As Vantagens De Ser Ou Não Ser escrita por mikkaelinhah


Capítulo 19
Capítulo 19




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06 de janeiro de 1993*

Mary tentava me tirar de perto do meu pai, mas, sentindo a obrigação de protegê-lo, agarrei a cama.

— Segure-a, Lyra. — Exclamei, em desespero. — Amarre-a em uma cadeira, faça qualquer coisa, mas tire essa criatura daqui!

Minha força não era suficiente e acabei fazendo desgraça. Ao segurar-me na cama, Elizabeth começa a me puxar e com isso, vejo o colchão deslizar sob minha mão, levando meu pai ao chão Ele, por sua vez, sente mais frio que antes e entra em convulsão,

Gritei com Lyra. Ela não havia me escutado. Ficar parada foi a única ação que ela fez. Inútil.

.— Faz alguma coisa, sua merda. Não fique aí que nem uma estatua.

— O que eu posso fazer?

— Leve a Mary daqui e chame a mamãe. Agora!

Ela sai da sala, puxando a minha inimiga pelos pulsos. Mary não reclamou do movimento repentino, sua cara demonstrava que queria sair imediatamente daquele quarto.

Isso mesmo, vá embora.

Poucos minutos depois, minha mãe chega ao quarto. Suas mãos estavam sujas de sangue e a Lyra não voltara com ela.

— Onde está a Lyra e porque sua mão está cheia de sangue?

Ao perceber o detalhe da sujeira, ela limpa a costa e a palma das mãos na calça jeans.

— Sua amiga está trancando a Elizabeth onde o Charlie dormir. Bem, o sangue é dele, mas depois explico isso, preciso cuidar do Lean.

Ela pronunciou seu nome com tanto desgosto que nem parecia que era seu marido. Entretanto, foi bom ouvir o seu nome. Fez-me lembrar de que ele tinha um, assim como ela: Denise.

Voltando á consciência, fuzilei seus olhos claros. Se acontecera algo com o Charlie, eu tinha direito de saber.

— Cuide dele, vou atrás do Charlie.

Antes que ela pudesse impedir, sai da sala a passos largos. Olhei para trás tempo suficiente para vê-la erguer papai e recolocá-lo na cama.

Demorei muito tempo para achar onde meu amigo estava. Não tinha notado o quão grande era aquela casa... Ou era prédio? Ficava difícil saber.

Encontrei-o da pior maneira possível.

Seguira um caminho de sangue.

***

— Ai meu Deus!

Todo o piso do quarto estava banhado por um tom vermelho. Claro, posso estar exagerando agora, mas naquele momento foi tudo o que vi. Sangue.

Um garoto desconhecido — aparentava ter a minha idade, se não mais — enfaixava um braço ensanguentado de Charlie quando me aproximei dele.

Tentei conter o choro, mas as lagrimas foram mais fortes que eu. Mais alguém mais forte que eu.

— O que fizeram com você?

Os olhos dele estavam fechados. Será que o perdi para sempre?

— Ele está bem. — o desconhecido fala — Dei-lhe alguns comprimidos anestésicos para fazê-lo dormir. Só assim poderia fazer este curativo.

— Como aconteceu isso?

Muito concentrado no trabalho, ele respondeu:

— Mary tentou esfaqueá-lo, mas só acertou o braço.

— Agora tenho mais provas de que ela tem uma péssima pontaria.

Vi um sorrisinho rápido em seus lábios.

— Ele tem muita sorte então. Quase todos os pacientes daqui foram machucados por ela.

Pacientes?

— Aqui é um hospital?

— Sim, você não percebeu isso?

— Como eu poderia saber se cheguei aqui dopada? Aliás, não encontrei uma só janela nesse lugar, não acha incoerente com o local?

— Já discuti com o gerente, mas ele é louco. — fala, terminando o curativo — Enfim, a maioria dos pacientes chegou aqui como você.

— Não estou entendendo bem, mas tenho certeza...

Fui interrompida. E por uma voz conhecida.

— Saia de perto do meu namorado, Bianca!

Era a Sam.

***

Não. Mais uma me odiando sem motivo já era demais.

O que eu fiz? Obedeci. Não queria ser ameaçada novamente.

Ela beijou os lábios dele, pensando que ele acordaria, mas foi iludida.

— O que você fez? — Olhou para mim.

Minha cara foi algo entre “What’s?” e “Como é que é?”.

— Eu não fiz nada, acabei de chegar aqui. Vim ajudá-lo.

— Não acredito em você.

— Pois devia, estou falando a verdade.

Cruzou os braços.

— Eu sei das cartas, dos telefonemas, dos encontros...

— Mas só nos encontramos uma vez!

— A Mary me contou tudo e, se ele está morrendo, é culpa totalmente sua

— Pergunte a ele — apontei para o garoto — Ele sabe que isso é verdade. Aliás, Charlie não está morrendo, só está sedado.

— Você o sedou? Eu vou te matar!

Ela avançou para cima de mim. Já acostumada, afastei, mas o que eu vi não foi suas mãos no meu pescoço, nem seu corpo me levando ao chão de raiva.

O que eu vi foi seus braços me envolvendo de forma amigável e suas lagrimas caindo em meu ombro.

Retribui o abraço, confusa.

Depois do choro, veio os risos.

— Eu confio em você, Bia. Eu mesma li as cartas, não se preocupe.

— Filha da mãe! — exclamei, mas ri com ela.

— Não se preocupe. — ela repete — Patrick e eu vamos dar um fim a isso, a Elizabeth vai pagar por tudo o que ela fez, não só a gente.

— Assim espero.

Aquele momento foi de alivio, pelo menos por enquanto. Mary ainda era maluca, meu pai estava prestes a morrer, meu irmão estava em uma cama, em repouso e meu amigo estava ferido.

Como eu estava.

Por fora.

E por dentro.


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Notas finais do capítulo

*Parece que esse dia nunca passa hein? XD



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