Sua Música escrita por XxSAYURIxX


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Sempre recomendo que leiam minhas songfics ao som da música que a inspirou.
Aqui segue o link da música:
http://globotv.globo.com/rede-globo/the-voice-brasil/v/quesia-luz-e-sandra-honda-brilham-com-killing-me-softly-na-batalha/2212994/

Boa Leitura!

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Seu presente eu ainda estou quebrando a cabeça para escolher (porque sim, eu quero te mandar cartinha também ♥). Mas eu não queria deixar essa data passar em branco.
Confesso que fiquei (e ainda estou ahushuahush) meio insegura com essa fic. Afinal, é ZoRobin, UA ainda por cima. E eu sei o quanto tu ama esse casal. Espero ter conseguido manter uma história de qualidade e os personagens dignos e fiéis aos originais.
Para ti, com carinho, Lulyts.
Espero que goste.



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Sua Música



Mais uma noite mal dormida. Ainda sentia os olhos arderem, como na noite passada, como em todas as noites nas quais me lembro de quem sou eu. Me levantei devagar, com cuidado, para não amassar ainda mais as inúmeras folhas de papel espalhadas em minha cama, aqueles inúmeros pedaços de mim.


“Queria ter conhecido você, pai...será que ainda está vivo? Será que tenho algo parecido com você?”


“Mamãe...sinto tanto sua falta.”


“Queria que estivesse aqui, comigo...”


“Malditos sejam.”


“Será este o meu destino? POR QUÊ?!”


“Cansada. Sozinha. De novo.”


Imagens daquela menina sem pai, da mãe assassinada em sua frente, dos malditos ladrões que invadiram sua casa, da vida nas ruas, da fome, do frio, do medo, da solidão.


Uma fina chuva caía lá fora. Guardava minhas “cartas”, uma a uma, dentro da caixa, novamente. Notei muitas delas já amareladas pelo tempo, várias outras recentes também, concluindo que depois disso minha sorte não havia mudado muito. Hoje sou uma empresária de sucesso, famosa no mundo dos negócios, renomada nos campos de história e arqueologia por meus investimentos em estudos e pesquisas relacionadas ao assunto. Porém, uma coisa continua sempre a mesma: solidão.


No amor, não conseguia criar laços fortes com ninguém. E não foram poucas as tentativas. Tantos romances fracassados, pelos mais variados motivos que se possa imaginar. Comecei realmente a acreditar que minha sina era ser só, até que Crocodile, um homem lindo, rico, grosso, insensível e casado apareceu em minha vida. Foi quando tive a certeza do meu destino solitário.


Por sorte, tinha feito belas amizades. Meio diferentes, admito. Um tanto quanto...loucas, pra ser sincera. Mas, ainda assim, uma das poucas coisas nessa vida que ainda me faziam sorrir sinceramente. Meus amigos me faziam bem.


Pensativa, fui trazida de volta à realidade pelo toque estridente do meu celular. Ah...Nami.


- Diga. – atendi, sem mais delongas.


- Credo, Robin! Por acaso te acordei pra estar assim de tão mau humor?! – respondeu indignada. – Cadê o “Oiii! Bom dia! Tudo bom?!”?


- Ahn...não, eu já estava acordada faz um tempo. Desculpa, Nami...é um costume meu mesmo, isso de ir direto ao assunto, sabe como é... – justifiquei.


- Sei, sei...assédio da imprensa, inúmeras ligações da empresa, imagino como seja. Tudo bem. – gracejou de leve, afinal, Nami era minha melhor amiga; me conhecia como ninguém.


- Bom, mas afinal, do que se trata?


- Ah, então...sabe o Baratie Night Club do Sanji-kun? Hoje vai ter um show maravilhoso lá!


- Sério?... – tentava ao máximo parecer interessada – É show de quem?


- Paaasme: Roronoa Zo-ro!


- Hã?....


- Ah, pelo amor de Deus, né, Robin! Aquele cantor que tá bombando na mídia. Dizem que as músicas que ele compõe são verdadeiras obras de arte! A letra e a melodia tocam fundo a alma!


- Ah, sim. Agora que você falou...é, eu lembro de ter ouvido falar dele também. – de fato, a fama desse tal de Roronoa se alastrava como fogo em pólvora atualmente.


- Então, Robin! Vamos!? – Nami convidou, fervorosa, para não dizer “exigiu”.


- Ah, Nami...acho que eu não...


