Filha da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 17
Capítulo 17 - Sonhos Desfeitos


Notas iniciais do capítulo

Fiquei lá, no estacionamento feito uma boba, conversando com minha barriga. Meu coração estava acelerado, nenhum pensamento parava mais que alguns segundos em minha mente.Será que ele seria um vampirinho? Ou um lobinho? Ou uma mistura dos dois, como eu? Como será que minha barriga ficaria toda esticada? Será que eu ficaria bonita? E principalmente, o que Demetri acharia de ter um filho?



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Eu corri para ele com os braços abertos, eu não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Só sentia as lágrimas molhando mais, e mais minha blusa.

-           Pai, você... Você não vai acreditar!

Meu pai sentou-me na cadeira e enxugou minhas lágrimas com um lenço, acariciando levemente meu rosto. Ele estava tão sereno, tão tranqüilo.

-                   Pai, é sério! Uma coisa inacreditável. Acho que, acho que, trocaram meu exame. Só pode ser isso, pai.

-                   Não trocaram nada Satine, o resultado está certo.

-                   Como sabe?

-                   Achou mesmo que eu não imaginaria o que você fez?

-                   Pai!

-                   Amor, eu sou seu pai! Além disso, eu faria o mesmo.

-                   Pai, não pode ser. Eu sou uma vampira!

-                   Não, meu amor, você é meio vampira.

Apoiei os cotovelos na mesa e segurei rosto. Eu sentia o consultório todo girar, e desta vez não tinha nada a ver com minha doença misteriosa, era só nervoso mesmo.

-                   Não é possível, não pode ser!

-                   Satine, olhe para mim.

Ele segurou minha mão e falou, e suas palavras fizeram meu estômago gelar.

-                   Você está grávida!

Ao ouvir a palavra grávida, dita por outra pessoa, pela primeira vez, eu pensei. Pensei no que realmente estava acontecendo. Pensei em Demetri, pensei em minha mãe, pensei em mim e pensei em meu bebê. Meu bebê, eu gostava das palavras, gostava do que significavam. Quando percebi, estava tocando minha barriga. Meu bebê – disse para mim mesma mais uma vez.

-                   Pai, o que eu vou fazer?

-                   Primeiro, vai contar para Demetri. Não quero que ele descubra depois de quase cem anos, como eu. Depois, vamos cuidar de você e esperar, esperar que a natureza faça sua mágica.

-                   Pai, nem sei o que dizer.

Eu o abracei, ele retribuiu, depois colocou a mão fria em minha barriga, sobre a blusa.

-                   Amor, eu não vou deixá-la nem um minuto! Espero poder fazer para o seu filho, tudo que não pude fazer pela minha.

E as lágrimas começaram novamente.

-                   Pai, eu queria pedir uma coisa.

-                   O quê?

-                   Não conte á ninguém. Quero falar com Demetri primeiro.

-                   Tudo bem querida, não tem problema. Contaremos você achar melhor.

Deixei meu pai no hospital e entrei no carro. Fiquei lá, no estacionamento feito uma boba, conversando com minha barriga. Meu coração estava acelerado, nenhum pensamento parava mais que alguns segundos em minha mente. Será que seria uma menina? Ou talvez um menino? Será que se pareceria com Demetri? Ou com meu pai? Ou comigo? Ou teria a aparência de minha mãe? Será que ele seria um vampirinho? Ou um lobinho? Ou uma mistura dos dois, como eu? Como será que minha barriga ficaria toda esticada? Será que eu ficaria bonita? E principalmente, o que Demetri acharia de ter um filho? 

        Depois de algum tempo, liguei o carro. Dirigi devagar, era estranho, não tinha mais pressa de nada. Tudo que eu podia querer estava ali, dentro de mim. Então era isso! Eu não estava doente, Demetri não havia me envenenado. Eu estava grávida!

            Não consegui voltar para casa. Eu não conseguiria esconder a verdade, estava estampada em meu rosto.

            Parei na beira do penhasco e me sentei, conversando com meu pequeno vampirinho.

-                   Satine, o que está fazendo por aqui garota? Achei que seu pai a tinha deixado de molho!

Quando olhei nos olhos de Jacob, comecei a chorar. Ele era meu melhor amigo, eu queria dividir com ele. Eu queria gritar na verdade, queria contar para todos. Eu não gritaria, não ainda, mas para Jacob eu contaria. Eu não conseguiria manter um segredo desses dele.

