Não Me Julgue. - HIATUS escrita por Eu-Pamy


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Tenho uma ótima novidade! A partir de hoje meus textos serão betados por um anjo chamado Ita-chan, que com toda a sua doçura se disponibilizou a me ajudar a dar vida a essa história. Muito obrigado querida, esse capítulo é dedicado a você.

Enfim, tenham uma boa leitura.



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Marc jogava como se tivesse feito isso a vida toda. Ninguém era capaz de para-lo. Como um foguete ele atravessava a quadra, se esquivava dos outros jogadores e marcava os pontos. Como se tudo aquilo não passasse de uma brincadeira infantil idiota.

A escola inteira parava para assisti-lo, lotando todas as arquibancadas do ginásio, onde, a cada ponto marcado, todos entravam em êxtase, aplaudindo como se fosse a copa do mundo.

Jarrell observava em silêncio, sem entender muito do que acontecia na quadra, todavia, nunca se interessou por basquete e não entendia por que todos reverenciavam um esporte tão violento. Internamente ficou surpreso quando Marc contou que havia se inscrito no teste para entrar no time. Desconhecia esse lado esportista do amigo, mas agora o vendo jogar percebeu que talvez ele tivesse algum talento nisso, pois, comparado aos outros, Marc era o melhor.

Continuou assistindo calado, sentado no início da terceira arquibancada, onde estaria mais próximo da saída. Marc não sabia que ele estava ali e tomaria um susto quando descobrisse.

Jarrell sorriu, imaginando a surpresa do amigo.

Dez minutos antes do jogo acabar, Jarrell saiu e foi até o vestiário. Pouco a pouco os jogadores entraram para se trocar, menos Marc. Intrigado, ele saiu do vestiário e voltou ao ginásio. Todos já haviam ido embora. Lhe passou um sentimento ruim no peito. Será que Marc havia ido para casa?

Foi então que Jarrell caminhou até o estacionamento e procurou pelo carro do amigo. Mas não foi apenas este que ele encontrou.

De longe viu Marc abraçar uma garota, ainda usando o uniforme sujo do jogo, beijando a jovem em seguida, de maneira carinhosa, como somente dois namorados fazem.

Jarrell sentiu algo indescritível dentro de seu peito. Não foi ruim, mas também não foi bom. Como tomar sorvete de água ou tentar engolir o vento. Insípido e incolor: era assim que descrevia o sentimento.

Sentiu as pontas dos dedos ficarem frias e uma estranha sensação atormentar seu estômago. Era nojo.

Piscou algumas vezes mais até conseguir ter alguma reação. Aquela era a primeira vez que via o amigo beijar uma garota e, por mais que aquilo fosse normal, jamais o tinha imaginado fazendo algo assim. Nem ao menos passou por sua cabeça que um dia isso fosse acontecer. Imaginava Marc como uma eterna criança, que jamais cresceria e que nunca se apaixonaria. Ele seria sempre a encarnação da ingenuidade e da doçura, como um anjo. Intocável.

Era estranho para Jarrell ver que havia se enganado.

O casal entrou no carro e Jarrell se escondeu para não ser visto. Quando o veículo já estava longe, ele caminhou até o ponto de ônibus e voltou para casa. Seu pai o estava esperando.

- Onde você estava? - Foi a primeira coisa que ele quis saber.

Se levantou do sofá, aproximando-se do filho que era poucos centímetros mais baixo. Samuel, pai de Jarrell, estudou a expressão do mesmo. Em anos trabalhando em uma delegacia, aprendeu a reconhecer um problema quando via e certamente seu filho era um.

– Estava enchendo a cara e transando com um monte de prostitutas! É isso que quer ouvir? - Se irritou.

Jarrell tentou passar pelo mais velho, mas este o segurou pelo braço.

- Moleque desaforado! Acha mesmo que estou brincando quando digo que vou te dar uma surra de cinta qualquer dia desses como fazia quando era pequeno?! Seu ingrato filho da mãe! Continua a me tratar assim que eu te mato! Sou seu pai, você tem obrigação de me respeitar! Essa é a minha casa! E aqui só tem voz quem ajuda a pagar as contas! Moleque inconsequente! Estou cansado de ter que sustentar os seus vícios! Trabalho muito para gastar meu dinheiro com um estupido filho da mãe como você!