- Neeem vem, Robin! – interrompeu-me, sem cerimônias – Dessa vez você vai, nem que eu tenha que te arrastar até lá! Que que é isso?! Tem que arejar, mulher! Sei que é difícil, mas você não pode ficar escondida aí pra sempre...vai te fazer bem, acredite. Todos os nossos amigos vão estar lá...hein, hein?! Vamos!


- ...tudo bem, eu vou... – acabei cedendo; afinal, Nami tinha razão, eu não podia ficar me escondendo do mundo pelo resto da vida; e no fim, espairecer me pareceu uma ótima ideia. Além do mais, confesso que me atiçou a curiosidade conhecer a música do famoso “poeta” Roronoa Zoro.


- Ótimo! O show começa às nove da noite. Te encontro lá?


- Certo, nos vemos lá.


Nami desligou. Coloquei o telefone no gancho novamente. E logo mais, já escurecera. Pois é, o intervalo entre uma coisa e outra passou tão rápido que até eu me assustei. É isso que dá se entreter com leitura. Mas eu precisava disso pra acalmar meus nervos, porque, sim, de uma forma ou de outra, eu estava ansiosa com os planos dessa noite, muito nervosa, até. Não sei...eu tinha medo. Medo de, sei lá, esbarrar em algum fantasma do meu passado. De sofrer ainda mais. Por isso mesmo, livros são uma de minhas paixões, um refúgio em que posso sonhar, sendo apenas uma mera espectadora de uma história que não sou obrigada a vivenciar. Olhar a vida assim, por cima, apenas assistindo, é algo que, além de ser interessante, é bem mais seguro.


Tomei um banho relaxante, coloquei um bom vestido, salto médio e acessórios discretos. Bom, eu estava pronta...quer dizer, pelo menos, fisicamente estava. Por dentro, não sei explicar bem o porquê, meu coração estava acelerado; mas não no sentido de aflição, como estava antes, mais cedo, e sim com uma alegria que era, de certa forma, “estranha”. Isso me deixou ainda mais apreensiva. Um sinal? Será? Mas não tinha muito tempo pra pensar, já estava ficando atrasada e meus amigos esperavam por mim. Reuni toda a determinação que tinha e saí.


Me surpreendi ao chegar no Baratie. Nunca aquele lugar esteve tão cheio. Claro que a casa de shows do Sanji-kun era bem frequentada, muito famosa, aliás, pelos quitutes deliciosos que lá eram servidos. Porém, nunca esteve lotada como agora.

           

Nami acenava para mim de uma das mesas VIP, grande e com vista privilegiada do palco. Todos já se encontravam sentados. Mal cheguei até lá e Sanji já puxava a cadeira para que eu sentasse. Agradeci. Logo mais serviram a comida que, claro, não durou muito, já que Luffy estava presente.


- Hehe! Estou seriamente pensando em contratá-lo permanentemente para shows periódicos aqui. – Sanji parecia feliz com o resultado, a casa estava lotada – Ele pode ser um idiota ignorante, mas devo admitir que é bom no que faz.


- Nossa! Vai ser ótimo, Sanji-kun!


- Você acha, Nami-swan!? Então está decidido! Seu desejo é uma ordem. Vou contratá-lo!


- Ah, Sanji-kun...você e seus galanteios! – gracejou.


Enquanto todos conversavam animadamente, eu permanecia calada, perdida num turbilhão de pensamentos. Eu sabia. Não era bom eu ter vindo. Estava quase me decidindo a ir embora quando o anunciaram. Todos aplaudiram sua entrada. Ele apenas caminhou até o piano, calmamente, sem sequer olhar para a platéia. Sentou-se na banqueta e começou a dedilhar o teclado.


Logo nas primeiras notas senti um arrepio na espinha. Realmente, ele era bom. Contudo, foi quando ele começou a cantar que minha tortura começou...


Dedilhando minha dor com seus dedos,

cantando minha vida com suas palavras,

matando-me suavemente com sua música,

matando-me suavemente com sua música,

contando minha vida inteira com suas palavras,

Matando-me suavemente...com sua música.


Mas o que era aquilo?! Coincidência? A letra daquela música...parecia revelar publicamente os meus segredos mais profundos, abrindo minhas feridas, sem dó nem piedade e expondo-as, sem receios, à todos os presentes. Meus amores fracassados, meus medos, minha solidão e aquela vontade íntima de encontrar alguém...algo que eu não reconhecia nem para mim mesma. Era como se ele carregasse espadas em cada mão e em sua boca, dilacerando-me a cada toque daquela melodia, a cada palavra pronunciada. Me senti completamente nua diante de toda aquela platéia.


