Amor escrita por CarolTaisho


Capítulo 2
Capítulo 2




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CAPÍTULO 02:

Uma semana mais tarde

Assunto: T.M.

Tempo de merda, hoje, né?

Abs, K.

Três minutos depois

Fw: Chuva, 2) neve e 3) chuva com neve.

Sds, Inuyasha

Dois minutos depois

Re: Você ainda está magoado?

50 segundos depois

Fw: Nunca estive.

30 segundos depois

Re: Ou não gosta de conversar com mulheres casadas?

Um minuto depois

Fw: Gosto sim! Mas às vezes me espanta por que mulheres casadas gostam tanto de conversar com homens inteiramente desconhecidos como eu.

40 segundos depois

Re: Há tantas assim em sua caixa de entrada? A que percentagem, na verdade, eu correspondo em sua terapia de tratamento contra Sango?

50 segundos depois

Fw: Que bom, Kag, você está voltando lentamente à boa forma. Agora há pouco você me pareceu um tanto desestimulada, desanimada e tímida.

Meia hora depois

Re: Querido Inuyasha, falando sério, preciso lhe dizer: sinceramente, sinto muito por aquele meu e-mail com sete itens da segunda passada. Eu o reli algumas vezes e devo admitir: quando alguém o lê, ele realmente soa repugnante. O problema é que você não pôde me ver ao dizer aquilo. Se pudesse, não ficaria zangado comigo de jeito algum. (Ao menos é isso que imagino.) Acredite em mim: sou qualquer coisa, menos frustrada. Minhas decepções com os homens se mantiveram em limites razoáveis. Isto é: é claro que existem homens limitados. Mas eu tive sorte. No que se refere a isso, estou muito bem. Meu cinismo é mais um esporte ou uma brincadeira do que raiva ou acerto de contas. Além disso, aprecio muito que você tenha me contado sobre Sango. (A propósito, me chama a atenção que você na verdade não me contou nada sobre Sango. Que tipo de mulher ela é/era? Como ela é? Que tamanho calça? Que tipo de sapatos usa?)

Uma hora depois

Fw: Querida Kag, não fique zangada comigo, mas não estou a fim de te contar como é o gosto para sapatos da Sango. À praia, ela costuma ir descalça, na maioria das vezes. Isso é tudo que tenho vontade de dizer. Tenho de parar por aqui, pois tenho visitas.

Tenha uma boa tarde,

Inuyasha

Três dias mais tarde

Assunto: Crise

Querido Inuyasha, eu realmente tinha decidido que o próximo e-mail seria escrito por você, e não por mim. Não estudei Psicologia da Linguagem, mas duas coisas estão rimando em minha cabeça: 1) Revelei a você nas entrelinhas não somente que sou casada, mas até mesmo que sou feliz no casamento. 2) Você reagiu a isso com a resposta mais desanimada que já recebi desde o início promissor de nossa vida a dois virtual que nesse meio tempo já tem mais de um ano. E logo depois disso você não entrou mais em contato de jeito algum. Será que você perdeu o interesse por mim? Será que perdeu o interesse por mim porque eu já tenho dono? Será que você perdeu o interesse por mim porque eu "ainda por cima estou feliz de ter dono"? Se for esse o caso, seja ao menos "bastante homem" para me dizer isso.

Saudações cordiais,

Kag

No dia seguinte

Sem assunto

SENHOR INUYASHA?

No dia seguinte

Sem assunto

I I I N U YA S H A A A A A A, IUUUUUUHUUUUUUUUUUU?

No dia seguinte

Sem assunto

Idiota!

