“Com certeza, nunca houve um grupo tão excêntrico de pessoas jantando aqui”, pensou nosso querido anfitrião. E ele estava certo.

Depois de um dia de sono, um bom banho e roupas emprestadas, os visitantes estavam em outro nível de beleza. A garota usava o mesmo vestido negro com detalhes em renda que havia usado para ir até o jardim. O primogênito estava com uma bela camisa banca de babados, com um broche de gema azul tão escuro quanto seus olhos. O gêmeo, Ethan, usava uma blusa idêntica, mas negra e sem adornos, aberta até o terceiro botão. Até mesmo o pelo do lobo havia sido escovado até brilhar.

Mas não era apenas em aparência que este grupo estava fora dos padrões. A energia a volta deles parecia estranhamente sombria e sexy, mesmo que eles não estivessem fazendo nada.

Bem, os gêmeos estavam comendo. Siaran encarava o prato a sua frente, sem nem fazer menção de tocá-lo. E a garota apenas encarava o vazio, uma vez que havia comido antes.

Nosso Nathaniel estava impaciente. O que ele deveria fazer ou dizer? Conseguira mais uma noite e, de combo, mais um dia também. Mas o que fazer de agora em diante?

Sentava-se desconfortável na cabeceira, pensando na melhor forma de iniciar uma conversa. Mais uma vez, e provavelmente todas as vezes que forem necessárias, foi salvo pela voz da garota.

–Nathaniel? Obrigada pela hospitalidade, mais uma vez.

Pego de surpresa, tropeçou nas palavras.

–N-não precisa agradecer... Eu que pedi para que ficassem...

–Então obrigada pela comida. Estava deliciosa.

–De... nada.

O que falar? Nunca sabia como responder apropriadamente para a garota.

–Por que nos quer aqui?

O moreno mais velho perguntou. Paciência não era exatamente uma característica típica sua e ele não gostou nem um pouco de passar outra noite num castelo tão amaldiçoado quanto a si próprio.

A fera hesitou. Por quê? Ele não sabia ao certo. Mas, de alguma forma, conseguiu formular uma resposta plausível.

–Eu... Quero entender, digo, conhecer melhor vocês. Faz muitos anos que não tenho visitas.

–E logo as primeiras depois de tanto tempo somos nós. Você não é exatamente sortudo, não?

Ethan quem havia falado. Ao contrário do sempre mal-humorado irmão mais velho, este parecia sempre alegre, no mínimo levemente animado. Ele sorriu para a fera, e esta não sabia exatamente o que ele queria dizer com aquela frase.

–Sortudo?

–Só que ao contrário. Depois de tanto tempo... Você atrai logo a família mais azarada de todo o século...

Mesmo que sorrindo, havia um peso muito grande em sua fala. Como se, mesmo sem pesquisar, não houvesse outra possibilidade. E bem, ele estava certo. Se não contar o jovem nobre egocêntrico que transformara numa tacada só todo um castelo. Mas isso nem mesmo a fera reparou.

–Eu gostei serem vocês e não qualquer outro... Vocês... Devem me entender...

–Entender? – O mais velho ergueu a sobrancelha enquanto falava. – Você nunca poderá nos entender.

Levantou-se de forma desrespeitosa e saiu em direção ao portão, e então para a floresta.

O senhor do castelo fez menção de segui-lo, mas foi impedido pela garota.

–Deixe-o. Ele é mal-humorado assim mesmo, e precisa caçar. Diferente de nós, a sua comida não o satisfaz.

–Ele foi... Caçar humanos?

A fera parecia temerosa e, por um segundo, agradeceu sua forma bestial.

Mas só dessa vez.

–Não vai encontrar um humano tão perto assim. Ele foi atrás de qualquer mamífero que se mova.

–Mas se for assim nós temos...

Nathaniel ia falar das inúmeras carnes que haviam na dispensa, mas o garoto o impediu, prevendo o discurso.

–Deve estar vivo, e com certeza o senhor não quer se desfazer de nenhum animal seu. Mesmo os que iriam ao abate. A cena não é bonita e a carne fica imprestável, envenenada.

E agora, meu amo? Não há como debater essa informação, há? Bom, seu silêncio em si já é uma boa resposta. Depois de alguns segundos, a garota voltou a falar.

–Bem, se você quiser perguntar qualquer coisa, pergunte. Vamos responder-las com prazer.

–Claro...

Cuidado com o que pergunta, querido Nath.

Existem respostas que você não quer saber.