Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 13
Capítulo 13 - Cartas na Mesa


Notas iniciais do capítulo

Olááá!
Como vão vocês?



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Grace

Grace. Nós podemos falar com vocês?

Desviei os olhos da tela, esfumaçando o último tom de amarelo. Abaixei o som com o terceiro dedo – o mais razoavelmente limpo – e me virei para ela, surpresa que de repente ela estivesse falando comigo. O que fosse que estivesse acontecesse a estava preocupando tanto que ela se esquecera de me punir. Eu não sabia se eu devia ficar feliz por isso.

–Claro, hum... Só vou lavar as minhas mãos.

Deixei o pincel e o paleta de lado, indo para o banheiro e abrindo nervosamente a torneira. O que deveria ser importante para que mamãe estivesse tão séria? Seria o nome desconhecido, Scott? Ou será que... Seria outra coisa? Será que tinham nos ouvido conversando ontem? Senti o coração acelerar. Oh,não. Engoli em seco, descendo as escadas. El já estava na nave da cozinha, encarando papai, sentado a sua frente . Mamãe estava na janela , observando o lado de fora. Não podia ver seu rosto. Ela estava de costas para nós. Sentei-me ao lado de El, encostando meu ombro ao dele.

–Ness.

Papai chamou. Ela virou-se da janela mas permaneceu no lugar, o quadril apoiado à bancada, os braços cruzados. Ainda assim não parecia brava. Parecia nervosa e cansada. Papai estendeu a mão para ela e ela suspirou, alançando-o e sentando-se a seu lado.

–O que está acontecendo?

El perguntou, tenso, ao meu lado. Nossos pais trocaram um olhar. Papai apertou a mão de mamãe.

–Nós... Temos uma coisa para contar a vocês. É... Complicado, e nós não pretendíamos contar assim. Mas decidimos que vocês precisam saber devido à... Circunstancias extraordinárias.

Papai estava falando difícil. Aquilo era preocupante. Que circunstâncias? Mamãe respirou fundo.

–Há quase vinte e cinco anos trás, muito antes de vocês nascerem... Logo depois que eu e o pai de vocês começamos a namorar... Eu fui sequestrada.

–O quê?!

–Sequestrada?
–Por um homem chamado Elijah Mikaelson.

–O quê?!

Era tudo o que eu consegui dizer. Elijah, porém, tinha outras perguntas mais pertinentes.

–E vocês me deram o nome dele?! Deixaram que ele entrasse na nossa casa?! Ele ameaçou vocês, ou alguma coisa?

–Finn e Angela e Kol...

Sussurrei param mim mesma, ainda meio atordoada, mas papai me impediu de continuar com a voz firme.

–Se acalmem, vocês dois. Vocês precisam ouvir o que a sua mãe tem a dizer. Isso não é nada fácil para ninguém, crianças.

Elijah cruzou os braços com as outras palavras indignadas claramente ainda presas na garganta. Voltei a olhar para a nossa mãe. Ela não olhava para nós. Tinha os olhos fixos no tampo de mármore da ilha da cozinha, onde tantas vezes nos sentáramos juntas para fazer biscoitos ou para que ela me ajudasse com o dever de casa. Parecia tentar extrair forças dela.

-Não foi culpa de Elijah. Ele foi obrigado a fazer isso. Eu tentei fugir, naturalmente. Quando acordei, me disseram que eu pertencia à Niklaus Mikaelson, pai de Elijah, um nome que eu nunca tinha ouvido em toda a minha vida. Eu estava assustada. Então escapei – Papai apertou a mão dela, desviando o olhar para o mesmo ponto no mármore negro que ela encarava – Eu fui seguida por outro homem. Scott Farley. Eu não fui rápida o bastante e, bem... – Ela respirou fundo. – Eu fui estuprada.

O silêncio na sala foi ensurdecedor. Sequer pensar naquilo estava fora de questão. Senti minhas mãos começarem a tremer segurei a mesa com força para não demonstrar fraqueza. Era a primeira vez que nossos pais nos contavam algo tão importante. Queria provar ser digna da sua confiança. Elijah não parecia estar menos atordoado.

-Elijah, o primeiro, o parou. Desse momento em diante, ele não fez nada senão me proteger. Então, meu filho, você deveria ter orgulho de carregar o nome desse homem. – Mamãe levantou os olhos, tomando mais um fôlego. Não parecia estar ficando mais fácil. Imaginei quantos fardos como aquele ela carregava dentro de si. Como não desmorona como eu, que só tenho um? – Nós três chegamos ao nosso destino. A Casa de Klaus, à 500 Km de Platoro, no Colorado.

