Não Me Julgue. - HIATUS escrita por Eu-Pamy


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora.



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- Só entram convidados. Se você não tem um convite, não pode entrar. Tenho permissão de usar de força bruta se necessário. Por isso sugiro que se afaste do portão, rapaz, para o seu próprio bem. - Avisou o segurança pela quarta vez.

 - Ameaças? É disso que você sobrevive grandão? Alimenta-se do medo das crianças e mulheres indefesas? Odeio estragar seus planos, mas olhe de novo, eu não sou um pirralho de nariz escorrendo que borra as calças toda vez que é ameaçado por tipos iguais a você. Eu não tenho medo de você, nem dos seus amigos! Se eu disse que vou entrar, é porque vou e ponto! Então saia da minha frente porque eu preciso falar com...

- O seu amigo. Já sabemos. - Zombou. - Olha, menino, se eu ganhasse uma moeda toda vez que escutasse isso, estaria rico. Afaste-se, por favor, essa é a última vez que eu peço. Da próxima vez não serei tão educado.

Podia ser mais jovem, mais baixo, até mesmo mais fraco, mas em momento algum Jarrell desviou os seus grandes olhos negros da imagem excêntrica e autoritária que compunha o segurança. Fazia isso mais por pirraça do que por coragem, tão orgulhoso e cabeça-dura quanto a mãe costumava ser.

- Não será, pois te falta capacidade. Seres como você não vieram a esse mundo para serem educados. São ogros, trogloditas de mentes pequenas que usam os músculos para estancar o buraco da falta que lhes faz o conhecimento. Chega. - Com mais raiva do que antes - Eu não vou perder mais meu tempo com vocês. - Virou-se e se dirigiu até o carro, estacionado a poucos metros dali. - Se é assim que querem jogar... - Entrou e se sentou.

Procurou pelo celular e quando o encontrou, enviou pela décima vez uma mensagem para aquele número tão conhecido.

"Eu sei que você está nessa droga de convenção. Não me faça esperar! Seja homem, saia e venha falar comigo."

 Soltou o ar com nervosismo, os olhos capitando cada pessoa que entrava e que saia daqueles portões como olhos de um falcão. Ele não estava ali para brincadeiras. Concentrado, viu a hora em que os seguranças abriram os dois portões por completo, para que alguns carros pudessem sair. As pessoas também saíram da frente para que os carros passassem.

"Perfeito" -  Um sorriso descarado nasceu nos lábios finos do moreno, que aproveitando a oportunidade deu partida e acelerou na direção dos portões ainda abertos. Um segurança ainda tentou impedir, entrando na frente, para em seguida saltar longe, tendo por muito pouco conseguido se afastar antes que Jarrell o atropelasse, algo que definitivamente o mais jovem não hesitaria em fazer.

Jogou a cabeça para fora da janela, gargalhando orgulhoso para os seguranças que o fitavam chocados, alguns caídos no chão, outros simplesmente paralisados pela surpresa, depois voltou a acelerar. Dirigiu pela pista dos carros, até o estacionamento. Haviam muitos carros ali e muitas pessoas circulando pelo estacionamento. Não se preocupou em ser visto ou reconhecido pela segurança, sabia que isso era questão de tempo. Mesmo sem se esconder, tentou disfarçar como pôde e não correu, caminhando em um ritmo médio até o salão principal, onde havia a maior aglomeração de pessoas, muitas usando fantasias e rindo em grupos. Procurou pelo ruivo entre todas aquelas pessoas e quando finalmente começou a perceber o quão aquilo era ridículo, viu o amigo adentrar no salão, acompanhado por alguns colegas fantasiados, pelo que Jarrell pôde perceber, de guerreiros espaciais. Com uma mistura de alívio e raiva, caminhou até ele, o agarrando pelo braço.

- Diga tchau! - Começou a empurrá-lo para fora, sem encontrar resistência, já que o outro se encontrava completamente aturdido.

Marc simplesmente não conseguia acreditar.

- Como é que você...        

- Entrou? - Completou sem humor. - Do mesmo jeito que você: pela porta. Agora anda depressa, que não temos muito tempo. - o levava para o estacionamento, sem desgarrar do braço do menor.

- Que? - Balançou o braço. - Me solta! - Jarrell o soltou - Pera aí, vai devagar. Primeiro: oi, segundo: o que está acontecendo? Tem alguém morrendo? Que pressa é essa? Porque é que você está aqui? Não, não, primeiro me diz: Como é que você conseguiu entrar aqui? Eu não acredito que você pagou 200 paus no convite, não acredito mesmo!

