Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 7
— Valg.




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Eu sou um rei de honra, ouro e glória

Mas todo rei também tem que morrer

Eu fui justo e íntegro?

O que é glória?

Eu sei que eu destruí e tirei vidas

E aqui estou eu

Um homem simples e pequeno

Rosemarie viu os dias passando como vento que leva uma folha para longe. Quase podia dizer que havia se acostumado com o fato de que Dimitri agora fazia parte de seus dias. Todas as manhãs, quando acordava, dava-se de encontro com este.

Algumas vezes, ao levantar-se em meados da noite, o encontrava sentado num pequeno tronco, junto à janela de seu quarto, encarando acima, o nada. Destas vezes, perguntou-se o que ele tanto pensava, mas nunca se dignara a dirigir-lhe uma palavra sequer.

Um dia, enquanto apanhava um bocado de lenhas para sua mãe, encontrou-o correndo a seu encontro.

– Venha. Eu lhe ajudo – disse ele. Algo que a surpreendeu profundamente. Desnorteada, assistiu sem muita reação o rapaz apanhar o monte de madeira de seus braços, colocando-os junto ao corpo. Ela quase não conseguiu não observar como os traços fortes dos braços do mesmo moviam-se com o movimento. E, enquanto se via perdida com aquilo, notou que este falava com ela.

– Desculpe... – disse ela, seu rosto esquentando. Dimitri, por vez, sorriu gentilmente. – O que dizia?

– Eu dizia sobre talvez você querer ir à cidade amanhã – disse ele, seu sorriso se tornou maior ao notar o espanto no rosto da garota. – Seu pai tem coisas para resolver lá... Ele ficará preso com comerciantes... Eu não conheço muito bem o vilarejo... E eu tenho certeza que você não gosta de ficar presa em casa todo o dia...

Rose sorriu ainda mais. Não sabia ao certo por que. Apenas sabia que o fato de alguém ter percebido a sua solidão a fazia se sentir bem. Principalmente porque, era bom ser notada por alguma outra pessoa além de seu irmão Mason.

– Eu agradeço muito, Belikov... – disse ela, não conseguindo evitar que o sorriso se alargasse ainda mais. – Eu realmente agradeço...

Espontaneamente, jogou-se nos braços deste, dando-lhe um meio abraço que pegara ambos de surpresa. Embaraçada, ela se afastou, caminhando ao seu lado, fitando seus próprios pés.

‏‏‏‏

Na manhã seguinte, viu-se de pé cedo. Havia vestido seu vestido violeta e deixado seu cabelo em uma trança longa, caída sobre seu ombro. Correu a passos longos até a plantação de trigo, não muito longe da casa, embora fosse uma boa corrida até lá.

Dimitri Belikov encontrava-se sentado em um tronco de carvalho, mexendo em alguns sabugos do trigo. Rose não conseguiu não observar como a luz do sol fazia seu cabelo castanho brilhar. E, de repente, se sentiu errada por ter pensado naquilo. Sentiu-se errada também por tê-lo tratado mal há algumas noites atrás.

Não costumava ser tão ruim assim —ao menos, não no seu próprio ver.

– Meu pai pediu para chamar-lhe – disse a garota ao seu aproximar do carvalho, sentando-se junto ao homem. Ele a olhou através da cortina de cabelos castanhos.

– Eu estava pensando... – Dimitri disse, de forma distraída, embora só aparentemente, brincando com o trigo.

– No que? – perguntou a garota.

– Sobre tudo isso... – maneou a cabeça ao redor. – Sobre como talvez você estivesse certa. Sobre fazer as pessoas chorarem...

– No que... – ela começou, porém, ao notar a expressão do moreno, parou, esperando-o continuar.

– Eu estive conversando com sua mãe... Nós conversávamos sobre Mason e então ela começou a chorar. Foi espontâneo... Mas não deixou de me marcar. Foi como se eu tivesse trazido realmente coisas ruins. Eu não pude deixar de me sentir mal por aquilo...

