It Will Rain escrita por Queen


Capítulo 18
Eighteen.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi, oi gente.
Tudo bem com vocês? Comigo mais ou menos.
Por que? Porque tô meio bolada com esses spoilers de HoH e aqui na minha cidade só vai chegar daqui a duas semanas. Sem falar que eu tô meio bolada porque a fic tá cheia de leitores fantasminhas e isso é muito chato.
Não vou me desculpar pela demora porque todos sabem sobre o meu seletivo, então shiu.
O capitulo tá enorme, mds, e o fim meio slá, mas a continuação vai ser mais... hum, legal.
Espero que gostem e leiam as notas finais ♥



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P.O.V Annabeth

Acordei no sábado com alguém se remexendo em cima de mim. Por instinto pensei em gritar, mas ao sentir o cheiro de maresia que fazia os pelos do meu corpo se arrepiarem, eu relaxei. Abri os olhos lentamente e depois fechei-os com um flash, reprimindo u xingamento apropriado para amaldiçoar o sol que vinha da janela do quarto.

Cocei os olhos e os abri lentamente, dessa vez tentando se acostumar com a claridade e deixando minha mente processar tudo. Bocejei e olhei para o lado.

Percy dormia tranquilamente com a cara no travesseiro. Percebi que ele tinha um braço ao redor da minha cintura, ri meio boba – E céus, como eu odiava ficar boba, ainda mais com aquilo – e sai do seu aperto. Estiquei-me e sai do quarto.

No topo da escada senti um cheiro familiar de panquecas e meu estomago roncou. Desci e fui até a cozinha, onde Tia Sally preparava panquecas azuis animadamente enquanto Poseidon lia o jornal com as pernas cruzadas. Ele bebericava o café enquanto ela cantava e ao mesmo tempo falava com ele e ele as vees ria, tirava os olhos do jornal e encarava Sally fascinado.

Ri com isso e me apoiei na porta, pensando na possibilidade de, em um futuro distante, eu encontrar um cara legal igual Poseidon, ter filhos, um cachorro, uma casa grande com um jardim florado...

Meus pensamentos foram interrompidos quando Tia Sally deixou um copo cair ao me ver e com um salto eu me afastei dali.

– Annabeth? – ela perguntou confusa.

– Sim?

– Como você entrou aqui? – Poseidon tinha a testa franzida.

– Eu dormi aqui.

Sally e Poseidon se entreolharam.

– Mas eu não te vi no quarto de hospedes – Sally disse com as mãos na cintura preocupada.

– Eu dormi com o Percy. – Respondi sem pensar e no mesmo instante fechei os olhos me amaldiçoando.

– Você e o Percy estão juntos? – Poseidon perguntou se esquecendo totalmente do jornal.

– Claro que não, somos amigos.

“Amigos” Minha consciência disse de forma maliciosa.

“Cala a boca.”

– Annabeth, eu gosto muito de você, te considero uma filha, acho você uma pessoa adorável, mas tenho regras dentro de...

– O Percy pegou a Annabeth? – Poseidon perguntou do nada me fazendo corar – Ah, só podia ser meu filhão. Vocês se preveniram, certo?

– Poseidon! – Sally disse exasperada com uma mão sobre o peito – Não fale uma coisa dessas, Annabeth é uma moça de família, não riria fazer isso dentro da minha casa com o meu filho, não é querida?

– É-é, não fizemos nada, eu só dormi lá com ele. Ele em um canto e eu em outro.

Sally pareceu tranquila, mas Poseidon tinha uma careta azeda.

– Então vocês dormiram juntos mas não dormiram juntos? – ele perguntou meio embaralhado – Pensei que o Percy tinha mais atitude, porque com todo o respeito, você é uma menina bonita e ele parece gostar de você, então eu achei que...

– Poseidon! – Sally havia dando-lhe uma “toalhada” com o pano de prato – Está deixando a menina constrangida.

– Não, tudo bem – Sentei na mesa – O que tem para comer?

– Panquecas, bolo e suco de laranja.

– Se importa se eu...

– Não, não – Sally sorriu para mim com doçura, eu amava quando ela fazia isso – Fique a vontade.

