Psychotic Mind - The Eight Pages escrita por Sweet Lolita


Capítulo 1
Capítulo único - As oito páginas.


Notas iniciais do capítulo

OBS: Leia as notas finais.
Boa leitura.



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Meu nome é Amanda Evanesciee, mais conhecida como "Mandy". Tenho quatorze anos completados há três meses, moro num bairro nobre com meus pais, tenho uma irmã mais velha, mas ela já está nos seus vinte e três anos e foi cursar biologia no Canadá. Aparência? Comum, muito comum; cabelos negros, lisos e longos. Olhos acinzentados. Pele pálida. Baixa e magrela.

 Deve estar pensando que sou uma daquelasriquinhasmetidas, superficiais, cretinas e etc, não é mesmo? Errado. Durante minha infância, nunca tive amigos. Minha mãe era uma artista, seguia livre e espontaneamente seus sonhos e meu pai era um escultor de argila, tinham dinheiro suficiente para sustentar a família de apenas três pessoas e mesmo meu pai tendo cursadomarketing e sendo ótimo com negócios, preferia esculturas. Muito humildes. Porém, minha mãe ficou grávida de mim. Meu pai teve de arranjar um emprego de verdade e minha mãe desistiu de seus sonhos para cuidar da casa e da família, eles até pensaram em me abortar quando minha mãe entrou em depressão, mas desistiram. Sim, eles me contaram tudo. E então, nos mudamos de uma simples casa do campo para um bairro de classe média alta de Portland – Oregon -, pelo menos lá eu tinha uns três ou quatro amigos. Estava tudo normal, entediante, pacato e rotineiro, mas eu podia conviver com isso. Até que meu pai ganhou uma promoção no emprego e tivemos de nos mudar para um bairro nobre da cidade de Nova York. Nunca mais vi meus antigos amigos. Minha família estava feliz, porém, eu não. Era alvo de piadas maldosas no colégio por minha aparência considerada "anormal", não tinha amigos, constantemente humilhada e mandada para a detenção, acusada por coisas que não tinha feito. Até mesmo minhas notas foram afetadas, sempre fui muito inteligente, mas exigiam que eu tirasse notas baixas senão apanharia depois da aula. Aos dez anos, fiz meu primeiro amigo em Nova York, um garoto popular. Tínhamos virado amigos porque ambos gostávamos de jogos e de rock'n'roll, íamos sempre aos melhores fliperamas e visitávamos a casa um do outro para jogar. Sempre escondido, claro, se me vissem com ele acabariam com sua reputação e seriamos dois excluídos. Enfim, com essa amizade me aproximei de outros garotos, estava tudo bem, sempre me divertia... Até que uma menina que me odiava descobriu tudo. Ela nos ameaçou no colégio e acabou que quando o sinal tocou e eu fui para o refeitório, ela e as amigas dela me bateram e em seguida; todos os seus amigos – que eram muitos, afinal, ela era popular – jogaram comida em mim. Aqueles que antes eram meus amigos me imobilizaram e fui jogada na lixeira. “Você merece estar aí, lugar de lixo é no lixo” lembro-me muito bem daquelas palavras e do cuspe que foi direcionado a mim, realmente me senti um lixo, talvez até tivessem razão. Quando voltei pra casa, senti que meus pais se envergonhavam de me ter como filha – a desgraça da família. Continuei naquele colégio por mais três meses, por me recusar a ser capacho, voltava do colégio todos os dias com um arranhão ou um hematoma. Depois, nos mudamos para Salem, Oregon. Outra decepção para minha família. Estavam todos tão felizes... Minha irmã estava numa boa universidade dali e era considerada a estrela da turma, minha mãe adorava aquela vizinhança tranquila e meu pai adorava seu emprego. Outra mudança por minha casa. Continuei triste e infeliz, sendo alvo de piadas, porém, não tão maldosas. Eu era da classe “Excluídos”. Sim, isso mesmo, os próprios coordenadores do colégio faziam uma pesquisa de popularidade e dividiam os alunos em classe, eu era uma Excluída, assim como os góticos, emos e otakus – e esses eram meus amigos -, então, os outros alunos que estavam em classes superiores agiam como se nem existíssemos, literalmente. Acabou que com tudo isso passei um longo período me cortando, até que passei a pensar que isso era besteira e que não iria me levar a nada, porém, continuei usando drogas e bebendo. Sim, eu fazia isso e meus pais sabem muito bem, porque são eles que compram pra mim. Me sentia um pouco cretina por ser infeliz, afinal, tinha uma ótima família, nunca passei fome nem frio...