Dois dias depois

Assunto: Mensagem simpática de Kag

Olá, Kag! É uma sensação muito agradável chegar em casa depois de uma viagem de trabalho para um seminário em Bucareste, uma cidade não exatamente abençoada com atrativos e também modesta em termos de colorido, que de modo perverso também está na chamada primavera (tempestades de neve, ondas de frio), ligar imediatamente o computador, abrir o correio eletrônico e, em meio a um emaranhado de 500 impiedosos portadores de mensagens dispensáveis ou deploráveis, encontrar quatro e-mails da senhora Higurashi, altamente apreciada por seu talento com a língua, modo de se expressar e enumerações, e alegrar-se com a ideia de finalmente, como um urso-polar em meio a um progressivo degelo, poder ler algumas linhas simpáticas, afetuosas, engraçadas, dessas que aquecem o coração. A pessoa abre euforicamente o primeiro e-mail e com que seus dois olhos se deparam ao mesmo tempo? Com: IDIOTA! Obrigado pela saudação! Kag, Kag! Você conseguiu novamente tirar belas conclusões. No entanto, terei de decepcioná-la: não me incomoda de modo algum que você esteja "feliz de ter um dono". Eu nunca tive a pretensão de conhecê-la mais de perto, não mais do que é possível por meio da correspondência eletrônica. Tampouco quis saber como você é. Eu crio uma imagem própria de você a partir dos textos que você me escreve. Eu concebo a minha própria Kag Higurashi. Ainda a tenho nos mesmos elementos iniciais diante de mim, os mesmos com que já me deparei em nosso primeiro contato, tanto faz se você foi três vezes casada de modo trágico, cinco vezes alegremente separada, ou diariamente feliz com a ideia de "ainda estar livre" e libertinamente solteira nas noites de sábado. Na verdade constato com pesar que o contato comigo a deixa claramente exausta. E, além disso, tem algo que já me espanta: por que uma mulher feliz no casamento, que não é frustrada em relação aos homens, é engraçada e irônica, acima do bem e do mal, charmosa, confiante, e que calça 37 (idade indefinida) acha tão importante conversar, de modo tão intenso, sobre assuntos tão pessoais, com um sujeito desconhecido, professor, às vezes rabugento, com problemas de relacionamento, suscetível a crises, e pouco bem-humorado? O que seu marido acha disso mesmo?

Duas horas depois

Re: Primeiramente o mais importante: O urso-polar Inuyasha is back from Bucareste! Bem-vindo. Perdoe-me pelo "idiota", mas era simplesmente a coisa mais óbvia a se dizer. Como eu poderia adivinhar que estou lidando com um homem predisposto a se tornar um extraterrestre, que não fica desapontado ao saber que sua fiel e respeitosamente sarcástica parceira de correspondências já tem dono? Como poderia adivinhar que estou lidando com um homem que prefere "conceber sua própria Kag Higurashi" a conhecer a verdadeira. No que se refere a isso me permita provocá-lo ao menos um pouco: por melhor que você possa me conceber em suas mais ousadas fantasias, você não conseguirá, querido Inuyasha Psicólogo da Linguagem, aproximar-se da verdadeira Kag HIgurashi. Você se sente provocado? Não? Já imaginava isso. Receio que seja mais o contrário: você me provoca, Inuyasha. Você tem uma maneira nada ortodoxa, mas extremamente eficiente, de se mostrar cada vez mais interessante para mim: você ao mesmo tempo quer saber tudo e nada sobre mim. Você declara, conforme sua disposição do dia, seu "interesse louco" e seu já quase patológico desinteresse por mim. E isso me atiça e me incomoda alternadamente. Neste exato momento me atiça. Admito isso. Mas talvez você seja, sim, um velho lobo (romeno) solitário, complexado, "cão sem dono", que não consegue olhar uma mulher nos olhos. Alguém que tem um medo grave de encontros reais. Que precisa criar constantemente seus mundos fantasiosos, porque não consegue se orientar em ambientes concretos, vivos, palpáveis e reais. Talvez você seja um complexado "típico" em relação às mulheres. Ah, agora sim eu gostaria de fazer uma pergunta a Sango. Por acaso você tem um número de telefone atualizado dela, ou o do piloto espanhol? (Tô brincando, não vá se sentir ofendido de novo durante três dias.) Não, Inuyasha, eu apenas simpatizei muito com você. Eu gosto de você. Até demais! Muito, muito, muito! E eu simplesmente não posso crer que você não queira me ver. Isso não quer dizer que devemos realmente nos ver. Dever é claro que a gente não deve! Mas eu, por exemplo, gostaria de saber como você é. Explicaria muita coisa. Quero dizer, explicaria por que você escreve do jeito que escreve. Afinal, você se parece com alguém que escreve como você. E eu gostaria pra cacete de saber como é alguém que escreve como você. Isso explicaria tudo. E falando em explicar: eu realmente não quero falar do meu marido aqui. Você pode ficar à vontade para falar de suas mulheres (caso elas não existam apenas na caixa de entrada do e-mail). Eu também posso lhe dar bons conselhos. Eu posso muito bem me colocar no lugar de outra mulher. Afinal, eu sou uma. Mas quanto ao meu marido... bem, eu vou lhe dizer: nós temos uma relação maravilhosa, harmoniosa, com duas crianças (que ele fez o favor de trazer consigo para me poupar de ficar grávida). Nós não temos quaisquer segredos um para o outro. Eu contei para ele que me comunico frequentemente por e-mail com um "simpático psicólogo da linguagem". Ele perguntou: Você tem vontade de conhecê-lo? Eu respondi: Não. Ele replicou: Qual o sentido disso, então? Eu: Nenhum. Ele: Ah, ok. Foi só isso. Ele não quis saber mais nada, nem eu queria dizer mais nada pra ele. E não quero falar mais nada sobre ele. Ok? Então, caro urso-polar, agora é com você: Como você é? Me diga. Por favor!!!

