A Rainha Branca escrita por luanafrotah_


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Ok, sem descuplas esfarrapadas, eu demorei uma eternidade e assumo a culpa. Ponto final.
Só espero que vocês não tenham desistido de mim... =3
Eu demorei tanto que até atropelei meu beta, espero que ele não me odeie por isso x.x
Então já que eu atropelei meu beta, vamos fazer uma betagem em tempo real: Vocês vêem o erro, me dizem qual é e eu vou lá e corrijo, belê?

Então taí mais um capítulo pra vcs, queridos!



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         -O QUE RAIOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – Mara gritou, logo que passou pelo portão do prédio, para o rapaz de cabelos compridos que a esperava na calçada.

         -Eu vou muito bem, e você? Você dormiu bem? - ele respondeu como se a garota na frente dele não estivesse furiosa com ele.

         -NÃO! Eu tive uma noite péssima e acordei com o humor pior ainda – Mara fechou os olhos, quase podia sentir a dor de cabeça voltando – Mas que droga Blank, o que você quer? Você tem idéia do susto que eu levei quando vi Sarina me olhando da janela?  

         -Então você me desculpa, tá? Desculpe se eu me preocupei com você. Nossa – ele resmungou – a gente não pode mais nem se preocupar com os amigos hoje em dia...

         Depois de descontar metade de sua raiva em Blank, Mara finalmente olhou direito para ele. Ele estava encostado em um carro branco, ou de qualquer cor que um dia já foi branco. Eu um carro de modelo bem antigo tipo anos oitenta, ou talvez setenta, Mara não entendia nada de carros. Do banco do carona, o grande pastor alemão latia para ela.

         Blank continuava olhando para ela. Estava com os braços cruzados e usava um gorro preto. Típico dele, ela pensou.

         -E você estaria preocupado comigo por quê...?

Ele olhou atentamente para os dois lados e depois para ela novamente.

-Você não vai me convidar para entrar? Oferecer um café ou um suco?

-Nem morta eu deixo você entrar na minha casa com essa coisa – ela apontou para o cachorro com desprezo.

-Ah, não fala assim do Johnny! Coitadinho, ele não fez nada pra você... – ele fez um carinho na cabeça do animal, que agora latia incessantemente na janela do carro.

O rapaz abriu a porta do automóvel e deixou o cachorro correr livremente pela rua. Em um pulo, o cão estava em cima do capô do carro e rapidamente subiu no teto e começou a latir para Michael e Sarina, que conversavam lá no alto.

-Você espera, então, que a gente fale sobre isso aqui?

-Na verdade sim – ela respondeu um pouco mal-humorada – ou é tão importante assim? O que te faria gastar seu precioso tempo comigo?

-Ei! Eu sei das coisas, viu? E eu sei o que está acontecendo com você e com aquele sem-vergonha do seu amiguinho!

-É mesmo? E o que está acontecendo, eu posso saber?

-Bom... – Blank começou a falar com um ar de gênio – Primeiro tem essa coisa dos demônios seguindo ele e demônios na janela dele e tudo mais... E, de repente, aquele marginalzinho some de circulação. E agora tem demônios na sua janela. Me diga você: eu deveria ou não me preocupar?

Mara parou e pensou um pouco sobre o que ele disse. Até que fazia sentido, mas como foi que ele ficou sabendo tão rápido dos demônios? Talvez isso fosse o de menos dessa história. Afinal, não era a primeira vez que Blank se preocupava com ela, mas dessa vez ela achava, realmente, que ele estava se preocupando muito por pouca coisa. A não ser que...

-Blank, escuta... Me diz uma coisa: você tá com raiva do Ricardo? Eu reparei na maneira como você falou dele, não foi muito amigável, se você quer saber.

Ele fechou a cara.

-Eu? Com raiva dele? Ah, imagina... Eu só quero acabar com a raça daquele maldito! Eu vou esganar aquele cretino daquele tratante sem-vergonha – ele falava agora com um ódio mortal na voz, enquanto reproduzia com as duas mãos o gesto de estar estrangulando uma pessoa.

-Mas Blank – ela perguntou um pouco assustada, até esqueceu o mau-humor – o que foi que ele fez pra você ficar com tanta raiva dele?