 Enfim, meu pai – que era sempre muito ocupado com o trabalho – conseguiu uma folga de quinze dias, então, ele e minha mãe resolveram que iriam ao Canadá para visitar Marisa, minha irmã. Quase que erra viagem fora arruinada, novamente, por mim. Estava em semana de provas e tinha dois trabalhos escolares em grupo, não poderia faltar às aulas. E eles não queriam me deixar sozinha em casa, não por tanto tempo, apesar de tudo, eles ainda se preocupavam comigo. Não deixei de ser filha deles. Com muito esforço consegui convencê-los.

 Era sexta-feira o dia em que eles viajaram, tive de apressá-los para não perderem o voo. Partiram para o aeroporto às 17h: 00min e eu fiquei em casa, sozinha, teria o fim de semana todo apenas para mim. Infelizmente, tudo que fiz foi passear com meu cachorro – Pluto – e jogar online no computador do escritório do meu pai. Quando caiu a noite, desliguei o computador e fui direto para a cozinha, como sempre, peguei um pacote de salgadinho e uma lata de coca-cola, o whisky, a vodka e o ice haviam acabado. Depois, segui direto ao meu quarto e liguei a televisão que ficava sobre a escrivaninha, mudei os canais aleatoriamente, procurando algo de interessante para assistir, um filme de terror ou ação, de preferência. Nada. Então, simplesmente deixei a televisão num canal infanto-juvenil – Nickelodeon. Estava passando Bob Esponja – eu adorava Bob Esponja -. De vez em quando eu jogava um salgadinho para meu cachorro, que estava deitado no pé da calma. As horas se passaram e a programação foi mudando a cada meia hora. Desliguei a televisão e decidi ouvir música até cair no sono. E como sempre, não fazia a mínima ideia de onde estava o meu celular, saí procurando-o pela casa. Parei na sala de estar, inerte em pleno silêncio, raciocinei por um momento, tentando me lembrar de onde havia o deixando ou quando foi à última vez em que havia o pego. Escutei um som peculiar, parecia uma música e rapidamente o identifique; Miss Nothing da banda The Pretty Reckless. Esse era o toque de chamada do meu celular. Segui o som até o escritório do meu pai, encontrando-o debaixo da almofada da poltrona de leitura utilizada por Ronald. Era uma ligação de Matt.

   - Alô? – atendi.

   - Oi princesa. – respondeu.

   - Para de me chamar de princesa. – o repreendi, aquilo realmente me irritava.

   - Me obrigue. – provocou – Então, fiquei sabendo que seus pais viajaram e irão ficar fora por quinze dias... Que interessante. Tudo bem ficar sozinha?

   - Claro. – respondi – Estou ótima.

   - Não está com medo? – perguntou um tanto sarcástico.

 Revirei os olhos e ignorei a pergunta.

   - Hei Mandy, gosta de crianças? – perguntou.

   - Não. – respondi.

   - Ah, que pena, eu sei fazer. – debochou.

   - Gosta de armas? – perguntei irônica.

   - Claro! Adoro. – respondeu.

   - Então, eu sei usar. – falei – E só lembrando que têm duas Smith 36 e uma Magnum 357 taurus aqui em casa e ambas estão carregadas, então, nem tente invadir minha casa e me estuprar enquanto durmo, seu pervertido.

   - Você não terá tempo de pegá-las. – falou.

   - Irei dormir com elas debaixo do travesseiro. – contra ataquei – E se você aparecer atiro no seu saco.

   - Ai, pensei que quisesse ter filhos. – brincou.

   - Vai se ferrar, Matthew. – disse.

   - Calma princesa, sabe que eu te amo. – ele riu.

   - Ainda não me esqueci de quando você tentou me estuprar naquela reunião no cemitério. – rosnei.

