Rose

Estou olhando para a janela enquanto os pingos de chuva batem na mesma de forma até delicada. Continuo encarando os mesmos pontos de água enquanto percebo a paisagem correr lá fora.

– Uh... Rose, que merda você ta fazendo? – Scorpius entra na cabine e pergunta

– Olhando dramaticamente para a janela enquanto me lembro de tudo o que aconteceu nos últimos meses, como naqueles filmes – Digo

– Está dando certo?

– Não, isso é uma bosta. Não sei como as pessoas nas histórias não morriam de tedio.

Ele ri e se senta ao meu lado. Não menti sobre o tedio que estava enquanto Scorp não chegava da cabine do Albus e do Zabini, mas a ideia do quanto o tempo passou absurdamente rápido e de forma inegavelmente estranha realmente está na minha cabeça.

Eu e Scorp estamos juntos há algumas semanas. Não sei exatamente o quanto isso está sério, mas é algo que eu evito pensar. Na verdade, não pensar talvez seja a forma mais fácil de não complicar a minha vida, então estamos apenas vendo onde isso vai parar. Ao menos os alunos de Hogwarts – depois de séculos de piadas e fofocas – pareceram acreditar que uma Weasley e um Malfoy realmente se deram muito bem.

Estamos agora no Expresso Hogwarts, as férias de natal realmente chegaram mais depressa do que esperávamos. Ele e Angie vão passar o primeiro natal n’A Toca, e isso significa barraco na certa.

– Eu acho que nunca vou te entender, sabe disso? - Malfoy pergunta brincando com minha pulseira dos Chuddley Cannons.

– Ah eu sei, eu sou muito misteriosa.

– Eu ia dizer neurótica.

– Scorpius, me de um motivo para eu não te odiar agora.

–Odiar? Nah, eu sou perfeito demais para ser odiado.

Eu reviro os olhos. Odeio quando ele está certo em relação ao meu odio por ele ser inexistente. Ele se aproxima mais de mim com aquele sorriso irônico Malfoy. Eu encaro os olhos dele, descobri há um tempo que é algo que gosto de fazer, ainda me deixa intrigada. A mão dele toca meus lábios e sua face se aproxima da minha. Eu já consigo sentir o hálito de menta de Scorpius - cara, como ele sempre tem bom hálito? - mas ainda não desgrudo de seus olhos. Em questão de segundos, não suporto mais os milímetros que nos separam e...

– GENTE, O PLANO JÁ TA ROLANDO e... Uh... To atrapalhando alguma coisa?

Eu e Scorpius fuzilamos Albus com o olhar.

– Não, não! - Scorp responde irônico.

– Ah, que bom - Albus suspira aliviado - Como eu ia dizendo ah...

A porta da cabine se abre novamente e entram um James e uma Angel frustrados seguidos de uma Alice tagarela.

– Bom, me desculpa se vocês resolvem ficar se agarrando no trem, eu tinha que chamar vocês, teos! - Alice exclama movimentando os braços.

– Eu falei pra você nos avisar em meia hora!– Angel responde

– Já passou meia hora!

– Esperasse mais meia hora!

– Ai, crida...

Elas então percebem que estamos apenas esperando que parem de discutir. James ri e abraça Angel ainda irritada.

– Ela interrompeu vocês? - Malfoy pergunta pro James.

– Yeah - James responde - O Albus...

– O que você acha? - Scorpius responde.

– Vocês dois são brochantes - James diz para Alice e Albus.

– Foi mal! - Os dois respondem em coro, deixando escapar uma ironia. Sério, o que eu fiz pra merecer eles?

– Não, tudo bem - Angie diz se recuperando - Temos realmente um assunto importante para tratar.

...

Logo, a cabine já está bem apertada. Eu, Scorp, Angel, James, Albus, Nina, Fred, Zabini, Alice e Dustin discutimos sentados ao redor de um montinho de doces, particularmente grande pela quantidade de Weasleys no recinto.

– Okay, Lily e Hugo já estão distraíndo a Alex. - Nina diz. Ela então se vira para Dustin - Maninho, está na hora de discutirmos a sua parte.

– Depois desse Natal, você e Alex estarão oficialmente juntos, cara! - Fred diz e bate nas costas do Wood.

Não é que não confiamos no Dustin, mas convenhamos, se ele pensar em como fazer isso sozinho, vai dar merda!

– Alguém tem alguma ideia? - James pergunta.

– Alex faz o tipo romântica - Eu digo - Temos que fazer algo que preste, galera.

