Olhos Estreitos escrita por ericalopes


Capítulo 18
18. Café




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Assumi toda a responsabilidade por estar ali, por ter me atrevido tanto. Não fora o álcool, fora somente o cansaço de ter que me controlar a todo tempo. Eu senti a ponta dos meus dedos chegarem até a sua mão e então eu as entrelacei. Encaixei meu rosto sobre o espaço quente em sua nuca e respirei seu perfume, profundamente. O ar saiu, minhas costas relaxaram e então eu senti suas costas sobre a minha barriga e seus pés tocando os meus.

A sensação de estar aquecida também me envolvia de segurança. A medida que eu respirava, senti que Daryl guardava minha mão em sua palma. Como fizera quando eu mexia em seu cabelo. Eu apenas fechei meus olhos e deixei estar. Sem medos e pudores, esquecendo meu altruísmo em cima da cama enquanto dividia aquele espaço duro e frio de chão com Daryl Dixon. Eu acarinhei seu dedo, rimando cada carinho com a sua respiração. E cada novo pulsar em meu peito indicava que um segundo havia se passado, e que eu estava ali a um tempo considerável.

O tempo passava num ritmo lento, e eu respirava o aroma da pele de Daryl com imenso prazer. Sem medo nenhum de estar ali, sem medo de tê-lo protegido do frio com meu corpo, com a minha coberta e com todo o meu amor disfarçado de cuidado. E ele estava ali, retribuindo meu carinho em seus dedos de forma sútil e tímida, enquanto seu corpo estava imóvel e o único movimento além dos seus dedos era o de sua respiração calma.

Então de repente ele se virou num só movimento e seu rosto estava a poucos palmos acima do meu. Eu senti o frio do ambiente penetrar por minhas mãos até então aquecidas e se espalhar por todo o meu corpo. Eu não preciso dizer o quão forte meu coração se pôs a bater enquanto eu quase que imediatamente me perdia novamente nos seus olhos.

Ele se aproximou rapidamente, e antes que começasse ele pousou sua mãe delicadamente sobre o lado esquerdo do meu rosto me devolvendo o calor que o frio tomara. Nossas bocas se comunicaram com extremo nervosismo inicialmente, mas assim que os nossos lábios se encaixaram perfeitamente um no outro, elas se abraçaram como velhas conhecidas. Um abraço forte, quente e envolto das mais loucas sensações que poderiam existir. Era surreal. Eu sentia sua língua explorando tímida e delicadamente cada pedaço da minha boca. E embora cada movimento fosse sútil eu sentia uma ardência enorme escondida naquele beijo. Eu o acompanhei, deixei que me guiasse. Eu dizia a ele o quanto havia esperado por aquilo, ele me dizia o quanto não podia mais segurar. Cada vez que nossos lábios se distanciavam para se reposicionarem eu temia que não voltassem mais a se juntar então eu o beijava cada segundo com mais sofreguidão. Para que nunca acabasse. Pois eu queria ficar ali vivendo aquele momento por repetidas vezes toda a minha vida. Mesmo de olhos fechados, mesmo sem poder olhar em seus olhos e dizer o quanto aquilo era bom e o quanto eu o ama. Eu então o fazia com os lábios. Eu me movimentava em sua boca denunciando tudo que havia em meu coração; desejo, amor, carinho, paixão. Eu escrevia cada um dos meus sentimentos com a minha língua e com as mãos que não sei em que momento foram parar em seu rosto, segurando-o delicadamente e o guiando para mim.

Os movimentos foram ficando mais lentos, e o par de respirações brevemente descompassadas já podiam ser ouvidos. Sua boca congelou sobre a minha, encaixada entre o meio dos meus lábios e tocando suavemente um canto nu da minha pele. Eu ainda de olhos fechados senti sua respiração quente esquentar o lado direito da minha face. Eu tive medo de abrir os olhos e ver que tudo não havia passado de um sonho. Eu tateei seu rosto com as mãos e me certifiquei que ele estava mesmo ali, que tudo fora e ainda era real. Então eu abri os olhos e fui jogada novamente em seu oceano. Ainda não acreditando na incrível capacidade que ele tinha de me deixar mais perdida quando eu acreditava não ser possível.

