A Estrangeira escrita por Paola_B_B


Capítulo 17
Capítulo 16. Heranças de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Olá amores, desculpem pela demora. Vamos a mais um cap, espero que gostem ^^



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Capítulo 16. Heranças de sangue

POV Bella

Tudo era tão diferente, tão vivo, tão intenso... Minha cabeça ainda está perdida com as novas informações e elas não são poucas. Tentei ao máximo não pensar o que toda essa loucura significava, pois assim eu realmente enlouqueceria. Não é como se eu tivesse acostumada a ter uma visão tão boa que eu poderia ver a Lua de um tamanho absurdo, ou escutar a conversa dos vizinhos do final da rua, ou me deliciar com o sangue de um urso. Era difícil acreditar em tudo o que me aconteceu hoje e em tudo o que Edward me explicou, eu ainda esperava acordar em um manicômio.

Porém ao sentir o suave carinho que meu namorado fazia ao deslizar seus dedos pelo meu braço eu sentia toda a realidade. Seu cantarolar mantinha meu coração calmo e minha mente relaxada. E tudo o que me restava era aceitar a minha condição. Seria até que divertido me descobrir.

- Bella... Tio Emm acabou de me mandar uma mensagem pedindo para irmos até a minha casa. - virei meu rosto para fitá-lo.

Edward era tão bonito. Minha visão antiga não fazia jus a sua beleza. Agora eu podia ver cada lindo detalhe de seu rosto, o modo como as ruguinhas da sua testa formavam-se quando ele imaginava uma reação minha, o modo como sua boca se esticava em um sorriso torto e matador quando tentava, e conseguia, me seduzir.

- Bella!

- Desculpe, estava distraída com o seu rosto. - sorri envergonhada.

Meu namorado riu beijando a ponta do meu nariz.

- Como você consegue se concentrar? Eu sinto que minha cabeça tem muito espaço. É como se eu pudesse pensar em várias coisas ao mesmo tempo.

- É porque você pode. Nossas mentes tem muito espaço e são muito mais rápidas do que você pode imaginar ou perceber por agora. E eu também me distraio com facilidade, principalmente quando eu estou olhando para você.

- Mas eu nunca percebi essa distração.

- Bella, é como se você estivesse conhecendo um novo mundo, muito parecido com o que você vivia, mas agora tudo tem muitos mais detalhes. É completamente normal que se distraia com as coisas mais bobas que possa imaginar, até mesmo uma poeira flutuando no ar pode se tornar fascinante aos nossos olhos. Com o tempo você aprende a deixar os detalhes em segundo plano em sua mente.

- Ok... - murmurei. - O que você queria saber mesmo?

- Podemos ir até a minha casa? Daqui a pouco o dia vai amanhecer e todos estão preocupados com você. - falou hesitante.

Respirei fundo. A sua hesitação se devia ao fato de que o demônio estaria lá. Honestamente eu não me sentia preparada para vê-lo e muito menos ter uma conversinha sobre os velhos tempos. Só de lembrar daqueles olhos medonhos meu corpo arrepiava em pavor. Porém até quando eu fugiria? Ele respeitaria meu espaço enquanto os Cullen estivessem me protegendo, mas e quando eles não estiverem por perto? Seria muito pior ter essa conversa sozinha do que com pelo menos Edward ao meu lado.

- Ele estará lá? - perguntei em um sussurro.

Edward repousou sua mão em minha bochecha e acariciou com delicadeza.

- Sim. Tio Emm garantiu que ele não encostará em você se você não quiser. Ele só quer conversar. Contar sua história.

- A história dele ou a minha?

- Talvez ela seja a mesma.

Engoli em seco. E se fosse mesmo verdade. Se ele realmente fosse o meu...

- Vamos. - decidi com a voz trêmula.

- Você tem certeza? Se não estiver preparada podemos esperar e...

- Eu nunca estarei pronta. Mas acho que terei que passar por isso de qualquer forma.

- Tudo bem. Só não esqueça que eu estarei ao seu lado. Não precisa ter medo.

Apenas assenti.

Levantamos e saltamos do telhado. A sensação do vento batendo contra o meu rosto naqueles segundos era maravilhosa. Logo estávamos dentro do carro e Edward acelerava em direção a sua casa. Não foi difícil me distrair com os detalhes do caminho, então eu só fiquei tensa quando Edward abriu a porta de sua casa e me puxou para dentro.

