Capítulo 8 - Caroline POV

Assim que saí do banho, enrolei a toalha no corpo e fui para o meu quarto. Liguei o rádio e deixei o volume do som bem alto. Estava começando a tocar Heartless, da banda The Fray. Eu era completamente apaixonada por eles e poderia escutar essa música pelo resto da minha vida sem ficar enjoada dela.

“How could you be so cold as the winter wind when it breeze”. Comecei a cantar enquanto dançava freneticamente pelo meu quarto. Bom, antes que vocês comecem a se perguntar, eu estava sozinha em casa naquele momento. Finalmente um tempo para só mim!

Abri o meu armário e fiquei olhando para as minhas roupas por pelo menos uns cinco minutos, sem saber o que vestir. Acabei optando por um shorts jeans e uma regata branca. Era uma roupa velha e simples, mas como eu ficaria presa dentro de casa o dia inteiro, não teria problema.

Peguei meu celular que estava sobre a cômoda do meu quarto e logo vi que tinha uma mensagem não lida.

“Você está em casa, não está? Vou passar aí em meia hora.”

Meia hora? Então ele deveria estar perto, porque já fazia algum tempo que havia me mandado aquela mensagem. Antes mesmo que eu pudesse me levantar da cama, ouvi meu celular apitando. Era um novo torpedo.

“Cheguei. Você pode abrir a porta?”

Como assim ele já chegou? Eu não poderia recebê-lo daquele jeito! Meu cabelo estava totalmente molhado e bagunçado, sem contar a minha roupa, que estava inadequada.

Desliguei o rádio naquele mesmo segundo e corri para o banheiro. Penteei meu cabelo de forma rápida, só para deixá-lo com uma imagem melhor, o que foi totalmente em vão, pois este continuava cheio de nós. Olhei no espelho uma última vez. É, não está tão ruim assim! Minhas bochechas estavam rosadas por causa do banho, fazendo com que eu não parecesse tão pálida como sempre.

– Já vai! Um segundo! - gritei o mais alto que pude a fim de que ele me escutasse do lado de fora. Respirei algumas vezes, tentando recuperar o fôlego, e só então decidi abrir a porta - Oi. Desculpa a demora - tentei dar um sorriso.

– Você está bem? Você parece... Ofegante - ele disse, dando um passo à frente, se aproximando de mim.

– Sim, estou bem. É que eu corri para abrir a porta - eu ri, totalmente sem graça - Como você está?

– Estou bem agora - ele colocou uma de suas mãos na minha cintura e me puxou para si, fazendo com que nossos corpos se colidissem.

Sem se afastar ou tirar os olhos de mim, fechou a porta com o pé. Lentamente, começou a aproximar o rosto, tão perto que eu conseguia sentir sua respiração quente tocar meu pescoço - Você está muito cheirosa.

– Eu acabei de sair do banho - respondi tensa. Por que ele tinha que falar essas coisas para mim? Eu me derretia inteira. E isso era frustrante!

– Eu sei - ele beijou suavemente meu pescoço, fazendo com que minha pele se arrepiasse. Mesmo não podendo ver seu rosto, eu sabia que estava sorrindo. Um sorriso malicioso. E eu sabia exatamente o que isso significava.

Seus lábios deixaram meu pescoço e foram para a minha boca. Como alguém pode beijar tão bem assim? Eu perguntava para mim mesma. Nossos lábios se mexiam em sincronia. Era um beijo cheio de desejo e calor.

– Caroline - ele parou de me beijar e só então abri meus olhos. Ele olhava intensamente para mim e pude perceber que seus olhos estavam mais escuros que o normal.

– O que foi, Kol? - minha voz saiu fraca, evidenciando o efeito que ele causava em mim.

Talvez eu deva dar algumas explicações, certo? Por onde começar? Ah, sim. Niklaus. A princípio, as coisas estavam estranhas entre nós. Eu tentava puxar assunto, enquanto ele tentava me evitar ao máximo. Nós falávamos apenas o essencial e, eu confesso, isso me deixava muito abalada. Eu não queria que ele me tratasse como uma estranha. Era justamente o contrário!

Haviam se passado três semanas desde a noite em que Klaus e eu assistimos juntos ao filme. Três semanas desde que Klaus deixou claro que não queria absolutamente nada comigo. Meredith voltou nesse meio tempo. Minha mãe e Henry também voltaram. Por causa de tudo isso, Niklaus e eu nos falávamos cada vez menos.

Eu decidi seguir em frente, assim como qualquer garota faria. Sim, eu estava desenvolvendo algum tipo de sentimento por Klaus, mas ele obviamente não correspondia. Seguir em frente foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

Kol estudava na mesma universidade que eu. Mesmo cursando administração, e eu moda, já havíamos nos falado algumas vezes, devido alguns amigos em comum.

– Não é nada - Kol deu outro sorriso safado - Eu só queria ter certeza que eu podia continuar - ele disse entre o beijo.