-                   Jake, eu quero lhe contar uma coisa, mas é um segredo absoluto.

-                   Satine, está tudo certo com você, não é? Quero dizer, não está doente, ou coisa assim?

-                   Acho que tem mais a ver com “coisa assim” do que com “doente”, mas tem que prometer que não contará a ninguém.

Jacob sentou-se ao meu lado, seu olhar estava preocupado e sério. Ele segurou minha mão.

-                   Sabe que pode contar comigo, não é?

-                   Jake – as palavras não saiam, estavam travadas na minha garganta – Jacob eu... eu...

-                   Pelo amor de Deus Satine, fala logo, estou ficando nervoso!

-                   Eu estou grávida!

Jacob permaneceu imóvel. Eu podia jurar que não estava nem mesmo respirando.

-                   Jake, diga alguma coisa, por favor!

Seus lábios se ergueram em um sorriso imenso e quente. Ele pulou em cima de mim, rolando comigo pela grama. De repente, ele parou e deu-me a mão para levantar.

-                   Desculpe, eu não queria...  Preciso tomar mais cuidado!

-                   Cuidado? Por quê?

-                   Sei lá? Não quero machucar o bebê!

-                   Ah Jake! Você não vai machucá-lo, está tudo bem, eu estou bem. Além disso, ele é muito pequeno ainda, está protegido aqui.

Eu coloquei a mão de Jacob sobre a pele de minha barriga, por mais inacreditável que pudesse ser, meu pequeno vampirinho, se mexeu.

-                   Sentiu isso? Acho que ele ou ela, gosta de você!

Uma lágrima brilhante desceu pelo rosto bronzeado de Jacob. Ele abaixou a cabeça, perto de minha barriga e beijou.

-                   Ei bebezinho? Eu espero que puxe o nosso lado da família!

E a barriga se mexeu novamente.

-                   Jacob Black! Pare de incitar o garoto!

Jacob me abraçou, recostando minha cabeça em seu colo e acariciando meu cabelo. Eu estava em paz.

-                   Jake, vou à Itália amanhã.

-                   Precisa mesmo? Quer dizer, e se você se sentir mal, ou sei lá, se algo der errado. Você está grávida, deveria ficar perto do seu pai.

-                   Jake, eu estou bem mesmo, só um pouco enjoada. Agora sei que os sintomas são normais, fome, sono, cansaço, enjôo. Tudo sintomas de gravidez. Eu vou ficar bem, além disso, preciso contar para Demetri.

-                   Ok, mas prometa que vai voltar logo.

-                   São só alguns dias, três, no máximo.

-                   Vai me deixar brincar com ele?

-                   É claro que vou! Afinal, que criança não gostaria de ter seu próprio lobo de estimação!

-                   Vai me deixar lamber ele? Como eu lambi você.

-                   Ai Jake, isso é nojento!

-                   Não é nojento!

-                   Tudo bem Jacob, você pode lamber o meu filho, se isso o faz feliz!

Ficamos conversando até o anoitecer. Jacob acompanhou-me até em casa – segundo ele, eu não podia mais andar sozinha, afinal eu estava grávida!

Liguei para a companhia aérea e pedi que reservasse uma passagem para a Itália para a manhã seguinte. Ninguém entendeu muito, minha urgência em viajar, apenas meu pai.

O sexto sentido de Alice a fez ficar me cercando a noite toda, enquanto arrumávamos a mala, eu não gostava de esconder nada dela, mas era necessário. Eu queria que Demetri fosse o primeiro á saber, bem, o terceiro, mas meu pai e Jacob não entravam na conta, eles eram meu pai e Jacob!

Desembarquei em Florença, com o cair da tarde. Era uma linda tarde de quente, o sol estava se pondo e tudo estava alaranjado.

Peguei o celular e tentei ligar para Demetri, Caius atendeu.

-                   Linda Satine, enfim ouço sua voz.

-                   Caius, eu preciso falar com Demetri.

-                   Ele não está. Foi á uma missão. Diga o que precisa e eu mesmo farei.

Eu não podia acreditar. Demetri não estava em Volterra! Como não havia nada para se fazer, pedia a caius que mandasse me buscar.

Quase não acreditei, quando vi o próprio Caius no saguão do aeroporto.

-                   Você?

-                   Algum problema com minha companhia?