-Aquele cretino... – Blank repetia, Mas estava com tanta raiva que não conseguia concluir a frase.

-Ele roubou as balas de prata de Blank – Sarina apareceu atrás dele. Michael estava ao lado dela brincando alegremente com Johnny.

Quando ouviu aquilo Mara teve que se esforçar para segurar o riso. Era tão comum em Blank, ele ter aquele comportamento quando mexiam nas coisas dele e, apesar de não ver motivos para isso ter acontecido, aquilo seria uma coisa a se esperar de Ricardo, já que ele ficara encantado com aquelas balas quando foram visitar Blank.

-Então é só isso? – ela perguntou, propositadamente, com um descaso exagerado.

-Como assim “só isso”? – Blank revidou indignado – sabia que por causa disso eu tive que fazer mais delas?

E naquele momento Mara não agüentou mais e começou a rir alto. Como se ele não estivesse sempre procurando uma desculpa para fazer mais balas de prata. Não que fosse exatamente proibido fabricá-las, mas seria um desperdício considerando que elas só são eficazes contra vampiros e que vampiros estão extintos.

         -Você devia estar feliz por ter encontrado uma razão pra fazer mais delas.

         -Nossa... Olha só pra minha cara de pessoa feliz – ele a encarou com um olhar que era um misto de raiva e ironia – eu só vou ficar feliz quando tiver minhas balas de volta!

         -Ah, qual é? Deixa ele ficar com elas, ele nunca vai encontrar uma ocasião pra utilizá-las mesmo...

         -Mas de jeito nenhum! Fui eu quem fiz, elas são minhas!

         -Tinha me esquecido de como você é uma pessoa altruísta... – Mara disse com um suspiro antes de mudar o assunto. Não era saudável discutir sobre aquilo com Blank – Então... Mas já que você está aqui e já que eu estou muito bem, obrigada, o que você pretende fazer agora?

         -Não sei, não tinha pensado nisso. Eu não estou a fim de voltar pra casa agora, faz tanto tempo que não venho aqui... Acho que vou dar umas voltas por aí e procurar algum lugar pra ficar, talvez investigar alguma coisa estranha pela cidade e caçar um pouco.

         -Faça o que quiser. Mas eu vou logo avisando: Não tem acontecido muita coisa de interessante por aqui ultimamente, você só vai perder tempo. Já posso voltar pra cama agora? – ela perguntou dando um bocejo.

         -Pra cama?! Já está quase na hora do almoço e você ainda quer dormir?

         -Claro! – Mara respondeu com outro bocejo – caso você tenha esquecido, os demônios na minha janela não me deixaram dormir ontem à noite.

         -Ah, é... Então a gente se fala mais tarde?

         -É... Pode ser... – Ela respondeu sem emoção, com um aceno de cabeça.

         Blank entrou no carro com Johnny enquanto Mara deu meia volta e se dirigiu ao portão de entrada do prédio. Mas antes que ela pudesse entrar, a buzina estridente do carro de Blank lhe chamou a atenção. Ela se virou e encarou um Blank Sorridente.

         -Você quer vir comigo?

         -Qual parte do “Eu quero dormir” você não entendeu? – Ela respondeu furiosa - Eu iria com você ao invés de dormir por quê...?

         -Eu só estou te convidando amigavelmente pra almoçar. Talvez se você der umas voltas pra espairecer um pouco, esse seu péssimo humor melhore.

         Mara continuou olhando para ele, pensando se aceitava ou não o convite.

         -Dá pra você me responder ainda hoje?

         -Não – a garota resmungou antes de dar as costas para Blank.

         Ele buzinou novamente.

         -Não, você não vai sair comigo ou não, você não vai me responder ainda hoje?

Mara continuou calada e se limitou a olhar para Blank de uma maneira nada amigável.

-Não seja chata... A gente almoça, no lugar que você quiser, conversa um pouco, você me fala sobre o que aconteceu ontem... Então, o que você me diz?

         -Tá, tudo bem, você venceu – ela respondeu um pouco a contragosto – espera só eu trocar de roupa.