Antes mesmo que pudesse perceber, já estávamos deitados no sofá. Kol estava sobre mim, beijando incessantemente meus lábios. E caramba! Ele era bom nisso! Passei minha mão pelo seu abdome perfeitamente definido. Segurei a camisa dele que, logo em seguida, já estava no chão.

Que corpo lindo! Eu não podia deixar de pensar nisso. Kol riu enquanto eu observava seu corpo, o que me fez perceber que eu não estava sendo nada discreta.

Ele estava prestes a me beijar novamente, quando ouvi a maçaneta da porta fazer um barulho. Sem pensar duas vezes, empurrei Kol com força, fazendo com que ele fosse direto para o chão.

– Finalmente em... Minha nossa! Me desculpa! - Meredith sorriu sem graça e logo começou a se desculpar.

Eu tentava arrumar minha roupa enquanto Kol, ainda no chão, procurava pela camisa.

– Que palhaçada é essa? - Niklaus estava logo atrás de Meredith. Ele estava com a cara fechada, como se estivesse bravo, muito bravo - Quem é esse babaca?

– Não é o que parece! - foi a primeira coisa que saiu pela minha boca. Sim, completamente ridículo eu dizer aquilo, mas eu estava nervosa e, provavelmente, já estava ficando toda vermelha. Aquela situação era mais do que constrangedora.

– É exatamente o que parece - pude ouvir Kol dizer. Olhei furiosamente para ele, que parecia estar se divertindo com toda aquela situação.

– Dá para você ficar quieto? - supliquei. Minha vontade naquele momento era de esganá-lo.

– Dá para você colocar a blusa? E sumir da minha frente? - Niklaus voltou a falar, dessa vez, dirigindo-se à Kol.

– Para com isso, Klaus - Meredith segurou o braço do namorado, na tentativa de impedir que ele fizesse qualquer burrada - A Caroline está só se divertindo, não é, cunhadinha? - ela piscou para mim.

Eu pensei que a situação não poderia ficar pior. Isso, até minha mãe entrar em casa, ao lado de Henry.

– O que está acontecendo aqui, crianças? - Henry passou a olhar para nós quatro, sem entender nada.

– Você trouxe um novo amigo para casa, filha? - minha mãe perguntou, e todos os olhares voltaram-se para mim.

– É, Caroline, conta para sua mãe quem é o seu novo amigo - Niklaus deu ênfase quando disse “novo amigo”, só para me provocar.

– Ah, meu nome é Kol. É um prazer conhecer a senhora - ele esticou o braço e cumprimentou minha mãe. Mentalmente, agradeci a Kol por ter dito algo.

– O prazer é todo meu, querido. E por favor, não me chame de senhora - ela sorriu - Seu namorado é lindo, Caroline. Por que você não nos apresentou antes? - ela continuou a falar, só que dessa vez, para mim.

– Mãe! Ele não... É meio complicado. Tipo... - eu comecei a gaguejar. Não sabia o que dizer. Ele nem era meu namorado, como eu iria explicar isso à minha mãe?

– Na verdade, nós ainda estamos nos conhecendo. Mas eu gosto muito da sua filha, irei cuidar bem dela - Kol me salvou novamente. Minha mãe abriu um sorriso forte. Sim, ela havia se deixado levar pelo charme dele.

– Isso é tão bom, cunhada. Agora nós duas temos namorados - Meredith veio correndo me dar um abraço. Que parte de “na verdade, nós ainda estamos nos conhecendo” ela não entendeu? - Tive uma ideia ótima! A gente podia sair num encontro duplo. Eu e o Klaus, você e o Kol.

Meus olhos se arregalaram quando ouvi aquela sugestão. Não! Mil vezes não! Aquela era a pior ideia do mundo. Acho que Niklaus estava pensando a mesma coisa, porque ele tinha a mesma expressão de susto no rosto.

– Talvez outro dia, o Kol já deve ter compromissos para essa noite...

– Não, Caroline, estou livre - não posso culpá-lo, ele não sabia de nada, mas... Fala sério! Ah não! O que eu fiz para merecer isso?

[...]

Como eu fui me meter numa furada como essa? Eu sempre fui esperta, mas parece que meus neurônios não estão funcionando tão bem ultimamente.

Lá estava eu, no meio de uma boate barulhenta e movimentada, num encontro duplo. Eu sentava ao lado de Kol, enquanto Meredith e Niklaus se sentavam juntos, de frente para nós. O silêncio entre nós só não era constrangedor por causa da música alta e também do álcool, que já começava a fazer efeito dentro dos nossos organismos.

– Como vocês dois se conheceram? - Meredith foi a primeira a dizer algo.

– Nós estudamos na mesma faculdade - Kol respondeu sorrindo - Eu sempre achei a Caroline bonita, mas nunca tive coragem de chamá-la para um encontro.

– Como você é fofo! - depositei um beijo em sua bochecha. Eu fazia questão de sorrir o tempo todo, para mostrar como estava feliz com meu “novo namorado” - Vocês sabiam que o Kol recebeu uma proposta para gerenciar uma das filiais da Google?

