Acordo cedo, Tobias ainda está dormindo. Não entendo como todos conseguem dormir após o que aconteceu semana passada. Como vamos descobrir o que há do outro lado da cerca? Jeanine era a única que sabia e estava disposta a nos contar, mas ela morreu. Marcus também sabe, mas ele nunca ajudaria Tobias. Bom, terei que pensar nisso mais tarde. Levanto-me, sonolenta, e ando em direção à cômoda, para pegar uma camiseta. Acabo deixando um enfeite cair no chão, o barulho ecoou por todo quarto. Vejo Tobias abrir lentamente os olhos, fico imóvel, mas ele volta à dormir. Pego o enfeite, coloco de volta à cômoda e vou para o banheiro com uma muda de roupa. A sensação da água gelada incomoda um pouco, pois estou com os músculos doendo desde minha última aventura pela sede da Erudição.

Quando saio do banheiro, Tobias está sentado na cama, de costas para mim, enquanto encara o chão. Quando ele percebe que estou no quarto, ele se vira para mim e diz:

–Dormiu bem, Tris?

Eu respondo:

–Ultimamente não consigo dormir. Estou muito preocupada para fazer esse tipo de coisa.-Respondo de um modo descontraído, com um leve sorriso no rosto.

Tobias corresponde o meu sorriso, e vem andando em minha direção, ele me dá um abraço, ficamos abraçados por mais tempo do que o que deveria ser normal, mas eu não me importo. Eu não consigo me segurar e pergunto:

–O que faremos à respeito da cerca? Acha que Marcus nos dirá o que sabe?

Ele responde:

–Tris, não seja boba. Ele nunca nos dirá nada, não depois que eu quase o matei na sede da Franqueza.-Diz ele com um sorriso imenso em seu rosto.-Mas eu tenho certeza que pensaremos em um modo para faze-lo falar.

Eu não consigo entender como Tobias consegue falar assim de seu próprio pai. Eu sei que Marcus fazia coisas horrorosas, mas o que Tobias fez, não estava certo. Mas o que está feito está feito, não há motivo para ficar brigando com Tobias. Inúmeras perguntas vão ocupando meu cérebro, então começo a falar:

–Porque Tori matou Jeanine? Poderíamos fazê-la uma prisioneira, e ela nos contaria tudo que precisávamos saber.

Tobias me responde severamente:

–Tris, Jeanine fez coisas terríveis, inclusive, ela tentou te matar! Por que lamenta tanto pela morte dela?

Não gostei do que ele disse, é claro que eu não lamento pela morte de Jeanine, ela mereceu morrer, só não devia ter morrido agora. Então eu respondo secamente:

–Você está enganado, eu não lamento por nada. Mas acho que Tori deveria ter pensado um pouco antes de matá-la.

Tobias abre a boca para falar algo, mas eu o interrompo:

–Tobias, estou com fome, podemos ir comer alguma coisa e depois conversamos sobre isso?

Tobias assente com a cabeça, calça seus sapatos e segura minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. Vamos em rumo ao refeitório da Audácia. Onde Christina deve estar sentada, me esperando, como sempre. Sinto o olhar de Tobias em meu rosto, isso me deixa nervosa, mas, não me viro para olhá-lo. Ele continua me olhando, mas eu não quero olhar para ele, acho que ele não está me guiando em direção ao refeitório, mas não consigo perceber para onde estamos indo, estou muito nervosa, e irritada, mas não devo colocar a culpa da minha frustração em Tobias, ele não fez nada. Acho que já sei para onde estamos indo, mas não tenho muita certeza. Acho que iremos para o lugar onde Tobias me mostrou suas paisagens do medo, um pouco antes do massacre na Abnegação. Tobias está me levando para o lugar em que fomos há mais ou menos um mês, quando eu ainda o chamava de Quatro. As portas do elevador se abrem, revelando a sala das paisagens do medo, eu e Tobias saímos do elevador e vamos para o meio da sala.