Peguei as panquecas e ri por elas serem azuis, o suco também tinha essa coloração, e a cauda do bolo também. Percy iria aprovar. Comi enquanto Poseidon continuou lendo o jornal e Sally bebia o café conversando comigo. Depois de terminar as duas folhas do jornal e tomar seu café, Poseidon se alevantou, despediu-se de Sally com um beijo na testa e foi para o trabalho. Mesmo depois de ter terminado a refeição, continuei sentada na mesa conversando com Tia Sally.

– Ele começou a gostar de azul porque um homem da sua antiga escola disse que era impossível fazer comidas dessa cor. Ele chegou chorado na doceria em que eu trabalhava e ainda trabalho por diversão, dizendo que era injustiça não existir comidas azuis. Eu achei seu comportamento engraçado, por isso prometi fazer tudo possível azul para ele comer, e ai Poseidon e todos aqui em casa se acostumaram com isso.

Ri.

– Vocês parecem uma família feliz.

– E somos – Sally disse rindo – Nós nos amamos, e a você também.

Abaixei os olhos tentando não corar com muito mimo.

– É.. muito obrigado..

– Annabeth, me diga uma coisa – Tia Sally mudou de assunto rapidamente – Teve algo entre você e o Percy noite passada? Eu preciso saber e espero que você entenda que meu filho...

– Não rolou nada de mais, sério.

Ela pareceu relaxar.

– Tudo bem então, eu acredito em você – Ela alevantou e foi até o fogão.

– Vai preparar mais coisas?

–Sim, não deixamos nada para o Percy porque você comeu as coisas dele. – Ela disse rindo e eu assenti envergonhada – Você poderia chamar ele para mim?

– Hum, claro.

Alevantei e fui até o quarto do cabeça de algas. Entrei lentamente e vi que não tinha ninguém na cama. Continuei em pé e olhei para o teto, esperando ele sair do banheiro, já que a luz estava ligada e dava para ouvir o barulho de agua se chocando no chão.

Meus pensamentos estavam voltados para o nada mas aos poucos foram preenchidos pelo sorriso de Percy. A cena dele no banheiro se ensaboando, os cabelos rebeldes brigando com o pente...

– Foco Annabeth, Foco. – murmurei.

A porta do banheiro foi aberta e eu fiz o erro de olhar.

Ele estava sem toalha, com os cabelos grudados na testa e massageava as mãos. Tentei desviar meu olhar dele e daquilo, mas eu apenas arquejei e quando tive força para fazer algo, gritei.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH – Gritei e ele me olhou assustada, me virei tampando os olhos – SEU FILHO DA MÃE, SE VESTE AGORA.

Fiquei lá virada com as mãos sobre os olhos esperando ele se vestir. Fiquei esperando por um tempo e ele não apareceu, estava tentada a me virar mas não fiz isso. Acabei perdendo a paciência e vire-me de novo, mas dei um banque contra o corpo dele, pois ele estava atrás de mim.

Caminhei para trás assustada e acabei tropeçando em alguma coisa jogada no chão.

Abri os braços a procura de algo para agarrar-me e como não encontrei, esperei meu corpo cair no chão. Mas, como sempre, aqueles braços musculosos e mãos grandes agarraram minha cintura no último momento.

Percy me alevantou e nós dois no encaramos por um tempo antes de cairmos na gargalhada.

Rimos, rimos, e rimos. Era um riso atrás do outro.

– Anna... Annabeth, você precisava ver a sua cara – Ele disse rindo.

– É, é [risos] Hey, você tem aquela marquinha desde sempre? – Perguntei com a mãos na barriga, ainda gargalhando.

– Que marquinha?

– Aquela na sua coxa, perto...

– Er, tenho – ele disse sério mas depois riu também – Okay, isso foi bem estranho.

– Literalmente.

– Então, o que devo a honra de tê-la novamente no meu quarto?

– Sua mãe fez panquecas azuis e tá te chamando para comer.

– Ah, claro. Vem comer também?

– Já comi, estou indo para casa agora.

– Fica mais um pouco – Ele disse me puxando para fora do quarto. – Só mais um pouquinho.

– Mas a Anastácia...

– Por favor.

– Tá. – murmurei descendo as escadas.

Fomos até a cozinha e Tia Sally colocava as panquecas na mesa.