Com carinho, sua Kag

No dia seguinte

Assunto: Teste

Querida Kag, eu também acho difícil resistir ao seu morde e assopra. Quem será mesmo que conta o tempo que a gente gasta aqui com (sem) o outro? E como você consegue nos conciliar com o trabalho e sua família? Suponho que cada um de seus filhos tenha pelo menos três esquilinhos ou algo parecido. Onde você arranja tempo livre para se ocupar de forma tão intensa e meticulosa de ursos-polares desconhecidos? Você quer então saber a todo custo como eu sou? Bem, eu apresento agora uma proposição e lhe sugiro um jogo, admito, maluco, mas assim você irá me conhecer também de outro ângulo. Enfim: aposto que consigo descobrir de imediato, digamos entre vinte mulheres, quem é a verdadeira e única Kag Higurashi. Ao passo que você, entre o mesmo número de homens, não consegue jamais dizer quem é Inuyasha Taisho. Topa fazermos esse teste? Se disser sim, podemos pensar num modo adequado de fazê-lo.

Tenha uma boa manhã,

Inuyasha

50 minutos depois

Re: Mas é claro que vamos fazer isso! Você é realmente um verdadeiro aventureiro! Primeiro minhas dúvidas: não me leve a mal, mas imagino que você não me agrade visualmente falando, querido Inuyasha. E as chances para que isso ocorra são grandes, afinal os homens, em princípio, não me agradam, fora algumas poucas exceções (em geral gays). O contrário… bem, quanto a isso eu prefiro não falar nada agora. Você imagina que possa me reconhecer imediatamente. Então certamente tem uma ideia de como eu pareço. Como foi aquilo mesmo? "42 anos, baixa, esbelta, agitada, cabelos escuros e curtos." Pois agora eu desejo a você bastante sorte no reconhecimento! Então, como vamos fazer? Cada um de nós manda vinte fotos, uma delas de si mesmo?

Lembranças,

Kag

Duas horas mais tarde

Fw: Querida Kag, sugiro que nos encontremos pessoalmente, mas sem que saibamos, ou seja, que permaneçamos confundíveis em meio à massa humana. Poderíamos escolher, por exemplo, o Café Huber, na Ergelstrasse. Você certamente o conhece. Um público bem variado costuma se encontrar lá. Escolhemos um período de duas horas, talvez numa tarde de domingo, e nesse tempo estaremos ambos presentes. No vai e vem constante, e no empurra-empurra do salão, ninguém vai notar que estamos tentando nos descobrir. Quanto a seu possível desapontamento, caso eu não corresponda a suas expectativas visuais, penso eu, nós não temos que revelar o segredo de nossas aparências após nosso encontro. O interessante é se e como cada um acha que reconhece o outro, e não como de fato nós nos parecemos, acho eu. Eu digo novamente: não quero saber como você é. Só quero lhe reconhecer. E isso vou fazer. A propósito, eu não mantenho mais de pé a minha descrição anterior. Para mim, você (apesar do marido e das crianças) ficou mais jovem, senhora Kag Higurashi. E tem mais: gosto muito que você sempre cite meus e-mails antigos. Isso quer dizer que você obviamente os guardou. É lisonjeiro. O que você acha da minha ideia do encontro?