O som do meu coração era como o tiquetaquear de um relógio. Eu fora devolvida a realidade com a sutileza de uma pena a cair sobre o chão. Eu me sentia leve como uma também. Daryl me olhava com seus olhos estreitos, não os movia dos meus, só estava lá. Ele movimentou seus dedos pouco a pouco sobre o meu rosto, fez caminhos curtos entre minhas maçãs e meu olho. Que eu inicialmente neguei-me a fechar, mas quando o calor invadiu novamente eu não pude controlar.

Eu fiz o mesmo. Eu desenhei o contorno do seu rosto e depois o de seus lábios. Sentindo a textura macia dos lábios que outrora estavam colados aos meus. Então me aproximei novamente e o beijei. Um beijo simples, apenas para me certificar que ele estava ali. Mais uma vez, por precaução.

- Boa noite. – sua voz saira ainda mais rouca do que o normal. Ele ainda estava curvado sobre mim e seus olhos brilhavam mesmo que nenhuma luz estivesse ao alcance. Eu me vi sem palavras e sem reações cabíveis, apenas passei a mão por seus cabelos uma última vez desejando me prender neles, para sempre.

Daryl então se deitou atrás de mim. Antes de colocar seus braços ao redor do meu corpo ele fez uma breve pausa, me encarou como que pedindo permissão. Eu segurei sua mão e guiei-as sobre mim. Os braços dele me apertaram contra si e me tomaram com uma facilidade extrema. Nos encaixamos no contorno um do outro, cercados de um poço de timidez. Sabe-se Deus porque sentir vergonha daquilo. Mas estava lá, ruborizando nossos rostos. Eu trouxe sua mão para próximo do meu rosto, aspirei seu perfume e senti a palavra felicidade se formar em meio aos ares dos meus pulmões. Indo e saindo, me trazendo o sono e também a certeza mais absoluta que eu já tive em toda a minha vida: Eu amava Daryl Dixon.

Eu sentia como se não tivesse dormido por toda a noite. É como chamam essa coisa de Catalepsia projetiva. Como se em toda a madrugada eu apenas tivesse fechado os olhos e revivido aquele beijo a cada novo minuto.

Quando minha consciência acendeu, milhares de pensamentos já estavam enfileirados e saltando para dentro da minha cabeça. Eu senti os raios de sol quentes sobre os meus braços. Eu abri os olhos devagar e vi todo o quarto iluminado por inteiro, tomado por um amarelo incandescente vindo da janela.

Suas mãos estavam em meu cabelo. Misturando-se timidamente aos meus fios marrons. O azul dos olhos dele se misturaram ao amarelo das paredes dando aquela manhã a combinação de cores mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida.

Eu sorri com lábios ruborizados, ofereci um bom dia fraco com aquele pequeno sorriso. Ele também sorriu. E eu sorri de volta. E ficaríamos assim num eterno ciclo vicioso se ele não tivesse beijado uma das minhas mãos a qual me protegia da intensidade da luz do sol.

- Têm café, no armário. Você quer? – estimo uma pausa de 3 segundos entre cada palavra. Eu queria ter a habilidade dele de encantar e de responder apenas com o olhar. Mas eu infelizmente não tinha então tivera que passar pela imensa confusão de ser a primeira a dizer algo depois da noite anterior.

Mais uma vez Daryl esfregou em minha face o quão simples ele era. Apenas sorriu e acenou que sim com a cabeça enquanto me dava espaço para levantar. Eu o abracei forte, com um riso longo e contigo na garganta. Estar ali com Daryl me gerava risos internos toda vez que eu o olhava. Não como uma piada, apenas felicidade. Ele me tomou em seus braços e me apertou sem medir forças. Eu não senti dor, apenas fiquei sem ar. Mas ficar sem ar no mesmo ambiente em que Daryl estava era uma comum antiga.

Eu me desvencilhei com extremo pesar de seus braços quentes e desci pelas escadas. Seus passos foram ouvidos minutos depois. Ele caminhou até a cozinha.