-                   Não. É só que, você odeia dirigir.

-                   As coisas mudam Satine, sempre.

-                   Algumas, nunca.

Caius pegou minha mala e me puxou num abraço apertado. Seus lábios frios roçando minha orelha.

-                   Tem razão. Algumas, nunca.

Seguimos para o castelo, quase em silêncio. O castelo estava vazio e silencioso.

-                   Onde estão todos, Caius?

-                   No sul, em uma missão.

-                   Aro e Marcus também?

-                   Sim, todos.

-                   E porque você está aqui?

-                   Alguém tem que cuidar do covil, querida Satine. Além disso, se eu tivesse ido, perderia a doce oportunidade de vê-la. Certamente não viria a Itália apenas por mim?

-                   Certamente não.

Caius fechou a cara a saiu. Eu não estava a fim de fingir, estava ansiosa e queria encontrar logo Demetri.

Fui para meu quarto e tomei um longo banho de banheira. Eu estava com sono e cansada. Deitei em minha cama e adormeci.

Acordei na manhã seguinte, com um toque frio em meu rosto.

-           Caius!

-           Você continua linda, Satine, cada dia mais.

-           Caius você não vai começar, não é?

            Ele segurou em minha mão, levantando-me e sentando-me ao seu lado. Caius estava estranho, pior que o de costume.

-           Eu nunca vou desistir de você Satine, nunca. Sei que um dia perceberá que o homem certo para você sou eu.

-           Caius, Caius, você não desiste mesmo.

Eu me levantei, balançando a cabeça em reprovação. Sentei-me no pátio, o sol fraco iluminava e esquentava minha pele. Apesar de tudo, eu gostava do castelo. Gostava de estar naquele lugar tão cheio de lembranças. Naquele castelo eu vivera as melhores coisas da minha vida.

Olhei para a antiga construção, suas paredes de tijolos aparentes, suas torres, e o jardim. Jardim onde eu brincara quando criança, onde aprendi a andar, a falar. Jardim onde ralei os meus joelhos e voltei chorando para os braços de Demetri, meu Demetri. Uma coisa era certa, Demetri tinha mais experiência com crianças do que eu.

Uma brisa leve começou a balançar meus cabelos, levando consigo o aroma quente da Toscana. Eu amava aquele cheiro. Tinha cheiro de olhares proibidos, de toques de mãos ao acaso, desejos de beijos e carinhos que não aconteciam, tinha cheiro de amor. Lembrava-me de Demetri. Então me dei conta – provavelmente eu não poderia voltar mais ali, quero dizer, não com meu bebezinho. Eu não permitiria que Caius se aproximasse dele. Eu o protegeria.

Minha vida não seria mais a mesma, eu não poderia fazer mais as mesmas coisas, nem ir aos mesmos lugares. E percebi que isso não me entristecia, ao contrário, eu queria essa mudança.

Caius não me incomodou, o resto do dia. Penso que provavelmente não estava no castelo, porque eu nem mesmo esbarrei nele.

Pouco antes de dormir, já com a noite alta, eu desci para tomar um pouco de água gelada – a gravidez me dera tanta sede, como nunca havia sentido em minha vida – Caius estava na sala.

-                   Eu a estava esperando.

-                   Esperando-me? E porque não subiu?

-                   Não queria incomodá-la.

-                   Puxa que gentileza Caius! Mas você não me incomoda.

Ele sorriu, um sorriso assustador que gelou minha espinha.

-                   Não sabe como me deixa feliz ouvir isso, mas eu a esperava para lhe perguntar algo.

-                   Então pergunte.

-                   Não vai ver o subalterno?

Senti um friozinho no estômago – Demetri voltara, estava perto de mim novamente – quase não consegui conter as lágrimas, e um sorriso discreto se formou em meus lábios.

O semblante de Caius mudou de sua estranha doçura, para a conhecida maldade.

-           Procure naquele buraco em que ele costuma se esconder. Ele provavelmente estará lá.

Meu coração deu mais um sobressalto – Demetri estava no subterrâneo. Ele já havia mesmo voltado! Eu poderia vê-lo e contar-lhe sobre nosso filho. Minhas mãos estavam geladas.

Caius voltou os olhos vermelhos de ódio para mim, seu rosto estava pesado e sua expressão assustadora. Aquele era o pior lado de Caius.