Com carinho,

Inuyasha

40 minutos depois

Re: Querido Inuyasha, temos um problema: se você me reconhecer, saberá como eu sou. Se eu o reconhecer, saberei como é. Mas você não quer saber de jeito algum como eu sou. E eu tenho o receio de que você não vai me agradar. Será esse o fim de nossa interessante história conjunta? Ou colocado de outra maneira: nós queremos de repente nos reconhecer tão rápido para que não tenhamos que escrever mais um para o outro? No caso, o preço da minha curiosidade seria muito alto. Então, melhor permanecer anônima e, até o fim da vida, receber mensagem do urso-polar.

Beijinho,

Kag

35 minutos depois

Fw: Você é muito amável. Não estou preocupado com o nosso encontro. Você não vai me reconhecer. E eu tenho uma noção tão clara de como você é que ela será sem dúvida confirmada. Caso, de fato, a ideia que eu faço de você (contra todas as minhas expectativas) não esteja certa, então eu não vou identificar você. Daí posso manter a imagem que tenho de você. Beijinho pra você também,

Inuyasha

Dez minutos depois

Re: Mestre Inuyasha, me enlouquece você ter tanta certeza de saber como eu sou! Isso é muito impertinente da sua parte. (Pois é, isso também eu tinha de dizer em algum momento.) Mais uma pergunta: quando você faz essa imagem de contornos precisos de mim, Inuyasha, ao menos você gosta do que vê?

Oito minutos depois

Fw: Gostar, gostar, gostar. Isso é realmente tão importante?

Cinco minutos depois

Re: Sim, é importantíssimo, senhor Teólogo da Moral. Ao menos para mim. Eu gosto que: 1) gostem de mim. E: 2) eu gosto de gostar.

Sete minutos depois

Fw: Não basta que: 3) você goste de si mesma?

11 minutos depois

Re: Não, pra isso eu sou muito vaidosa. Além disso, é um pouco mais fácil gostar de si mesmo quando os outros gostam de você. Provavelmente você quer: 4) que gostem de você somente na sua caixa postal, né? Ela é paciente. Para agradá-la não é preciso sequer que você escove seus dentes. A propósito, você ainda tem uns? Ou isso também não é tão importante?

Nove minutos depois

Fw: Finalmente consegui de novo ativar a circulação do sangue de Kag. Para concluir o assunto temporariamente: a imagem que faço de você me agrada extraordinariamente, caso contrário eu não pensaria com tanta frequência nela, querida Kag.

Uma hora depois

Re: Quer dizer que você pensa em mim com frequência? Que bom. Eu também penso em você com frequência, Inuyasha. Talvez a gente realmente não devesse se encontrar. Boa noite!

No dia seguinte

Assunto: Tim-Tim

Olá, Inuyasha, perdoe-me o incômodo tardio. Você por acaso está on-line? Vamos tomar uma taça de vinho tinto? Cada um na sua, naturalmente. Já estou na minha terceira taça, devo lhe dizer. (Caso você nunca tome vinho, então, por favor, minta para mim e diga que gosta de beber vez ou outra uma taça ou uma garrafa, sempre com moderação e sem qualquer motivo concreto. Afinal, eu não suporto dois tipos de homem: os bêbados e os contidos.)

Re: Vou tomar uma quarta taça antes de perder os sentidos. Sua última oportunidade hoje.

Re: Que pena. Você perdeu. Estou pensando em você. Boa noite.

No dia seguinte

Assunto: Que pena

Querida Kag, é realmente uma pena que eu tenha perdido nosso romântico início de madrugada diante dos respectivos computadores. Eu teria imediatamente tomado uma taça com você, a você e contra o anonimato virtual. Também poderia ter sido vinho branco? Eu prefiro o branco ao tinto. Não, por sorte eu não preciso mentir para você: nem fico frequentemente bêbado nem sou sempre um ermitão. Enfim, sou dez vezes mais um bêbado do que um ermitão, dez vezes mais, vinte vezes com mais frequência. Sango, por exemplo (você se lembra?), nunca bebeu uma gota de álcool. Ela não suportava. E o que era pior: ela não suportava qualquer gota de álcool que eu bebia. Entende? Assim são as coisas em relação às quais as pessoas começam a reagir emocionalmente umas contra as outras. Na bebida, são sempre dois ou nenhum. Enfim, como já disse: será eternamente uma pena que eu não tenha podido aceitar sua tentadora oferta ontem à noite. Infelizmente cheguei em casa muito tarde. Fica para a próxima, seu futuro companheiro de bebida online,