- Claro que não. Que tipo de idiota paga "duzentinhos" para vir numa convenção de nerds? - Marc abriu a boca, mas não disse nada. A resposta era óbvia. - Ah, é, idiotas iguais a você.

Os olhos verdes de Marc reluziram fogo.

- Eu não sei porque você está aqui, mas que se dane, não me importo. Tudo que você precisa saber, e decorar,  é que eu vou me virar e você não irá me seguir, entendeu ou será preciso desenhar? Você não faz ideia de quanto eu esperei por esse festival, e agora que ele chegou você não vai estragar! Pode parecer bobagem, mas isso é importante para mim!

Marc se surpreendeu quando viu o moreno lhe olhar com ternura e depois sorrir de um jeito bobo, esquisito, igualzinho o jeito que costuma sorrir quando bebe demais. Por um segundo se perguntou se não era essa a resposta. Talvez ele estivesse bêbado e querendo desabafar, um colo, alguém para se apoiar, isso seria bem previsível vindo de Jarrell.

- Eu estava começando a sentir falta disso. - Resmungou antes de agarrar o braço do amigo novamente. Dessa vez Marc se mostrou resistente, mas Jarrell era mais forte que ele. O levou até o carro. - Entra. - Ordenou.

- Jarrell, eu não vou embora.

- Vai sim! Entra!

- É? E quem é você pra ficar me dando ordens? Eu não sou o seu vassalo! O tempo de escravidão já acabou, para o seu conhecimento, viu! Esse é um país livre, democrático, eu tenho o direito de ser dono dos meus próprios passos! Não preciso de você me dando ordens! E é por isso que eu digo que vou voltar para o salão e você não vai me impedir! - Ele estava tão decidido, firme nas próprios palavras, Jarrell se sentia estranho, mais quente, adorava ser provocado, desafiado, isso só fazia com que ele ficasse ainda mais determinado.       

 Ficou na frente do outro, encarando-o com frieza e acidez, ambos calados, até que o moreno quebrou o silencio.

- Marc. - Uma pausa planejada - Por favor, eu preciso falar com você. Prometo que vai ser rápido. Entra no carro. - Pediu, a voz baixa e a expressão controlada.

- Mas...

- É importante para mim também.

Um suspiro.

- Tudo bem, mas só se for rápido.

O sorriso do moreno ficou maior. Ambos entraram.

- Coloca o cinto.

- Porque é que não podemos conversar aqui?

- Digamos que eu não sou bem vindo nessa festinha, eles só aceitam pessoas com diploma de C.D.F.

- Você quer dizer "convite"?

- É, pode ser. - Marc balançou a cabeça, rindo baixinho. - Eles devem ter uma saída para carros nos fundos, não é?

- Sei lá. Por onde você entrou?

- Acho que não é um boa ideia sair por lá.

- Você é louco. Porque não me esperou em casa?

- Porque você está dormindo na casa da sua tia, ou pensa que eu não sei? - O encarou, Marc ficou sem graça.

- Porque meu quarto vai entrar em... reforma.

- Sei.

- Ei! Não se dê tanta importância. Acha mesmo que eu ia trocar de casa por sua causa?

- Talvez não por minha causa, talvez por sua causa mesmo. - Deixou o comentário no ar.

- O que?

- Porque é que você largou o serviço?

- Como assim porque? O serviço era uma droga, você sabe. O salário era péssimo e sempre tinha muita coisa para fazer.

- Por isso é chamado serviço e não parque-de-diversões, gênio.

- Mesmo assim, não compensava. Então decidi dar um folga a mim mesmo.

- Sei que tipo de folga, o melhor tipo: a folga definitiva.

- Claro que não, eu não sou você. Logo, logo, eu arrumo algo melhor.

- Aham... - Continuou prestando atenção na direção. - Droga, essa saída também tem seguranças.

- E o que que tem?

- Que que tem é que eu não quero ir para a cadeia.

O ruivo respirou fundo.

- Porque você sempre se mete em encrencas, hein? Até parece que tem um ima preso no seu crânio!

- Se tivesse, seria um ima de mulheres e não de encrencas.

Marc cruzou os braços.

- O que você vai fazer?

Jarrell encarou as pessoas entrando pelo portão.

- Eu não sei... Se não fosse o carro, eu pularia o muro. - Cerrou os olhos, vendo uma criancinha entrando vestida de alienígena. Que tipo de pai desnaturado trás a filha para esse tipo de evento bizarro? Ainda mais vestida de... - É isso!

- Isso o que? - Tentou entender.