- Têm um carro. Um opala 67. – Daryl estava encostado na porta que dava acesso a cozinha. Eu o observei e ele parecia o Daryl de sempre. Não o Daryl que havia me beijado, mas sim o Daryl Dixon. E sabe a verdade? Eu sorri. Pois eu o amava exatamente daquele jeito. Talvez eu tivesse o estranhado profundamente se agisse diferente. Mas então ele acordou, refez sua cara fechada e trancou seu armário de sorrisos. Empunhou sua besta e começou a procurar coisas.

- Isso é bom. Serve pra viajem? – eu colocava o café dentro de uma chaleira preta e bem conservada. Daryl já se aproximara procurando pela sua dose.

- Sim, aparentemente. Mas eu preciso testar. Me ajuda a tira-lo de lá?

- Ajudo. – eu servi uma dose média a ele. Confesso que temi que ele não gostasse. Meu café costumava ser amargo e extremamente forte. Ele bebeu o primeiro gole e eu fiquei o encarando. Ele bebeu o segundo e em questão de segundos, o copo estava vazio.

- Bom. – ele disse oferecendo um pequeno sorriso. Eu beijei seu ombro, ele me deu uma piscadela.

- Vou lá em cima pegar as coisas. – disse subindo as escadas.

- Estou atrás da casa. – ele disse saindo com o bule de café nas mãos e sua besta nas costas. Eu sorri ao ver a cena.

Entrei no quarto com mil e uma despedidas chorosas saltando pelo meu rosto. O aperto agudo no coração também já era uma constante, ao qual eu havia me acostumado.

Fui até a gaveta, coloquei todas as roupas dentro da minha bolsa. Inclusive a camisola que eu havia escolhido. Cobertores, travesseiros, lanternas, livros. Eu não me importei em separar o que era realmente útil do que não era. Me senti tão ligada aquela casa que eu peguei tudo que fora possível e desci para o primeiro andar começando a pensar como faria pra levar tudo aquilo.

Foi então que a idéia me voltou a cabeça. Como se todo o tempo eu a tivesse dopado e feito dormir. E voltou furiosa com o que havia feito.

- Hey. – eu gritei do lado de dentro da casa. Daryl apareceu rapidamente na porta.

- É errado eu insistir pra que você vá sozinho? – perguntei.

- Ainda com essa idéia? – ele perguntou ressentido.

- Um pouco. – respondi num sussurro.

- Não vou. – ele definiu. – Vai ter que escolher... não dá pra levar tudo isso. – ele disse olhando o chão repleto de coisas. Eu observei todas as minhas tralhas enquanto ele caminhou de volta para a garagem. Pareceu-me extremamente bravo pela recente insistência. Confirmei quando o vi cravar sua faca num pedaço de madeira.

Eu respirei fundo dando ao meu altruísmo mais uma dose pesada de calmantes. Parti para o trabalho árduo de transformar aquela imensa caixa de papelão em um pequeno porta-jóias. O tempo passava e eu não conseguia. “Faça o certo!”, minha consciência sussurrou. Então eu fui jogando para fora da casa meio que a olhos fechados para não desistir, uma porção de coisas que o lado esquerdo do meu cérebro não julgava serem necessárias.

Chaveiros, cartões, laços, pentes, bonés, papéis de bala, meias e coisas duplicadas.

- Nem isso? – disse exibindo uma caixa com detalhes florais e extremamente espaçosa assim que ouvi os passos de Daryl na porta.

Mas quando eu olhei não era Daryl. Um grito extremamente alto explodiu da minha boca. Meu coração parou. Um imenso manto negro tomou meus olhos.

Eu agradeceria mais tarde por ter tido a consciência assaltada e desmaiado. Me poupara de ter visto por mais tempo o que vi. Me poupara a dor de ter que...


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Notas finais do capítulo

FINALMEEEEEEEEEEEEEEEEEENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
TODAS GRITA E PULAAAA!!!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

E ai gente, o que será que o desmaio poupou a Lara? Hum hum huuuuuuuuum?
E o que acharam dela e do Daryl? Hum hum huuuuuuuuuum?

Comentários *-*
E amo vocês ♥