Mara subiu e se arrumou sem pressa. Ainda não estava totalmente convencida e não estava nem um pouco preocupada com o quanto Blank teria que esperar. Demorou mais que o normal para escolher o que vestir e o que calçar. Quando finalmente estava pronta, deixou sobre a mesinha da sala um bilhete para a mãe. “Saí com um amigo, talvez demore para voltar.” Olhou bem para o bilhete, pensou e lembrou que Blank estava querendo caçar um pouco. “Você não vai querer saber o que estou fazendo.” Completou antes de finalmente descer e encontrar um Blank muito impaciente esperando por ela.

Almoçaram em um restaurante bem simples e ficaram um bom tempo conversando sobre coisas triviais, depois deram algumas voltas de carro pela cidade e constataram que tudo estava estranhamente calmo. Como não encontraram mais nada para fazer, Mara decidiu finalmente falar sobre o ocorrido na noite anterior. Eles pararam na praia, em um local mais afastado, sentaram na areia e ela falou sobre tudo, sobre o sonho, sobre Michael não estar lá e como depois descobriu sobre os demônios.

Blank ouvia tudo atentamente, não se via nele a postura brincalhona que ele costuma ter sempre. Quando Mara acabou de falar ele encarava o nada, sério e pensativo. Esperou um bom tempo antes de finalmente falar.

-Eu não posso imaginar como isso foi pra você... Aqueles malditos conseguem fazer tudo parecer muito real.

Um minuto de silêncio. Blank olhava para Mara enquanto ela brincava com os dedos na areia.

-Mara, você sabe... Por mais que tenha parecido real, aquilo não foi de verdade – como não teve resposta, ele acrescentou – Ele nunca tentaria te matar. Você sabe disso.

Mais silêncio.

Blank perguntou o que ela sentia, naquele momento, em relação a Ricardo e ela se encolheu e abraçou os ombros em resposta.

-Eu entendo você... Mas você não pode ficar assim por algo que não aconteceu, não pode ficar com medo dele por algo que ele não fez.

-E se ele fizer?

-E por que você acha que ele fará?

-Eu... Eu não sei... Ele não está aqui agora, eu não sei o que ele está pensando ou o que está fazendo. E se ele realmente... E se Michael não... – a voz morreu no meio da frase. Ela se encolheu novamente, abraçando as pernas.

-Mara...

Blank olhava para ela e podia ver a mágoa e o medo. Ele nunca a vira abalada daquela maneira. Não que o que houve com ela tenha sido algo simples, mas talvez houvesse alguma coisa a mais que a fizesse ficar daquela maneira.

-Então... Eu vou ter que ler a sua mente ou você vai me dizer do que mais você tem medo? Por que você está tão convicta de que o Ricardo vai mesmo te matar?

-Os Demônios na Janela... – ela falava mais para si mesma que para Blank.

Ele não disse nada, apenas ouviu.

-Você disse... Que tinha demônios na janela dele também. Eu sabia que ele estava sendo seguido por demônios, mas não sabia esse detalhe. Isso quer dizer que os sonhos dele eram manipulados por demônios, como o meu foi ontem à noite.

-Aonde você quer chegar? – O Rapaz parecia meio confuso agora.

-Ele tinha esses sonhos... Com aquelas garotas que morreram. Ele via a morte delas... E então elas morriam. Os demônios mostravam o futuro para ele!

Então era isso. Olhando por esse ângulo tudo fazia sentido, o medo dela estava totalmente justificado. O que não fazia sentido era Ricardo tentar matá-la.

-Você está com medo que aconteça de verdade, não é? – Mara ouviu a voz compreensiva de Blank – Está com medo de morrer...

-Eu não estou com medo de morrer! Eu estou com medo de que Ricardo faça isso. Não quero que as coisas aconteçam como no meu sonho... Ele não estava lá.

Mara sentiu os braços de Blank envolvendo seus ombros. Era um abraço caloroso e confortante, sem malícias nem segundas intenções. Simplesmente um abraço compreensivo de um grande amigo.

Ela retribuiu e não falou mais nada. Blank podia ter todos os defeitos do mundo, mas era um bom amigo no fim das contas.