   - Ah, foi há dois meses! – reclamou – Ainda tá com raiva? Nossa, você me espancou naquele dia, não está satisfeita?            

   - Não. – provoquei – Queria te bater mais, tarado.

   - Tá, eu sou tarado, mas só por você e você sabe disso. – falou, era verdade, que maldição – E aí, viu o novo jogo que vai lançar?

   - Vi. – respondi – E você disse que seria uma bosta.

   - É mesmo. – concordou – Ah é, semana que vem tem reunião no cemitério de novo, você vai? Quer que eu te leve?

   - Só se você dormir no mausoléu. – falei.

   - Fechado. – concordou, muito suspeito.

   - Tá, eu tenho que desligar, vou dormir. – disse.

   - Ah, já vai dormir, neném? – debochou.

   - Tsc. Espero que o capeta puxe o seu pé de noite! – praguejei e Matt riu.

 Em seguida, desliguei o celular. Matthew foi o primeiro amigo que eu tive e essa amizade surgiu porque ele derrubou meus livros no meu primeiro dia de aula e, como eu estava estressada, bati nele e ainda joguei refrigerante no seu cabelo. Daí, fomos para detenção juntos e viramos amigos. Ele é um garoto gótico viciado em todos os gêneros de metal e screamo. Assim como eu, depressivo e dependente das drogas e do álcool e de uns anos pra cá tem apresentado uma “quedinha” por mim. Matt era inteligente, foi reprovado um ano porque se recusou a ir pro colégio durante alguns meses, e também era bonito: alto, pele clara, cabelos lisos e negros – com uma franja que cobria metade dos olhos – e olhos azuis. Sim, também tinha uma “quedinha” por ele, mas sempre fui muito orgulhosa para admitir. Essa era a minha característica mais marcante: O orgulho.

 Peguei os fones de ouvido que havia guardado de manhã na gaveta de meias e me joguei na cama, conectando os fones ao celular. Fiquei um tempo acordada ouvindo música, até que comecei a ficar sonolenta, então, coloquei o celular para despertar às oito e meia da manhã, escovei os dentes, apaguei as luzes e fui dormir. Pluto, como sempre, deitou-se debaixo da minha cama para dormir.