-           Eu me recuso, Satine! Me recuso a perdê-la para um subalterno.

-           Não é escolha sua.

            Caius levantou-se e andou até mim. Suas mãos frias deslizaram pela pele de meu rosto. Ele sorriu e pronunciou uma frase que embrulhou meu estômago.

-                   É nisso que você se engana, doce Satine.

As palavras ecoaram em meus ouvidos, fazendo meu instinto de lobo agitar-se. Algo em sua voz me apavorara como nunca.

            Tentei não dar atenção aos meus instintos e sai. Eu tinha coisas importantes para resolver. Precisava ver Demetri. Meu coração estava em sobressalto – em alguns minutos ele saberia que seria pai!

            Andei em silêncio pelos corredores escuros – eu queria surpreendê-lo. Eu sentia seu cheiro pelos corredores, sabia onde ele estava. Meu pequeno vampirinho também, a cada vez que eu inspirava o ar, ele se agitava lá dentro.

            Quando cheguei á grande câmara, e olhei pela fresta da porta, meus sonhos se desfizeram em uma única lágrima. Ela rolou por meu rosto, caindo silenciosa em meu peito.

            Demetri estava deitado, Heidi estava com ele. Mais que isso, ela estava sobre ele, nua. Havia também um corpo, inerte no chão. Uma garota jovem e bela, os olhos sem vida voltados para mim – ele havia me traído duplamente, e pior que isso, ele voltara a ser o que eu mais odiava. Ela o dominava novamente.

            Por alguns segundos, eu olhei a cena, uma cena conhecida – não era a primeira vez que o via com ela, fartando-se de sangue e sexo – mas era a primeira vez em que eu não poderia perdoá-lo. Toquei a mão em meu ventre – por ele, por ele eu não poderia perdoá-lo. Não era o que queria para o meu pequeno vampirinho. Não! Para ele o mundo não seria duro e perverso como foi para mim.

            Arrastei meu corpo pelos corredores escuros, as lágrimas descendo cada vez mais rápidas. Meu coração parecia fora de ritmo, meu peito doía. Uma dor sem explicação. Então veio a pior sensação que eu poderia ter, uma que apesar de tudo, eu nunca sentira – eu estava só.

            Entrei no castelo e corri pela grande sala – eu queria subir e fazer minhas malas, eu queria sumir de Volterra antes que tivesse que encarar Demetri. Caius não permitiu. Ele apareceu em minha frente como um fantasma.

-                   Percebo que viu a adorável cena.

Fiz que sim com a cabeça.

-                   Entende agora o que eu disse?

Levantei o olhar e encarei seus olhos.

-                   Eu disse que não a perderia para um subalterno. Ele não a merece!

-                   Caius, se não se importa, eu não quero discutir nada. Quero apenas voltar para casa.

Caius segurou minha mão, não com gentileza, mas com um toque sombrio e ameaçador. Eu tremi.

-                   Não se preocupe, minha doce princesa, eu vou destruí-lo.

Senti um nó na boca do estômago. Uma sensação estranha, como se fosse desmaiar. Meu pequeno também, ele se remexia dentro de mim.

-                   Como assim, destruí-lo?

-                   Seria o mais justo a se fazer, destruí-lo. Ele a fez sofrer.

-                   Não! Caius eu não espero que destrua ninguém, menos ainda Demetri, e por mim.

-                   Lamento, não pode ser de outra maneira. Ele profanou nosso covil, deve pagar pela desobediência.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu não queria que o ferissem, eu não poderia permitir, eu o amava. Por mais magoada que estivesse, eu o amava tanto que queria vê-lo feliz, ainda que longe de mim.

Olhei nos olhos de Caius, eu precisava tentar.

-                   Tem que haver uma maneira.

-                   Bem, só a uma situação de perdão.

-                   Diga!

-                   Se ele não a tivesse magoado, se pudéssemos provar a todos que você nunca se interessou por ele.

Então eu entendi. Era um jogo, só mais um jogo de poder. O tipo de coisa que sempre me enojou nos Volturi. Se eu quisesse Demetri vivo, teria que fazer o que ele dissesse.

Foi quando descobri que por pior que algo pareça, sempre pode piorar. Eu não tinha escolha. Não permitiria que ele fizesse mal à Demetri. Eu teria que me submeter.

Olhei para Caius, sem nenhuma esperança.

-                   O que quer que eu faça, Caius?