E Blank deu a Mara todo o tempo que ela precisou. Se por acaso ela tivesse caído no sono ali, ele não se moveria até ela acordar. Nem um centímetro. Ela estava tão imóvel dentro daquele abraço que por um momento ele realmente pensou que ela estava dormindo. Até que ela falou novamente.

-Um dia... – ela começou, sem sair do abraço – eu estava aqui, nessa mesma praia, e tinha um demônio. Eu ia morrer, sabe? Aquele cretino mantinha minha cabeça bem segura embaixo d’água. Mas eu não morri... Não morri por que o Ricardo salvou a minha vida.

Uma onde quebrou com mais força chamando a atenção de Mara. Ela agora olhava para o Mar e pensava. Era engraçado como o dia em que Ricardo a ajudara parecia ter sido há tanto tempo, quando na verdade só fazia alguns meses. Será que ele teria mudado tanto assim em tão pouco tempo?

As mãos de Blank a tiraram de seu devaneio. O rapaz segurava o rosto dela com as duas mãos e a fazia encará-lo. Ele sorriu para ela.

-Isso não vai acontecer – ele declarou com firmeza – Eu não vou deixar. Nem que eu tenha que ficar aqui te vigiando até ele voltar! Se precisar eu amarro o Michael em você com uma corrente de titânio pra ele não sair nunca de perto de você!

E Mara não conseguiu evitar o leve sorriso ao ouvir aquelas palavras.

-Bem melhor assim – Blank declarou antes de levantar e limpar a areia da roupa – Acho melhor a gente ir agora. Olha só, tá ficando tarde e eu ainda preciso encontrar um lugar pra dormir. E Preciso encontrar um bom lugar, já que eu não sei quando o imbecil do seu amiguinho volta e o meu dinheiro não dá nem pra passar duas noites em um hotelzinho barato.

-Ah, isso não vai ser difícil. Toda vez que você vem aqui você sempre se enfia na primeira casa vazia que você vê com essa mesma desculpa – ela continuou sentada olhando o último raio de sol desaparecer no horizonte.

-Mas o fato é... – ele estendeu a mão para Mara, convidando-a a levantar – que eu não sei quando o Ricardo volta. E não dá pra ficar em uma casa vazia por tempo indeterminado sem que as pessoas notem, ainda mais nas vizinhanças super seguras que eu encontro.

-Como se você se importasse com isso – Mara retrucou enquanto tentava tirar a areia dos sapatos – mas você sabe que tem um lugar que pode ir sempre que quiser. Ele te receberia por quanto tempo você precisasse ficar

-Eu não vou pra lá – Blank rosnou. De repente era ele que parecia estar de mau humor.

-Tá bom, não precisa reagir assim! Eu só pensei que pudesse ser uma boa idéia, afinal já está mais que na hora de...

-Foi uma péssima idéia.

Sem mais nenhuma palavra, Blank foi andando a passos rápidos para o carro. Mara o seguiu calada, não queria falar mais nenhuma coisa que piorasse a situação. Os dois entraram no automóvel e ele começou a dirigir sem rumo.

***

         Mara olhava através da janela do carro. Lá estavam eles de novo, nas ruas de ar esquisito, andando em baixa velocidade, examinando as casas abandonadas procurando um lar provisório para Blank. Por alguma razão desconhecida para Mara, Blank nunca ficava no mesmo lugar quando ia visitar a cidade, então sempre tinham que procurar um novo lugar, o que ela achava muito incômodo e totalmente desnecessário.

         E foi enquanto observava as casa velhas que uma idéia subitamente lhe veio à mente. E por que não? Já que é pra ficar em uma casa vazia...

         -Será que ele ficaria com raiva? - ela pensou em voz alta sem perceber.

         -Como? Quem ficaria com raiva? – Blank olhou meio confuso para Mara

         -Ah, é que... Eu acho que sei de um lugar ideal pra você passar a noite! Prepare o saco de dormir ou o que quer que seja.

         Então Mara guiou Blank até um casarão meio velho. Os dois saíram do carro e entraram sorrateiramente na casa com uma lanterna iluminando fracamente o caminho deles.

         -Eu sei que as velas estão em algum lugar por aqui... Você por acaso teria fósforos ou um isqueiro?