– Vocês demoraram. – Ela comentou.

– O Percy estava no banho.

– É mãe, eu estava banhando e ela esperando.

– Ah, entendi.

Tia Sally começou a lavar as louçar e eu e Percy sentamo-nos próximos.

– A Annabeth disse que dormiu aqui. – Tia Sally disse ocupada na pia.

– É, ela não quis dormir só no apartamento da Thalia.

– Espero que não tenham feito nada de mais, assim como a Annabeth disse.

– E não fizemos mesmo – Respondi um pouco alto o “não.”

– É, apenas dormimos abraçados – Percy sussurrou em meu ouvido – E nos beijamos, e nos pegamos, e...

– Percy! – Repreendi.

Ele jogou a cabeça para trás, rindo.

– Sabe, você fica tão...

Ele não terminou de falar, porque a porta começou a ser espancadas por murros.

– Eu atendo. – Percy disse se alevantando e eu fui logo atrás.

Ao abrir, deparamos com Anastácia chorando.

– Percy, você viu minha menina? A Annie? Eu pensei que ela estivesse dormindo, mas ai quando fui no quarto dela ela não estava lá. – Ela disse limpando os olhos.

Anastácia era a Senhora mais bem respeitável que eu já conheci, sempre presente e tal, e vi ali que ela me amava, por isso senti um aperto no peito ao vê-la chorando.

– Eu estou aqui, Anastácia. – Respondi baixinho.

– Annabeth? – Ela me olhou atrás do Percy – Minha jovem, não faça mais isso.

– Tudo bem Anastácia.

– Eu... Eu pensei... Que a minha menina poderia.... Oh Annabeth, você está bem, não é?

– Sim, vamos agora para casa?

– Sim, sim, tenho que falar com você.

– Tchau Percy.

Sai do apartamento e acenei para Percy, que tinha um sorriso mínimo no rosto.

[........]

– Tá Anastácia, eu prometo para a senhora que nunca mais vou fazer isso. .

Anastacia tinha parado de chorar e agora brigava comigo.

–Vê se pode, uma moça dessas dormindo no quarto de um garoto sem os pais dele! No meu tempo isso era impossível, que absurdo! Isso é feio Annabeth, você é uma garota pura, não pode fazer isso. Já pensou se ele fizesse algo com você? Te tocasse?

– O Percy não é disso.

– Eu sei que não, o conheço desde criança. Mas vai dizer que ele não desejou?

–Eu não havia pensado nisso.

– É, ainda bem que ele não tirou proveito ou fez algo com você. Vocês só dormiram não é minha menina? Todos os dois vestidos e afastados.

– É Anastácia. Eu fui ver ele pelado só hoje de manhã. – Respondi sem pensar de novo e ela arregalou os olhos.

– Como é minha Jovem?

– É zoeira.

– Não venha com essas palavras estranhas aqui dentro de casa, mocinha! Agora venha e me ajude a limpar a casa enquanto eu preparo o almoço.

– Okay, só porque te amo.

– Para de nhenhenhém, ande logo.

– Deuses! Tá bom!


Limpei primeiro os quartos enquanto ela fazia a comida. Depois de limpado tudo, tomei um banho e me arrumei para ir na casa da Rachel, fazer o trabalho. Anastácia se foi meio dia e depois de almoça, dormi um pouco antes de ir ver a ruivinha sardenta.*

[....]

A casa da Rachel não era uma casa, aquilo era uma mansão. Fique uns dez minutos zanzando de lá para cá procurando o quarto dela. Quando eu achei, ela estava pintando um quadro bem estranho.

O quadro tinha um fundo preto e uma garota com os cabelos meio azulado segurava uma flor murcha. Em outro, tinha um garoto com uma faca na quina da porta com um sorriso diabólico. Fiquei meio que incomodada com aquilo, os quadros pareciam me dar medo.

Tossi para poder desperta-la da sua obra de arte. Ela parou de pintar e olhou para mim com um sorriso.

Esse era o bom dela: Rachel tinha problemas sabe? Mas ela sempre ria, tratava todos com igualdade e era sempre legal, sempre tentava fazer as outras pessoas bem. Ela tinha um estilo Geek e sempre estava melada de tinta, com os cabelos mais do que vermelho, pode-se dizer laranja, com as sardas. Esse era o charme dela. Ela não precisava se arrumar para ser bonita, ela era bonita.