Rosemarie entreabriu a boca, não sabia o que dizer. Primeiro porque não entendia o porquê dele tê-la contado isso, ou por ele ter dado ouvidos para aquela idiotice. Suspirou.

– Pessoas choram, Dimitri – disse ela. – Minha mãe está feliz por você estar aqui, assim como meu pai. Você tem que seguir em frente... Não pode se culpar por qualquer coisa. Há um mundo lá fora, como meu pai costuma dizer. Há coisas que você não aprenderá agora, e sim, mais à frente.

Ele sorriu. Um doce sorriso que fez com que Rose sorrisse de volta. O tipo de sorriso que embora pequeno, a aqueceu profundamente.

– E você? – perguntou ele.

– Eu o que?

– Você está feliz de eu estar aqui? – Rose sentiu suas bochechas aquecerem, a ponto de fazê-la sorrir. Tateou até a mão calejada do homem e a apertou levemente.

– Sim – respondeu ela. – Eu estou feliz por você estar aqui... E perdoe-me por toda a implicância. Como meu pai costuma dizer: eu sou realmente difícil de lidar.

O sorriso do homem se tornou mais largo. Dentes expostos num sorriso bonito. O tipo de sorriso que fez a garota sentada ali desejar fazê-lo sorrir daquele jeito mais vezes.

– Anda – ele ofereceu-lhe a mão ao se levantar. – Temos uma longa viagem pela frente...

Apoiando-se em sua mão, Rose se levantou, caminhando lado a lado com ele. – Sabe... Há uma igreja aqui – começou Rose, timidamente.

– Eu notei que você reza bastante... Talvez você quisesse ir até lá e... – calou-se.

– Sim, eu sou religioso... – concordou Dimitri, assentindo enquanto fitava o chão ao qual percorriam. – Eu tenho uma história com toda a religião e tudo mais. E, eu realmente ficaria feliz em ir, mas...

Ela observou-o suspirar lentamente. Seus olhos estudando-o profundamente. Dimitri não parecia muito mais velho do que ela, tudo o que ele aparentava era ser um homem cansado. E a garota chegou à conclusão de que este cansaço era resultado de todos esses anos em batalha.

– Você perdeu parte da sua fé? – murmurou ela, como se alguém mais pudesse escutar e recriminá-la por tê-lo dito aquilo. Lembrava-se de certa vez uma velha vizinha ter se cansado dos “planos de Deus” e ter declarado sua falta de amor por este. Lembrava-se também como havia sido sua morte. Enforcada, acusada de traição e bruxaria. Satanismo. Haviam sido tantas coisas que apenas serviram para mostrar à garota que as pessoas não eram boas. Fosse qual fosse a situação, intenções não eram das melhores. Principalmente, os grandes religiosos. E, quando mais tarde, comentou com seu pai sobre isto, o homem tapou-lhe a boca e sussurrou as seguintes palavras: “eles jamais poderão saber da sua falta de amor, querida. Homens como estes matam em nome de um deus por muito menos. Não hesitarão em fazê-lo com alguém como nós”. E foi aí que, por fim, percebeu que a religião seria apenas um peso terrível para todos eles. Principalmente, quando estes ainda brigavam com seu povo. Por sua terra.

Dimitri parou, fazendo a garota olhar para trás ao perceber que ele havia parado. O homem deu algumas pesadas até ela, aproximando-se, e nivelando seus olhos.

– Eu jamais poderia perder minha fé, Rose. Ela é uma das únicas coisas que me fazem levantar de manhã. Depois da honra – disse. Rose fitou-o, sentindo as palavras na ponta da língua. Sentindo a necessidade de ser petulante e dizer-lhe o que veio em mente, mas, de repente, não podia. Parecia maldoso demais dizer aquilo a ele. Dizer-lhe que ambas as honras e fé o levaria a uma vala, caso tivesse sorte.

Fez uma pequena careta, afastando-se dele. Dando-lhe as costas e caminhando para casa, sendo seguida pelo homem.