-                   Teremos uma reunião esta noite. Alguns líderes estarão aqui. Quero fique comigo, que me acompanhe.

-                   Eu faço! Mas apenas isso, Caius, apenas acompanhá-lo e nada mais.

-                   Nada mais que não seja de sua vontade, minha princesa.

-                   Me dá sua palavra de honra?

-                   Certamente.

-                   Á que horas eu devo descer?

-                   Eu a buscarei após o anoitecer. Deixei um vestido sobre sua cama, quero que o use.

Assenti com a cabeça e liberei minha mão das dele. Antes que eu pudesse subir as escadas, Caius continuou.

-                   Espero que consiga guardar este pequeno segredinho, não acho que Aro seria tão complacente.

-                   Como quiser, mestre.

Eu me virei e subi, as lágrimas desciam como cachoeiras em meu rosto. Tudo havia dado errado! Eu havia sido traída duas vezes, Caius tramara um plano ainda pior para garantir que não houvesse perdão, e eu estava sozinha e perdida.

Revirei minha bolsa atrás do celular. Disquei o primeiro número da agenda e esperei que atendessem.

-                   Pai, por favor, venha me buscar!

Foi só o que consegui dizer, minha voz estava embargada em lágrimas. A voz que ouvi do outro lado, soava como doce como mel.

-                   Estou indo agora!

Deitei na cama e chorei, chorei o resto do dia. Eu não sentia a mínima vontade de me levantar, como se não existisse nada lá fora.

Chorei até dormir, ou desmaiar, não sabia bem. Só me lembrava que quando abri os olhos, o dia já havia se despedido.

Olhei no relógio em meu pulso – eram quase seis da tarde – tirei a roupa molhada de lágrimas e entrei no banheiro. Caius queria o pacote completo!

Ele queria uma rainha á seu lado, e se eu não fizesse sua vontade, ele descontaria em Demetri.

Tomei uma ducha, tentando controlar o choro. Eu não podia aparecer com os olhos vermelho ou Aro e Marcus perceberiam. Eu tinha medo.

O vestido que Caius deixara em minha cama, era de seda preta. Sem alças e bem justo ao corpo. Eu o vesti. Ele havia deixado também sapatos e um conjunto de colar e brincos de diamantes e rubis.

Quando terminei de me vestir, Caius bateu na porta e entrou.

-                   Está maravilhosa, minha princesa.

-                   Obrigado mestre.

-                   Porque não me chama de Caius? Você sempre me chama pelo nome.

-                   Porque hoje, sou sua criada, mestre.

Caius aproximou o corpo do meu, enchendo meu nariz com seu cheiro doce.

-                   Cuidado, eu posso interpretar mal.

-                   Faça o quiser! Apenas cumpra com sua palavra.

-                   Perfeito! Linda e obediente. Tudo que um homem pode querer.

Ele deu-me o braço e descemos as escadas como um lindo casal feliz. Todos estavam de volta. Inclusive Aro e Marcus que se espantaram ao ver-me.

Olhei em volta e percebi que Demetri também estava lá. E pude ver em seus olhos a reprovação em ver-me de braços dados com Caius.

Aro se aproximou, abrindo os braços para mim.

-                   Querida, que bom vê-la! Sentiu saudades de nós?

Aro perguntou para mim, mas seus olhos estavam em Demetri, quase ao seu lado. Caius me interrompeu, antes que pudesse responder.

-                   Satine veio por mim. Ela finalmente entendeu onde é o seu lugar. Não é minha querida?

Caius cravou os olhos escarlates em mim.

-                   Sim mestre.

Aro me abraçou carinhosamente, encostando minha cabeça em seu peito. Ele não havia entendido nada, nem poderia, estando no sul.

-                   Está tudo bem com você, minha filha?

-                   Está sim, Aro.

Eu menti.

            Caius me carregou de um lado para o outro, como um grande presente de natal. Seus olhos brilhavam a cada vez que alguém me elogiava, como se eu fosse obra sua.

            Demetri permaneceu imóvel, o tempo todo. Os olhos cravados em mim, as mãos em punho. Eu cheguei a sentir ódio dele, parado lá com ar de reprovação. Quem era ele afinal? Ele havia me traído. Que direitos poderia ter sobre mim? Claro que ele não havia me visto no subterrâneo, ele estava virado para a janela, mas eu, o tinha visto muito bem. Aliás, a cena não saia da minha cabeça, eu sentia nojo quando olhava para ele. Como ele foi capaz? Como pode? Eu havia dado a ele a minha vida.