Mas ali, eu vi que ela tinha algo de errado. Principalmente quando comecei a olhar para seus quadros. Todos depressivos, pretos, com cenas de morte e dor. Se fosse a um ano atrás, eu teria amado aquelas imagens, mas desde que vim para NY, as cosias mudaram.

Rachel limpou as mãos e acenou para que eu entrasse no quarto que era quatro vezes maior que o meu. Sentei-me na sua cama enorme enquanto ela pegava papeis e o notebook.

– Por onde você acha que devemos começar? – Ela perguntou.

– Não sei. – Tirei meu caderno da mochila – que tal uma simples pesquisa e depois aprofundamos?

– Maravilha.

Entramos em sites especializados sobre a automutilação que eu já havia visto milhares de vezes. Todas as informações que no site continha eu já conhecia, já tinha presenciado, já tinha sentido. Anotei tudo no caderno enquanto ela procurava mais e mais sobre o assunto e todas as vezes parecia interessada quando entrava em um diferente do outro.

– Hum, Rachel, terminei de anotar tudo.

– Beleza – ela disse puxando o Notebook para mais perto e me chamando. Fiquei ao seu lado e me estiquei para ver no que ela mexia – Vamos agora fazer o que?

– O trabalho está terminado, a não ser que você queira ver mais ainda sobre o assunto. – Respondi entediada, pedindo aos Deuses para que ela não colocasse mais outro site.

– Que tal vermos esses tumblrs depressivos?

– Não acho que seja uma boa ideia....

– Vamos lá Annabeth.

– Tá.

Entramos em um tumblr diferente do outro. Alguns eram só coisas realmente depressivas, outros com tudo misturado e alguns só com algumas coisas aqui e ali interessantes. Até que encontramos um em especial.

– Nossa cara, olha essa url. – Comentei.

– Né, é sobre cortes, vamos ver.

– Rachel...

– Shiu.

Ela clicou com um sorrisinho diabólico que eu não conhecia.

O tumblr era todo preto. As imagens era só cortes e garotas praticando bulimia. Os textos eram sobre cortes, depressões e sentimentos tristes. Eu estava ficando agoniada, suor brotava na minha testa e eu queria que ela tirasse aquela pagina e colocasse algo mais alegre. Não queria mais ver cenas do sangue nos pulsos, eu não merecia aquilo.

Meus pulsos e minha perna começou a coçar, senti eles pulsando, senti meus cortes gritando para serem reabertos. Me remexi inconfortável enquanto Rachel parecia interessada em tudo aquilo, estudava as imagens e depois olhava para o próprio braço.

Não, ela não podia estar pensando naquilo....

– Rachel. – Sussurrei.

–Que é?

– Tira isso.

– Não.

– Tira. – Senti a coceira aumentar, meu corpo entrar em pânico. Eu estava dando um ataque de novo, não, aquilo não podia estar acontecendo de novo.

– Não.

– TIRA ESSA PORCARIA AGORA RACHEL, TIRA, TIRA, TIRA, EU NÃO PRECISO ME LEMBRAR DISSO, EU NÃO ESTOU AQUI PARA ME SENTI IMPURA E ENVERGONHADA DE NOVO. – Gritei.

– Mas o que...

Ela não terminou de falar, porque eu fechei o notebook rapidamente.

Rachel me olhava horrorizada. Eu deveria estar parecendo uma ridícula.

– Rachel, porque você queria tanto ver esses tumblrs? Essas coisas? – Perguntei com medo da resposta.

–Não te interessa. – Ela respondeu olhando para seus quadros.

– Rachel, você não pretende fazer isso né?

– Você não entende.

– Rachel...

– VOCÊ NÃO ENTENDE! – Ela gritou do nada, aos choros. – VOCÊ NÃO SABE PELO QUE EU ESTOU PASSANDO, NÃO SABE DA DOR QUE EU ESTOU SENTINDO! VOCÊ NÃO SABE ANNABETH!