"O mesmo discurso de sempre" - pensou Jarrell.

- Então vá em frente! - Samuel pareceu confuso com as palavras do filho - Vá em frente! - repetiu, se soltando dos braços do pai - Me expulse! Me jogue na rua como se eu fosse lixo! Porque não é isso que você acha que eu sou?! Um monte de merda ambulante? Diga, "pai"! Diga que eu sou um atraso de vida! DIGA! Diga que eu não presto! Que sou burro! Imaturo, sem nenhuma meta na vida! Que virarei um ladrão idiota que rouba galinhas para sobreviver e que morrerei antes de completar vinte anos! Diga, pai! Mas diga bem alto! Para que toda a cidade escute! Para que todos saibam que você me odeia e queria que eu nem houvesse nascido!

Samuel se assustou, jamais vira Jarrell tão descontrolado.

- Isso não é...

- É verdade sim! Eu sou um atraso de vida para você. Só te dou dor de cabeça. Não te culpo por me odiar. Se eu fosse você também iria querer me ver morto.

- Você está louco? Usou drogas? Eu nunca...

- Talvez eu esteja louco. - ponderou. - Mas não sou idiota.

- Eu sou seu pai. Não importa o que você faz, eu vou...

- Me poupe dessas conversinhas. Nós nunca fomos disso, não é agora que vamos começar.

Samuel suspirou. Estava cansado de tentar entender aquele garoto. Nada era bom o suficiente para ele. Não importava quantas vezes tentasse o agradar, Jarrell jamais reconhecia esforço do pai.

- Eu te criei sozinho como pude. - Olhou a sua volta. A casa estava velha, precisando de uma reforma, mas ele nunca tinha tempo para isso - Sei que o que temos não é muito, mas...

- Eu não estou me queixando disso.

- Então o que é?

Jarrell refletiu, porém não conseguiu encontrar a resposta, então deu de ombros.

- Vou sair.

Deu meia volta e saiu da casa, caminhando o resto da tarde por vários quarteirões, alguns que ele jamais havia estado antes. Seu telefone tocou algumas vezes, mas não atendeu. Não queria falar com ninguém. Viu o crepúsculo sentado no banco de uma praça e passou a madrugada fitando as estrelas, até que caiu no sono. Quando acordou, suas costas doíam e o sol já queimava a sua pele. Pegou um ônibus e voltou para casa. Era dia de semana, seu pai estava trabalhando, o que o fez entrar despreocupado, mas quando abriu a porta se deparou com Marc sentado em seu sofá, comendo salgadinho enquanto assistia a televisão.

- Pensei que a sua mãe tinha te proibido de entrar escondido na casa dos seus vizinhos. O que você fez? Fez uma cópia da minha chave ou entrou pela janela?

Jarrell se aproximou devagar. Marc riu.

- Como um espião. Primeiro joguei uma grande pedra no vidro, depois entrei.

- Que classe. - Se sentou no braço do sofá. - Meu pai te deixou entrar?

- Foi. Eu o vi saindo para ir trabalhar hoje cedo e decidi te esperar aqui. É claro, eu poderia ter evitado todo esse esforço se você atendesse o seu telefone!

- Acho que eu devo ter esquecido ele.

- Foi o que eu imaginei. Você só não esquece a cabeça porque está grudada no pescoço, se não... - Riu. - Você quer? - ofereceu os salgadinhos.

- Não. - Jarrell olhou para a televisão - Você não acha que está muito velho para assistir x-men?

- Claro que não! Não existe limite de idade para assistir x-men!

Jarrell sorriu.

- Se você diz.

Se levantou e subiu as escadas, Marc o seguiu, tagarelando algo sobre um artigo que ele tinha lido na internet sobre os poderes de cada personagem. Jarrell não prestava atenção no que ele dizia. Estava cansado, irritado e dolorido demais para achar graça em uma porcaria de artigo.

Entrou no seu quarto e caminhou até o guarda-roupas.

- E é por isso que eu ainda prefiro ser como a vampira, que não pode tocar em ninguém e tem poder ilimitado, do que como o noturno, que tem que esconder quem realmente é e só pode se teletransportar alguns... - continuava tagarelando.