- Fantasias. Os seguranças conhecem meu rosto, mas se eu cobrir meu rosto, pronto! Não vai ter como eles me reconhecerem.

- Brilhanteagora também imagino que você tem um plano para deixar o carro invisível, não é?

- Bom, graças ao gosto nem um pouco original do meu pai, tem uns cinquenta carros iguais a esse nessa convenção de retardados. Acho que isso basta para os seguranças não implicarem conosco, até porque isso aqui é um evento de Star Wars e não um presidio de segurança máxima.

- Ok, mas e se não funcionar?

- Ah, sei lá, não seja tão pessimista, mas se for o caso, eu digo que sofro de problema mentais e pronto.

O ruivo sorriu.

- Esse plano parece ter mais chances de dar certo. - Jarrell olhou com ironia. - Deixa que eu compro uma máscara. - Saiu.

- E que garantias eu tenho que você vai voltar?

- Nenhuma. - Sorriu.

Jarrell respondeu com outro sorriso.

Quando Marc voltou estava trazendo uma máscara do Yoda. Entrou e entregou para o moreno.

- Sorte sua, essa era uma das últimas de adulto. A primeira da sua coleção, eu suponho.

Jarrell pegou a máscara e a encarou.

- Que negócio feioso é esse? - Riu - Essa praga é um duende ou o satanás depois de comer muito brócolis?

- Há-ha, super engraçado Jarrell, você deveria virar comediante.

- Curioso, você é a segunda pessoa que me diz isso hoje. Com tanto apoio, talvez eu vire mesmo.

Marc riu.

- Ah é? E quem foi a primeira?

- Malu. - Colocou a máscara e deu partida.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

(Meia hora depois)

- A Malu foi na sua casa hoje? De verdade? Não pode ser, porque ela faria isso? Vocês se detestam!

O moreno estacionou no meio fio e saiu do carro.

- Ah! Então finalmente admitiu!

Tinha dirigido até a parte mais rural da cidade, onde teriam privacidade.

Marc também saiu do carro, mas não se aproximou.

- Admiti...?

- Que ela me detesta.

- Eu não disse isso.

- Sim, você disse.   

- Que seja. Não torne isso uma das suas conversas infantis, por favor. Agora explique isso melhor.

- Não há nada para ser explicado. Sua ex-coelhinha foi na minha casa e nós conversamos. - deu de ombros - Só isso.

A voz de Marc soou fraca e receosa.

- Conversaram sobre o que?

- Sobre jogos de panela e tipos de suéteres.  - irônico - Sobre você, é claro né? O que mais eu teria em comum com aquela vadiazi--

- Malu!

- Sim, essa daí.

- Bom... E então?

- Então o que? - Se fez se sonso, estava adorando aquele joguinho.

- Então o que ela disse? - O moreno ficou mudo. - Então, Jarrell - caminhou até o outro, a voz perdendo um tom a cada palavra - o que foi que ela te disse?

- O problema não foi o que ela me disse, Marc. - Falava sério - O problema é que foi ela e não você que me disse. Porque é que você fingiu que tinha dormido com ela?

- Eu não fingi coisa nenhuma! Foi você que acabou concluindo isso!

- Mas você não desmentiu!

- Porque isso não é dá sua conta! Você não tem nada a ver com a minha vida sexual! Então porque é que não vai cuidar da sua vida e me deixa em paz?! - Dizia com um misto de vergonha e ressentimento. - Eu já disse que é melhor para nós dois se não nos falarmos mais. Vai ser melhor.

- Porque é que você fica repetindo isso? Antes eu pensava que era a Malu te manipulando, mas por mais surpreendente que seja, parece que não é ela, porque até ela você chutou da sua vida. Então quem é, Marc? Quem tá mandando você falar essas coisas? É o seu pai? Eu sei que ele não gosta de mim, mas nunca achei que fosse capaz de mandar você me tratar desse jeito.

- Lógico que não é meu pai, Jarrell. Não viaja. Ele nem sabe que eu existo, quanto mais você.

- Então quem é?

- Porque tem que ter alguém? Hein? - Uma pausa - Essas são as minhas palavras, Jarrell. Nascidas na minha mente. Eu não sou um bonequinho, não há ninguém me manipulando. Engana-se você se supõe que não sou capaz de pensar sozinho. Posso ser inocente com muitas coisas, mas não sou idiota. Mas parece que você é. - Arrumou o cabelo atrás da orelha. - Está tão cego...

- Você finge que dorme com uma garota e o idiota sou eu? - sentindo-se ofendido.