         Blank entregou para Mara um bonito isqueiro azul e ela foi rapidamente atrás das velas. Ele realmente estranhou a familiaridade dela com a casa.

         -Achei! – Ouviu Mara gritar do outro lado do cômodo.

         Ela ascendeu uma vela e a fixou no chão, depois ascendeu mais uma vela em outro canto da sala e em seguida sentou no primeiro degrau da escada com a terceira vela próxima dela. E assim a grande sala de estar estava iluminada.

         -Voilá! E então, o que acha?

         Maravilhado, Blank olhava tudo à sua volta. Era incrível como aquela iluminação dava um ar misterioso ao lugar. A sala de estar, muito ampla, não estava totalmente livre de mobília, a luz fraca deixava distinguir as silhuetas de alguns móveis velhos encostados à parede além de portas que davam entradas para quartos escuros. Naquele momento, Blank mal conseguia manter a vontade de explorar aquela casa de baixo e de revirar todos os cômodos ao avesso.

         -O que eu achei? - ele perguntou com os olhos brilhando de empolgação – Eu podia morar aqui!

         -À vontade – ela fez um gesto de descaso com a mão – se você não se importar de dividir a casa... Pode ficar o tempo que quiser.

         -Você não tinha dito que essa cara era abandonada? Então com quem eu teria que dividir? – Blank perguntou, mas já sabia a resposta.

         -Ah, você sabe... É um fantasma. Um senhor muito simpático por sinal. Não sei por que ele está aqui há tanto tempo, mas...

         -Oh, Mara! Mara, Mara, Mara... – O rapaz repetia o nome dela enquanto sentava ao seu lado na escada, mas estava tão empolgado que mal conseguiu ficar dez segundos sentado – Essa casa é um achado, ela é incrível! Como foi que você chegou aqui?

         -Ricardo – ela respondeu sem emoção – essa casa é dele, a mãe dele cresceu aqui. Ele me trouxe aqui umas duas vezes... Ele não gosta muito quando as pessoas entram aqui e fazem a casa de hotel. Na verdade ele odeia isso, mas como você sabe, no momento eu estou pouco me lixando para isso.

         Blank, ao ouvir aquilo, se virou para Mara. O olhar não era mais de empolgação, e sim um pouco malicioso.

         -Então você me trouxe pro ninho de amor dos pombinhos? Se ele voltar, ele não vai ficar com raiva por vocês não terem mais onde namorar? Tem certeza que ele não vai achar ruim eu ficar aqui.

         A vela que estava no chão, ao lado de Mara, de repente estava voando na direção de Blank, sorte que ele tinha bons reflexos e tudo o que a vela atingiu foi a parede.

         Mas você não perde a chance de ficar calado, né? A gente não fazia nada de mais, só conversávamos um pouco, e além disso...  ela recostou-se à parede e deu um suspiro - ...eu não tenho boas lembranças desse lugar.

         -E tudo indica que você vai continuar sem ter.

         A princípio Mara não entendeu por que Blank tinha dito aquilo, mas ao vê-lo com o rosto muito sério e o olhar fixo no andar de cima ela teve um suspeita não muito boa, que confirmou ao olhar ela mesma para o topo da escada.

         Havia um homem parado lá.

         Era um homem jovem, parecia ter talvez uns trinta anos. Seu rosto parecia muito pálido, mas talvez fosse a iluminação do ambiente, ou seus cabelos muito escuros. Ele começou a descer as escadas lentamente e Mara se amaldiçoou por ter deixado lá no carro qualquer coisa que pudesse ajudá-la a se defender naquele momento.

         O silêncio imperava no local enquanto ele se aproximava, nem os degraus de madeira da escada ousavam ranger. Ele parou a dois degraus de Mara, que ainda estava sentada e o observava sem esboçar reação alguma, pôs a mão no bolso da calça, mas antes que pudesse tirar o que quer que fosse de lá foi empurrado por Blank, que em seguida puxou Mara pelo braço, tirando-a de perto daquele homem.

         -Mas será possível – exclamou Mara, agora com uma profunda indignação – que eu não possa vir pra essa casa sem ser atacada por ninguém?

