outros dois se aproximaram dela e fizeram o mesmo.

         -Então quer dizer que eles estavam colados em você desde que saíram da cidade e vocês não me falaram nada?

         -Ah, foi mal, Blank – Mara deu um sorriso amarelo – você estava tão empolgado que eu acabei esquecendo de falar...  Mas eles falaram pra ela! – apontou para o terceiro anjo.

         O terceiro anjo era bem feminino. Ostentava formas bem femininas, com um corpo bem feito, um rosto delicado, mas dotado de uma seriedade incrível, e uma longa trança que descia até a altura dos quadris. Flutuava serenamente acima dos três garotos. Blank encarou-a.

         -Você sabia, Sarina? – Ela fez que sim com a cabeça – Bom... Isso não muda o fato de que eu não sabia!

         -Ora, vamos... Estamos todos vivos, não estamos?

         -Mas eu não tive tempo de me preparar!

         -Sinto muito – disse Mara levantando – se você não pôde mostrar ao Ricardo como você é forte e poderoso. Mas eu acho que, mesmo que você tivesse essa oportunidade, ele não ia poder te ver porque estaria muito ocupado com a própria luta, pra te ver. Mais alguma coisa? Sabe como é, se demorar mais um pouquinho só, vai anoitecer antes da gente sair da estrada.

         -Não, acho que não, é só isso mesmo – Blank levantou também - Podem ir se quiserem. Mas você tem certeza que não quer ficar mais um pouco, hã? Você não vai se arrepender, eu garanto!

         Mara levantou uma sobrancelha.

         -Alguma coisa me diz que eu me arrependeria instantaneamente no momento em que eu aceitasse ficar aqui com você.

         -Ah, qual é? Não precisa ser tão cruel, basta dizer não... – falou Blank ofendido.

         -Eu digo isso há dois anos, mas não adianta muito. Vamos, Ricardo?

         -Espera um pouco só! – falou ele correndo para o outro lado do laboratório – eu ainda quero aquele meu revólver de volta.

         -Aquela coisa velha? Ah, pra que isso? Deixa ele por aqui mesmo, se eu tiver a fim eu dou uma melhorada nele...

         -Nada disso! Ela era do meu avô e eu quero de volta!

         Ricardo começou a revirar todas as mesas à procura da arma e Mara saiu para esperá-lo do lado de fora.

 

***

 

Mara estava encostada na parede, os olhos virados para o céu, a mente perdida em um pensamento qualquer. O vento estava pouco e fraco, mas suficiente para fazer balançar a folhas das palmeiras próximas. Sempre achou aquele farfalhar de folhas muito agradável, trazia-lhe uma boa lembrança.

         Uma lembrança de quando era simplesmente uma garota, e tudo o que fazia era conversar com eles, os espíritos, e ajudá-los a ir para o céu, inferno ou onde quer que fosse; dos seus amigos, que eram poucos, mas eram amigos, que eram todos fantasmas, que estavam mortos, mas que ainda assim eram os únicos amigos que possuía. E, acima de tudo, a lembrança do dia mágico em que conhecera Michael, naquele lugar isolado, aquela cabana no meio da estrada.

         Uma bola de tênis vem rolando até seus pés. Um grande pastor alemão corre até a bola, a pega, e a leva de volta para Michael. O anjo a pegou e atirou novamente, e lá foi o cachorro pegá-la. Antes que o cão voltasse, Michael alçou vôo e o cachorro ficou dando saltos em suas patas traseiras. Ela sabia o quanto ele gostava de cães, segundo ele, criaturas dóceis e fiéis.

Ela continuava olhando para ele, e para o seu sorriso radiante enquanto ele brincava com animal, lembrando que quase viu aquele mesmo sorriso quase apagando no dia em que o encontrou ensangüentado, derrotado depois de uma dura batalha que ela não acompanhara. Cuidou dele com a dedicação que uma mãe remete a um filho, e ficou ao lado dele naquela noite chuvosa, em que apenas um cobertor não era suficiente para aquecer o frio. Aquela noite... Mas aquilo foi quando ele ainda não era seu anjo da guarda, e ela mal conhecia o mundo deles.

Continuou olhando para ele, a criatura mais linda que já viu n vida, o ser mais radiante de todos os mundos... O observava com um pedido mudo. Ele percebeu o olhar dela. Então voltou a chão, abraçou o enorme cão e sussurrou qualquer coisa para ele. Quando Michael o soltou, ele foi correndo até Mara e pulou em cima dela. Ela tentou esquivar, mas não conseguiu. Por que Michael fez isso? Ele sabia muito bem que ela odiava cães, eles são barulhentos, e... Eles têm um focinho muito... frio.

Ricardo saiu da casa e apressou Mara. Os dois sumiram na moto. Michael chamou o cachorro, o recolocou na coleira e sumiu de vista.

-Aquela é o anjo dele? – Ricardo perguntou para Mara.

-É. E não fale dela assim com esse seu pensamento distorcido.

Ricardo deixou escapar um assobio longo.

-Ai, ai... Se fosse eu com um anjo daqueles...

-Eu já falei – Mara deu um beliscão no ombro dele – pra não falar dela assim. E cuidado com o que fala, os anjos são muitos sensíveis, Natã pode não gostar de ouvir isso.

Ouviram Blank gritando dentro da casa. Um urro de raiva.

-Opa! Tá na hora de ir. – declarou Ricardo dando partida na moto.

-O que você fez dessa vez? – Perguntou uma Mara desconfiada.

-Eu? – Perguntou ele com uma falsa inocência – Nada. Nadinha!

E a moto arrancou em direção à estrada.


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Notas finais do capítulo

***

Não vou falar muito, tou com um pouquinho de pressa =X
Não deu tempo revisar então relevem qualquer coisa, tá??

/beijomeliga
=*



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