            Como eu disse: não importa o que aconteça, tudo pode piorar, e piorou. Demetri aproximou-se de mim, aproveitando um momento de distração de Caius e segurou meu braço com força. Eu tentei me esquivar, preferia não ter aquela conversa, não consegui. No momento em que sua mão tocou minha pele, meu pequeno vampirinho sentiu, e retribuiu como se reagisse ao toque do pai, se chacoalhando dentro de mim. Segurei para não chorar. Eu esperei tanto aquele toque, tanto. Agora, tudo que eu queria, era ficar longe dele.

-           Me solte, Demetri!

-           Porque, Satine? Porque está agindo assim?

            Como ele podia ser tão dissimulado! Ele sabia exatamente por que. Sabia a razão. Ou será que ele pensou que eu não saberia? Que eu não veria sua cena patética? Eu estava com raiva, estava magoada e ainda tinha que protegê-lo de Caius. Engoli em seco o choro em minha garganta, e soltei a frase mais dolorosa de toda a minha vida.

-           Um dia você me disse que a única cosa capaz de mantê-lo longe de mim, seria eu mesma.

-           Satine, não faça uma bobagem.

-           Eu já fiz, Demetri, quando me deixei envolver por um homem como você. Quero que se afaste de mim, para sempre.

Demetri soltou meu pulso e eu senti que minhas pernas não me sustentariam, segurei no corrimão da escada. Seus olhos eram vazios e distantes.

-           É o que quer?

            Engoli o choro, mais uma vez, e fechei os olhos.

-           Sim.

            Quando abri, ele não estava mais perto. Eu me senti só. Senti um imenso buraco negro, dentro do meu peito. Como se nada, nunca mais, pudesse preenchê-lo. Eu não podia me mexer. Não conseguia encarar ninguém. Apenas fiquei ali, agarrada ao corrimão, desejando acordar do pesadelo.

            Marcus veio até mim, Seu rosto preocupado.

-                   O que há de errado, Satine? Demetri...

-                   Marcus, por favor, eu não quero saber de Demetri.

-                   Não quer? Alguma coisa não se encaixa nesta história.

-                   Está tudo bem, eu só mudei de opinião. As pessoas mudam, certo?

-                   Não, meu amor, algumas coisas nunca mudam. Você está ao lado de Caius? Você o odeia.

-                   Não o odeio, não.

-                   Satine, olhe para mim.

Eu não podia. Não podia olhar para Marcus, ele perceberia. Marcus não conseguia sentir meus sentimentos, mas não precisava, bastava que olhasse em meus olhos. Então eu me calei, e ele entendeu.

-                   Eu não sei o que aconteceu querida, mas prometo que trarei o lindo sorriso iluminado ao seu rosto novamente.

Eu segurei uma lágrima, piscando várias vezes. Marcus me apertou contra seu peito e beijou minha testa.

Foi o único momento, em toda a longa noite, em que eu não me senti sozinha e desamparada. Infelizmente, foi um breve momento.

Caius me afastou de Marcus, e puxou-me para seus braços, novamente.

-                   Eu tinha certeza, Satine, que um dia seria minha.

-                   Eu não sou sua, Caius. Estamos apenas representando.

-                   Começamos a melhorar! Você até disse o meu nome.

-                   Caius você me conhece bem, não abuse, eu não sou de ferro.

Ele me apertou contra seu corpo. Suas mãos em minha cintura, seu rosto quase colado ao meu. Seu cheiro revirava meu estômago.

-                   Eu adoro quando fica brava.

Então ele me beijou – ou tentou - eu não permiti. Mesmo assim, por uma fração de segundos, seus lábios frios tocaram os meus e tudo se consumou.

            Demetri deu um soco na parede, quebrando parte da estrutura de concreto e saiu. Eu o perdi naquele beijo, para sempre.

            O gosto de Caius em minha boca, revirou-me o estômago – sem duvida, meu pequeno vampirinho não gostava do cheiro de sua própria espécie – e eu segurei para não vomitar ali na sala. Meus olhos estavam marejados de lágrimas e eu senti como se fosse desmaiar. Então a porta se abriu, e eu o vi, e tudo pareceu melhor.

-                   Pai!


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