         -Mas eu não quero atacar ninguém! – o homem levantou as mãos em sinal de rendição, ainda meio desequilibrado devido ao empurrão de Blank – De onde vocês tiraram essa idéia?

         Os dois garotos continuavam a encará-lo, sem saber direito o que fazer naquela situação.

         -Então... Vocês vão ficar aí só me olhando ou vão dizer quem são vocês e o que estão fazendo aqui? – o estranho perguntou tentando ser o mais amigável possível.

         -Nós é que te perguntamos isso! – Blank respondeu em um tom nada amigável – quem você pensa que é pra sair invadindo a casa dos outros assim?

         -Oh! Me desculpe, essa casa é sua? – ele respondeu com um ar surpreso e um gesto quase teatral, que Mara achou um tanto exagerado – Eu não fazia idéia de que alguém ainda morasse aqui. Minhas sinceras desculpas.

         -Você ainda não disse quem é – o rosto de Blank se mantinha impassível, mas ainda com aquele ar ameaçador que conseguia intimidar qualquer um.

         -Meu nome é Jonas, eu sou um josnalista. Aqui estão meus documentos se vocês quiserem ver – ele tirou a carteira do bolso e a atirou no chão, aos pés de Mara – Não que eu deva isso a vocês, certo? – ele completou com um riso discreto, em um tom de quem falava mais para si mesmo que para os outros.

         Enquanto pegava a carteira do chão, Mara não desviou o olhar desconfiado de Jonas. Depois começou a examinar a carteira sem pressa, enquanto ele continuava seu discurso.

         -Como eu já disse, sou um jornalista. E estou trabalhando nessa matéria sobre drogas, e ouvi falar que esse bairro, esse local, era um foco de distribuição, então eu decidi vir dar uma investigada. Eu entrei nessa casa por que ela me pareceu um lugar seguro, fora o fato de que aquela janela do segundo andar tem uma visão perfeita da rua, e...

         -Pode apostar que tem – Mara interrompeu secamente o discurso de Jonas – mas infelizmente você não vai mais poder ficar aqui, senhor. Se você puder, por favor, procurar outro esconderijo ou ir pra casa nós agradeceríamos muito.

         -Oh, sim! Com certeza farei isso. E me desculpem novamente.

         Ele pegou sua carteira de volta e apertou a mão de Mara. Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao apertar a mão gelada dele.

         -Mãos frias... – ela comentou, tentando disfarçar em um meio sorriso a sensação estranha que sentiu.

         -É, estava um pouco frio lá em cima – Jonas sorriu, soltando a mão dela – entõ é isso. Estou de saída agora!

         Sem falar mais nada, e acompanhado pelo olhar fixo dos dois, Jonas deixou a casa. Blank respirou fundo e deixou seu nível de adrenalina baixar um pouco antes de falar qualquer coisa.

         -Bom... Isso foi...

         -Estranho – Mara completou – Ricardo nunca me disse que essa rua era ponto de venda de drogas.

         -Vai ver ele não quis te dizer que era um drogado também – ele brincou.

         -Claro que não é isso! – ela respondeu à brincadeira com um soco no ombro dele.

         -Nossa – ele massageou de leve o ombro – Você foi tão educada com aquele cara, por que você não pode ser assim comigo também?

         -Porque eu só sou educada com quem merece – Mara disse antes de mostrar a língua para o rapaz.

         -Ok! – Blank ignorou totalmente o gesto dela – acho que isso encerra a nossa aventura noturna! Vem, vou te levar pra casa agora.

         Mara não protestou, apesar de achar que era muito cedo para voltar para casa. Apagou as velas e seguiu Blank, que ia andando animadamente até o carro, aonde Johnny dormia tranqüilamente no banco de trás. Antes de entrar no carro ela deu uma boa olhada na rua, estava totalmente deserta, ela não via sinais de traficantes ou usuários. Passou pela sua mente que o tal Jonas estivesse investigando os locais errados, mas ela não teve pena dele.

         Ao chegar em casa, a mãe não pediu explicações e Mara não as deu. Mãe e filha jantaram juntas e depois foram deitar. Mara teve certas dificuldades para dormir, as lembranças do sonho da noite anterior ainda a assombravam, mas Michael ficou com ela, a acalmou e velou até que ela conseguisse um sono tranqüilo.