Inuyasha

20 minutos depois

Re: Então chegou em casa muito tarde? Inuyasha, Inuyasha, o que você anda aprontando por aí à noite? Diga logo, anuncia-se aí uma sucessora da Sango. Se for o caso, você tem de me informar sobre essa mulher o quanto antes e em detalhes para que eu possa dissuadi-lo. Afinal, minha intuição me diz que você não deveria se envolver com ninguém no momento, você ainda não está pronto para uma nova relação. Além disso, você tem a mim. E a imagem que você faz de mim certamente se aproxima mais de seu ideal de mulher do que uma conhecida qualquer saída de um bar provavelmente forrado de plush vermelho (para solitários professores do tipo urso-polar) às duas da madrugada, ou a que horas quer que fosse. Portanto fique em casa de agora em diante e, vez ou outra, a gente toma uma taça de vinho juntos por volta da meia-noite (sim, pode ser excepcionalmente um vinho branco). E depois você ficará cansado e vai dormir, de modo que no dia seguinte estará novamente em forma para trocar e-mails com sua deusa imaginária Kag Higurashi. Estamos combinados?

Duas horas depois

Fw: Querida, ah, como é agradável poder novamente vivenciar uma verdadeiramente encantadora cena de ciúmes. Já sei: ela foi construída à italiana, é claro, mas gostei dela mesmo assim. No que diz respeito às minhas conhecidas, sugiro que façamos como com seu marido, os dois filhos e seus esquilos. Tudo isso simplesmente não cabe aqui! Aqui existe espaço apenas para nós dois. A gente vai se manter em contato até que um de nós dê o último suspiro ou perca a vontade. Acho que não serei eu.

Tenha um belo dia de primavera,

seu Inuyasha

Dez minutos depois

Re: Acabo de me lembrar de uma coisa: o que foi feito de nosso jogo de encontro e reconhecimento? Você não quer mais? Devo realmente me preocupar com essa mulher de olhos turvos do bar de plush? Então, o que você acha de depois de amanhã, domingo, 25 de março, a partir das três da tarde, no apinhado Café Huber? Vamos em frente!

Kag

20 minutos depois

Fw: Sim, claro, querida Kag. Terei prazer em reconhecê-la. No entanto, minha próxima semana já está planejada. Amanhã de noite vou por três dias para Praga, por motivos bem "particulares", digamos. Mas no domingo seguinte podemos nos entregar, com prazer, a nosso "jogo de reconhecimento".

Um minuto depois

Re: PRAGA COM QUEM???

Dois minutos depois

Fw: Não, Kag, realmente não.

35 minutos depois

Re: Ok, como você quiser (ou não quiser). Mas por favor não vá me voltar com males de amor! Praga é sob medida para males de amor, sobretudo no fim de março: tudo cinza, e a pessoa come bolinhos, em um restaurante revestido com a madeira mais escura do mundo, diante dos olhos de um garçom subempregado depressivo, que desistiu de viver, depois de ter servido Brejnev durante uma visita de Estado, e bebe cerveja maltada. Depois nada mais funciona. Por que você não viaja para Roma? Lá o sol vai ao seu encontro. Pois olha, eu viajaria para Roma com você. A propósito, nosso jogo de reconhecimento vai ter de esperar. A partir de segunda-feira vou esquiar por uma semana. Claro que eu digo para você, meu fiel companheiro de escrita, com quem: com um marido e duas crianças. (E sem esquilos!) Os vizinhos vão cuidar do Jukebox. Jukebox é nosso gato gordo. Ele se parece com uma jukebox, mas só tem um disco dentro. E ele odeia esquiadores, por isso vai ficar em casa.

Eu lhe desejo uma noite maravilhosa.

Kag

Cinco horas depois

Re: Você já está em casa ou ainda no bar forrado de plush?