– Isso é incrível! Parabéns! - Meredith parabenizou-o, sorrindo sem parar.

– Vocês sabiam que a Meredith vai começar a trabalhar em um dos maiores hospitais de Londres? Isso porque ela ainda nem terminou o curso de medicina - Niklaus começou a falar sobre sua namorada, com o objetivo de provar que ela era melhor. Ele queria fazer isso? Tudo bem, eu também podia fazer.

– O Kol consegue falar cinco línguas fluentemente: inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.

– A Meredith ganhou um concurso de...

– Chega! - Meredith aumentou o tom de voz, interrompendo Niklaus - Será que vocês dois podem se comportar como adultos? Ou está difícil?

– Desculpa - nós dois respondemos ao mesmo tempo, de cabeça baixa.

– Tudo bem amor, eu só quero que a gente tenha uma noite tranquila - Meredith beijou Klaus na boca. Não era um beijo fofo, nada disso. Eles estavam quase se engolindo! Juro, aquela seria uma noite insuportável.

– Dá para o casal arranjar um quarto? - eu falei alto. Os dois, apesar de demorarem um pouco, acabaram se separando.

Niklaus estava com os lábios molhados e vermelhos por causa do beijo. Confesso que senti uma pitada de ciúmes. Gostaria que os lábios dele estivessem assim por minha causa e não por causa dela. Suspirei desapontada. Eu nem tinha mais força para afastar aquele tipo de pensamento sobre Klaus. Tudo bem, eu assumo. Eu estava completamente a fim dele. Mas e daí? Ele não dava a mínima para o mim. O jeito era continuar brincando com Kol.

A minha relação com Kol era física. Claro, ele era lindo, isso eu não podia negar. Rolava sim uma química entre nós, mas não era nada sério. Só estávamos nos divertindo juntos. Dei um gole na minha bebida, terminando de uma vez por todas a garrafa de cerveja.

Me arrependi imediatamente de ter tomado aquela bebida de forma tão rápida. Eu já sentia um calor subindo pelo meu corpo. Não demoraria muito para que começasse a sentir tontura.

– Caroline, está tudo bem minha linda? - Kol perguntou. Havia certa preocupação em seu olhar, mas eu não poderia ficar ali por mais nenhum segundo.

– Com licença, eu preciso ir ao banheiro - eu me levantei, deixando os outros três para trás.

Eu não queria ir ao banheiro, só precisava sair de perto deles. Me dirigi para fora do estabelecimento, visando tomar um ar. Fiquei ali fora, olhando o movimento da rua por uns cinco minutos mais ou menos e, estava prestes a voltar para dentro, quando me deparei com Niklaus.

– Você está bem?

– Estou ótima - dei uma resposta curta e grossa.

– Kol insistiu em vir atrás de você, mas eu o convenci a me deixar vir - ele sorriu fraco. Provavelmente, ele estava tentando mostrar algum tipo de carinho, mas eu preferi ignorar. Não precisava disso naquele momento.

– Preferia que fosse o Kol.

– Qual é o seu problema, Caroline? Eu me importo com você. Será que você não consegue perceber isso?

– Qual é o seu problema? - enfatizei o “seu” - Você ficou todos esses dias me evitando e agora vem me dizer que se importa comigo?

– Eu não deveria ter te evitado, eu sei disso. Me desculpa.

Ficamos nos olhando por alguns segundos. Não falávamos nada, absolutamente nada. Niklaus se aproximou de mim e, como eu estava encostada numa parede, não tinha como me afastar. Ele apoiou uma de suas mãos no meu rosto e, com o polegar, começou a acariciar minha pele. O que estava acontecendo? Por que eu não conseguia ter reação? Eu estava ali, imóvel, deixando Klaus tocar em mim. Ele deslizou o polegar pela minha pele e passou a movê-lo pelos meus lábios. Eu fechei os olhos, permitindo que pudesse desfrutar melhor da sensação que o seu toque me causava.

Como eu queria que ele me beijasse! Não, Caroline, não! Me repreendi. Aquilo não parecia certo...

– Caroline, por que você está fazendo isso comigo? - ele tirou a mão do meu rosto e entrelaçou nossos dedos.

– Isso o quê?

– Meredith é a mulher certa para mim. Ela é bonita e educada. E está quase se formando em medicina, os pais dela gostam de mim e o meu pai gosta dela - ele bufou, enquanto passava a mão pelo cabelo. Ele estava nervoso, isso era mais que evidente - Você consegue entender isso?

– Sim, consigo. Meredith é a namoradinha perfeita. Eu entendi isso - revirei os olhos. Por que ele estava esfregando todas essas coisas na minha cara? - Só não entendo o que eu tenho a ver com isso.

– Por sua causa, Caroline - ele respirou forte, como se tomasse coragem para dizer algo, mas, em seguida, abaixou a cabeça - Eu já não sei se ela é suficiente para mim.