-A... Casa de Klaus?

Perguntei, tendo a certeza que aquilo era uma brincadeira deles. Que tipo de coisa com um nome estúpido desse podia ser tão assustadora?

-Niklaus, o pai de Elijah, mestre de Scott, tinha sido rejeitado pelos Volturi, mesmo sendo de uma linhagem pura dos primeiros vampiros do mundo. Seu plano era destruí-los com híbridos e lobisomens, pontos cegos que eles não perceberiam. Ele estava criando um exército e eu era parte dele.

Minha mãe em um exército? Era mais fácil imaginar Bruce fazendo uma das coreografias de ballet de Lizzie. Pelado.

-Foi onde você conseguiu as cicatrizes.

-Gray.

-Grace.

El e papai me repreenderam ao mesmo tempo. Mamãe apertou a mão de papai, sem desviar os olhos de mim. Ela assentiu.

-Está tudo bem meninos. Já passou da hora de falarmos disso. – Ela tornou a assentir – Sim, Grace. Klaus me deu essas cicatrizes como presente de despedida. Sabe, ele tinha esse hábito de... Quando não atendíamos às suas expectativas... De torturar e matar suas vítimas na frente de seus amigos mais próximos. Isso os mantinha na linha. – Ela parou e pensou por um segundo, antes de olhar para papai. – Hum, Jake? Você sabe mais sobre essa parte do que eu.

-Seus avós chamaram os Volturi. Eu estava conspirando com eles para derrubar Klaus. Só precisávamos ganhar tempo até que eles chegassem. Mas fomos descobertos. E Klaus quis matar sua mãe primeiro, para que todos tivéssemos que assistir a consequência do nosso fracasso.

Eu nunca ouvira tanto ódio sair com a voz do meu pai. Imaginei como seria, ter que assistir que você mais ama na sua frente. Imaginei se eu sentiria alguma coisa por ele.

-E o que aconteceu?

El perguntou, cauteloso.

-Os Volturi chegaram à tempo. Mataram Klaus, queimaram a Casa e Liz me salvou.

-Mas Scott escapou.

El percebeu antes de mim. Eles assentiram. Senti um tremor percorrer minha coluna e precisei me segurar melhor à mesa para não cair. Os nós dos meus dedos começaram a ficar brancos com o esforço.

-E agora?

Papai suspirou.

-Aparentemente, ele está recriando a Casa, um novo exército de híbridos. Não temos certeza do porque, mas ao que parece ele está recapturando os híbridos da antiga Casa. – Ele soltou o ar e trocou um olhar com mamãe – E suas famílias.

Minha cabeça começou a doer horrivelmente. Meu coração começou a acelerar. Talvez ele tenha sido apenas um treino. Talvez eu tenha nascido para sofrer por algo que eu não tive culpa.

-E o que nós vamos fazer?

Elijah perguntou, sério.

-Nós vamos mandar vocês para longe, para onde Scott jamais encontre.

Mamãe respondeu, parecendo determinada.

-Mas e vocês?

Foi a minha vez de perceber. Eles trocaram um olhar. Elijah começou a balançar a cabeça, incrédulo e se levantou.

-Vocês não podem estar pensando em ficar! Nós temos que ficar juntos!

Papai bateu o punho contra a mesa.

-Não é apenas sobre nós, Elijah. Os lobisomens da reserva não podem simplesmente ir embora. Seus ancestrais estão aqui, suas vidas foram construídas até o osso aqui. Nosso dever é proteger essa cidade, e o meu dever como alfa é protegê-los.

-Então me deixe ficar também! Um par de patas a mais, eu posso ajudar. Eu também vou ser o alfa um dia, não é?

Eu podia ouvir o pânico na voz de Elijah, como uma criança com medo do escuro tentando evitar que os pais apaguem as luzes. Me retraí, tentando não me sentir ofendida pelo fato de ele estar querendo me mandar sozinha para onde quer que nossos pais quisessem nos mandar. Papai se levantou e passou a mão pela nuca de Elijah, apertando sua testa contra a dele.

-Eu preciso que você cuide da sua irmã. Você pode fazer isso? – El balançou a cabeça, fechando os olhos e deixando uma lágrima de frustração escorrer pela bochecha – Você precisa. Ela precisa de você e você precisa dela. Vocês devem ficar juntos e seguros. Eu sou o seu alfa e isso é uma ordem. Você me entendeu?