[...]

Ibrahim debruçou-se sobre a janela, um pequeno punhal em sua mão, enquanto apontava um graveto que agora mais parecia-se com uma lança. O cheiro fresco de pão invadia-lhe o nariz, e isso o agradava bastante.

Sentiu os passos arrastados da mulher se aproximarem, esta parou ao seu lado, limpando as mãos no avental do seu vestido. A longa trança ruiva caia-lhe sobre o ombro, deixando-a jovial. Ele sorriu ao vê-la. Embora estivessem quase sempre discutindo, não conseguia não evitar a sensação de estar em casa, e bem e amá-la que sentia todas as vezes que a via. Era seu porto seguro ao chegar em casa após uma viagem. Das águas turbulentas.

– Você acha que foi uma boa ideia deixá-lo conosco? – perguntou ela, seus olhos azuis cravados sobre o marido, que fez uma pequena careta. Virou-se para a mulher, sua expressão ilegível. Como na maioria das vezes. Todavia, não conseguia esconder nada da mulher. Os anos juntos apenas a fizeram aprender mais e mais sobre estas expressões.

– Eu não sei – deu de ombros. – Ele é jovem, forte... Poderá nos ajudar bastante com essa temporada e todo o trigo...

– Eu não falo sobre o trabalho, Ibrahim – ela o cortou, torcendo um pouco os lábios em irritação. – Você sabe que eu não tenho absolutamente nada ao que reclamar sobre o trabalho dele. É até mesmo melhor do que Mason... Mas você sabe... Eu falo sobre ele ser como é. Não sabemos de onde ele veio, exceto que veio de uma terra longe, no outro lado do oceano... E que ele é tão calmo e silencioso quanto você. E, por Deus... Você sabe que isso não é boa coisa.

Ibrahim fitou-a, não sabendo se sentia-se ofendido ou não. Por fim, suspirou.

– O que quer que eu faça? Mande-o embora? – reclamou.

– Eu não sei... – admitiu ela. – Ele parece ser um bom rapaz. Mas de bons rapazes, perdemos nossa casa na Turquia. Perdemos tudo.

– Não leve fé nas besteiras que Rose fala... Se você a visse hoje, nunca teria imaginado que ela havia dito coisas ruins sobre o rapaz – disse ele, um pequeno sorriso sarcástico.

– O que quer dizer? – Janine perguntou, confusa.

– Veja você mesma... – disse Abe, maneando a cabeça para a janela, para o caminho de terra que levava até a plantação de trigo. Janine reclinou-se sobre a brecha, espiando curiosamente.

A mulher então pôde ver a filha caminhando lado a lado com o alto homem. Estes sorriam ao decorrer do caminho e conversa. Sentiu seu rosto suavizar-se um pouco, embora seu coração tenha-se apertado.

– Você acha que... – ela voltou a olhar o marido. Abe sorriu sugestivo, enquanto dava de ombros. – Mas...

– Eu não sei, Janie... Você sabe que ele não é o tipo indicado para Rose. Principalmente, depois de tudo o que ele passou e ela sendo do jeito que é. Mas é melhor do que o Ivashkov... – torceu o nariz. – Eu apenas não me impressionaria se ele acabasse pedindo sua mão.

Janine abriu um largo sorriso.

– Acha que ela irá gostar dele? – questionou ela.

– Eu não duvidaria – disse Abe, voltando sua atenção ao seu punhal e estaca. – Eu não sei se se lembra, mas foi assim conosco. Você me odiava.

Janine sorriu, se aproximando do marido, enrolando seus braços ao redor da cintura do mesmo, encostando seu queixo contra o peito largo do mesmo. A diferença de altura era palpável.

– E agora... Eu te amo – inclinou seu rosto mais para cima, alcançando ao marido. Este a beijou levemente sobre os lábios, e, em seguida, sorriu ao notar que tanto Rose quanto Dimitri apareceram na pequena sala. Dimitri pareceu um tanto embaraçado, por interromper um momento intimo entre marido e mulher, todavia, Rose apenas sorriu ainda mais ao ver a cena.