A primeira pessoa que vi foi Esme que caminhou hesitante até mim. Seu sorriso estava trêmulo como se ela tivesse medo da minha reação ao vê-la agora que sei que ela é uma vampira. Porém a sensação deliciosa que sempre tive ao estar com Esme, o amor materno que exalava de seus lindos olhos dourados, apenas intensificou. Ela era linda de um modo que me fazia sorrir encantada.

Ela visivelmente relaxou e veio me abraçar. Seu cheiro doce me atingiu em cheio me trazendo novamente a tranquilidade que me faltava.

Edward soltou minha mão para que eu pudesse retribuir o abraço e caminhou em direção à sala. Esme assumiu o lugar de meu namorado e me puxou com delicadeza.

Deparei-me com todos os Cullen me observando. Eu os olhava com curiosidade. Parecia que era a primeira vez que os via e de certa forma era exatamente isso que acontecia. Incrivelmente suas belezas eram ainda mais impressionantes.

Só então eu o vi. Imediatamente senti meus pelos arrepiarem e o medo me atingiu. Apertei com força a mão de Esme e dei um passo para trás me colocando atrás dela como uma criancinha indefesa.

Inerte ao meu medo Alice correu até mim abraçando minhas pernas. Instintivamente a puxei para trás tentando protegê-la.

O demônio deu um passo em minha direção com a expressão ansiosa. Ele não parecia perigoso, mas eu não me sentia a vontade. Talvez ele só estivesse fingindo por causa dos Cullen.

- Sininho. – murmurou ele.

Minha mão quase esmagava a da Esme.

- Não tenha medo querida. – pediu a vampira. – Prometo a você que ele não lhe fará mal.

Meu coração batia tão forte. Eu não conseguia acreditar nas palavras de Esme. Minha vontade era correr para fora e eu faria isso se Alice não apertasse minhas pernas com tanta força. Algo me dizia que ela sabia que eu correria e tentava impedir com o seu jeitinho infantil.

- Mãe, porque não leva Alice para comer um sorvete. – sugeriu Edward ficando de frente para mim. – Venha Bella. – pediu abrindo os braços.

Sem me fazer de rogada eu enterrei meu rosto em seu peito. Ele me puxou para o sofá e me fez sentar ao seu lado. Agarrei sua mão com força e observei o olhos vermelho sentar-se no sofá ao lado. Seus olhos não saiam dos meus. Era claro que ele tinha coisas a falar.

- Bella, esse é Charlie. – começou Carlisle com cautela. – Ele tem uma história muito parecida com a história que eu tenho com Esme. Acredito que Edward tenha te contado como eu conheci minha esposa.

Assenti.

- Eu conheci René quando estava de passagem pela America do Sul. Ela me encantou completamente. Eu desejava todos os dias voltar a ser humano para poder me aproximar. – começou ele com pesar, então um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. – Você é muito parecida com ela.

Senti um nó se formar em minha garganta.

- Ela morava em um casebre simples junto com seus pais e irmãos em uma cidade vizinha a Colatina. Sua família tinha uma pequena plantação de milho e vivia da compra e venda do grão. Era incrível que mesmo com o trabalho pesado que René enfrentava todos os dias sua beleza era extasiante. Seus olhos eram azuis como o céu e os cabelos castanhos claros queimados pelo Sol. Eu era fascinado pelo fato dela sorrir a todo instante, nada parecia a entristecer. Eu a observei de longe por meses até que um dia de céu nublado, quando ela estava indo até o centro da cidade comprar mantimentos, eu a abordei.

“Estávamos no meio de uma estrada rural, eu usava óculos escuros para não assustá-la com meus olhos vermelhos. Ela achou que eu estava perdido e me ofereceu uma carona até a cidade. Era errado o que eu estava fazendo, mas eu não conseguia mais me manter longe. Ela me encantou ainda mais após trocarmos algumas palavras. Depois daquele dia voltamos a nos encontrar várias vezes no centro da cidade. A estação era chuvosa, então eu não tive muitos problemas em me movimentar durante o dia.”

“Ela acabou por retribuir os meus sentimentos e nós acabamos por nos envolver sentimentalmente. Eu lhe contei sobre a minha condição de vampiro e ela não se abalou, nem mesmo quando fitou meus olhos vermelhos. A cada dia nosso envolvimento era maior. Namorávamos escondidos, seu pai era um tanto antiquado em relação a namorados. Foram os meses mais maravilhosos de toda a minha vida, eu nunca estive tão feliz. Foi então que descobrimos que ela estava grávida. Foi um choque para mim, eu não fazia ideia de que isso era possível entre humanos e vampiros.”