 Perdi a noção do tempo, mas, de qualquer forma, os minutos se passaram e eu adormeci. Um tempo depois – não sei exatamente quanto, afina, como mencionado anteriormente, perdi a noção do tempo -, eu acordei, com um som de goteira. Provavelmente vinha do banheiro. E de uma maneira estranha e perturbadora, aquilo estava me intimidando, sentia uma estranha sensação de que havia algo de errado. Tentei ignorar aquilo, porém, foi em vão. Abaixei minha mão até que pudesse sentir o frio do chão e Pluto a lambeu, tranquilizando-me. Voltei com o braço para debaixo do cobertor e voltei a dormir. Acabei sonhando com a maldita goteira, em meu sonho, eu me levantava para verificar se havia deixado a pia aberta ou algo do tipo e ao chegar ao banheiro e acender a luz me deparo com uma cena horrível e assustadora: meu cachorro todo mutilado e seu sangue espalhado por aí, o que havia causado a goteira. Acordei assustada, novamente. O som da goteira havia parado, na verdade, não ouvia nada. Minha cabeça latejava e os sons estavam distantes. Sentei-me na beirada da cama e com o passar dos segundos, tudo foi ficando mais nítido, podia ouvir os latinos de Pluto, o que era estranho, ele sempre fora um cão muito calmo e quieto, não costumava latir. Levantei-me. Um pouco tonta e tropeçando em meus próprios pés e segui até a sala, no primeiro andar. E lá estava Pluto, latindo para a escuridão, não conseguia ver o que era, apenas fiquei mais tonta. Tentei acender a luz, porém, parecia que estava faltando energia. Subi as escadas, indo direto ao quarto dos meus pais. Por sorte, encontrei uma lanterna da gaveta de meias do meu pai. Corri escada a baixo, voltando à sala. Acendi a lanterna e iluminei a direção em que Pluto estava latindo: nada, apenas uma cadeira. Revirei os olhos e caminhei até a cozinha, já que estava lá, poderia comer alguma coisa. Senti novamente uma estranha sensação, porém, mais forte. Parecia uma presença sombria. Virei-me para a porta, observando vultos passarem correndo por ela. Sacudi a cabeça e pisquei várias vezes, talvez fosse apenas algo de minha cabeça, podia ser – também – que estivesse com sono. Caminhei até a porta quando ouvi um ranger vindo da pia, por reflexo, virei-me imediatamente, encarando-a. Continuei andando, mas desta vez, lentamente e ainda de costas. Bati minhas costas em algo, claro que não era uma parede ou um objeto, senão, teríamos nos chocado antes. Virei-me novamente e não havia nada. Sacudi a cabeça, decidindo voltar logo ao quarto e dormir. Andei de volta a escada quando percebi uma figura em frente a ela, parecia uma silhueta, mas uma silhueta nada normal: era mais alta e magra. Esfreguei os olhos e pisquei repetidas vezes para ter certeza de que era real e, infelizmente, não era apenas uma ilusão. Senti-me intimidada pela estranha criatura, ficando cada vez mais tonta e parecia que estava sendo seduzida, hipnotizada. Minhas pernas tremiam, não conseguia me mover, nem ao menos desviar meu olhar, ouvia uma estranha voz – porém, não entendia o que ela estava me dizendo. Pluto voltou a latir. A criatura continuou inerte, até que algo como tentáculos saíram de suas costas, ela iria me pegar? Pluto mordeu meu tornozelo, as luzes piscaram e eu pude ver o rosto da criatura, ou melhor, ela não tinha rosto e usava um terno. Parecia muito com um manequim. Graças a Pluto, saí daquele transe hipnótico e corri até a porta da frente, destrancando-a e saindo de casa. Atravessei o gramado, indo parar no meio da rua, olhei para trás e a criatura estava saindo de minha casa. Fiquei horrorizada, espantada, amedrontada. Ela era enorme, ou melhor, ele, porque parecia um homem. Tinha – aproximadamente – uns seis metros. As luzes dos postes que iluminavam a rua começaram a piscar, peguei Pluto em meus braços e corri o máximo que podia, sem rumo, nem destino, apenas fugindo daquele ser horrendo. Virei uma esquina, indo parar numa outra rua e vejo a criatura a alguns metros à frente. Fiquei paralisada por um momento, como ele chegou ali tão rápido?! Virei-me novamente, indo para outra rua e lá estava novamente a criatura. Olhei para trás, pronta para correr em outra direção, mas ele já estava lá também. Girei novamente, olhando para uma reserva floresta que estava logo a minha frente, olhei para trás por um breve momento e a criatura continuava lá. Então, corri em direção à mata, invadindo a reserva. Pluto estava inquieto em meus braços, então o coloquei no chão e ele me acompanhou em minha corrida. Ao adentrar mais fundo a mata, já estava perdida em meio a tantas árvores altas. Fiquei girando, tentando me decidir em que direção seguir até encontrar um papel colado numa árvore. Não hesitei nem um pouco, corri até a árvore, recolhendo o papel. Era um manuscrito, havia uma mensagem escrita com terra e dizia “Always watches noeyes” e também percebi algumas manchas de sangue. Segui em frente, com o manuscrito em mãos. Depois de andar um pouco, encontrei uma trilha e resolvi segui-la. A trilha me levou até uma construção que parecia um banheiro, um tanto hesitante, entrei na construção, apenas por curiosidade. Era forrada apenas por azulejos, tanto no piso quando nas paredes e parecia um enorme labirinto. Acabei encontrando outro manuscrito que tinha a mesma aparência que o anterior: escrito com terra e manchado com sangue. A mensagem escrita era um simples “Help Me”, ou seja, ajude-me ou socorro. Com isso, a conclusão mais óbvia que pude chegar foi de que havia alguém naquela reserva, também fugindo da besta, que havia espalhado isso, pedindo ajuda. Saí correndo do local, avistando novamente a criatura, porém, distante e imóvel. Pluto voltou a latir, então, o peguei em meus braços e corri de volta para a trilha. Desta vez, a trilha havia me levado para – o que parecia – uma pequena construção e uma caminhonete abandonada. Aproximei-me da construção, batendo levemente na porta, na esperança de encontrar alguém. Nada, sem resposta. Segui até a caminhonete, olhando seu interior através das janelas cobertas por poeira, tentei abri-la, mas estava trancada e a chave estava do lado de dentro. Olhei ao