Narrador Oliver – Dia 17/08/XX

Depois daquela fala de Bernardo eu me desesperei, agora sim aquilo não podia piorar. Dois amigos meus como reféns daqueles que antes eu chamava de amigos.

Bernardo não se calou, e mais uma vez disse algo, que somente serviria para mais uma vez desestruturar nosso grupo e nossa atual realidade, essa fala foi:

–Então, quem quiser ainda tem a chance de mostrar que é inteligente e vir para o nosso grupo, este será bem vindo.

Não pensei que tal fala obteria resposta, eu errei. Samantha pela primeira vez em muito tempo falou. Ela mudaria para o grupo de Bernardo. Eu pensei, apesar do que ela disse o real motivo para aquela decisão parecia incerto. Seria por causa de uma queda que ela tinha por Jean? Ou a esperança sobre o nosso grupo era realmente inexistente?

Milhares de idéias tomavam conta de minha mente, mas eu sabia que não era daquilo que precisávamos, e sim de uma ação, então para dar fim ao silencio eu disse:

–Tudo bem então Bernardo, nós vamos embora. Agradeço por nos deixar ir amanha por já ser noite. Pelo visto, a sua humanidade e bom senso não desapareceram completamente.

Olhei para todos e me aliviei, eles pareciam ter concordado com a minha fala. Fiquei feliz por ter sido capaz de tomar a decisão que agradava a todos, até mesmo a Rain, que guardou a pistola em seu bolso traseiro.

Subimos então para o segundo andar, e Miran logo após estarmos longe o suficiente de Vic e Bernardo perguntou se fugir era o que realmente faríamos. Não encontrava resposta para aquilo, mas mesmo assim disse:

–Olha, estamos em um grande numero, vamos nos dividir em dois grupos para organizar as idéias e decidir o que fazer. Miran, você pode ficar com Hazel e a Nath e eu converso com Rain e Lucy.

E assim foi feito, nos dividimos e começamos a conversar cada um em seu grupo. Rain instantaneamente disse:

–Não podemos fugir Ollie! Bernardo já não é mais o mesmo! Ele pode matar Zoro e Maria sem motivo nenhum! Precisamos agir!

Respondendo eu disse:

–Eu apoiaria a sua idéia Rain, mas não há o que fazer, eles têm as armas e tudo que precisam para nos fazer sumir sem ser por aquela porta.

Rain concordou com a cabeça, mas mesmo assim disse:

–Eu concordo que eles têm mais poder de fogo Ollie, mas nós estamos em maior numero e podemos usar isso a nosso favor para conseguir a vitória!

Surpreendendo-nos Lucy falou:

–Olhe... Eu percebi que ultimamente Bernardo tem olhado de um jeito diferente para mim... Eu poderia distraí-lo enquanto... Vocês pegam as armas...

Rapidamente eu respondi:

–Você tem certeza disso Lucy? Pode ser perigoso...

Ela concluindo disse:

–Eu tenho Ollie! Quero ser útil dessa vez!

Rain então falou:

–Mas ainda temos um problema, e a Vic...?

Rain e Lucy me olharam ao mesmo tempo e eu entendi a idéia, eu seria aquele que distrairia Victoria. Concordei com a cabeça e me levantei, me direcionando ao sofá, onde se encontravam Natasha, Hazel e Miran.

Perguntei rapidamente:

–E então... O que decidiram?

Miran meio cabisbaixa me falou que haviam decidido sair do apartamento. Rapidamente eu disse em oposição:

–Eu havia decidido por sair também, mas agora estou apoiando o plano de Rain e Lucy, onde iremos lutar pelo que é nosso.

Miran sorriu, e aparentemente apoiando a decisão perguntou então como iríamos fazer isso. Eu respondi com a seguinte frase:

–Será o seguinte, Lucy irá distrair Bernardo e eu irei conversar com Victória, abrindo assim uma brecha para que Rain e Miran peguem as armas. Oh, e quase me esqueci, Hazel, você dará um jeito de segurar Jean que aparentemente está do lado deles. Natasha, você deverá ficar aqui e aguardar para caso aconteça algo errado.

Todos balançaram a cabeça concordando, e continuei dizendo:

–Gente me desculpe, eu sei que todos estão cansados, mas acredito que esperar até amanhã de manhã para realizar o plano não é uma boa decisão, então ele será executado... Agora! Todos estão de acordo?!

