Entre o amor e a morte escrita por Anne Lestrange, K Martins


Capítulo 1
Capítulo 1 - Quando tudo era perfeito




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Alguém bateu na porta da frente e eu me levantei da mesa com um pulo. Todos olharam pra mim. Meu irmão deu um risinho de deboche, mas eu não me importei, estava feliz demais pra me importar. Ele tinha chegado. Abri a porta com um grande sorriso e ele estava ali diante de mim, alto, olhos escuros, com um enorme sorriso e uma flor na mão. Perfeito.

Não me lembro exatamente como chegamos até aqui, sei que ele era animado e sua alegria me cativou. Quer dizer, é difícil ter pessoas - principalmente garotos - animados aqui no Distrito 7. A maioria são carrancudos, tristes, solitários, meio que um instinto de alto proteção. Fingem que são fortes o ano todo até chegar na época da colheita. Ai vemos que era apenas uma mascara. Para nós meninas é mais fácil enxergar a realidade, sendo frágeis ou não. Não temos o que esconder. Mas os garotos tem que ser fortes querendo ou não.

Ainda era época de colheita e não havia aulas, todos no distrito com mais de doze anos tinham de trabalhar na época da colheita. Eu e Liam passávamos o dia inteiro juntos cortando e ajudando nossas famílias, mas essa era a minha parte preferida do dia, quando ele vinha me ver e podíamos ficar a sós, só eu e ele, sem mais ninguém pra nos incomodar.

Nós meio que nos gostávamos, todo mundo podia ver isso. Sempre andávamos juntos, trocávamos olhares, tínhamos algumas brincadeiras reveladoras e o ciumes persistente de um quase amor. Enfim, eramos o que se podia chamar de "Amizade Colorida", apesar de nunca termos dado sequer um beijo, sabíamos o nosso sentimento um pelo o outro. Eu acho que, só estávamos esperando a hora certa.

Eu virei para minha família, todos estavam sentados a mesa. Mesmo que a comida fosse muito pouca meu pai gostava de conservar as tradições, ele insistia que todos jantássemos juntos todos os dias.


– Tchau meu povo. Pai, nada de ficar acordado até tarde me esperando.


– Eu não ficaria acordado até tarde se você chegasse cedo. - Meu pai parecia bravo, mas mesmo assim eu ri. - Eu estou de olho em você. - Ele disse para Liam que ao mesmo tempo ficou com as bochechas rosadas.

– Claro que não senhor, só iremos caçar, pegar alguma plantas. Essa hora é perfeita, pois os animais estão dormindo, fica mais fácil. - Ele respondeu cabisbaixo.


– Sei, sei disso. - Disse risonho.


– Tchau. - Acenei e fechei a porta o mais rápido possível antes que meu pai disesse alguma coisa que deixasse a gente sem graça. - Então pra que que é essa flor ai? - Eu disse fingindo que não sabia a resposta.

Ele me olhou risonho e eu pensei, puta que pariu, como alguém pode ter um olhar risonho? Eu mal sei a definição disso, mas eu sei que ele tem. Aquele tipo de olhar que chega a brilhar, que nos transmite felicidade, bem querer, proteção. Aquele tipo de olhar que ficamos felizes quando nos damos conta que estamos sendo encaradas. Quando nos damos conta que aquele olhar é o nosso olhar, ou melhor, é o meu olhar. Por que só eu consigo ver esse olhar.

– Sério que você não sabe? - Ele me encarou com leveza e um pouco decepcionado. É claro que eu sei seu idiota. Como ele podia ser tão fofo? Era engraçado ver tanta fofura em alguém tão alto e forte.


– Eu quero te levar em um lugar hoje. - Ele fez questão de colocar um ar de mistério no tom da sua voz.


– Aonde nós vamos? - Eu sorri empolgada com a ideia.

– É uma surpresa. - Ele segurou a minha mão e começou a me puxar em direção a floresta.

– Não vai me contar mesmo? - Eu fiz biquinho, mas não adiantou. Ele apenas sorriu e balançou a cabeça em negação.