redor, encontrando uma pedra. Peguei a tal pedra e a joguei contra o vidro da janela da caminhonete, quebrando-a, por sorte, não havia alarme. Tentei liga-la, porém, parecia que já estava quebrada. Andei ao redor da caminhonete por um momento, pensando no que fazer a seguir, até que encontrei outra página. Nesta página havia sido desenhada a tal criatura e do lado dela – tanto esquerdo quanto direito – estava escrito “No no no no no no” na vertical. Segurei aquela folha com a mão direita, juntando-a com as outras duas e voltei a trilha. Continuei andando, minha respiração já estava ofegante e minhas pernas doíam um pouco, não poderia andar mais rápido que aquilo. Fui levada novamente aquela mesma grande árvore, andei ao redor dela, formando um círculo e em seguida, a ignorei, seguindo em frente. Acabei sendo levada a uma divisão na trilha, havia dois caminhos: esquerda e outro em que continuava seguindo em frente. Observei por um momento o caminho da esquerda, pude avistar aquela mesma construção que parecia um banheiro, então, resolvi continuar seguindo em frente. Deparei-me com um cilindro, tipo aqueles que são usados para armazenar grãos nas fazendas. O ignorei e continuei seguindo em frente, tinha um ar sombrio e assustar, temia que se fosse olhar ao redor dele me encontrasse novamente com a criatura. Um pouco mais a frente me deparei com uma gigantesca rocha, decidi encostar-me nela e descansar por um momento. Olhei o céu, apesar de todo o medo e escuridão, era uma bela noite. O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem e as estrelas brilhavam, vendo aquela imagem senti que fosse mais um momento nostálgico dos tempos em que eu era feliz e não sabia, em meio aquele perigo, pude ter um momento de paz. Sorri para o luar. Suspirei, desanimada e voltei a caminhar, olhei ao redor por um momento, apenas para me certificar de que Pluto ainda estava ali. E lá estava ele, acompanhando meus passos, como sempre. Ao andar mais um pouco, encontrei outra trilha que levava a um campo aberto. Decidi segui-la para ver o que havia naquele campo. Acabei encontrando um campo repleto por cilindros iguais a aqueles cilindros de gasolina carregados por caminhões que vemos nas grandes estradas. Caminhei ao redor de cada um deles, até que encontrasse outra página. Nela estava escrito “Leave me alone” ao lado de um desenho de uma árvore e a palavra “alone” estava sublinhada. Coloquei-a junto das outras páginas que havia coletado. Ouvi os latidos de Pluto, olhei ao redor, procurando por ele e ele não estava mais ao meu lado. Corri, seguindo o som de seus latidos e avistei novamente aquela mesma construção azulejada, e em frente a ela, estava a monstruosa criatura. Arregalei os olhos. Não pude esperar mais nem um segundo, agarrei Pluto e voltei a trilha que seguia anteriormente, encontrando novamente aquelas mesmas rochas. Segui em frente, correndo o mais rápido que podia, na esperança de despistar a criatura. Encontrei uma construção que pareciam dois muros cruzados, não hesitei nem um pouco, corri em direção a ela, escondendo-me logo atrás de um dos muros, o que estava na horizontal. Respirei fundo por um momento, deixando com que meus joelhos cedessem e meu corpo caísse ao chão. Por quanto tempo mais eu aguentaria? Afinal, era questão de tempo até que aquela criatura me capturasse. Será que a pessoa da qual escreveu aqueles manuscritos ainda estava viva? Ou ela já havia sido morta? Quantas pessoas já se tornaram presas nesse jogo de gato-e-rato? Tantas perguntas que vinham à minha mente, deixando-me apenas mais confusa e cansada. Talvez a pessoa que espalhou essas páginas estivesse tentando alertar às outras e fazê-las se afastarem invés de pedir ajuda. Levantei-me e me deparei com outra página. Nessa não havia nada escrito, nenhuma mensagem verbal, apenas um desenho da criatura e algumas árvores em volta. Recolhi aquela página também e saí de meu esconderijo, voltando a seguir pela trilha. Passei a andar mais rápido, já estava de saco cheio de me encontrar e reencontrar com aquela “coisa”, encontrei outro “ponto” num campo aberto, onde provavelmente teria outra página. Era duas fileiras de rochas retangulares, apenas isso. Aproximei-me delas e rapidamente avistei uma página na segunda rocha da fileira da esquerda, corri em sua direção e a recolhi. Nela estava escrita a seguinte mensagem: “Don’t look... Or it takes you”. Suspirei novamente, já desanimada daquela caçada. Porém, não poderia desistir... Espere, não poderia desistir? Do que diabos eu estava falando?! Era uma pessoa infeliz, desgraçada, por que não queria desistir da vida?! Era para eu estar querendo desistir, querendo morrer, mas invés disso... Talvez fosse porque esse tempo todo... Eu fui feliz e apenas não sabia disso. Eu adorava minha vida, minha vida era ótima e nunca pude perceber porque sempre fui uma idiota. Por isso... Eu irei sobreviver! Irei voltar para casa, rever minha família, meus amigos e o Matt... Ah, sim, o Matt. Estufei meu peito com um pouco de orgulho e continuei seguindo pela trilha, desta vez, com mais força, garra e determinação. Acabei me deparando um túnel, escuro, sombrio e assustador, mas, mesmo estando um pouco hesitante, criei coragem e entrei, havia chegado até aqui ignorando todos os meus medos, não seria agora que iria desistir por causa de um simples túnel. E logo no inicio, encontrei outra página; um desenho da criatura ao lado de uma árvore e a palavras “follows” escrita na vertical. A amassei em minhas mãos e a joguei no chão, após isso, fiz o mesmo com todas as outras e as chutei, arrancando um pouco de terra do chão. Segui em frente de cabeça erguida, atravessando aquele maldito túnel. Imaginei por um momento se fossem outras pessoas em meu lugar, provavelmente estariam encolhidas e pedindo a Deus que a salvassem. Sinceramente, nunca tive muita fé em Deus, eu acreditava nele, claro, mas sempre pensei que nosso destino, as coisas boas que acontecem na nossa vida éramos nós quem fazíamos e não Deus. Enfim, rezas não iriam me ajudar naquele momento, apenas minha vontade de sobreviver e a minha força para lutar.