Os pais assim, juntos, era boa prova de que embora brigassem boa parte do tempo, ambos se amavam incondicionalmente.

– Vamos? – perguntou Ibrahim, dando um beijo sobre a testa da esposa. Dimitri assentiu, mas Rose, por vez, voltou-se para a mãe, parecendo preocupada e esperançosa.

– A senhora realmente ficará bem sem mim aqui? – perguntou. Era obvio a necessidade que a garota sentia em receber um “sim”. Sua mãe sorriu, abrindo os braços, para que a filha de desse um abraço. E esta o fez.

– Divirtam-se, querida – disse Janine, estalando-lhe um beijo sobre a bochecha da garota que sorriu, feliz.

Ibrahim e Dimitri já se encontravam do lado de fora, preparando a carroça. Ambos permaneceram em pleno silêncio, como se estivessem procurando as palavras para serem ditas. Por fim, fora o mais velho que interrompera o silêncio.

– Eu vi você e Rose mais cedo... – começou. Dimitri parou de amarrar as sacas de trigo na parte de trás da carroça, para olhar para o homem. Sua testa franzida.

– Senhor... Eu não... – Abe levantou uma mão calejada, interrompendo-o.

– Eu não vejo mal em você e Rose serem amigos. Eu realmente acredito que você seja um bom rapaz, Belikov. Eu vejo isso. Mas...

– Tem medo de que eu não seja bom para Rose – Dimitri concluiu, arqueando uma sobrancelha. Abe suspirou.

– Não. – respondeu. – Eu tenho medo de machucá-la. Você não é o tipo de homem que irá ficar para sempre. Sua vida é no campo de batalha. É um campo de batalha.

Ambos os homens se encararam por algum longo tempo. Um silêncio tão absoluto entre os dois que fez com que até mesmo os pássaros ao longe fossem escutados. Dimitri fitou ao saco de trigo que terminara de amarrar à carroça, para então, olhar para o velho homem.

– Hey! Acho que está na hora de irmos! – a voz entusiasmada de Rose surgiu, puxando os dois de seus pensamentos sombrios. Abe sorriu para a filha, enquanto Dimitri apenas subia na carroça, para guiar aos cavalos.

A garota subiu com facilidade, oferecendo uma mão ao pai, para ajudá-lo. Logo, os três estavam à caminho da parte central de Milzis.

[...]

Quando Ibrahim despediu-se da filha, Rose teve uma leve incerteza sobre se realmente deveria estar ali, com Dimitri. Perguntou-se, em um maçante de dúvidas, se todos não falariam dela, como uma qualquer.

Dimitri parou a carroça de frente à pequena capela. Desceu desta, dando a volta e oferecendo a mão para a moça, para que esta descesse também da carroça. E ela o fez.

As ruas de Milzis estavam cobertas pelas folhas das árvores dos quintais das casas, o chão de terra marcado pela pata dos cavalos e rodas de suas carroças, assim como as patas de bois. O cheiro forte de esterco e fezes era algo podia se sentir de longe, embora este cheiro ainda fosse fraco, comparado a lugares maiores.

Foram poucas às vezes nas quais Rosemarie estivera ali. Sua mãe tinha o costume de dizer-lhe sobre as pessoas ruins que viviam ali, e sobre como estas poderiam machucar-lhe de formas variadas. Todavia, agora, ela se sentia um tanto que segura por ter Dimitri ao seu lado. Sabia que ele a defenderia com a própria vida, caso isso fosse preciso.