“Confesso que fiquei apavorado com a ideia, porém a felicidade de René iluminava seu rosto. O problema foi quando contamos ao seu pai. Ele ficou furioso e a expulsou de casa. René ficou arrasada, mas eu não a abandonaria de jeito nenhum. Ainda mais com uma gravidez que se mostrava arriscada para sua saúde. Eu começava a perceber que talvez ela não fosse resistir.”

“Constatar aquilo fez com que eu tomasse uma brusca atitude. Construí uma casa simples no meio da floresta e a abasteci com muitos mantimentos. René estava fraca e não conseguia se alimentar. Comecei a caçar pequenos animais e tirar-lhes o sangue para dar a ela, minha teoria estava certa e com a nova dieta tanto a criança quanto ela começavam a se fortalecer.”

“René já estava no final da gravidez quando eu constatei o cheiro de um vampiro nômade perto de casa. Eu estava caçando naquele momento e voltei na máxima velocidade para dentro de casa. Encontrei o vampiro prestes a atacá-la. Iniciei uma luta com ele e gritei para que René fugisse e assim ela o fez.”

“Minha luta com o nômade foi mais demorada do que eu imaginava e ele acabou escapando de minhas garras. Corri atrás de René a encontrando na beira de uma estrada em trabalho de parto. Ela pedia desesperada para que eu retirasse seu bebê, pois ele estava sufocando. Meus extintos comandaram ao ver sua barriga esticar-se de dentro para fora. A criança realmente estava sufocando e tentava sair. René acabara desmaiando de tanta dor. Sem equipamentos médicos eu não tive muitas escolhas. Cravei meus dentes em sua barriga e a rasguei puxando a linda bebê de seu ventre.”

“Ela não chorou. Apenas me olhos com seus grandes olhos castanhos. Olhos estes iguais aos meus quando humano. Ela encheu meu coração de um sentimento que eu não sabia ser capaz de sentir. Coloquei-a deitada ao lado de sua mãe. Ela moveu o rostinho se acariciando em sua mãe e fechou os olhinhos com um pequeno sorriso demonstrando todo o amor que sentia por sua mãe. Enquanto isso eu me concentrei em fechar os ferimentos de René e transformá-la. Eu escutava seu coração bater fraco, mas sabia que ela conseguiria sobreviver. Foi então que um corpo se chocou contra o meu.”

“Era o nômade novamente. Ele queria sua presa, porém nada me faria deixá-lo chegar perto de minha René ou de minha filha. A luta foi feia e infelizmente demorada. Quando ele finalmente desistiu de disputar René comigo já era tarde demais para ela.”

As lágrimas já escorriam livremente pelo meu rosto. O vampiro falava com dificuldade e por mais que eu tivesse certo em minha cabeça que ele era um demônio sem coração eu não pude ignorar a sinceridade de suas palavras e a gigantesca dor com que elas eram proferidas.

- Quando retornei a estrada havia uma ambulância parada e a sua volta muitas pessoas. Me aproximei discretamente rezando para que os médicos tenham consigo salvar minha René. Meu coração se quebrou ao perceber que eu a tinha perdido. Já minha bebê estava nos braços de uma policial. Ela chorava de uma maneira sentida, eu sabia que ela tinha consciência que havia perdido sua mãe. Meu coração se quebrou mais uma vez e uma fúria se apoderou do meu ser me fazendo correr atrás do infeliz que havia destruído minha família.

“Minha ideia era que eu logo o acharia, acabaria com a sua vida e voltaria para a minha filha. Porém fiquei tão obstinado que não percebi os dias e anos se passando, minha raiva me guiava e quando me deparei sem mais nenhuma pista do vampiro resolvi voltar para a minha filha. Foi olhando um jornal da cidade que percebi que anos haviam se passado, nunca me senti tão mal. Eu havia perdido toda a infância de minha filha, sequer havia lhe dado um nome.”

“Lembrei-me de seu choro sentido. Talvez ela não tivesse chorando apenas pela morte de sua mãe, mas também porque sabia que perderia seu pai. Seu choro era triste, mas ao mesmo tempo bonito como sinos. Dediquei meus dias a procurá-la, foi então que descobri que ela havia vindo para os EUA.”

Charlie que até então estava perdido em suas lembranças voltou seu olhar para mim.

