Entrei no quarto da Ana correndo igual uma criança boba, entrei no banheiro e o tranquei. Porque? É, eu não sei. Medo talvez. A Ana contou tudo pra ele, que eu fugi dele por estar com ciúmes! Como ela teve coragem? Me dei conta de que ainda estava com o celular dela na mão. O jeito é ver a conversa toda:

   “Lucas, tenho que te contar uma coisa, não tenho muito tempo, é sobre a Carol, ta podendo falar? Ann.”

   “Oi Ann, pode falar, é grave? Aconteceu algo? Lu”

   “Não é grave, mas sim aconteceu algo. Hoje na escola a Ca te viu de pegação com a Kate, da pra explicar Lucas? Foi você que a beijou? Ann”

   “O-oi? Você ainda pergunta Ana, eu sei que você ta perguntando por que você sabe que foi ela que me beijou! Ai meu Deus, por isso a Ca tava uma fera! Ela ta ai? Lu”

   “É, eu desconfiava mesmo, se eu fosse você viria pra ca agora! Sim, ela ta aqui em casa, mas não sabe dessa nossa conversa, vem rápido, quem sabe ela não te escuta, afinal, ela ta me devendo um favor mesmo, posso te ajudar. Ann”

   “Já estou chegando, obrigada por me contar o que aconteceu Ann, te devo essa. Lu.”

   Mas que vadia! Ela não podia ter feito isso! Bom tarde demais.

   -Carol abre a porta, a gente tem que conversar! – Lucas disse batendo na porta.

   -A gente não tem nada pra conversar, vai conversar com a Kate, afinal eu não sou nada sua, ela sim, é sua NAMORADA! – dei ênfase no “namorada”.

   Ele bateu na porta com mais força.

   -Carol, abre a PORRA da porta! – ui que medinha dele!

   -Não vou abrir! Desiste, eu não quero e NÃO vou falar com você! – é, confesso, eu tava parecendo uma menininha de cinco aninhos muito birrenta.

   -Ta agindo feito criança! Abre a porta. – Provocou, porém, eu sabia que era verdade.

   -Claro, porque além de puta, a Kate é que é super adulta né não Lucas?!

   -Carol, vai se tratar! Você acha mesmo que eu beijaria a Kate?!

   Sorri, como ele era capaz de negar? Cara de pau.

   -Ah claro né Lucas, eu imaginei aquilo tudo, você com as mãos na cintura dela, e ela praticamente te devorando!

   -Eu vou arrombar a porta!

   -NÃO, não faz isso, por favor! – ouvi Ana gritar. Não consegui me segurar e ri do desespero dela. Lucas riu também e disse:

   -É bom te ouvir rir. – ele deu uma risadinha fraca, e eu? Ele me desarmou completamente com essa frase, fiquei quieta e paralisada.

   Então ele continuou:

   -Ca, eu sei que você quer falar comigo, abre a porta, e vamos conversar melhor? Por favor? – ele disse num tom de voz meio... triste.

   Pensei um pouco, eu queria mesmo abrir a porta, e abraça-lo com toda força, beija-lo, e não queria que acabasse nunca mais, mas... Eu estava realmente muito brava com ele. Uma chance dele se explicar eu devo né? Ok.

   Respirei fundo, e me levantei. Olhei-me no espelho, e... Eu nem tinha me dado conta das lagrimas que cortavam passagem em meio a pouca maquiagem que eu usava, eu realmente estava horrível.

   Lavei o rosto inchado de chorar por raiva, fiquei sem maquiagem, o que não faria diferença já que ele já me viu pior que isso, acabada de acordar, sorri lembrando disso, fiz um novo rabo de cavalo no cabelo, coloquei a mão na maçaneta e respirei fundo, destrancando a porta e a abrindo.

   Lu estava sentado ao lado da porta, com os braços apoiados no joelho e cabeça baixa apoiada nos braços, mas assim que abri a porta ele se levantou e me olhou, ele estava com o olho vermelho, sorri meio sem graça pela cena toda. Ann tava sentada na cama, e se levantou:

   -Eu... vou dar um tempo pra vocês, qualquer coisa me chamem.