Desviei o olhar quando El soltou um gemido e eles se abraçaram. Era algo particular. Mamãe levantou meu rosto, tendo levantando e vindo até o meu lado. Ela sorriu de leve, entre lágrimas. Não percebi que chorava também até que ela limpasse uma lágrima com o seu polegar.

-A minha mãe me deu isso quando achou que fôssemos nos separar – Ela estendeu seu relicário de ouro na minha direção. Deixei que ela pousasse o metal, ainda quente da sua pele, sobre ela. – Ela queria que eu nunca me esquecesse da minha família. E embora isso tenha acontecido um pouco mais tarde do que o esperado, essa coisinha sempre de deu forças para continuar. – Ela segurou meu rosto entre as suas mãos. – E você vai precisar mais.

Abri o relicário. Só havia visto poucas vezes o colar, quando mamãe ousava mostrar o pescoço destruído. Ela me mostrara por dentro uma vez, quando eu era muito pequena e as pessoas levavam minha curiosidade à serio. Dentro do minúsculo porta retrato, ao invés da foto dos meus avós, havia uma foto nossa, o nosso último retrato em família, antes de Seattle e antes de tudo aquilo. Todos sorríamos, todos estávamos felizes. Carinho emanava de cada ponto em que nossos corpos se tocavam. A foto parecia ter uma fonte de calor própria.

Porque não consigo me lembrar dessa sensação agora?

-Eu tomei a liberdade de trocar a foto para que tivesse mais significado. Mas as palavras continuam as mesmas. E eu as sinto da mesma forma.

Li o francês como se tivesse nascido sabendo.

-Mais do que a minha própria vida.

Eu disse, assentindo. Ela levantou novamente meu rosto para que ela o visse e beijou longamente minha testa, envolvendo meu corpo com os braços que haviam me carregado quando eu era apenas um bebê, me levantado do chão quando criança e me consolado quando tudo o mais dera errado.

-Nunca se esqueça – Pediu. Ficamos ali por um bom tempo. Eu poderia ficar para sempre no seu abraço. Não havia mais lugar algum que eu preferia estar. – Acho que você devia ir arrumar suas coisas.

-Quando partimos? E para onde?

-Em duas semanas. Vocês, os Mikaelson e os Cullen. Em uma ilha no Atlântico Sul, perto do Rio. Vocês estarão seguros lá.

Os Mikaelson.

Isso sim era uma boa notícia.


Calley


-Ah, legal. Estou tendo um tremendo dejavi.

-Vamos, seja legal. Você preferia ser atacada no meio da noite pelas crias daquele psicopata maluco?

-E colocar as garras para fora, para variar? Ah sim, isso seria trágico.

Observei o casal chegar à porta da frente. Deixei a cabeça cair de lado, observando aquelas pessoas. Era definitivamente mortais, quanto à isso não havia dúvidas. Até eu já aprender a diferença. Mas não pareciam ser híbridos também. A garota parecia estar sem paciência com o garoto que seguia atrás dela com a mansidão de um cão em um churrasco: Alimentado e amado por todos. Pela semelhança, deviam ser da mesma família. Imaginei o que estariam fazendo ali.

Roan mexeu-se dentro de mim, correspondendo à um pensamento bobo meu.

-Não, R. Não acho que tenham vindo vender biscoitos.

Puxei o cobertor sobre ele, predizendo o vento frio que viria da porta. Um dos imortais abriu a porta. Eu estava me esforçando para decorar seus nomes, mas aquilo parecia inútil, já que eu ia morrer no fim do mês de qualquer forma. Os Cullen diziam que isso não aconteceria, mas para mim era difícil acreditar. Esperança nunca fora o meu forte. Ela também não salvara o meu outro bebezinho, tanto tempo antes.

-Calley. – Voltei da minha divagação. A menor deles, Alice, tinha trazido os visitantes para dentro. – Estes são Seth e Leah. Eles estão nos ajudando.

-Ou qualquer coisa parecida.

Completou a garota, Leah. Não parecia feliz em estar ali e também não pareceu fazer questão de fazer contato visual comigo. O garoto, Seth, por outro lado, foi bem mais amigável. -Desculpe a minha irmã. Ela comeu alguma coisa azeda no útero. – Ela o fuzilou com o olhar, mas ele não pareceu se importar. – Eu só pensei em vir aqui e dar um olá já que nós vamos... Meio que cercar a casa por um tempo.