Aproximei-me de Miran e disse e seu ouvido:

–Ei... Eu estou preocupado com você, tem certeza que consegue fazer isso...? Nós podemos encontrar outra saída... Você não precisa arriscar sua vida nisso... Até porque, se algo acontecer com você... Não sei o que será de mim...

Ela deu uma resposta breve dizendo que eu não deveria me preocupar, porque nada aconteceria. Queria mesmo acreditar nas palavras de Miran, mas estava com medo, de mais uma vez perder aqueles que eu amo.

Aproveitamos o fato de a cozinha ser no andar de cima para rapidamente comer e pegar facas, as quais poderiam ser úteis.

Mais uma vez analisamos o plano e combinamos que eu desceria por primeiro, depois Lucy e em seguida Hazel. Após nós três termos descido seriamos acompanhados por Miran e Rain que iriam em seguida.

E assim foi. Eu desci pronto para dar o meu melhor visando o sucesso do plano. Ao chegar ao andar de baixo percebi Vic, estava deitada com ao lado Maria que chorava baixinho. Aproximei-me dela e chamei sua atenção, que assustada se levantou cobrindo-se com uma coberta tendo na mão uma faca.

Estando próximo o suficiente dela eu disse:

–Ei Vic...Esta tudo bem?

Ela concordou com a cabeça, mas nada disse. Continuando eu disse:

–Estou preocupado com você... Eu...

Ela me cortou e perguntou irritada:

–Por quê?

Rapidamente dei continuidade ao dialogo dizendo:

–Porque sei que você não é assim, você é uma garota incrível Vic... Só precisa enxergar isso e não se deixar ser influenciada por qualquer pessoa, nem mesmo aqueles que parecem ser bons como...

Ela novamente me cortou dizendo:

–Como você?

Eu respondi:

–Como Bernardo.

Ela então disse:

–Você me traiu Oliver, eu te amava e você não se importou! Pisou em mim! Então qual o problema de eu pisar em você?

Respondendo falei:

–Essa é a questão Vic, você podia me amar, mas eu não sentia esse mesmo sentimento por você! Sinto algo muito forte, mas não é o mesmo... Eu só queria dizer que... Vic... Não quero que algo ruim aconteça com você... Venha conosco... Comigo...

Ela nada disse, mas estranhamente fechou os olhos e aproximou-se de mim, como se fosse me beijar. Tal ação de Vic foi interrompida com um barulho não muito alto, porem perceptível, e o pior... Vinha da sala de armas!

Algo no plano havia dado errado, mas não poderia falhar em minha parte. Percebi então que Vic recolhia a faca que havia deixado no sofá e me olhava, buscando por respostas.

Não sabia o que dizer, mas tinha uma idéia... Segurei os ombros de Victória e correspondi ao que ela queria, beijei-a. Após o beijo disse novamente sorrindo:

–Venha comigo Vic...

Novamente nossa conversa foi novamente interrompida com um barulho, só que mais forte... Um estrondo... De um tiro!

Após ter ajudado Maria a se levantar Vic segurou minha mão, pronta para seguir aquele caminho, o meu caminho.

Aquela decisão de Vic estranhamente tocou meu coração fortalecendo a esperança na bondade das pessoas que antes, aos poucos, desaparecia de minha vida e mente.

Narradora Miran - Dia 17/08/XX

Com toda aquela discussão Bernardo, furioso, ordenou que saíssemos até amanhã. Ele realmente estava na liderança perante todos nós. Não tínhamos o que fazer, todos os nossos amigos estavam literalmente em suas mãos. Nossa única alternativa era a paz, pois é, eu ainda tinha esperança que ela existia.

Meus pensamentos foram interrompidos por Bernardo, falando que se alguém quisesse se juntar a ele e a Vic seria muito bem-vindo.

Olhei ao meu redor vendo se alguém se rendia ao mal, aparentemente ninguém se manifestou, porém Samantha, que estava atrás de mim, foi ao lado de Bernardo e disse calmamente:

– Agora não vou mais usar o coração para tomar decisões, mas sim minha cabeça. Acredito que será o melhor jeito para sobreviver nesse Apocalipse. Desculpe gente... Mas vou pensar em mim um pouco ok...?

De uma coisa eu tinha certeza, Starkin já não era a mesma, e o mundo passou a ser uma competição, uma luta, entre a vida e a morte.

O silêncio predominava totalmente o ambiente. Não conseguia acreditar que um dia achei que todos eles eram meus amigos de verdade. Oliver, diante da calmaria do silêncio agradeceu ironicamente Bernardo por nos deixar ficar uma noite no apartamento. Então subimos para o segundo andar.