– EU SEI TANTO QUANTO VOCÊ. VOCÊ É APENAS UMA RIQUINHA MIMADA QUE NÃO SABE O QUE TÁ FALANDO, NÃO SABE O QUE É SENTIR DOR. – Gritei.

– NÃO ANNABETH, VOCÊ É QUEM TEM A VIDA PERFEITA, AMIGOS PERFEITOS, UM GAROTO QUE ATÉ POUCO TEMPO ATRÁ ERA MEU E EU NÃO VALORIZEI E QUE AGORA TÁ CAIDINHO EM VOCÊ, VOCÊ É A QUERIDINHA DE TODO MUNDO, E SEMPRE SORRINDO, OU SEJA, VOCÊ É FELIZ E NÃO SABE O QUE EU ESTOU SENTINDO!

– HÁ, VOCÊ ACHA QUE SÓ PORQUE EU SEMPRE ESTOU RINDO QUER DIZER QUE EU ESTOU FELIZ?

Ela assentiu.

– Engano seu, minha vida é...

– Sua vida é perfeita Annabeth!

– Não é caralho! A sua que é!

– VOCÊ CHAMA ISSO DE VIDA? – Ela voltou a gritar – VOCÊ ACHA QUE SÓ PORQUE EU SOU RICA, TENHO TUDO QUE EU QUERO EU SOU FELIZ? POIS SAIBA QUE NÃO! MEU PAI NÃO DÁ A MINIMA ATENÇÃO PARA MIM ANNABETH! É SEMPRE A EMPRESA DELE E A MINHA MÃE SÓ S EIMPORTA COM ROUPAS, JOIAS, CALÇADOS E NÃO SBAE ABSOLUTAMENTE NADA SOBRE MIM! EU ME ODEIO ANNABETH, ODEIO OS MEUS PAIS, A MINHA VIDA, ODEIO AS BORRADAS QUE EU JÁ FIZ, ODEIO O FATO DE EU PERDER E QUEBRAR TUDO QUE EU TOCO! EU SOU HORRIVEL ANNABETH! SABE ESSE MEU SORRISO? É FALSO CARALHO! SABE MEU MELO COM O PERCY? É PORQUE EU SINTO FALTA DELE E SEI QUE NUNCA O TEREI NOVAMENTE! – Ela respirou fundo antes de falar novamente, dessa vez com a voz rouca e baixa – Eu sou uma pessoa horrível, e FODA-SE se eu me cortar ou não, porque ninguém se importa!

– Rachel...

– Como eu disse, você não entende – ela disse enxugando as lagrimas – Você não sabe como é isso, não sabe como é sentir vontade de se cortar 24 horas por dia.

– Então você ainda não se cortou?

– Ainda não.

– Não faça isso Rachel.

– Porque hein? Você não entende nada sobre isso...

– Porque você não está preparada!

– Preparada pra quê?!

O meu celular tocou, e antes que eu pudesse atender para que eu pudesse fugir daquela pergunta, ela pegou, desligou e ficou segurando-o.

Suspirei pesadamente várias vezes, fechei os olhos, sentei na cama e juntei todas as minhas forças para poder responde-la:

– Rachel, antes de fazer seu primeiro corte, lembre-se: Você vai gostar disso. Pode doer, sempre dói, mas você se acostuma. Você vai achar o sangue rancoroso, a diminuição de sangue e o inchaço viciante. Mesmo que você tenha planos para fazer apenas alguns cortes aqui e ali que não são muito profundos e que vão se curar rapidamente, eles vão se aprofundar e irão se espelhar por todo o seu corpo. Eles vão formar cicatrizes, cicatrizes que demorarão meses para cicatrizar e até mais de anos para sumirem totalmente. Você pode achar que pode limitar o tanto de corte em certa parte do corpo onde só você pode ver, mas pense novamente antes disso, pois eles vão se multiplicar por toda a sua pela.