 Parei por um momento, fitando o chão, meus pés descalços já estavam completamente feridos, por isso doíam tanto. Nem havia percebido que esqueci de me calçar. Sacudi a cabeça para distanciar todos esses meus pensamentos de reflexão, não era hora para refletir. Ouvi novamente aquela estranha voz dizendo algo da qual eu não conseguia entender, aquelas mesma voz que falara na minha cabeça quando estava em casa. A criatura. Por reflexo, virei para trás num movimento rápido, a avistando no fim do túnel. Arregalei os olhos, assustando-me por um momento, mas, depois, serrei minhas mãos em punhos, afastando todos os meus medos e inseguranças. Não seria intimidada por ela novamente! Chamei por Pluto e corri na direção oposta a criatura, saindo do túnel. Corri pela trilha, se não fosse pela forte ardência que sentia em meus pés, eu nem os sentiria. Encontrei outra caminhonete, nem me dei ao trabalho de tentar abri-la, deveria estar quebrada assim como a outra. Na traseira de sua carreta estava outra página, não parei para pegá-la, apenas a li. “Can’t run”. Parei por um momento, olhando ao redor, não havia mais para onde correr, a trilha me levaria para os mesmos lugares. Decidi mudar meu caminho, correndo em direção a mata fechada. Com passos apressados, fui me distanciando cada vez mais da trilha, até não conseguir mais vê-la. E agora? Estava completamente perdida. Perguntava-me como iria encontrar o caminho de volta para casa. Acabei tropeçando numa pedra que havia no caminho e rolei por uma ladeira, ouvi novamente os latidos de Pluto. Drogas... Como aquela besta conseguia ser tão rápida? Levantei minha cabeça, deparando-me novamente com a criatura, porém, estava bem diante de mim. Seus tentáculos surgiram novamente por suas costas, um deles agarrando minha cintura e me erguendo. Ficamos inertes por um momento, eu a encarava e então, o tentáculo foi apertando minha cintura, esmagando-a. Eu gemia de dor e tentava me soltar, todo meu esforço havia sido em vão. Pluto não parava de latir. Olhei para ele e ele correu para longe, desaparecendo na mata. Pluto... A princípio, fiquei um pouco decepcionada, mas era melhor assim, não queria que meu melhor amigo morresse, seria melhor se ele me abandonasse e fugisse. Me esforcei para formar um frágil sorriso em meus lábios, dando adeus a toda aquela vida que ainda nem havia começado a viver e que havia acabado de descobrir que era maravilhosa.