– E colocamos o Albus pra ajudar nessa? - James pergunta

– O que? Por favor, eu sou O cupido quando se trata de relacionamentos! - Albus diz e lança um olhar em minha direção. Okay, eu corei agora.

– Eu não acredito que meu irmão vai desencalhar! - Nina faz todos rirem e Dustin a encarar com o olhar "posso ir contra meus princípios e te matar agora"

– Legal teos, vamos pensar entonces! - Alice diz e as sugestões finalmente são disparadas pra cima do Dustin.

Perdemos completamente a noção do tempo. Já passamos mais da metade do caminho em direção à King's Cross quando a porta da cabine torna a abrir.

– Vei, não aguento mais! - Hugo entra na cabine e se joga em um único espaço livre no chão.

– E eu estou curiosa com os planos, hora do segundo turno pra distrair a Alex! - Lily acrescenta enquanto entra.

– Como estavam indo lá? - Fred pergunta

– Bem! - Lily responde

–Bem?!– Meu irmão exclama olhando com pavor - A conversa passou de profissões no ministério até moda em roupas íntimas, cara! Pior viagem de trem de todos os tempos, na boa!

Eu rio com o comentário, meu irmão é muito tapado. Encontro Angel com o olhar, e faço sinal para sairmos. Ela me acompanha e nos dirigimos até a cabine que está a Alex.

– Você acha que o Dustin consegue? - Eu pergunto abafando a voz.

– De verdade? - Angel diz - Eu não sei como ele fez duas, não uma, ruiva, duas garotas brigarem como duas vadias loucas por ele! Não duvido de mais nada vindo do Dustin!

– Verdade - Eu comento quando esbarro em alguém.

Odeio esses corredores estreitos do trem.

– Hey, onde vocês estavam? - Safira me pergunta enquanto pega o livro dela que eu derrubei no chão.

É nesses momento que eu e Angel temos o que eu gosto de chamar de: conversa por olhares.

"O que fazemos? Angie, não podemos contar pra ela!"

"James sem camisa..."

"Angel, foco aqui!"

"Ah, oi ruiva. Não vi que tinha chamado"

"Okay. Mas o que fazemos agora?"

" Ah bem... Deveríamos ter chamado a Nina pra nos ajudar com essa"

"Eu sei... Mas ela não ia largar meu primo lá"

"Eu larguei o seu outro primo lá, nada mais justo! Mas... Ah, tente distraír ela e eu vou até a Alex. Mas não me deixe lá"

"Não, eu prefiro ir até a Alex"

"Eu também, Rosie!"

"Mas..."

– Hey Safira! - Angel diz - A ruiva tava indo comprar uns doces, porque não vai com ela enquanto eu... Ahn... Encontro o esquilo do Hugo?

– Hugo tem um esquilo? - Safira pergunta - Ah bem, eu ajudo a procurar e...

– NÃO! - Exclamamos. Eu olho pra Angie e ela completa - Vou ver se ele está com Alex.

E ela vaza. Legal.

– Acho que o carrinho de doces foi por ali. - Eu digo e nós andamos na direção contrária.

Já estamos perto do carrinhos de doces e eu penso em um modo de me livrar da Safira.

– Rose, aquilo é o esquilo do Hugo? - Safira me pergunta apontando para o chão.

– Hm... É! - Eu digo. Cara, o Hugo não tem esquilo nenhum.

– Vamos correr então! - Ela diz e me puxa pelo trem. E eu me distancio dos doces. Se o Hugo descobrir disso, vou ser obrigada a dar um esquilo de verdade a ele. Que droga!

Continuamos correndo atrás do que eu realmente espero ser um esquilo, quando acabo trompando com alguém - de novo, odeio os corredores estreitos do trem - e caio no chão. Vejo Safira se distanciar sem me perceber para trás e na minha frente, Chase atirado no chão.

– Ah caramba, foi mal Chase - Eu digo enquato me levantamos.

Ele me encara friamente.

– Deve ser muito fácil ser você, Weasley. Trompar com alguém e apenas pedir desculpas e ficar tudo bem! - Chase cospe as palavras

Por Merlin, como assim? Eu apenas o encaro sem entender uma única palavra. Ele se levanta e volta a falar.

– Mas eu já estou ficando cansado de você!

Mas por que??

– Chase, numa boa, o que foi que eu te fiz?

Ele olha pra mim incrédulo. Cara, o que ta rolando aqui? Ele saca a varinha e aponta-a para mim. Como assim meus deuses?! Eu tenho certeza que a minha vida já era sem motivo algum quando eu ouço o que eu mais queria ouvir:

– Hey ruiva, você esqueceu a sua... O que você está fazendo cara??