***

         Apesar da noite mal dormida, Mara acordara bem disposta na manhã seguinte. Não que estivesse disposta a ir à escola ou a prestar atenção em todas aquelas aulas chatas, mas não ia faltar à escola para ter Blank pegando no seu pé o dia todo.

         Mara estava com uma sensação de que coisas boas poderiam acontecer naquele dia, e isso era suficiente para deixar seu bom humor nas alturas. Colocar o horrível uniforme azul, cinza e branco da escola não pareceu tão ruim assim, nem sair de casa com uma mochila pesada como chumbo nas costas. Quando entrou na sala de aula e cumprimentou os amigos, Patrícia foi correndo até ela, como se não a visse há anos, ela estava mais feliz, mais animada e mais ansiosa que o normal.

         -Você já soube? – a garota quase atropelava as palavras na pressa de falar – Eles disseram ontem! Disseram a data de festa, aonde vai ser a festa, como vai ser a festa, disseram tudo!

         -Opa, Calma aí! Espera só um minuto... – Mara segurava a amiga pelos ombros tentando acalmá-la um pouco – Pára pra respirar, menina! Que festa é essa que você está falando?

         -A festa que o pessoal da outra turma tá organizando, pra comemorar a sobrevivência ao primeiro semestre do terceiro ano – Mário apareceu atrás de Patrícia – Essa louca só sabe falar disso desde ontem. O evento do ano – ele ironizou.

         -Mas vai ser a festa do ano! – Patrícia voltou a falar animadamente – uma festa à fantasia no meio do ano! Eu adooooro festa à fantasia, vai ser como um halloween fora de época, ainda mais naquele clube LINDO que eles conseguiram pra fazer a festa! Você sabe, não é, Mara? Aquele que fica perto da praia e que eu sempre tive vontade de conhecer... Nem acredito que vou finalmente entrar lá! E também tenho que arranjar uma fantasia muito boa! Eu tava pensando em ir com aquela fantasia básica de enfermeira, mas eu acho que se eu emagrecer uns dez quilos eu posso ir de odalisca ou de dançarina de ula, o que você acha?

         Quando patrícia acabou de falar Mara parecia anestesiada, não estava realmente absorvendo o que a Amiga dizia. Ela até riu quando Mário comentou que patrícia deveria ir vestida de doente mental, mas ignorou o ataque de raiva da garota ao ouvir aquilo. Uma festa... Isso é uma coisa boa, pensou, indo sentar em seu lugar ao ver o professor entrar na sala.

         Nem mesmo a presença dos professores na sala foi capaz de acalmar patrícia, que não calava a boca um minutos sequer e quase foi expulsa de sala no segundo horário. Durante o intervalo ela pensou em todas as fantasia possíveis para Mara. Segundo ela, Mara ficaria bem vestida de bailarina, mulher das cavernas, dançarina de can-can, média, policial, Marylin Monroe, princesa e infinitas outras. Patrícia falava tanto que Mara já estava quase desistindo da festa.

         Mas felizmente Patrícia estava bem mais controlada depois do intervalo. Estava mais calada, guardando para si mesma quaisquer outros comentários sobre a festa e a roupa ideal para chamar a atenção dos garotos, mas somente depois que Mara prometeu, três vezes, ajudá-la a escolher a fantasia ideal. O resto da manhã foi relativamente tranqüilo, o que pode ser considerada uma coisa boa.

         Na hora da saída, Mara andava distraidamente pela calçada da escola com os amigos quando viu algo que lhe chamou a atenção e ela parou de repente o que estava fazendo. Algo que Mara não considerava nada bom. Ver seu anjo da guarda lhe esperando era uma coisa boa, ver Blank e seu carro de cor desbotada estacionado do outro lado da rua talvez fosse bom também, mas ver a moto estacionada ao lado do carro e o garoto de cabelos castanhos encostado nela com os braços cruzados, definitivamente, não era nada bom.


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Notas finais do capítulo

Só queria dizer que a indecisão da Patrícia é a minha indecisão, sugestões de fantasias pra ela serão bem aceitas XD

beijomeliga
;*



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