Os dois subiram os pequenos degraus para dentro da igreja, e Rose deixou que Dimitri tomasse a dianteira. Seguindo-o até alguns bancos próximos às paredes repletas de imagens de madeira de santos. O homem sentou-se ali, abaixando sua cabeça, murmurando alguma coisa em sua língua mãe. E tudo o que Rose pôde fazer fora observá-lo atentamente. Como seus lábios se mexiam e como ele parecia compenetrado em seus próprios pensamentos. Ela não sabia quanto tempo havia passado, até que o escutou murmurar no mesmo idioma que ela:

– Pare com isso... – resmungou. Aquilo arrancou uma leve risada da garota, que se ajeitou no banco de cerejeira.

– Com o que? – perguntou, divertida.

– Encarar – ele respondeu, um leve sorriso. – Você poderia ser um pouco mais discreta...

Rose deu um pequeno sorriso, sentindo suas bochechas aquecerem.

– Eu não... – ela começou a se defender, mas não encontrou necessidade para aquilo. Ela realmente o estava encarando, há alguns dias ela o havia estado encarando quase que descaradamente. Seu sorriso diminuiu.

– Não se preocupe – Dimitri murmurou, alcançando sua mão e a apertando levemente. O rosto da garota queimou de vergonha novamente, fazendo-a abaixá-lo para fitara s duas mãos ali, sobre seu colo. – Eu também tenho esse costume.

Ela o fitou, procurando por vestígios de mentira ali. Não havia. Havia uma profunda seriedade ali, embora seus olhos fossem serenos, quentes como uma xícara de chá doce no inverno pesado e frio.

– Eu nunca reparei... – a garota indagou baixo.

– Você nunca repara nada... – ele murmurou, parecendo mais para si do que para ela.

– Dimitri? – uma voz soou, fazendo com que ambos virassem, embaraçados. Jillian sorriu educadamente para Rose, fitando em seguida, a mão de Dimitri sobre a sua, em seu colo. E, de alguma forma, Rose se sentiu contente por Jillian tê-lo visto, embora ainda estivesse embaraçada. Rapidamente, o moreno puxou sua mão, levantando-se e caminhando até ela.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou, preocupado. Por vez, Jill assentiu, fazendo uma pequena careta, como se demonstrasse que iria começar a chorar. Rapidamente, Dimitri colou-lhe a mão sobre o ombro, afagando-o, tentando confortá-la. – Venha, me conte.

Jillian lançou um olhar quase sugestivo em direção à Rose, que percebeu-o na mesma hora e levantou-se.

– Eu estarei do lado de fora – disse à Dimitri, sua expressão dura. Não esperando por resposta, a garota partiu pelo pequeno corredor de cadeiras de cerejeira e saiu, em direção à rua.

Dimitri a assistiu partir, perguntando-se se Rosemarie havia sentindo-se excluída por ter de sair de perto deles. Sentiu-se mal.

– Tivemos a visita de outro homem. Um que queria desposar Lissa, mas percebeu que ela já era casada com Christian... Ele me escolheu – com um soluço, ela começou a chorar. Dimitri não sabia se tratava-se de sua gravidez ou o que. Apenas sabia que deveria resolver aquilo, o quanto antes. Puxou-a para perto, abraçando-a, deixando-a chorar em seu peito. Quando os soluços cessaram, ele afastou-a, para que assim, pudesse dizer alguma coisa, mas Jillian continuou: – Eu não sei o que farei...

Alguma coisa, dentro dele, disse-lhe tão óbvio quanto se tivessem-lhe pintado um quadro e depositado-o à sua frente. Era óbvio demais.

– Eu sei – disse ele, sua voz rouca. Séria.

– O que? – a garota levantou o rosto molhado pelas lágrimas, para fitá-lo. Era maior que Rose, todavia, ainda encontrava-se à uma longa distância, com relação a altura, de Dimitri.

– Irei pedir sua mão em casamento – disse, de forma certa.

[...]

Quando Dimitri encontrou Rose do lado de fora da capela, a garota praticamente o ignorou. Parecia que de repente, ela havia voltado a ser rude com ele, como costumava ser, dias atrás.

Quando encontraram Abe, este perguntou o que havia acontecido, mas nenhum dos dois soube ou quis responder. E, assim, o clima pesado seguiu os três até chegarem em casa. O sol já começava a se pôr no horizonte.