Nós entramos na floresta e andamos por um caminho no meio das arvores, andamos mais e mais. Ele não me contou aonde íamos e também não me deu a flor. Poxa, como eu queria aquela flor.

A mata estava muito fechada, tivemos que passar por debaixo de vários galhos para adentrarmos ao local. Felizmente, valeu o sacrifício. O riacho parecia cristalino com os toques de luz do luar. E que luar, a lua estava enorme naquele local. Não conseguimos ver a lua daquele jeito la no vilarejo, as arvores cobriam quase tudo, mas aqui, aqui ela está gigante. Os matos tapavam só o apropriado deixando o local como se fosse uma moradia própria. Simplesmente incrível.

Ele sentou numa pedra na margem do riacho, eu o imitei. Ele continuou em silêncio por um tempo e eu não aguentei mais.


– Esse silêncio está me matando! - Eu reclamei e ele riu daquele jeito fofo que faz o meu estômago pular.


– Você sabe que essa flor é pra você não sabe? Sabe que eu faço tudo que você me pede não sabe? Sabe que eu vou sempre estar do seu lado não é? - Ele parou de repente como se quisesse falar algo, mas não soubesse como. Ele me entregou a flor, ela era amarela como o sol.

– Claro que eu sei seu bobo! - Falei pegando a flor dele. - Mas, por que essa flor? Ainda não me respondeu.

– Bem, é que, bom, tipo... Eu-ee-e-eu-e-u... - MEU DEUS, ele é muito fofo gaguejando.

– Você o que gaguinho? - Disse entre risos.

– Eu... Jo... Eu. Eu não sou bom nisso, eu não sei o que dizer. Quer dizer, olha. A gente se conhece desde, sabe... muito tempo né? - Dessa vez ele estava olhando para baixo.


– Sim, muito tempo.


– Então, é que, essas coisas acontecem né? - Do que ele estava falando? Que coisas meu Deus? - Quer dizer, eu não escolhi isso...

– Como assim? Você vai pra algum lugar? Foi selecionado pra algo? - Realmente, não estava entendendo.

– Não. Jo, não. E também não conseguiria sair daqui, eu meio que estou preso. Sabe, tem uma garota que anda me prendendo e eu não posso abandona-la. Agora eu sei, nunca vou poder. - O que! Uma garota? Quem é a piranha? Eu vou mata-la. Claro que não disse isso, apenas sorri, forçadamente, mas sorri.

– Sério? Nossa... Faz tempo que... que gosta dela? Por que nunca me disse nada? Poxa, achava que eramos amigos e... - Eu não consegui, realmente tentei parecer calma, mas as palavras foram saindo e eu não estava parando de falar.

– Johana...

– Quer dizer, porra Liam, você sabe que... - Naquele momento me senti sem folego, paralisada. Ele veio como um tigre vai para sua presa. Não sei se era pelo fato de me fazer calar a boca, mas ele fez. As mãos dele eram frias contra a minha pele quente, mas o beijo dele era caloroso. Eu não podia acreditar. Estava acontecendo.

Nos passamos o resto da noite conversando e tentando entender como acabamos assim, dois bobões apaixonados. O lugar era perfeito, ele era perfeito, era noite de lua nova, o céu estava estrelado, ele era perfeito, o momento era perfeito, era como se tudo fizesse sentido, como se tudo fosse perfeito. Sim, eu estou agindo como uma bobona, mas o que eu posso fazer? É involuntário.

– Então quer dizer que você me amava?

– Amo. - Corrigiu ele rapidamente.


– Ama. Desde quando? - Quis saber esperançosa e curiosa. Ele me ama, ele me ama!


– Desde sempre, desde que vi você e esse teu jeito forte de ser. - Fiquei com as bochechas vermelhas pelo jeito que me olhava. Ok, não posso xingar. Já xinguei demais. Mas que outra palavra demonstra tanta intensidade? Mas Meu Deus, que olhos! E agora sei que são só meus e só para mim.

Ele me levou até a porta de casa, nós estávamos no meio de um beijo de despedida, quando quem aparece para interromper a festa? É claro, meu pai.


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