Scorpius se coloca na minha frente e segura a varinha.

– Chase... Me diz que você é esperto o suficiente para não estar apontando a varinha pra Rose.

Chase abaixa a mão e solta um sorriso cheio de sarcasmo.

– Claro que não.

Scorp avança em Chase até que ele bate na parede, segura ele pela camisa com a mão que segura a varinha e a outra faz menção de socar.

– Eu não quero te ver perto dela de novo, cara!

Eu olho para o lado e vejo o professor Longbottom se aproximar.

– Scorpius, ta tudo bem.

– Rose, esse cara...

– Scorp!– Eu dou ênfase no nome enquanto toco em seu braço. Ele olha pra mim e eu movo a cabeça na direção de Neville. Ele se afasta se Chase, que sai correndo para uma cabine.

– Ah... Eu ia te entregar isso - Scorpius me entrega a pulseira dos Cannons. Eu tenho que parar de perder isso com ele! - Tem certeza que está tudo bem?

Ele toca em meu rosto e arqueia as sombrancelhas

– Uhum - Eu sorrio - Eu não sei o que deu nele, mas eu to bem.

– É, seria uma pena ter que lançar umas azarações naquele cara.

– Ah é, você realmente assusou ele! - Eu digo.

– Weasley, isso foi uma ironia?

– Yep - Eu dou um selinho nele - Mas obrigada por aparecer mesmo assim.

– Eu salvei seu dia, eu sei.

Eu bato no braço dele e ele me abraça. E o trem chega em King's Cross, onde nosso pesadelo de natal começa.

***

– Ronald, seja educado com eles! - Minha mãe dá o último aviso. Todos na Toca correm de um lado para o outro, com enfeites, comidas e presentes.

A festa provavelmente será animada e cheia de gente. Hum... Muita gente pra dividir comida.

– Tea, você acha que vai dar muita confusão? - Alice, que já está em casa, me pergunta.

– Eu tenho certeza disso - Eu digo. Olho para a porta e vejo Nina entrar com seus pais e irmãos Josh, Dustin e Henry. Ela se aproxima de nós.

– Olá Nina! - Dizemos em coro

– Oi, cade o Fred?

– Ah nossa, obrigada pela atenção! - Alice reclama.

– Não, deixa ela! - Eu digo - Assim me livro de mais um Weasley. - Eu olho então pra ela pensativa - Hm... Alice, você não quer um Weasley pra você, eu estou destribuindo.

– O que?? Não, Rosie, não quero seu gêne ruivo e faminto, crida!

– Certeza? - Eu insisto - Posso ver se tem alguém disponível...

–Não.

– Hum... Tem o tio Carlinhos. - Eu digo com um sorriso.

– Rose...

– Ele é só uns 10 anos mais velho. - Eu digo

– É... QUE MEU PAI!– Alice surta e eu rio da desgraça dela.

– Alice... Você ainda vai se tornar da minha família. - Eu digo pensativa enquanto ela resmunga algo. Acho que vou começar a shippar “Calice”!

Ouço a porta bater novamente. A casa gela. Todos os convidados já estão conversando discontraidamente, menos dois especias que não chegaram até então: Angel e Scorpius.

James voa até minha direção e vamos juntos até a porta. Nunca senti tanto medo de tocar em uma tábua de madeira.

***

– Então... Você é realmente uma Malfoy que foi parar na Grifinória? - Harry pergunta pra Angel, todos estamos sentados na sala comendo biscoitos natalinos e aproveitando a paz que não esperávamos. Não mesmo.

Ela assente e pisca pra mim.

– Grifinória com orgulho, senhor Potter.

– Ah, me chame de Harry - Ele diz. E Angie acabou de conseguir pontos com o sogro.

A conversa dispersa novamente. Meu pai continua em seu lugar, encarando mortalmente Scorpius, que se senta ao meu lado. Okay, hora de dizer alguma coisa.

– Então... recentemente o Scorp recebeu uma carta do treinador dos Chuddley Cannons! - Eu digo com um sorriso esperto na cara e observo a feição de meu pai mudar magicamente.

– Ah, sério!? - Hugo pergunta animado - Foi mesmo convidado para o time quando se formar em Hogwarts?

– É... fui convocado pros testes - Scorpius diz um pouco constrangido e bagunça a parte de trás de seu cabelo.

– Torce pros Cannons, então? - Meu pai se manifesta pela primeira vez. Scorpius assente - O Draco Malfoy deve ter um trabalho duro com vocês...