Quando vi que estávamos longe dos inimigos falei:

– Ei gente, vocês acham mesmo uma boa idéia sairmos daqui...? Sei lá, temos tudo o que queremos nesse lugar, comida, água, armas e o mais importante, nada de zumbis. Pra que arriscar nossa vida ein?

Oliver meio ignorando meu comentário disse para nos separamos em dois grupos, para organizar melhor todas as idéias.

Ficamos eu, Hazel e Natasha no sofá e Ollie, Rain e Lucy na mesa.

Olhamos-nos por um tempo, até que Hazel se manifestou:

– Acho que deveríamos fugir dar um jeito de pegar as armas e sumir daqui.

Natasha então, rapidamente falou:

– Como iríamos pegar tudo e fugir sem sermos pegos...? Quase impossível não acham...? Tenho muito medo d-daquelas criaturas...

Pensei um pouco e logo disse:

– Para que complicar uma coisa que não tem complicações?! Meu deus! Agente tem que ficar aqui até tudo lá fora se acalmar, as chances de sobrevivemos aqui são bem maiores gente, e tem mais... - fui interrompida por Hazel:

– MIRAN! Esse lugar esta pior que do que o jogo “War”, estamos lutando por nossas vidas, só acho que isso vale mais que qualquer território!!

Confesso que aquele argumentou me calou. Hazel tinha o dom de convencer as pessoas mesmo estando errada.

Oliver veio até nós perguntando qual era a nossa decisão. Falei meio encucada:

– Decidimos sair desse lugar... Talvez seja o melhor mesmo...

Oliver falou que o grupo havia decidido permanecer no apartamento e lutar por ele. Perguntei sorrindo logo em seguia:

– Então qual é o plano??

Oliver então falou basicamente que ele, Lucy e Hazel iriam distrair os inimigos no andar debaixo enquanto eu e Rain pegaríamos as armas. Natasha permanecerá no andar de cima caso algo de errado aconteça.

E por ultimo falou que esse tal plano seria feito imediatamente.

Todos pareceram concordar. Oliver então veio até mim e perguntou baixinho se eu conseguiria fazer aquilo e queria que nada acontecesse comigo, um ato de compaixão aquele, uma coisa que naquele momento estava extinta. Sorri e então falei:

– Claro que consigo meu anjo... Tudo vai dar certo. Não se preocupe comigo ok? Nada vai acontecer.

Apesar de ter dito aquilo não tinha certeza de tudo que iria acontecer. Mas o otimismo não podia morrer junto a minha esperança.

Comemos um pouco e logo em seguida revisamos o plano.

Oliver tomou a liderança seguida por Lucy e Hazel que iriam distrair os inimigos também.

Esperamos cerca de cinco minutos e lá fomos eu e Rain pegar as armas.

Meu coração estava acelerado e minhas mãos tremulas. Nada podia dar errado. Estávamos arriscando nossa vida ali. Vi de longe Oliver conversando com Vic, mas não consegui ver Lucy, acreditei que ela estava dentro do quarto de Bernardo. Em completo silêncio peguei a ultima pistola que ainda restava enquanto Rain tirava uma arma do bolso. Percebi um movimento e me virei. Hazel estava na frente da ultima porta do corredor e parecia estar com dificuldade de abri-la. Desistindo então, veio devagar até nós dizendo:

– A porta estava trancada, não dava pra abrir, eu até conseguiria abri-la, mas o barulho seria grande.

Disse baixo:

– Tudo bem, Jean aparentemente é inofensivo, ele não nos trará grandes problemas. Ajude-nos a pegar as facas aqui.

Rain riu e discordou com a cabeça. Hazel então se ergueu para pegar as facas na ultima prateleira. Bruscamente uma delas caiu no chão e devido ao silêncio que habitava o ambiente o barulho pareceu uma explosão.

Não sabia o que fazer nem o que pensar, olhei furiosa para Hazel que estava no chão catando a bendita faca.

Por instinto virei para onde estava Oliver pensando que ele podia nos ajudar, mas vi algo que nunca imaginei ver. Vic e Oliver se beijando. Sim, aquele beijo de novela só faltou uma música romântica para fechar a cena de amor. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas rapidamente as limpei virando para Hazel e Rain, e nesse mesmo instante ouvimos um estrondo. Parecia um tiro. E diante disso me perguntei, o que havia acontecido. Comecei a questionar sobre o que era melhor, continuar ali, ou me render à morte.