- Foi quando a encontrei. Já uma mulher feita e para o meu desgosto e ciúme de pai com um namorado a tira colo. Quando a vi junto de Edward, Emmett e Rosálie, eu imaginei que já sabia sobre você mesma, pensei que sabia da sua origem. Eu iria me aproximar naquele dia, mas a vi voltar completamente transtornada para a casa da sua amiga. Soube que sua mãe adotiva havia falecido e a segui de volta até Colatina. Não foi preciso muito para descobrir quem havia a matado. O nômade estava de volta e eu tinha certeza que ele queria terminar o serviço que há 18 anos tinha começado.

“Mantive-me a uma distância segura de você e suficiente para avistar qualquer aproximação do vampiro. Quando decidiu voltar aos EUA eu fiquei mais tranquilo, afinal aqui você teria mais uma família para te proteger. Então você acabou atacando seu namorado e eu percebi que você não fazia ideia que era híbrida e tentei me aproximar para ajudá-la.”

Ele respirou fundo e ficou com uma expressão sofrida.

- Me perdoe se a assustei. Eu sou deveras obstinado, apenas queria contar-lhe quem eu era.

Eu nada disse. Estava abalada demais para proferir qualquer palavra.

- Esse nômade... Ele ainda está nos rondando? – perguntou Edward.

Meu namorado estava tenso.

- Eu senti seu cheiro a alguns quilômetros daqui.

- Eu acho... Acho que ouvi seus pensamentos. – falou chocado.

O olhei confusa.

- Podemos ler pensamentos?

- Er, na verdade apenas eu. Alguns vampiros possuem dons diferentes. E há uma teoria que todos os híbridos possuem esses dons. Alice, por exemplo, pode ver o futuro. Eu posso ler mentes. Isso quer dizer que há uma grande possibilidade de você apresentar algum dom diferente também.

- Você já leu minha mente. – perguntei séria não gostando nadinha daquela história.

Edward ficou com as bochechas vermelhas.

- Apenas uma vez, mas você só pensava em português então eu não entendi nada.

Estreitei meus olhos.

- É sério, foi apenas uma vez.

- Edward filho, você está falando daqueles pensamentos que te deixaram preocupado? – perguntou Carlisle.

Meu namorado voltou a ficar tenso e assentiu. O olhei com temor.

- Vai ficar tudo bem. – Edward beijou minha testa tentando me acalmar.

O abracei enterrando meu rosto em seu peito. Não era apenas por causa do medo que eu estava sentido do tal nômade, o verdadeiro demônio de olhos vermelho. Mas eu me sentia tão pequena perto de toda essa história. Charlie era afinal o meu pai. Aquele que por tantos anos imaginei como poderia ser. Eu sabia que ele tinha os cabelos castanhos escuros como os meus e os olhos também, já que a foto de minha mãe morta me mostrava os cabelos quase loiros e os olhos azuis. Eu não gostava da memória que tinha dela. Eu me lembro dela morta, eu gostaria de lembrar-me dela viva. Com o sorriso que iluminava, o sorriso que Charlie descrevera de maneira tão apaixonada.

Sentindo meus olhos molhados voltei-me para Charlie. Seu rosto não me dava mais medo.

- Você tem uma foto dela? – perguntei em um murmurar.

Ele piscou algumas vezes confuso.

- A única foto que tenho é dela morta. É mórbido. Não quero ter apenas a lembrança de seu rosto sem vida.

Charlie levantou-se puxando uma carteira do bolso e se aproximou de mim. Ajoelhou-se em minha frente e entregou o pequeno pedaço de papel. Segurei minhas mãos nas suas frias e a puxei para que ele vira-se a imagem para mim. A foto fez com que imediatamente as lágrimas escorressem. Ela era linda. E Charlie estava certo, seu sorriso era iluminador.

- Pode ficar para você. – falou suavemente.

Ergui meu olhar para ele.

- Porque me abandonou? – não pude evitar a pergunta que me assolou durante toda a minha vida. – Porque não deixou que o demônio se fosse e ficou cuidando de mim?

- Me desculpe. – sussurrou.

Seu rosto estava entortado em dor e ele não sabia o que me falar. As minhas perguntas representavam muito mais do que apenas a dor de uma órfã, mas também a aceitação de que o vampiro Charlie era o meu pai.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam da história do Charlie? E como será que ficará a relação entre ele e Bella? E o tal nômade? E os Volturi? Comentem ;) e participem do grupo no Face: https://www.facebook.com/groups/479210868793110/