Rimos com o comentário. Realmente, esses Malfoys não seguem a linhagem da família. E acho que isso é algo que nenhum de nós espera fazer.

Depois de um bom tempo conversando, trocando presentes e fazendo aquelas brincadeiras de Natal, finalmente as pessoas se dispersam. Antes de qualquer coisa, olho para meu pai.

– O que foi? - Ele me pergunta fazendo pouco caso - Ainda não vou muito com a cara do garoto Malfoy se é o que você quer saber. Mas seu avô achou que ele é uma boa pessoa... Não há nada que eu possa fazer pra você mudar de ideia?

– Nada - Eu digo rindo.

Ele então faz um gesto com as mãos como se dissesse "é, faça o que quiser"

E eu sei bem o que quero. Olho para a cozinha e vejo que Scorp está lá se divertindo com os outros meninos. Eu realmente tenha um outro assunto para tratar.

– Vamos lá, ruiva? - Angel se aproxima de mim.

– Vamos lá, Angie.

Andamos para fora de casa. A neve cai aqui fora, mas não chega a ser muito realmente. Alex está nos bancos do jardin à nossa espera.

– Disseram que queriam falar comigo. O que foi? - Ela pergunta.

Eu olho pra Angel. Ela assente, respiramos e dizemos ao mesmo tempo, antes que mudemos de ideia ou nos arrependamos das consequências:

– Queremos cancelar a aposta.

***

Depois do que pareceu sete séculos de "eu avisei" "vocês finalmente se apaixonaram" e "meus otps são reais", Alex finalmente chega ao ponto principal da conversa.

– Vocês devem contar a verdade à eles.

Eu e Angie nos entreolhamos.

– Mesmo? - A Malfoy pergunta - Era o tipo de assunto que eu esperava evitar até o final da vida.

Eu concordo plenamente com isso.

– É a única maneira justa - Alex diz. O pior de tudo é que ela está certa.

Eu suspiro.

– É... Acho que... Pode não ser tão ruim contar - Digo - Okay, vai ser a pior coisa do mundo, mas a Alex tem razão.

– Uhum... - Angel concorda - Ah bem, podemos esperar esse feriado de natal passar. Sabe, pra não estragar o clima.

– Isso - Eu digo

– Ah, eu estou tão orgulhosa de vocês! - Alex diz e nos abraça

Ao menos esse pesadelo de aposta ridícula acabou pra mim. Eu e Angel murmuramos um "é, é, tanto faz" enquanto tentamos fugir do abraço. Não é exatamente da pessoa que queremos...

***

– Eu não acredito que deu certo - Suspiro. Eu e Scorp estamos sentados aos pés da lareira, apenas nós dois. Bem, na verdade, é impossível ficar "a sós" na Toca, mas cinco metros de distância dos outros convidados foi o máximo que conseguimos.

– É... - Ele diz brincando com meu cabelo - vamos ver como será amanhã na festa na Mansão Malfoy...

Eu rio debochada. A verdade é que eu não espero passar uma boa impressão para o Dr. Malfoy. Ao menos não sei como.

– Não se preocupe - Scorpius beija o topo de minha cabeça - Você vai convencer ele.

– Claro que vou - Respondo com ironia.

– Sabe... Eu gostei do natal aqui - Malfoy confessa - Lá em casa geralmente somos nós três e a família do Zabini. É um saco.

– Era um saco - Eu digo - Agora Rose Weasley fará parte dos seus natais.

– Ah, mas que droga - Ele diz - Você está mesmo passando muito tempo comigo.

Nós rimos. Até que vejo uma Nina, Alex, Angel, Safira e Alice correndo pela casa em direção ao banheiro. Scorpius entende que quero ver o que está acontecendo e diz que vai ficar com os caras enquanto isso.

Ao chegar lá, Nina está passando mal.

– De novo? - Eu pergunto.

– Então pessoa! - Alice exclama.

Nina se volta para nós. Seus olhos estão marejados. Ela abre a boca depois de alguns segundos.

– Vocês acham que...

– O que você e o Fred andaram fazendo? - Safira pergunta.

Nina torna a chorar. Ela esconde o rosto com as mãos e soluça.

– Bom, só tem um jeito de descobrir. - Angel diz.

Nina entra no banheiro de novo. Acho que nunca esperei tanto por alguém lá dentro. Mas talvez seja a nossa situação que faz o tempo passar mais devagar. Nina finalmente abre a porta novamente, e seus olhos transmitem a notícia para nós antes mesmo das palavras:

Ela está grávida.