Marc se sentou na ponta da cama, enquanto Jarrell procurava por uma camisa.

- Você está me escutando? - Jarrell retirou a blusa que estava vestindo e a jogou no cesto de roupas sujas. - Porque parece que você não tá nem aí. - comentava vendo o outro retirando os sapatos. - Jarrell? - o chamou vendo o mesmo retirar a calça. - JARRELL? - exclamou irritado ao ver o outro retirar a peça íntima, despindo-se por completo.

- QUE É PORRA?! - Se virou como um caçador, encarando o amigo com raiva.

A expressão de Marc mudou de tal forma que tornou-se quase fantasmagórica. Seu rosto ficou pálido e ele pareceu perder a voz, como uma criança assustada recebendo uma bronca pela primeira vez dos pais. Ele sentiu seu coração acelerar, seu corpo ficar dormente e algo frio roçar estre as suas pernas, uma sensação diferente que fazia os pelos da sua nuca de arrepiarem. Tentou disfarçar, esquecer aquilo e se concentrar apenas no que Jarrell estava dizendo.

- Desculpe por isso, eu estou nervoso. - vestiu uma calça e camisa limpas.

- Tudo bem, eu já estou acostumado.

Jarrell se sentou ao seu lado.

- Acho melhor você ir para casa.

Não acreditou no que ouvira. Jarrell estava mesmo o expulsando?

- O quê?

- Você escutou.

- Só não acredito que escutei certo! Está me expulsando? Sabe quanto tempo eu fiquei te esperando? Quatro horas! E agora você chega e me expulsa sem mais nem menos? Eu faltei na escola para ficar com você! - se levantou. - O que está acontecendo com você?

- Eu só quero ficar sozinho. Não tenho esse direito? - ele também se levantou.

- Claro que tem! Só que... - pensou em argumentos. - Podemos ficar sozinhos juntos, só nós dois. - sorriu. - O que acha de irmos a algum lugar legal? Vai ser divertido.

- Hoje não. Tudo que eu quero é ficar em casa.

- Então eu fico com você.

- Não. Eu quero ficar em casa so-zi-nho - enfatizou -, sem ninguém para me encher.

Cinco segundos de silêncio.

- Então eu te encho o saco agora? - Cruzou os braços.

- Que? Eu não disse isso!

- Disse sim!

Jarrell suspirou, coçou a cabeça e então sorriu com ironia.

- Tive uma ideia. Porque é que você não volta para a sua namoradinha secreta e me deixa em paz?

Andou até a janela e a abriu.

- Que? Quem foi que te disse i--

- Ninguém. - o encarou sério, cortando-o - Eu só sei.

Marc refletiu.

- Então é por isso que você está tão estranho? Tudo bem, sei que eu deveria ter te dito isso antes, mas o que isso tem a ver com nós dois? E daí que eu tenho uma namorada? O que isso muda?

- Nada.

- Então. - se aproximou do outro, ficando bem perto - Nós somos amigos - sorriu -, os melhores amigos. Isso nunca ninguém vai mudar. Podem até tentar, mas nunca vão conseguir. Você é meu irmão. E ela é só uma garota.

Jarrell estudou sua expressão, não havia mentira ali, só sinceridade. Estranhamente isso o fez relaxar.

- Existem muitas garotas por aí. - Jarrell sorriu, o sorriso mais lindo que Marc acreditava ter visto em sua vida.

- Pois é. - concordou - Mas nenhum outro Jarrell Cervantes, este é um modelo único, feito sob medida.

Os dois sorriram.

- Não quero que pense que eu me importo com quem você sai. Para mim tanto faz. Eu só não quero...

- Ter que me consolar quando a garota me trocar por um cantorzinho de sertanejo ruim que ela admira? - arriscou um palpite.

- Não. - acariciou seu ombro - Eu só não quero que você me esqueça.

Marc o olhou com doçura.

- Isso nunca. - prometeu. - Eu jamais te trocaria por um namoro bobo. Não importa quem seja a garota, você é mais importante.

- Porque somos irmãos.

- Sim. Porque somos irmãos.


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