Boa noite,

Kag

Quatro minutos depois

Fw: Já estou em casa. Esperei até que Kag finalmente me controlasse. Então, agora, posso ir dormir sossegado. Como amanhã cedo eu já estarei na rua, desejo a você e sua família uma agradável semana de esqui.

Boa noite. A gente se lê!

Inuyasha

Três minutos depois

Re: Você está de pijama?

Boa noite, K.

Dois minutos depois

Fw: Você por acaso dorme nua?

Boa noite, I.

Quatro minutos depois

Re: Ei, mestreInuyasha, essa pergunta foi realmente erótica. Não imaginava de maneira nenhuma que você fosse capaz. Para não estragar essa tensão que surgiu de repente entre nós, prefiro me abster de perguntar como é o seu pijama. Portanto, boa noite e boa Praga!

50 segundos depois

Fw: Então, você dorme nua?

Um minuto depois

Re: Ele realmente quer saber! Exclusivamente para seu mundo de fantasia, querido Inuyasha, digamos: depende de quem está ao lado. E agora aproveite Praga a dois!

Kag

Dois minutos depois

Fw: A três! Vou viajar com uma velha amiga e seu namorado. (Agora vou me virar pro outro lado.)

Inuyasha

Cinco dias depois

Sem assunto

Querida Kag, você fica on-line quando vai esquiar?

Lembranças, Inuyasha.

P.S.: Você tinha razão quanto a Praga, meu casal de amigos resolveu se separar. Mas no caso Roma teria sido ainda pior.

Três dias depois

Sem assunto

Querida Kag, você poderia ir voltando aos poucos. Estou sentindo falta de seus e-mails me controlando. No momento, não vejo mais graça em ficar rodando pelos bares da vida forrados de plush.

Um dia depois

Sem assunto

Isso é pra você ter três e-mails meus em sua caixa de entrada.

Com carinho,

Inuyasha(Ontem comprei um pijama especialmente para você — ou pelo menos pensando em você.)

Três horas depois

Fw: Você não escreve mais pra mim?

Duas horas depois

Fw: Você ainda não pode me escrever ou você não quer mais me escrever?

Duas horas e meia depois

Fw: Eu também posso trocar o pijama, se for esse o problema.

40 minutos depois

Re: Ah, Inuyasha, você é tão doce!!! Mas não tem o mínimo sentido isso que estamos fazendo aqui. Isso realmente não é um recorte da vida real. Quanto à minha semana esquiando: ela foi um recorte da vida real. Não foi o melhor recorte de todos, mas um bom recorte, e eu defendo que não gostaria que fosse diferente, e do jeito que está, já está ok. As crianças incomodaram um pouco, mas esse é o dever delas como crianças. Além disso, elas não são minhas, e elas às vezes me recriminam por conta disso. Mas as férias foram ok assim, do jeito que foram. (Eu já disse que foi ok, né?) Inuyasha, sejamos sinceros: eu sou uma fantasia para você, e nela de real existem apenas algumas letras, que através de sua psicologia da linguagem podem ter uma associação sonora. Para você, eu sou como disque-sexo, com a única diferença de não haver sexo ou telefone. Portanto: sexo virtual, porém sem sexo ou fotos para baixar. E para mim você é apenas uma brincadeira, um meio para reaprender como flertar. Em que eu posso treinar aquilo que já não sei fazer: posso experimentar os primeiros passos da aproximação (sem realmente ter de me aproximar). Agora, somos como um casalzinho, que já está no segundo e terceiro passos de uma aproximação, que não pode acontecer. Acho que deveríamos parar aos poucos. Caso contrário, ficaremos próximos do ridículo. Não temos mais 15 anos, você pior do que eu, obviamente, mas não temos, e isso não ajuda. Inuyasha, eu lhe digo ainda uma coisa. Durante essa semana de esqui em família por vezes irritante, mas em geral maravilhosa, tranquila, harmoniosa, engraçada, e, em alguns momentos, até mesmo romântica, pensei constantemente nesse desconhecido urso-polar chamado Inuyasha Taisho. Isso não está certo. É doentio, né? A gente não deveria terminar por aqui? pergunta Kag.

Cinco minutos depois

Re: A propósito: sinto muito por seu casal de amigos. Sim, suponho que Roma teria sido um inferno.