Uni as sobrancelhas, imaginando o que aquilo significava.

-Só... Não se assuste com os lobos gigantes – Ele disse, como se isso explicasse alguma coisa. – Eles são legais. Eu juro.

Encarei-o, curiosa. Um garoto, no mínimo, diferente.

-Hum... Está bem. Anotado.

Seth não deixou o silêncio cair, o que, considerando o tanto de tempo que todos aqueles imortais passavam em silêncio, era uma atitude admirável.

-E como vai o seu bebê?

-Está bem, eu acho. Não que eu tenha muitos parâmetros. – Olhei para a protuberância onde Roan crescia, e deslizei a mão sob o cobertor térmico para acariciá-lo. – Mas ao que parece ele é bem tranquilo.

-Você... Já escolheu um nome?

-Roan. E Ryan, se for menina. Mas não acho que seja. Alice e Rose me ajudaram a escolher.

Ele assentiu, considerando.

-É, são nomes bonitos.

-Obrigada.

Olhei para a irmã, Leah, que permanecia calada, mas agora olhava para mim. Parecia curiosa, olhando-me por cima de braços cruzados nada amistosos. Fechei os braços ao redor da minha barriga, incomodada.

-Me desculpe, você perdeu alguma coisa?

Perguntei, incomodada. Ela piscou, parecendo sair de um transe.

-Não. Não é só que... Eu tenho a estranha sensação... Nós já nos vimos antes?

-Eu duvido. Nunca tinha saído de Quebec.

Ela estreitou os olhos e assentiu, pensativa.

-Bem, de qualquer forma, se precisa de alguma ajuda mais mortal, é só chamar pela janela. – Disse o garoto. Assenti e lhe dirigi um pequeno sorriso. Espiei a garota, cautelosa. Ela deu de ombros e saiu da sala. – Agora se você me dá licença, eu vou aturar minha irmã reclamando do clima enquanto dirijo até o meu trabalho. Até mais.


Elijah II



Coloquei o boné sobre a cabeça e me joguei na poltrona em forma de luva de beisebol com a lata cheia das fotos que estavam no meu mural. Eu decidi levá-las porque não tinha certeza de quando voltaria para casa. E eu queria ter certeza que ela, um dia, existira. Suspirei, fechando a lata e joguei-a dentro da mala cheia pela metade. Eu quase não tinha roupas para o calor e não achava que haveria muito tempo ruim no Rio. Puxei meu boné até que escondesse meus olhos para tirar uma soneca.


O velho boné de beisebol da sorte... Faz algum tempo que eu não preciso...

-Ei El. Podemos conversar?

Levantei a aba do boné para ver meu pai na porta com as mãos nos bolsos.

-Eu devo me preocupar?

Perguntei, levantando uma das sobrancelhas, irônico.

-Não. Não. Esse é mais o tipo de conversa que um pai lobisomem precisa ter com seu filho lobisomem.

-Se for sobre os métodos contraceptivos lobisomem, eu não acho que eles são diferentes dos que eu aprendi na quarta série, obrigado.

Ele riu, fechando a porta atrás de si – má notícia? – e sentando-se na minha cama, de rente para mim. Parecia prestes a falar, mas apontou para o meu boné, surpreso.

-Você ainda tem o boné.

-Gray também. Ela guarda debaixo do travesseiro. Você não?

-Sua mãe confiscou. Disse que eu ia ficar careca se continuasse usando o tanto que eu usava. Mas deve estar em algum lugar do sótão.

Ri, cruzando as pernas sobre a poltrona.

-Bonés à parte, qual o lance lobisomem, pai?

Ele suspirou, unindo as mãos. Isso é sério. Será que já não tivemos seriedade o bastante para um século hoje?

-Eu só não te contei antes por que... Muitos lobisomens se tornam... Obcecados com isso. É uma poderosa força da natureza...

-Brincou! Temos outros superpoderes!

Ele balançou a cabeça e sorriu, roubando meu boné e pousando sobre a própria cabeça. Voltou a sentar na cama e apontou para mim, ainda com aquele sorriso.

-É sério, campeão. Preste atenção. Tem à ver com Angela.

-Angela?

Ele assentiu, puxando o boné para cima dos olhos como eu fizera um minuto atrás.

-Bem vindo à aula de Imprinting 101.


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Notas finais do capítulo

Owwwn! Amei essa parte, e vocês?