Os três amigos ficaram imóveis, de olhos arregalados, encarando a criatura, que agora se levantava lentamente. O Doutor fez sinal para que parassem, e começou a falar:

— Olá... Nós não estamos com medo, queremos apenas conversar.

— É Doutor, certo? – perguntou. A criatura lembrava muito um corpo humano, com quatro membros, uma cabeça e posição de bípede. Sua pele parecia a de um réptil, de um verde escuro e algumas rugas pelos membros. A máscara em seu rosto era branca manchada pela sujeita do quarto. Ele era bem alto, bem mais alto que Doutor e Ji Yong, quase uns dois metros. Apesar de sua aparência assustadora, os olhos da criatura era os mais dóceis que Caro já havia visto. Foi quando perguntou:

— Qual... qual é o seu nome?

— Meu nome? Sou M'orzz! - O som que saiu de sua boca parecia estalar, produzindo um grunhido impossível de ser reproduzido por humanos. - Estou procurando minha Christine, ela sempre me ouvia e respondia cantando. Mas acho que ela não me ouvia. Como vocês conseguiram me achar?

Caro ficou sem palavras depois de M'orzz a ter metralhado com tanta informação. Pensou que poderia dar um apelido mais fácil para a criatura, pois não estava acostumada com uma pronuncia tão diferente quanto essa. Lembrou de personagens de quadrinhos que tinha um nome parecido, mas modificou um pouco:

— Posso te chamar de Moz? - perguntou a garota com um sorriso no rosto. - Não consigo produzir o mesmo som que você fez. Isso se você não se importar, claro...

— De jeito nenhum, senhorita. Obrigado pelo apelido. – Respondeu Moz gentilmente.

— Moz, então – interrompeu Doutor – o que você está fazendo aqui embaixo, sozinho? Nunca tentou ir para cima?

Moz baixou o rosto e respondeu à pergunta melancólico:

— Não me deixam subir. Eles acham que sou um monstro. Tenho medo que façam alguma coisa comigo. E também não tenho como subir, estou preso aqui embaixo.

E era verdade. Se não fosse pelo buraco feito quando Caro caiu, não teria como ele sair. Doutor junto com a garota e o garoto andaram por todos os lado e não encontraram nada parecido com uma passagem ou porta. Foi quando Ji Yong resolveu dizer alguma coisa, já que não estava participando tanto da conversa:

— E como você se alimenta aqui embaixo? Você deve comer alguma coisa, não? Porque não vejo nada que serviria de comida aqui.

O Doutor fez uma cara de contente, como se estivesse orgulhoso que seus amigos tivessem aprendido com ele a fazer esse tipo de perguntas.

— Muito bem observado, Ji Yong! Moz, você deve se alimentar de alguma coisa, qualquer coisa. Bananas, maçãs, iscas de peixe com creme...

— Hum, curioso esses nomes, devem ser muito bons, mas eu me alimento de pequenos ratos que aparecem mortos aqui ou ali. Não se preocupem! Apesar de ter aparecido uma vez ou outra uns ratos bem grandes! Pelo menos é o que meus amigos dizem que são.

— Amigos? – perguntaram os três juntos

Ouviu-se ao fundo alguém chamando pelo Doutor, dizendo que queriam falar com ele. Devia ser algum ajudante do monsieur Garrel. Parecia insistente, e por esse motivo fez o Doutor pensar em algo bem rápido. Depois de alguns segundos andando de um lado do quarto para o outro, ele disse:

— Moz, olha, precisamos voltar para cima. Mas estou disposto a ajudar encontrar sua Christine. Me parece que você precisa realmente de ajuda. Prometo voltar aqui mais tarde! Está certo?

— Achar minha Christine? Isso seria ótimo! Vou esperar vocês aqui!

— Ok, combinado! Vocês dois, vamos antes que sr Garrel entre aqui embaixo.

Os três começaram a correr em direção à escada. Caro atrás dos meninos, com a sombrinha ainda servindo de apoio. Ji Yong percebeu que ela não estava logo atrás deles, por isso esperou que ela o alcançasse para ajuda-la. O Doutor já estava no topo da escada quando os dois chegaram ao pé da mesma. Talvez fosse nesse momento que o Doutor percebeu algo entre seus amigos estava prestes a começar.

Ele viu como Ji Yong segurava delicadamente sua amiga, quando esta subia pelas escadas, e como ela ficou com o rosto vermelho pelo fato do rapaz estar lá ao seu lado. O Doutor deu um risinho que ninguém viu. Lembrou-se como se sentia quando se encontrava com sua esposa River Song à noite, escondidos de tudo e todos. Bom, talvez ele pudesse dar uma pequena ajuda a esse novo-possível casal.

Eles haviam se conhecido alguns meses atrás, quando o Doutor e Caro salvaram o garoto de um caixa eletrônico humanóide, que estava aterrorizando a cidade de Seul. Os três têm viajado juntos desde então, enfrentando ciborgues, sombras devoradoras, máquinas assassinas e outras coisas. Mas para os dois jovens tudo estava confuso, principalmente para Ji Yong, que era novo na equipe, e tinha que lidar com o fato de viajar pelo tempo e espaço com uma garota brasileira e um Senhor do Tempo de outro planeta.

Quando todos estavam de pé do lado de cima, encontraram um sr. Garrel nervoso e desesperado; parecia que teria um colapso nervoso a qualquer momento. Ao falar, sua voz saiu trêmula e rouca:

— Doutor, ele... Ele atacou novamente!

— Quem atacou? O que aconteceu?

— É melhor o senhor me seguir.

Garrel levou os amigos para o palco principal, onde havia um tumulto de gente correndo por todos os lados, com olhos arregalados, e sem saber o que fazer. Acima do chão, um corpo estava dependurado de uma corda bem ao centro.

—É ele Doutor... O Fantasma da Ópera!!