–Capítulo Treze–

Hades e Harpias

Entrar no galpão foi a coisa mais fácil da noite. Embora eu só fosse descobrir isso minutos mais tarde, alguma coisa deixava-me incomodava, como se estivesse carregando uma tonelada em minhas costas. Insegurança sempre tinha sido o meu fraco, e um dos motivos para sempre estar de fora de tudo, mas quando se tratava de missões descobri que esses sentimentos deveriam ser rapidamente substituídos.

  Essa responsabilidade aumentava gradativamente quando se era filha de quem sou. Por mais que eu fosse uma simples iniciante, as vezes eu tinha a impressão de que Naruto e Sasuke esperavam coisas mais extraordinárias de mim. E isso era ruim, pois nem mesmo eu esperava. Enquanto atravessávamos a rua, rumo a lavanderia, fiz uma promessa silenciosa que me dedicaria ao máximo nos treinamentos assim que a missão acabasse. Iria amostrar a todos que era mais do que uma garota assustada e novata, e acima de tudo provaria a mim mesmo o quanto boa podia ser. 

Diferente do meu sonho, o local estava iluminado pelas várias lampadas penduradas ao longo das fileiras por um cabo de aço, todavia isso não ajudava com a áurea sombria do local. O cheiro lá dentro era horrível; uma mistura afrodisíaca de mofo, nuggets e ração vencida. As paredes eram chamuscadas e não tinha pintura, as máquinas estavam desgastadas e todas desligadas. O silêncio sepulcral fazia meu estômago embrulhar. 

Virei-me para traz afim de propor para nos separarmos e procurar, mas fui totalmente cortada por Naruto. Ele levantou a mão pedindo silenciosamente para permanecer quieta, o que não me deixou nem um pouco contente. Naruto tinha assumido uma postura muito diferente, estava sério e focado. Parecia convicto de que tudo se resolveria assim que encontrássemos e destruíssemos os gêmeos ciclopes. No fundo sabia que tudo aquilo era para compensar sua debilitação no achados e perdidos, mas não tinha certeza se gostava disso.

Sasuke esbarrou de leve no meu ombro ao tomar a minha frente. Sua espada negra envolta da palma de sua mão e ligeiramente erguida. Apenas para ter certeza foquei meus olhos no dele, e suspirei aliviada ao notar que permaneciam negros. Ele tinha o dom certo de deixar-me confusa assim como Naruto conseguia dar leves descargas elétricas pelo meu corpo. 

Soltei um gemido baixo quando Sasuke puxou meu pulso fazendo com que eu batesse em seu corpo. Fechei minha expressão deixando a amostra minha indignação com o ato, recebendo um dar de ombros deste. Constrangida pelos acontecimentos anteriores no apartamento, busquei os olhos azuis de Naruto, mas eles não estavam em nenhum lugar. Franzi a testa. Onde ele havia se metido? 

- Naruto quis ir na frente para checar algumas coisas. - Respondeu como se lesse minha mente. A voz arrastada e com o natural tom de autoridade.  - Esqueça o que viu hoje, Sakura. 

- Não peça algo que não posso. 

- É mais complicado do que imagina. 

- Se me explicar, posso começar a entender. 

O aperto no meu pulso intensificou-se, mordi os lábios para conter o grito. Ele encostou-me em uma das milhares de máquinas do local e empresou o corpo mais sobre o meu. Um calafrio correu por toda a minha espinha, igual a quando ele havia me curado da enfermaria a dias atras, e inexplicavelmente eu fiquei sem ar. Minha garganta tinha fechado. Eu não conseguia respirar, não conseguia. Pontinhos pretos começavam a aparecer conforme piscava. O corpo de Sasuke envolveu-me impedindo que de libertar-me. Eu estava tremendo, com frio e suando.  

Não conseguia respirar. 

Eu precisava de ar. 

Ar!

Entãomergulhei na escuridão sem fim. Um rosto conhecido aparecendo a poucos metros de mim. Era um homem alto, magro e de aspecto doentio. Vestia um sobretudo negro pesado, que se agitava e estremecia toda vez que dava um passo em minha direção. Ele sorriu diabolicamente, apreciando minha morte, saboreando minha desgraça. Agachou-se perto de mim passando sua mão gélida em meu rosto. 

Ouvia as almas gritarem de algum lugar. Meus olhos focaram nas pupilas pequenas e negras dele. Iguais a de Sasuke, idênticas. Eram opacas, frias e misteriosas. Eram de lá que as almas gritavam. Dos terríveis olhos de Hades.

- Gostaria que Perséfone estivesse aqui para ver isso. Ela não acreditou quando dei o serviço a Sasuke.

- Que serviço? - Lutei para perguntar. Ele balançou a cabeça, desviando o assunto. 

- Muito cedo para saber. Terá muitos anos nos campos para descobrir, Sakura.

- Estou morta? - Questionei. 