O cheiro de comida fresca preenchia o ar, e, à medida que entravam na casa, o clima ruim ia se dissolvendo com a presença de Janine, que, inocentemente, brincou com os três, fazendo-lhes perguntas sobre como havia sido o passeio.

No fim, Rose se viu disposta a limpar a cozinha se aquilo a livrasse de ter de ficar a sós com Dimitri ou seu pai. Sabia que ambos lhe fariam perguntas sobre o que havia acontecido, para que seu humor mudasse tão repentinamente.

Logo, avistou a silhueta de Dimitri não muito longe, ele apanhou uma toalha para ajudar-lhe a enxugar os pratos.

– Sobre hoje mais cedo, na igreja... – ele começou. Rose, enraivecida, virou-se para ele, sua expressão dura fez com que este se calasse.

– O que você tanto fazia com Jillian? – exigiu ela. Dimitri suspirou, encostando-se à mesa, para fitá-la melhor, cruzando seus braços sobre o peito.

– Quando cheguei à Milzis, eu a procurei – respondeu. – Mason havia me contado sobre ela. Você sabe...

– É. Eu sei. Mas você ainda não me respondeu.

– Eu estou arranjando um jeito de livrá-la de ter o futuro que sabemos que ela provavelmente terá – indagou. Sua voz era dura, como pedra.

– Yeah... Você não pode simplesmente vestir sua armadura e proclamar que é um herói e que irá salvar todas as pessoas no mundo. Eu disse a você, Dimitri... Arranjaremos um jeito – ela se aproximou, segurando a mão do homem, de forma carinhosa, apertando-a levemente. – Daremos um jeito nisso tudo.

– Eu sei – murmurou ele. Ambos se encararam, e por um instante, Rose se viu presa aos olhos castanhos dele, novamente. Presa em como seus olhos brilhavam serenamente, toda vez que aquilo acontecia. Presa em como vacilava toda vez que suas peles se tocavam.

Por fim, ele quem se afastou, voltando a emborcar os copos e pratos de argila. Sorriu para ela, de forma serena.

[...]

Dimitri Belikov estava de pé antes mesmo que o sol tivesse nascido. Estava parado, de frente a janela, ajeitando os cordões de sua camisa, ajeitando-a dentro de suas calças gastas. Então, escutou uma leve batida sobre a porta de madeira envelhecida.

O homem virou-se, para então, ver Rosemarie de braços cruzados, encostada contra a parede, assistindo-o enquanto terminava de ajeitar os cordões de sua camisa.

– Para onde está indo tão cedo? – indagou ela, descruzando seus braços e se aproximando dele, e, por fim, encostando-se à parede junto à janela, para olhá-lo melhor.

– Cidade... Eu preciso resolver umas coisas o quanto antes – disse, dando-lhe as costas e voltando-se para arrumar sua bolsa de couro. Rose teve a certeza de que ele lhe escondia algo, e, esta certeza era terrível.

– O que não está me contando, Dimitri? – exigiu.

Este virou-se para ela, sua expressão dura. Odiava aquilo tão profundamente quanto mentir. E bem, ele quase estava fazendo os dois ao mesmo tempo. Sabia que estava perto de machucá-la com o que poderia dizer. E, de alguma forma, machucá-la parecia ruim demais.

– Você está partindo, não é? – ela fitou aos pés, tentando não mostrar como aquilo poderia tê-la afetado. – Você está nos deixando simplesmente porque não sabe o que fazer sobre Jillian, uh?

Rose levou uma mão ao rosto, enxugando o rosto com as costas das mãos. Afastou-se da parede, se aproximando do moreno, passando por este. Mas antes que alcançasse a porta, ele a segurou pelos braços, mantendo-a parada no mesmo lugar. Dimitri tinha uma expressão estranha no rosto — era como agonia.

– De onde tirou isso? – murmurou ele.