 Uma movimentação retomou a minha atenção e lá estava Pluto, havia reaparecido e agora mordia a calça preta da criatura, tentando me defender. Que fofo. Meus olhos se encheram de lágrimas, afinal, ele não havia me abandonado, seria fiel a mim até o último segundo.

   - Pluto... – choraminguei – Não faça isso garoto, vá embora! Fuja!

 E então, o que eu mais temia aconteceu, um tentáculo agarrou Pluto e o esmagou, matando-o. Arregalei os olhos, horrorizada. E num ato nem um pouco piedoso, o cadáver do meu cachorro fora lançado para longe. Fui sendo consumida pela raiva, meus olhos ardiam em fúria. Estava cega pelo ódio, tinha que me vingar. Não era apenas um cachorro, era o meu cachorro, que se sacrificou tentando me ajudar. Serrei minhas mãos em punhos e soquei o local onde deveria estar o rosto daquele monstro, ele se desequilibrou por um breve momento, recuando alguns passos para trás e deixando com que eu caísse. Olhei ao redor, pegando um grosso e forte galho de árvore que havia por ali.

   - Seu monstro! Por que o matou?! Era apenas uma criatura inocente, não podia matar apenas a mim?! – gritei – Que o deixasse vivo, seu demônio! Volte para o inferno!

 E com toda a minha força, eu o ataquei, atravessando aquele galho em seu corpo magro e esguio, na região do abdômen. Observei seu sangue escorrendo, não era como o sangue normal, era escuro, enegrecido e tinha cheiro de podridão. Antes que eu pudesse ataca-lo novamente, um de seus tentáculos agarrou minha cintura e me ergueu novamente. Mais dois tentáculos surgiram, agarrando e arrancando meus braços. Gritei de dor e assisti meus braços sendo descartados da mesma forma que havia sido com o cadáver de Pluto. Em seguida, foram minhas pernas. Arrancadas sem nem uma piedade e com uma brutalidade desnecessária, lançadas para longe também. Outro tentáculo surgiu, perfurando e atravessando meu estômago. Comecei a ficar tonta, já não sentia nada e minha cabeça latejava, a quantidade de sangue que havia perdido fora significativamente alta. Senti um embrulho subindo por minha garganta e antes que pudesse perceber, já estava tossindo sangue. Prestes a morrer, já perdendo meus sentidos, o mesmo tentáculo agarra minha cabeça e lentamente a puxa, sinto meus ligamentos do pescoço sendo rompidos e então, tudo escureceu, num cheiro doce e enjoativo de sangue.

Slender Man... Mais do que uma lenda

 As oito páginas tem de ser capturadas...

 É tudo uma armadilha...

 Ele te levará até o local onde pretende de matar, te encurralando...

 E espalhando as oito páginas...

 Tem coragem... Humano?                           


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela presença e obrigada por ter lido, espero que tenha gostado dessa história e acompanhe a série Psychotic Mind - é uma série de contos independentes que não possuem ligação entre si (e há uma fic para cada), sempre possuem "Psychotic Mind" antes do título e são originais -. Agora, por favor deixe um review, negativo ou positivo, o que importa é sua opinião, ambos são muito construtivos! Beijos!



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