Tema: João e Maria

Fandom: João e Maria – Caçadores de Bruxas

Frases Mal Acabadas

Meus sentimentos são difíceis de traduzir. Como poderia colocar tudo em palavras? Como poderia jamais expressar ao João o que sinto por ele?

O relógio fazia tic-tac sem parar, parecia que zombava da minha impotência. Nunca fui nenhuma poetisa, não sabia como fazer aquelas frases bonitas que eles fazem, nunca consegui expressar isso. Mas senti que o João merecia isso. Eu tentei e tentei formular alguma coisa bonita e emocionante, mas nada saía.

O coração é difícil de traduzir

Ele tem uma linguagem própria

Ele fala em línguas e em sons quietos

E rezas e proclamações

Nos grandes dias de grandes homens e nos mais pequenos gestos

Em curtas e insensíveis arfadas

Eu ficava encarando o papel na minha frente, como se isso fosse me ajudar. Pinguei a tinta em duas grandes bolhas na ponta, me distraindo. Depois me dei conta de que podia desenhar se eu quisesse, mas eu não sabia desenhar direito, só uns garranchos geométricos. Feios de qualquer maneira. Aquilo estava me irritando profundamente.

Mas com toda minha educação

Eu não consigo elogiá-lo

E as palavras agora me escapam

E voltando todas danificadas

E eu as colocaria de volta na poesia

Se pelo menos soubesse como

Eu não consigo entendê-lo

Respirei fundo e comecei. Querido João. Não, assim ficava muito meloso. João. Assim ficava melhor. João, como vai? O relógio fazia tique-taque, e eu desviei minha atenção para as batidas arrastadas, depois voltei a me obrigar a concentrar-me na tarefa que eu mesma me impus. Eu precisava dar satisfações ao meu querido irmão.

“João, como vai? Espero com todo o meu coração que você esteja passando bem. Quando você estiver lendo essa carta, eu provavelmente estarei viajando, porque deve ser constrangedor te ver lendo algo que eu escrevi com tanto... As donzelas chamariam de ‘sentimento’.”

E eu daria tudo isso e o paraíso também
Eu daria tudo por apenas um momento
Em que eu pudesse apenas compreender o significado dessa palavra que você vê
Porque eu fiquei a escrevendo desde sempre
Mas nunca fez muito sentido para mim

“João, você sabe que eu te tenho em alta consideração. De fato, você é a pessoa que eu mais... Amo? Como colocar em palavras algo que não pode ser colocado em coisas tão fúteis e insignificantes como palavras? Elas são tão vazias, nunca poderiam expressar isso que nós temos. Se eu pudesse apenas entender o significado dessas palavras, que nunca fizeram muito sentido pra mim.”

E ele fala pra mim na ponta dos pés,
E canta para mim de dentro,
Grita nas noites mais escuras,
E quebra na luz da manhã

“Você está sempre lá pra mim quando eu preciso. Pode não ser na hora, mas a ajuda sempre vem. Sempre. E eu sempre estou lá pra você também. Seja pra matar umas bruxas ou pra nos ajudarmos. Acho que só posso te dizer obrigada, mas parece vazio demais.”

Mas com toda minha educação
Eu não consigo elogiá-lo
E as palavras agora me escapam
E voltando todas danificadas
E eu as colocaria de volta na poesia
Se pelo menos soubesse como...
Eu não consigo entendê-lo...

Eu não consigo me expressar! Eu daria tudo e o paraíso também apenas por um momento que eu... Conseguisse.

Eu preciso entender o significado dessas palavras e das minhas próprias palavras. Concentre-se, Maria. Minha mão vacila um pouco e borra o papel. Idiota.

E eu daria tudo isso e o paraíso também
Eu daria tudo por apenas um momento
Em que eu pudesse apenas compreender o significado dessa palavra que você vê
Porque eu fiquei a escrevendo desde sempre
Mas nunca fez muito sentido para mim

“João, você é a pessoa mais importante da minha vida.” Colocar desta forma não tem efeito. Ele é o centro da minha vida. Ele é o centro e todas as outras partes. Ele é a minha própria vida, mas isso não parece certo. Eu sou a minha vida, e ele também, certo? Eu sou o todo e ele é uma parte. Ainda não parece certo.

E eu daria tudo isso e o paraíso também
Eu daria tudo por apenas um momento
Em que eu pudesse apenas compreender o significado dessa palavra que você vê
Porque eu fiquei a escrevendo desde sempre
Mas nunca fez muito sentido para mim

“João, eu sei que isso é estranho e meloso, mas não sei como falar. Você é o centro, a parte, o todo. Você é o vazio e o cheio. Você é o consolo quando eu preciso. Você é a armadura que eu visto, e eu sou a sua. E também é o meu cobertor, que sempre está lá pra mim. Sempre cuidando de mim, até mesmo quando precisa cuidar de si mesmo. Eu só posso te agradecer, irmão. Mas eu preciso agradecer mais do que posso exprimir. Eu te devo a minha vida. Acho que isso é a declaração de amor máxima, não? Pra onde você for, eu vou te seguir. Não tem nenhuma montanha alta demais, um sol muito escaldante ou frio muito congelante que possam me impedir. Eu te amo mais do que poderia algum dia amar mais alguém. Não existe nenhuma dificuldade que eu não possa vencer que possam me impedir de estar com você, meu amor. Você não é só o meu irmão e eu não sou só a sua irmã. Você é o meu amor por si só.”

Não, palavras
Chamadas de línguas
Não merecem esse tratamento
Todas as minhas palavras mal acabadas
Nunca se conduziram para algo tão valioso quanto esse sentimento
Todo esse paraíso
Nunca puderam descrever um sentimento como eu estou tendo
Palavras nunca foram valiosas
Então eu estava gritando em uma linguagem que eu não sabia que existia antes

Dobrei a carta e fui encontrar meu irmão. Logo o vi. Ele estava tomando cerveja, o safado.

– Oi Maria!

– Oi João.

– O que foi? Você parece triste.

Respirei fundo e sentei do lado dele. Segurei sua mão.

– João, me desculpa se às vezes não sou boa com você. Eu te amo. Eu te amo mais...

Ele me interrompeu. Sorriu e depois selou nossos lábios.

– Não vou te forçar a falar. Não precisa. Eu sei de tudo que você sente por mim. Eu também sinto por você.

Eu sorri. Escondi a carta, joguei-a na lixeira.

Naquele mesmo dia, eu estava com muito frio, então João veio me aquecer à noite.