- Já disse que não fiz isso.

- Mas me deixou acreditar que tinha dormido com ela e isso, Marc, é inaceitável. É coisa de moleque. Você diz que eu sou infantil, mas essa sua atitude não foi nenhum pouco adulta. Você agiu como um desses cafajestes que tanto criticas-te.

Os olhos verdes ficaram molhados, chorosos.

- Eu sei disso... - Murmurou, de cabeça baixa.

- E mesmo assim não fez nada.

- Eu não queria que você achasse... - Não completou.

- O que? - A ficha demorou a cair, mas quando finalmente entendeu não conseguiu deixar de sorrir com compaixão, um tanto culpado.

O ruivo estava com vergonha. Pela primeira vez em anos, Jarrell via o amigo encabulado. Já tinha ouvido falar que alguns garotos se sentiam pressionados para perder a virgindade, mais jamais imaginou que Marc poderia estar se sentindo pressionado pelo moreno. O que tem demais em ser virgem? Jarrell não sabia responder. Sexo era algo tão natural para ele que quase não tinha graça. Ouvia as pessoas dizerem que não podiam viver sem sexo, e mesmo que fosse concordar caso alguém o questionasse, no fundo não via nada de tão especial assim. Era bom, claro, tinha que admitir, mas não era como ver o paraíso. Eram apenas dois corpos querendo aliviar a tensão em busca de prazer. Só. Tão bom quanto comer o prato preferido ou tomar banho quente no inverno. Bom, rápido e eficiente. Ainda assim, não essencial. Jarrell sabia ser capaz de viver sem o sexo, mesmo que a falta deste o fosse perturbar no começo, é só uma questão de controlar e equilibrar suas prioridades. Contudo, o moreno admirava aqueles como Marc, que esperam até o momento certo para começar a ter um vida sexual, não por esses motivos idiotas românticos que garotas infantis usam, mas porque sexo não é coisa de criança, pois precisa ser responsável para praticá-lo, caso contrário veremos muitas crianças tendo crianças por aí.

- Você achou mesmo que eu ia te julgar? Foi você mesmo que disse: eu não tenho nada a ver com quem você transa. Se um dia eu te pressionar a me dizer algo, você tem que mandar eu tomar no cu, e não mentir para mim. Não precisa fingir ser quem você não é só para me agradar, até porque não é isso que eu quero.

O rosto de menino pareceu ganhar vida depois disso, os olhar reprimindo algo bem parecido com alegria e calmaria, talvez por finalmente entender que não estava em um tribunal sendo julgado por um crime que não cometeu.

- Não foi só por você que eu quis... Você sabe. Eu também queria aquela noite... Mas na hora, sei lá, fiquei assustado.

- Isso não me surpreende. Só em imaginar a Barbie nua já me dá arrepios.

Marc riu e deu um soco fraco no ombro do amigo.

- Idiota.

Três segundos de silêncio.

- Não que eu esteja reclamando, mas porque você chutou aquela carniça?

- Malu. - corrigiu.

- Tanto faz.

- Sei lá... Percebi que não é mais isso o que eu quero.

- Como assim?

Marc o olhou no fundo dos olhos.

- Você já esteve com alguém, aí do nada percebeu que não era com essa pessoa que você queria estar? - Riu de um jeito bobo- Não importa onde essa outra pessoa está, se você gosta ou não desse lugar, só o fato dela estar lá, já é o bastante para tornar esse lugar perfeito. - Respirou - Você já olhou para uma pessoa, ou até mesmo beijou uma pessoa e desejou que fosse outra? - Marc ficou quieto, esperando a resposta.

O moreno franziu o cenho.

- Não. - Foi sincero. - Não que eu me lembre. Mas relaxa, qualquer um se sentiria igual se fosse transar com aquele urubu sem asas.

- Malu!

- Certo, certo, chame como quiser. - Olhou para o crepúsculo - Mas e então, você vai voltar com a Patricinha sem sal?

- Não... Acho que já estou em outra.

As sobrancelhas do moreno se ergueram e ele ficou em silencio por alguns segundos.                 

- Hm, que pena, logo agora que eu estava começando a gostar da garota.

- O quê você disse? - Perguntou rindo. - Tá de sacanagem, né? - Gargalhando.

Jarrell segurou o riso.

- Estou treinando para quando virar comediante. - Começou a rir.

Os dois se entreolharam.

- É bom falar com você outra vez. - Marc sussurrou, com um lindo sorriso no rosto. Jarrell foi menos intenso, mas também mostrou-se contente.

- Idem.


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