Dois minutos depois

Re: Como ele é, seu pijama novo?

No dia seguinte

Assunto: Encontro

Querida Kag, e se pelo menos levássemos adiante a ideia do nosso "encontro de reconhecimento"? Isso provavelmente faria com que depois fosse bem mais fácil renunciar à "aproximação que não pode se aproximar". Kag, eu simplesmente não vou deixar de pensar em você se deixar de escrever pra você e deixar de esperar mensagens suas. Isso me soa tão banal e pragmático. Vamos fazer nosso teste! O que você me diz?

Com todo o carinho,

Inuyasha

(Não é possível descrever meu pijama novo. Você tem de vê-lo e pegá-lo.)

Uma hora e meia depois

Re: Domingo que vem, das 15h às 17h, no Café Huber?

Lembranças,

Kag

(Inuyasha, Inuyasha, essa história com o pijama de que "tem de vê-lo e pegá-lo", isso foi uma cantada e tanto. Se não tivesse vindo de você, eu teria até dito: uma cantada das mais grosseiras!)

50 minutos depois

Fw: De acordo! Mas a gente não tem de chegar pontualmente às três, nem ir embora do bar exatamente às cinco. E a gente não deve olhar lá dentro procurando demais. E acima de tudo: não podemos ser muito bandeirosos. No calor da descoberta, você não pode vir até mim e dizer: Você é o Inuyasha Taisho, né? Nós realmente temos de nos dar a oportunidade de não nos reconhecermos. Tá?

Oito minutos depois

Re: Tá, tá, tá, não se preocupe, senhor Professor de Linguística, eu não vou chegar tão perto do senhor. Para evitar que tenhamos outras eventuais perturbações, sugiro que até domingo nós nos imponhamos uma proibição do uso de e-mail. Somente depois a gente volta a se escrever, concorda?

40 segundos depois

Fw: Concordo.

30 segundos depois

Re: O que não quer dizer que agora você tenha de encher a cara toda noite no bar de plush.

25 segundos depois

Fw: Claro que não, afinal só tem graça quando Kag Higurashi tira satisfação comigo toda hora, mesmo que ir ao bar não passe de uma suposição.

20 segundos depois

Re: Assim eu fico mais calma. Então até domingo!

30 segundos depois

Fw: Até domingo!

40 segundos depois

Re: E não se esqueça de escovar os dentes!

25 segundos depois

Fw: Kag, você sempre tem que ter a última palavra, não é mesmo?

35 segundos depois

Re: Em geral, sim. Mas se você responder mais uma vez agora, então eu deixo a última palavra pra você.

40 minutos depois

Fw: Posfácio sobre o pijama. Eu escrevi: "Você tem de vê-lo e pegá-lo." Você respondeu que teria sido uma cantada grosseira, caso outra pessoa, que não eu, tivesse dito. Aí eu tenho de fazer uma objeção. Eu exijo que você no futuro considere as minhas cantadas grosseiras como sendo cantadas grosseiras, assim como as dos outros. Deixe- me ser tão grosseiro quanto eu sou. Concretamente: você realmente deveria pegar no meu pijama, a sensação é ótima. Me dê o seu endereço e eu o envio para uma "prova de toque". (Ainda grosseiro?)

Boa noite!

Dois dias depois

Assunto: Disciplina

Meus parabéns, Kag, você é disciplinada! Até depois de amanhã no Café Huber.

Inuyasha

Três dias mais tarde

Sem assunto

Olá, Inuyasha, você foi lá?

Cinco minutos depois

Fw: Mas é claro!

50 segundos depois

Re: Droga! Eu temia isso.

30 segundos depois

Fw: Você temia o quê, Kag?

Dois minutos depois

Re: Todos os homens que poderiam ser Inuyasha Taisho não tinham a mínima condição, falando somente em termos visuais. Sinto muito, isso talvez soe cruel, mas digo assim mesmo. Inuyasha, seja sincero: você realmente esteve ontem entre três e cinco horas no Café Huber? Mas não escondido no banheiro, ou entrincheirado do outro lado do prédio, e sim pra valer, no balcão ou nas mesas, tanto faz se sentado ou de pé, de cócoras ou de joelhos.