Eu ouvi falar que ele cantava muito bem,

eu ouvi dizer que ele tinha estilo;

e então eu vim vê-lo e ouvi-lo por um momento.

E lá estava ele,

este jovem garoto,

um estranho aos meus olhos...

Dedilhando minha dor com seus dedos,

cantando minha vida com suas palavras,

matando-me suavemente com sua música,

matando-me suavemente com sua música,

contando minha vida inteira com suas palavras,

Matando-me suavemente...com sua música.

Eu me senti toda ardendo em rubor,

com vergonha do público.

Eu senti como se ele tivesse encontrado minhas cartas,

e lido cada uma delas em voz alta.

Eu rezei para que ele acabasse,

mas ele apenas continuou...


E então, uma música após a outra, eu via todos os meus fantasmas serem arrancados de minhas celas internas, onde eu os mantinha trancados a sete chaves. Ao mesmo tempo que aquilo me doía, me deixava mais leve...uma sensação difícil de explicar. Após a quinta e última música, Zoro se levantou e, numa reverência discreta, agradeceu à platéia que o aplaudia fervorosamente para, em seguida, sem pronunciar uma só palavra, se retirar. Meus olhos ainda estavam vidrados naquele palco. Meus músculos tensos. Minhas mãos trêmulas.


Dedilhando minha dor com seus dedos,

cantando minha vida com suas palavras,

matando-me suavemente com sua música,

matando-me suavemente com sua música,

contando minha vida inteira com suas palavras,

Matando-me suavemente...com sua música.


- Robin! – Nami me chamou para a realidade, colocando a mão na minha testa – Você está bem!? Está pálida! E suando frio...


- Eu...eu estou bem, Nami. – me permiti sorrir abertamente. Ainda me sentia atordoada, porém uma imensa sensação de liberdade percorria-me as veias, como num corpo envenenado que é salvo pela sangria.


- Erm...Robin-chan...tem certeza, mesmo, de que está bem? – minha amiga provavelmente estranhava o meu sorriso.


- Sim. Estou muito bem. Obrigada pela noite. Foi maravilhoso! – ainda sorrindo, fui embora, deixando meus amigos atônitos.


Realmente, aquilo havia me marcado. Já fazia um mês em que todos os dias, às nove da noite, lá estava eu, numa das mesas do Baratie. Não me cansava de ouví-lo. Sentia necessidade de ouví-lo. E acho que até mesmo ele já havia percebido isso. Nesse tempo, em algumas ocasiões, já me dirigira o olhar.


Posso dizer que criei uma espécie de ligação especial com Roronoa Zoro. Um laço singelo, silencioso, unido apenas pelos acordes do piano e raras trocas de olhar. A cada dia mais o admirava; sua voz, seus olhos, seus lábios, o modo como deslizava as mãos pelas teclas preto e branco. O herói que me salvou, que me liberta mais a cada dia, a cada canção.


Ele cantava como se me conhecesse,

e ao meu profundo desespero.

E então ele olhou através de mim,

como se eu não estivesse lá...

E apenas continuou cantando,

cantando alto e claro...

Dedilhando minha dor com seus dedos,

cantando minha vida com suas palavras,

matando-me suavemente com sua música,

matando-me suavemente com sua música,

contando minha vida inteira com suas palavras,

Matando-me suavemente...com sua música.


E assim terminava mais um espetáculo. Dessa vez ele não se retirou de imediato, ficando um pouco mais organizando suas partituras. Decidi que queria agradecê-lo. Agradecer por tudo o que tinha feito por mim. Apanhei a rosa vermelha mais bonita do arranjo que enfeitava minha mesa e caminhei em direção ao palco, andando contra o fluxo dos demais espectadores, que agora deixavam o local. Ele notou minha aproximação e me encarou, surpreso.


- Obrigada. – lhe estendi a rosa.


- Pelo quê? – indagou, aceitando a flor meio que automaticamente.


- Sua música. – sorri, dando-lhe as costas e me dirigindo calmamente para a saída.


- ......Hei! Você! Espera!


 “E ele saltou do palco e se pôs a correr atrás daquela misteriosa mulher, em meio à multidão. Daquele olhar em que finalmente encontrara abrigo. Daquela que, de alguma forma, parecia compreender toda a dor e solidão que escondia em suas músicas. Alcançou-lhe a delicada mão. Olhares se cruzaram. Sorrisos discretos nos lábios finos. E caminharam, juntos, rumo à saída. Quem sabe, rumo a melodias mais felizes?



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