Rachel, esteja preparada para se afastar de todos, viver sempre só e a todo instante – mesmo que você seja uma pessoa honesta – você vai encontrar-se mentindo para as pessoas que você ama. Você vai ficar nervosa e dar um passo para trás quando seus amigos chegaram perto de você, como se as suas mãos fossem te fazer mal. Você ficará assustada quando sentir algo no pano da sua blusa, sobre a sua coxa, pulso; qualquer lugar onde os cortes possivelmente vão estar. Ou talvez, é porque dói ser tocada. Você vai encontra-se fora do controle a ponto de ter medo do seu próprio corte, pois você não saberá o quão profundo ele será. É só você achar que vai fazer apenas dez cortes no pulso que eles se transformam em cem espalhados pelo seu corpo. Fique preparada para que toda a sua vida seja baseada na automutilação, e pensar nos cortes, e cobrir os cortes, e chorar com os cortes, e sonhar com os cortes. A sua vida será seus cortes.

Vai chegar uma hora que você vai se cortar muito e você ficará desesperada porque o sangue não vai parar, e você ficará assustada, com medo, porque você não quer morrer, não daquele jeito, e não terá ninguém ali para te ajudar, sabe? Você não pode pedir ajuda a ninguém, e então você ficará derrotada, sentada no chão do seu banheiro ou em qualquer outro canto esperando que o sangue diminua, que você melhore e prometendo a si mesmo que nunca irá tão longe novamente.

Mas você vai, ah si vai, e mais. Você aprenderá a cuidar do seu próprio corte, aprenderá a aprofunda-lo sem cortar uma veia importante, causar uma hemorragia e aprenderá principalmente como trata-lo e esconde-lo. Você vai encontrar-se gastando vinte, trinta, cinquenta reais a cada vez que for em uma farmácia e vai mentir a si mesma, tentando justificar o porque daquilo tudo. Você ficará com um frio na barriga toda vez que for ao balcão, ficará olhando para os lados, para trás, para as pessoas na fila batendo os pés impaciente e cobrindo os pulsos segurando curativos, antibióticos, remédios para dor, esparadrapos, redutores de cicatriz e fita médica, ficará com medo de alguém olhar para você, prestar atenção no seu comportamento e vir até você, perguntar o porquê de você precisar de todas aquelas coisas. Mas ao mesmo tempo, você terá uma pitada de falsa esperança para que surja alguém na mesma fila com você segurando suprimentos iguais aos seus. Alguém que entenda a sua dor, alguém que sofre tanto quanto você, alguém que possa te dar apoio. Mas é claro que isso nunca acontece.

Seu dinheiro não será gasto só com remédios mas com roupas também. Esteja pronta para mudar seu guarda roupa inteiro. Você sentirá falta de usar uma blusa de alcinhas, regatas, shorts, sandálias, top sem manga, roupas curtas e etc, pois blusas de manga longa, pulseiras, braceletes, botas, calças caqui grandes e de algodão irão substituir tudo aquilo que já foi seu. Um dia na praia, na piscina e a sensação de usar um biquíni livremente vai ser apenas uma lembrança vazia na sua mente.

Você vai começar a se olhar diferente, principalmente para seus cortes e como esconde-los. Mas você também sentira vontade de expô-los, mostrar para as pessoas o que as palavras ou qualquer borrada humana pode fazer com um ser, esperando encontrar alguém como você, mas ninguém é. Prepare-se para sentir falta de usar um vestidinho curto, ou até mesmo um baby doll. Prepare-se para realmente morrer de calor. Você passará a fazer suas coisas sozinha, de modo que ninguém possa ver manchas de sangue nas suas roupas ou toalhas. Você ficará sozinha o tempo inteiro, limpando o seu sangue, esfregando o sangue no seu banheiro ou limpando seu quarto, teclado, etc. Você não ficará imune aos cortes, todos os dias a sua lamina irá te chamar.

Ah, sim, a lamina.

Sabe, ela vai se tornar sua melhor amiga, sua conselheira, sua "best" e quando você se sentir realmente desesperada por no momento não ter ela por perto, você vai rapidamente substitui-la por alguma agulha, faca, gilete, anéis, chaves ou até mesmo caneta, realmente não importará o que, mas se você precisa se cortar com urgência, você encontrará algo, você sempre encontrará.