– Deixe-me passar... – pediu ela, sua voz baixa. Uma lamuria. Por vez, ele a sacudiu, quase de maneira rude. – Você é como Mason... Na primeira oportunidade que tiver, irá dar-nos as costas. Simplesmente porque não sabe o que fazer.

– Você está errada, Rose... – indagou ele, sua voz dura.

– Por quê? Porque você simplesmente não admite isso?

– Eu sei o que vou fazer, e a última coisa que tenho em mente é deixar vocês – ele disse. Havia uma veemência em suas palavras tão terrivelmente forte que fez a garota se questionar se ele realmente os deixaria. – Vocês me acolheram como uma família... Sem nem me conhecerem. Eu não poderia fazer isso...

– Então porque está indo? – por fim, ela tornou a perguntar.

– Porque se eu não fizer isso, jamais poderei me perdoar... – disse. Rose o fitou por alguns instantes, sentindo uma leve pontada ruim atingir-lhe o estômago, como pequenas agulhas. Por fim, afastou-se do homem, dando-lhe as costas e correndo para seu quarto.

Quando Dimitri alcançou a varanda, avistou a silhueta de Ibrahim. Perguntou-se porque não havia partido antes. Para que assim, não tivesse de lidar com todos eles. Não precisasse lidar com a decepção e incompreensão.

– Uma hora, terá de contar para ela – a voz de Abe rompeu no silêncio. Dimitri respirou fundo, sem conseguir encarar ao velho homem.

– Ela poderá lidar com isso... – respondeu.

– Você não sabe. Eis o problema. E eu sei. Ela odiará isso tudo – Abe se levantou, cruzando seus braços e se aproximando do mais jovem. – Eu pedi para que não a machucasse... No entanto, eu vejo como você olha para ela... Você tem certeza disso, filho?

Dimitri, pela primeira vez se dignou a olhar nos olhos de Abe. Os profundos olhos castanhos, tais como os da filha, embora mais sombrios e vividos.

– Não. – admitiu Dimitri. – Eu não faço ideia do que estou fazendo, no entanto, tenho que fazer. Eu fiz uma promessa a Mason.

Abe soltou o ar com força, dando sinal de que diria algo que seria tão importante quanto precipitado.

– Você acha que Mason faria o mesmo por você? Largaria Jillian, que ele tanto alegava amar, para viver com uma garota que você engravidou? – não esperou resposta. Não precisava de respostas. Ambos sabiam da resposta, e ela não era das melhores.

– Eu fiz uma promessa, Ibrahim... – indagou. – Posso não ter muito, mas tenho palavra. Honra.

– Honra não é o que te levará para casa no final do dia. Dará-te amor, carinho. Fará-te feliz. Isso é amor. Honra e fé são o que te levarão para os braços da morte.

Dimitri cerrou a mandíbula, embora fossem palavras duras, ele sabia que eram as mais verdadeiras que poderia escutar. Talvez, as mais verdadeiras que escutou em toda a sua vida. E aquilo o machucou. Simplesmente, pelo fato de não poder segui-las.

Sempre fora um homem que seguira regras. Que sempre dera seu melhor para fazer o que achava certo. E quando se desvencilhava deste caminho, fazia seu melhor, quebrava seus joelhos para voltar para ele.

– Eu sinto muito – disse por fim, lançando um último olhar para o homem turco, caminhando para longe, em direção ao seu cavalo.

Quem irá trocar seu carma pelo meu reino?

Um rito sacrifical para restituir a verdade

O fogo em minha alma rejeita minha sabedoria

Pois tudo que você faz em vida, volta pra você...


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Notas finais do capítulo

E aí, Sweethearts?! Como estão?
Bem... Espero que tenham gostado do capítulo, embora eu sinta cheiro de suposições e amassas de morte contra um pequeno ser chamado Jillian. -q
Sejam bem vindos, leitores novos e antigos também. ;3
Bem, vou indo, boa semana para vocês e até a próxima!



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