Complicada E Perfeitinha. escrita por Melanie


Capítulo 1
Guarda-chuva


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^'



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  Chovia forte, muito forte. As pessoas se alojavam em abrigos improvisados, como as poucas lojas que se mantinham abertas depois das dez da noite. Caminhei segurando firmemente o guarda-chuva, evitando, pelo menos, molhar a parte de cima do meu corpo. Era uma caminhada de apenas dez minutos até minha casa.

 Forçava minha vista para enxergar através da noite escura, que nada mais era que um borrão a minha frente. Vi, a poucos metros de mim, uma garota. Estava ensopada, encostada em um poste qualquer. Metade de mim dizia que eu devia cuidar da minha própria vida, que devia deixar a garota em paz, mas a outra parte— a parte que abrigava o pouco do cavalheirismo que ainda habitava em mim— dizia que eu devia ajuda - lá.  

 Marchei até a garota que vestia uma regata branca— que estava transparente e colada ao seu corpo, revelando o sutiã preto— e uma calça jeans. Dividi o guarda-chuva para que ele molhasse a nós dois o menos possível.

  Ela ergueu a cabeça e olhou dentro dos meus olhos. Seus olhos eram de um castanho bem claro, me fazendo assemelhá-los a dois pedaços de chocolate. Seu rosto era pálido e os cabelos molhados eram de um castanho escuro. Ela me olhava com certa duvida no rosto.

-Perdão. –murmurei- Te vi aqui na chuva e, não me pergunte o porque, senti que deveria te ajudar... Não por obrigação, sabe. Só senti que era o certo... Esta bem?

 Ela sorriu um pouco de lado, deixando a mostra sua covinha do lado esquerdo do rosto, deixando-a ainda mais linda.

-Obrigado. Na verdade... Sai para pensar, não sabia que iria chover tanto.

-O meu nome é Pietro. –Esperei que ela dissesse seu nome também, mas ela apenas assentiu para mim. –Posso saber seu nome?

 Ela baixou um pouco os olhos, olhando para o chão.

-Eu não deveria dizer meu nome a um estranho, mas como você esta me ajudando... É Melanie.

-Nome bonito, Melanie.

 Melanie era bem mais baixa do que meus 1,84m de altura, mas matinha a postura reta— como se qualquer coisa pudesse bater nela, mas nada a derrubar.

 Ela sussurrou um “obrigado” tão baixo que só pude distinguir observando bem seus lábios molhados e arroxeados, por causa do frio e da chuva. Retirei minha blusa e tentei entregar a ela, sem sucesso. Ela enrugou a testa e me encarou.

-Não preciso da sua blusa.

-Mas esta frio. –Insisti, preparado para enrolá-la com a blusa para que ela não congelasse ali. –Por favor. –Pedi sem querer, percebendo que sua testa se enrugava cada vez mais. Ela olhou meio assustada para mim e empurrou a blusa na direção do meu peito.

-Não preciso mesmo da tua blusa. Eu estou bem. –Sua boca tremia um pouco enquanto ela falava.

 Por instinto, ainda segurando o guarda-chuva eu coloquei minha blusa sobre seus ombros, com o Maximo de habilidade que eu conseguia com uma mão só. Tudo em vão. Em meio segundo a blusa estava de novo em cima do meu braço, como se eu fosse um cabide qualquer, me irritei.

-Estou tentando ajudar. –Falei em um tom de voz um pouco mais alto, mas que ainda não chegava a um grito.

 Melanie esticou o pescoço para falar o mais próximo do meu rosto que ela conseguia, não obtendo muitos resultados.

-Eu não preciso da sua ajuda. –Ela saiu andando na chuva, me deixando plantado lá, encarando um poste e encantado com aquela menininha marrenta que acabara de conhecer.

 Corri atrás dela e tentei manter-la protegida da chuva, ignorando o fato de eu estar pouco coberto, por estar com o braço estendido para que a chuva não a molhasse mais do que ela já estava.

-Hey, me desculpe. –Pedi, realmente envergonhado. –Não queria gritar com você, você me parece uma boa pessoa.

 Ela se virou, mantendo os braços cruzados nos peitos, dando a ela um ar de superioridade e uma forma de se proteger do frio que sentia.

-Mas não sou. Quer saber... –Ela olhou bem dentro dos meus olhos verdes, me hipnotizando por segundos- Muito obrigado por me ajudar, por se preocupar e tals. Mas eu realmente não preciso disso. Só quero ir para casa.