Sabe seu antiga guarda roupa? As blusas curtas, shorts e tudo mais? Vai fazer falta cara, vai ficar tudo muito distante para você e o calor com a coceira vai te matar. Ah é Rachel, esqueci-me de te falar também para você estar pronta para se coçar, vai parecer que você tá com alguma pulga ou doença de pele. Você vai tentar dormir a noite e não vai conseguir, porque você vai sonhar com os cortes e a cada vez que você se remexer na cama, a sua roupa vai grudar no seu corpo, porque o sangue ainda vai estar presente, e quando desgrudar, seu corpo entrará em um estado de dor. Você vai ficar especialista em seu próprio corpo, vai passar a amar os cortes e como fazer eles destruir você lentamente.

Os cortes vão te assombrar nos momentos que possa surgir uma falsa esperança de felicidade em você, porque eles vão sussurrar em seu ouvido: "Eu te ajudei quando você mais precisou, eu estou com você o tempo todo, estou. marcado em você e em recompensação você vai ficar feliz? Vai sorrir com quem te magoou?" e vai ser por causa disso que você desejará nunca ter feito esse primeiro corte, mas você também vai ama-lo e se sentir incapaz de viver sem ele

– Então, Rachel, se você quer destruir a sua vida, continue, prossiga, quando eu sair daqui vá ao banheiro e faça. Mas, lembre-se: Você foi avisada, está tendo esse privilegio, o que eu, não tive.

Quando finalmente terminei de falar e abri os olhos, vi que ela estava sentada na quina da cama me encarando.

– Como você... Sabe de tudo isso?

– Porque eu já me cortei... – respondi sentindo uma lagrima saliente descer pelo meu rosto.

– Mas você tem uma vida...

– Não ouse dizer perfeita – Ameacei limpando as lagrimas – Eu não tenho uma vida perfeita. Minha mãe me abandonou quando eu ainda era criança. Naquela época e não entendia bem nada sobre a vida, mas quanto mais eu crescia, mais comecei a perceber que ela nunca voltaria. Quando eu tinha 10 anos, meu pai se casou novamente. A mulher dele, nos primeiros meses era muito legal e logo ela ficou gravida de dois meninos gêmeos. Eu até que fiquei feliz sabe? Mas ai ela mudou, meu pai mudou e eu também havia mudado. Eu comecei a sofrer bullying com 11 anos. As pessoas caçoavam de mim me chamavam de estorvo, diziam que minha mãe havia me abandonado por eu ser uma pirralha, diziam que ela nunca iria voltar, mas eu tinha esperanças, sabe? Ai com 13 anos eu entrei em uma crise porque meu pai quase nunca ficava em casa e minha madrasta dedicava seu tempo para os meus irmãos. Eu pensei em fugir de casa, mas como eu iria viver? E foi com esse pensamento que eu sai nas ruas vendo se dava pra morar debaixo da ponte. Ai eu vi que não tinha lugar para mim naquele mundo, então decidi sofrer calada. Uns dois meses depois da minha visita em lugares para mim morar, eu conheci uma garota.

Hesitei um pouco antes de continuar, mas Rachel me olhava com tanta expectativa que eu resolvi prosseguir.

– Eu não me lembro do nome dela, mas ela era misteriosa, magra, alta e sempre carregava uma expressão de frio em si. Eu a conheci em um Park Aquático de São Francisco, havia ido lá com Luke, que na época era meu melhor amigo antes de namorarmos. Ela estava com mangas compridas e calça. Ai eu achei aquilo muito estranho e fui perguntar o que tinha de errado com ela, o dialogo saiu mais ou menos assim:


Eu: “Por que você não tira a roupa?”
Ela: “Você quer me ver nua?”
Eu: “Não boba, é que estamos em um lugar com piscinas, onde se banha de maiô...”
Ela: “Eu não vim para banhar.”
Eu: “Então o que você fazer aqui?”
Ela: “Te interessa?”
Eu: “Nossa, educação te mandou lembranças.”
Ela: “E eu mandei ela se foder.”
Eu: “Calma jovem, tá tudo bem?”
Ela: “Quem se importa?”
Eu: “Eu não sei... seus pais?”
Ela: “Pais... Nada haver isso, ninguém se importa.”
Eu: “É claro que alguém se importa.”
Ela: “Olha loirinha estranha que tem cara de metida e com certeza é uma popularzinha filha da puta, eu não sei porque você tá falando comigo e nem eu sei porque estou te respondendo. Você poderia dar licença?”
Eu: “Não até você tirar a roupa.”
Ela: “Eu não vou fazer isso.”
Eu: “Vai sim!”