   Lu assentiu e com isso ela saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

   Lu se aproximou de mim, e tentou pegar minha mão, mas eu me afastei, e olhei pro lado tentando esconder as lagrimas que queriam sair.

   -Carol, não faz isso, você sabe que não foi nada disso que você está pensando.

   Me virei para encara-lo sem medo dele perceber o meu olho lacrimejando.

   -Olha, sério, você não me deve satisfação alguma, e tudo aquilo que a Ana te falou, não tem nada a ver. Esquece.

   -Qual é, eu te conheço Ca, há seis anos, e acha que pode mentir pra mim, na cara dura? Olha no fundo do meu olho – ele se aproximou perigosamente de mim – e diz, que não gosta de mim? Que não achou merda da cena de hoje? E que acredita mesmo que eu a beijei, diz!

   Eu o olhava com medo de beija-lo ali mesmo, por que tudo isso agora em? Eu o conhecia a seis anos, por que gostar tanto assim dele agora? Parece algo incontrolável, mas eu não posso ceder a ele.

   Sai de sua frente indo pra janela do quarto.

   -Se não foi isso... Foi o que Lucas?

   -Jura que não sabe? Eu sei que muitos dizem isso mentindo, mas você tem que acreditar em mim, você SABE que ela me agarrou, eu sempre fui mais você do que qualquer outra garota, mas você nunca me deu uma chance, hoje ela chegou em mim jogando charminho como sempre faz, e quando eu percebi ela estava me agarrando, eu a segurei pra afasta-la, mas ela me beijou, de novo, nem me deu tempo de dizer nada, acho que foi essa hora que você viu, mas não viu quando eu a empurrei não é? Eu te procurei pra te dar bom dia depois de falar poucas e boas pra Kate, mas não te achei, só no corredor, e percebi que você estava diferente.

   -Nossa, que clichê essa sua desculpa.

   -Para com isso Carol.

   Fiquei em silêncio, e ele se sentou na cama, e apoiou a cabeça entre as mãos. Sussurrou algo que não poderia ser verdade então perguntei novamente.

   -O que? – eu estava parada na sua frente. Ele se levantou e segurou meu rosto entre suas mãos.

   -Eu ia te pedir em namoro, hoje, antes de tudo isso acontecer.

   Eu estava gelada, paralisada e provavelmente pálida também, eu... Era tudo o que eu mais queria, mas, eu não sabia como responder a essa confissão.

   -Porque você faz isso em Carol? – ele continuou – Porque torna as coisas cada vez mais difíceis? Você cisma em não querer acreditar em algo que você sabe que é verdade.

   -Eu não sei de nada Lucas!

   -Será que não sabe? Ou só tem medo de me dizer a verdade?

   Olhei-o procurando entender.

   -Que verdade?

   -Você ta saindo com o Ryan não ta?

   Uau, ele acreditou mesmo em toda aquela ceninha que fiz com o Ry? Meu Deus e agora? O que eu falo?

   -E se eu tiver?

   -Se você tiver... Me diz, que te deixo em paz, mas não reclama depois, dizendo que to agindo estranho, não quero confusão, com o seu “Namorado”. – ele virou as costas e ia indo em direção a porta.

   -Eu não to saindo com o Ryan. Deveria, porque ele não me faz passar tanto nervoso igual outras pessoas, mas não estou. Porque? Me aconselha a sair com ele? – o olhava parado em frente a porta, eu o encarava de braços cruzados, prestando atenção em cada movimento. Ouvi um suspiro dele.

   Ele se virou e se aproximou de mim, me puxando pela cintura, me segurava com firmeza, passou uma das mãos para a minha nuca e me beijou, finalmente. Um beijo com desejo, apavorado, porém cheio de amor e carinho. Minha única reação foi retribuir e colocar as mãos em sua nuca. Era incrível, o encaixe perfeito de nossos corpos, dos nossos lábios, percebi que tudo com ele era perfeito, por mais imperfeitos que nós dois fossemos, era ali que eu queria estar pra sempre naquele beijo cheio de amor e profundo, onde sem nenhuma palavra nos declarávamos.