Cilada escrita por Caderno Azul


Capítulo 2
Emboscada


Notas iniciais do capítulo

Mesmo sem comentários, o capítulo 1 me chamou para postar e cá estou! Espero que gostem :)



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  ~ Três meses antes ~ 

  Meus olhos se fecharam pela que parecia a décima vez no dia e lamentei ter guardado meu óculos escuros na mala. Não era fã do acessório, mas o sol do fim da tarde estava sendo um bastardo. Minha mãe dirigia o velho carro, alheia ao meu incômodo. Uma música suave soava pelo rádio e meus pés estavam quase encostando na janela por puro tédio. 

  -Tenho certeza que vai gostar de lá - mamãe falou esperançosa e eu assenti, sem coragem de mentir de novo.

  Não parecia certo estar me sentindo tão miserável enquanto ela finalmente conquistara tudo que sonhara. Um casamento feliz, uma boa casa, uma filha ingrata.. 

  Certo, então talvez eu não estivesse tão de acordo em ter que mudar de cidade e passar a morar na faculdade nova. Só que eu também não podia arrastar minha família comigo só porque a antiga faculdade faliu e a próxima ficava a 1600 kilometros dd distância. 

  -O Travis vai me ajudar a se enturmar - comentei casualmente, como se isso tornasse as coisas melhores. Ela suspirou, notando a tristeza em minha voz.

  -Você pode ir para casa todo fim de semana. São só duas horas de carro. E depois, falta apenas dois semestres para se formar - disse serena e senti a coerência em suas palavras penetrar minha pele, me acalmando um pouco. - além disso, você vai ter Travis por perto. 

  Senti um tímido sorriso surgir em meus lábios. Travis foi meu melhor amigo durante minha vida toda, mas quando chegou a hora de ir para faculdade, ficamos separados. Era reconfortante saber que pelo menos isso não mudaria. Uma pequena parcela da minha vida continuaria como sempre foi. Eu precisava do padrão e da rotina para me colocar com os pés no chão. Travis era minha âncora.

  -É, isso pode ser divertido - considerei cobrindo o rosto com uma das mãos. 

  -Quer dar uma parada para um lanche? - minha mãe já devia saber a resposta, mas perguntou mesmo assim. 

  -Por favor - suspirei retornando minhas pernas na posição inicial. Os shorts jeans rasgados que mal chegavam na metade das coxas juntos da blusa podrinha e meio larga que usava eram formas de extravasar minha insatisfação de estar indo para outra cidade. Observei minhas unhas recém-pintadas de preto e o tênis igualmente escuro. Talvez eu fosse passar uma impressão errada logo no primeiro dia. Minhas roupas não seguiam um padrão, mas passavam longe dessa vibe inconseqüente. 

  Ah, que se foda. Se nem quando estava mal, podia me dar o luxo de fazer o que eu quisesse, então qual era o ponto de estar infeliz? 

  Minha mãe encostou o carro em frente a um posto de conveniência e assim que saltei para o asfalto, uma buzina estridente chamou minha atenção. Olhei para cima, de onde o barulho veio, e gritei. 

  Na pista acima de nós, num nível mais alto da montanha, um carro desgovernado seguia em nossa direção. Agarrei a mão da minha mãe que acabara de se colocar do meu lado e corri para dentro da loja. Eu não olhei para trás. Eu não soltei a mão de minha mãe. E quando pisei na loja o baque surdo soou. 

  Respirei fundo, incerta de estar viva ainda. Fitei minha mãe preocupada. Ela parecia bem. O funcionário da loja olhava para a estrada incrédulo. Quando olhei, tive que sufocar o grito. O carro tinha aterrissado logo em cima do nosso e a explosão não deixara dúvidas que nesse acidente não tinha sobreviventes. Isso valia para ambos os carros e seus ocupantes. 

  -Mas que porra? - berrou o funcionário correndo para fora ao mesmo tempo que puxava o celular, provavelmente para ligar para emergência. 

  Virei para minha mãe ainda incrédula. A ironia, companheira desses momentos 
de desespero sugou meu bom comportamento. 

  -Acho que não vou mais precisar do óculos escuros. 


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal. Quem gostou, odiou, tem sugestão ou quer se lamentar por algo, comente! Faz tempo que não posto nada, quero saber a opinião de vocês ;)



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