– Então eu pulei em cima dela e arribei a sua camisa, foi um grande erro porque o que vi foi a sua pele toda cortada, com cortes muito profundos. Mas só eu vi, e ela me encarou como se fosse me matar e tinha um olhar como se fosse chorar. Eu me arrependi de ter feito aquilo, porque ela parecia que queria esconder bem os cortes. Então eu disse “Porque você faz isso?” e ela disse carrancuda: “Para aliviar a dor.” Depois desse dia eu só vi ela mais duas vezes e nessas duas vezes eu a olhei com pena, mas da última vez ela perguntou porque eu não tentava fazer aquilo para esquecer os problemas. E eu, não me pergunte porque, fiz isso.

Ela olhava para mim de uma forma como se... entendesse o que eu sentia, então perguntou:

– Você se cortou só porque ela recomendou?

– Na verdade, foi por curiosidade também sabe? E eu já estava na pior. Ai, com o estopim do meu pai viver sempre brigando comigo por coisas nada haver, a saudade da minha mãe, o bullying, as palavras que machucavam o meu peito que minha madrasta dizia, então eu me cortei. Meu primeiro corte doeu pra caralho, eu havia pensado o seguinte: “Vou cortar só o meu pulso, só dois cortes.” E com o passar do tempo, eles se multiplicaram para todo o meu corpo. Eu não tenho muitas cicatrizes porque a Julyanne descobriu no meio do ano passado que eu me cortava e começou a tratar de mim, a me dar redutores de cicatrizes todas as semanas. Mas eu ainda tenho, olha só.

Me aproximei dela e mostrei meu pulso esquerdo onde era possível, se ver de perto, os cortes profundos. Eu não me orgulhava daquilo, nem um pouco.

Rachel balbuciou algo que eu não intendi e parecia horrorizada.

– Annabeth....

– Então Rachel, eu aconselho você a não destruir a sua vida com isso.

–Mas você se recuperou!

– Quem disse que eu ainda não sinto vontade de me cortar? Vontade de me matar? Rachel, a dor é algo que não te abandona nunca.

– Quem tanto sabe sobre isso? Digo, os cortes.

– Até agora só a Jubs e você.

– Annabeth, desculpa o que eu falei sobre...

– Relaxa, eu me recuperei um pouco. Por que finalmente consegui esquecer a idiota da mulher que eu tenho que chamar de mãe e todos da minha família fazer comentários sobre nós duas se parecermos e tal...

– Annabeth, e se um dia ela voltar?

– Impossível, ela vai estar mais ocupada vendo suas obras, palestra e qualquer outra coisa a se lembrar que tem uma filha.

– Se você diz...

– Rachel, eu tenho que ir – Me alevantei e recolhi minhas coisas – Pensa no que eu te falei, tá?

Ela assentiu.

– E ah, não conte para ninguém sobre isso.

Ela assentiu de novo e olhou para meu celular que estava em sua mão, depois arregalou os olhos.

– Er, Annabeth...

– O que foi?

– Eu juro que pensei ter desligado o celular...

Engoli em seco.

– Deu pra ter ouvido algo que eu disse?

– Eu não sei. Ai Annabeth, me desculpa, eu cliquei em desligar e...

– Quem foi que ligou?

– Annabeth...

– QUEM RACHEL?

– O Percy.

Ah não, ele não, Deuses, por favor, não.


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Notas finais do capítulo

*Isso é um apelido carinhoso gente, eu juro.
Olha, eu recebi muito poucos reviews no capitulo anterior e senti falta da Mari, da Cristal e da Beth, então, quero que pelo menos as pessoas que favoritaram a fic comentem, porque se não, eu vou demorar pra postar o proximo.
A fic tem muitos leitores, o que custa deixar um review? ou um favorite? ou uma recomendação? Não estou cobrando nada, pois fico feliz até mesmo com um comentario gratificante.
Sei que o cap não tá o esperado mas prometo melhorar no proximo.
Comentem! Digam o que acharam ou o que precisa ser melhorado! Por favor!
Qualquer erro só me avisar, please, pois eu não tive tempo de rever o cap.

Bjks. Queen.