-Ótimo, eu te levo.  

 Ela suspirou e revirou os olhos.

-Nem morta que eu levo um estranho até minha casa.

-Só estou querendo ajudar. Se eu quisesse te fazer mal, e eu realmente não quero, não acha que eu já teria feito? Estamos em uma rua deserta, no meio de um temporal onde ninguém pode te ouvir. E a única coisa que eu quero é te emprestar minha blusa e te levar sã e salva até em casa pra que nenhum marmanjo tente se aproveitar de você, isso se você conseguir encontrar um marmanjo antes de ter hipotermia.

 Ela me olhou por alguns segundos, sem reação. Não sabia por que eu estava falando aquelas coisas para ela, mas eu sentia uma necessidade quase absurda de ajudar aquela garota.

-Não preciso de ajuda.

 Suspirei e levei a mão sobre os olhos. De tantas garotas meigas e fofas por ai eu dei de cara justo com a mais teimosa, por quê? Porque eu? Qual o objetivo da tortura?

-A minha casa fica a uns 10 minutos daqui, e esse deve ser o tempo que gastei contigo até agora, se não foi mais. Então eu só queria chegar em casa, fazer um chocolate quente para mim, por que diferente de você eu não tenho minha mamãezinha para fazer o que eu quero para mim a hora que eu quero.- Suspirei mais uma vez, dessa vez tirando as mãos do rosto. –E eu sei que, sua mãe, deve estar preocupada contigo e que ela provavelmente gostaria de ter a filhinha dela para fazer chocolate quente e conversar sobre... sei lá. Novelas. Vocês assistem novelas juntas? –Perguntei já desesperado com a garota a minha frente, que me encarava sem expressão.

-Não tenho mãe. –murmurou.

 Senti um peso na consciência por perturbar a garota com aquelas palavras e a julgar em tão pouco tempo.

-Desculpe. É que eu to tentando fazer a coisa certa, mas você é complicada. –cocei a cabeça.

-Olha, se é que isso vai te fazer tão feliz, você pode me levar em casa, esta bem?

-Obrigado. –Disse eu, aliviado por ter um acordo com ela. –Toma a blu...

-Hey. Já aceitei que me leve em casa, não vai conseguir mais do que isso, ok?

 Ergui uma das mãos como se me rendesse e fiquei mais próximo dela pra que o guarda chuva pudesse cobrir nós dois. Começamos a caminhar. Seria inconveniência minha puxar assunto, talvez, mas eu estava curioso quanto a pequena criatura com quem eu dividia o meu guarda chuva.

-Você gosta de que tipo de musica? –Perguntei, antes que pudesse conter minha curiosidade.

-Rock, rock nacional é bom... antigos, é claro. Mamonas, Raimundos, Ultraje, Legião, Capital... conheci uma nova hoje, Soulstripper. É bem legal também. E você, Pietro?

 Gostei do jeito como meu nome saiu de sua boca, com a sua voz rouca, sexy e infantil ao mesmo tempo.

-Gosto de rock também, internacional principalmente, na verdade.

 Assentiu com a cabeça.

-Gosta de ler? –ela se virou para mim, seus olhinhos brilhando.

-As vezes, quando encontro alguém que me sugere bons livros, sempre. –A fiz sorrir.

 Andamos por mais alguns minutos, falando sobre coisas como filmes, seriados, redes sociais, locais convidativos, interesses em comum... Nem o “dia dos namorados” que estava a se aproximar escapou dos nossos assuntos. Nunca avia passado tanto tempo falando com uma garota que eu não iria beijar no final.

-Então, é aqui. –Ela parou na frente de uma casa bonita. Toda verde, um portão de madeira e um jardim quase escondido no canto do quintal. Ela pegou a chave no bolso de trás da calça.

-Bonita casa. –Sorrimos- Essa é minha deixa, como o prometido: nada de seqüestros ou abusos. Boa noite, Melanie.

 Ela me abraçou. Não esperava essa reação dela, mas a abracei de volta. Ela tinha um cheiro bom.

-Boa noite, Pietro. Se cuide.

 E então ela abriu o portão e entrou, acenou uma vez enquanto eu a olhava com cara de bobo. Demorei alguns segundos para me recompor e ir embora. 


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Notas finais do capítulo

Comentem ;3



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