- Quase. Diria que está a beira da morte. - Riu, brincando com seu anel de caveira com as mãos.  

- O que quer de mim?! 

- Objetiva, gostei... - Ele rodopiou em volta de meu corpo pensativo. - Ele vive pela vingança, a necessidade inesgotável de poder que posso dá-lo. E você se tornou uma pedra no caminho, algo que complicará meus planos para o futuro. Então, quando decidir quem realmente ama, sugiro que fique com o filho de Poseidon. Isso, é claro, se quiser viver. 

- Não é como se eu pudesse escolher! - Esbravejei furiosa. 

Hades sorriu para mim, antes de virar uma fumaça negra e desaparecer. Quando estava prestes a retomar minha consciência escutei as ultimas palavras que escaparam em um sussurro.

- Sugiro que aprenda como o fazer então...

Na escuridão, a morte quase certa

Eu tinha acabado de descobrir parte da profecia.

(...)

Quando voltei a consciência a lavanderia estava quase completamente destruída, restando em pé somente os portões de acesso.  Tudo pegava fogo. E gritos de aves misturados com de mulheres pareciam agourar e instigar cada vez mais o caos. Encolhi-me em uma fresta quando uma das taboas que sustentavam o segundo andar do prédio caiu a minha direita, em chamas.  Tapei os olhos rapidamente quando a fumaça levantou-se, e cambaleante deixei o local. 

Buscava no meio do fogo, fumaça e das várias penas que flutuavam no ar, a cabeleira de Naruto ou de Sasuke, mas não tive sucesso algum. Tapei os ouvidos quando um grito alto vindo de uma ave sobrevoou minha cabeça. Girei meus calcanhares para poder seguir, mesmo que debilmente, o local para onde ela ia. Eu sabia que me levaria a onde os dois estavam. 

Peguei a moeda dentro do meu bolso e permiti que se transforma-se em espada. Rapidamente desviei-me de mais uma taboa que caia do teto, todavia desta vez as fagulhas queimaram parte do meu braço esquerdo fazendo com que eu soltasse um bom e alto palavrão. Vi de longe o brilho da espada de Sasuke cortar o ar, intensifiquei mais minha corrida para ajudá-lo, mas não foi preciso, pois uma jato d'água cruzou o salão e atingiu uma das aves.

Olhei em volta procurando de onde havia saído e encontrei um Naruto molhado, ofegante e com muito cortes. Aparentemente eu tinha esquecido que ele era filho de deus dos mares. Ele fixou seus olhos brilhantes em mim, feliz de encontrar-me ali. 

- Sakura-chan! Que bom que acordou! - Gritou. O sorriso transbordava a melhor das energias. 

- O que são elas? - Perguntei. 

- Harpias. Na maioria das vezes são inofensivas, mas essas trabalham para o lado negro. Era uma emboscada. - Fez uma careta. Assenti, um pouco envergonhada por ter colocado-os nessa encrenca. - Mas deram informações valiosas...

Naruto não pode continuar, pois uma das aves o atacou. Tentei o ajudar, mas aqueles monstros pareciam surgir da terra. Eram aves de rapina, com rosto e seios de mulher. Tinha diversas cores, todavia sua maioria eram vermelhas e mau cuidadas. Os olhos eram cruéis e maldosos, os bicos eram longos e muito afiados assim como suas presas. Uma delas fincou-se no meu braço, fazendo-me urrar de dor. Desferia um golpe no meu cotovelo, logo depois a rasgando com a minha espada.  

Abri espaço para poder visualizar melhor o que acontecia. Tínhamos caído em um ninho de Harpias furiosas. Sasuke e Naruto estavam esgotados, ou íamos morrer ali ou tínhamos que fugir. Ganhar aquela batalha estava fora de questão. Perfurei mais duas que me atacaram. Naruto usava seus poderes para poder amenizar o fogo, mas eu sabia que os bombeiros já deveriam estar a caminho. Seriamos detidos por policiais e nossa missão estaria acabada. 

Corri para o lado de Naruto, tentado me proteger da maior das aves. Ele estava muito machucado e respirava, assim como eu, com dificuldade por causa da fumaça. Deferi golpes e mais golpes. Era tudo inútil. Nada funcionava. Elas voltavam cada vez mais rápido. 

Um grito grave e másculo cortou a salão. Meus olhos giraram em câmera lenta até o local que tinha visto Sasuke. Ele tinha caído no chão, cercado por cerca de dez aves que o bicavam, escodado pelo cansaço. Gelei. Meu corpo todo recebeu uma descarga elétrica de perigo. Naruto fez uma onda se formar e cair onde Sasuke estava. O sangue escorria pelo corpo dele impiedoso. Os olhos fechados, a boca aberta e seca. 

E enquanto eu corria em direção a ele, tudo que eu suplicava era que fosse apenas um desmaio.

Apenas...

CONTINUA...