Um minuto depois

Fw: Sim, Kag, eu realmente estava lá. Se me permite a pergunta, quais homens poderiam ter sido levados em conta como Inuyasha Taisho?

12 minutos depois

Re: Querido Inuyasha, tenho medo de entrar em detalhes. Simplesmente me diga, por favor: você não era por acaso — ai, como posso dizer isso — aquele senhor com o corpo naturalmente coberto de pelos como uma escova, troncudo, baixinho, com uma camiseta outrora branca, com um pulôver de esqui violeta amarrado na cintura, que estava no balcão, no canto, bebendo um Campari ou algo vermelho do tipo? Se era você, tudo bem, gosto não se discute. Com certeza há muitas mulheres que acham sujeitos assim extremamente interessantes e absolutamente atraentes. E eu não tenho dúvida de que um dia, pro tal sujeito, também haverá uma mulher, digamos, pra toda a vida. Mas eu tenho de confessar algo: pra falar a verdade, você não seria exatamente meu tipo, sinto muito.

18 minutos depois

Fw: Querida Kag, louvo a sua franqueza desarmante e que diz muito de você mesma: mas "não magoar as pessoas" não é um de seus fortes. Está claro que para você a aparência tem realmente a mais alta prioridade. Do jeito que você coloca, parece que sua vida amorosa nas próximas décadas dependeria do quão atraente seu amigo-de-e-mail lhe parece. Por ora, posso lhe acalmar quanto a isso: o monstro peludo à espreita de carne fresca no balcão não corresponde à minha pessoa. Mas continue calmamente com suas descrições: quem mais poderia não ter sido eu? E faço a seguinte pergunta: se eu for um destes que, pra você, não têm "a mínima condição" em "termos visuais", então está terminada nossa troca de e-mails?

13 minutos depois

Re: Querido Inuyasha, não, é claro que podemos continuar nossa troca de e-mails sem constrangimentos. Afinal, você me conhece: eu exagero além da conta. Ontem, no bar, nenhum homem parecia tão interessante quanto você ao me escrever, querido Inuyasha. E era justamente isso que eu temia: nenhum daqueles desenxabidos, com cara-de-domingo-à-tarde, que estavam no Café Huber sequer se aproxima de você e sua forma tímida, atenciosa, e depois cáustica, repentinamente franca, adorável, às vezes até mesmo rudimentarmente sensual, de qualquer jeito incrivelmente sensível, de vir ao meu encontro, por escrito.

Cinco minutos depois

Fw: Nenhunzinho mesmo? Talvez você não tenha reparado direito.

Oito minutos depois

Re: Querido Inuyasha, você está me dando novas forças. Mas infelizmente parece que não reparei justo em quem eu não deveria ter deixado de reparar. Os dois malucos com piercing, que estavam sentados na terceira mesa à esquerda, eu achei realmente uns docinhos. Mas eles não tinham mais do que 20 anos. Tinha um sujeito bem interessante, talvez o único mesmo, de pé no balcão, à direita, de mãozinhas dadas com uma modelo loura de pernas compridas, meio vampe, meio angelical. Ele queria olhar somente pra ela e certamente não viu ninguém além dela. Tinha ainda um campeão europeu de remo com corpo em formato de triângulo invertido, simpático mesmo, mas infelizmente com um sorriso débil — não, Inuyasha, esse não era você! E o que mais? Jardineiros domésticos, acionistas de cervejarias que ficam colecionando bolacha pra chope, carregadores de valise enfiados em paletós de Crisma, fregueses regulares do mercado de materiais de construção, cujos dedos já se transformaram em chaves de fenda. Alunos de curso de piloto de planador com olhares sonhadores infantis, ou seja, eternos meninos. Mas nenhum sujeito carismático de um lado ou de outro. Daí minha pergunta receosa: quem deles era meu psicólogo da linguagem? Quem era o meu Inuyasha Taisho? Será que o perdi nessa fatídica tarde de domingo no Café Huber?

Uma hora e meia depois

Fw: Sem querer ser pretensioso, querida Kag: eu sabia que você não iria me reconhecer!

40 segundos depois

Re: INUYASHA, QUEM ERA VOCÊ? DIGA JÁ!

Um minuto depois

Fw: Vamos continuar a conversar amanhã, agora eu tenho um compromisso, querida Kag. E agradeça a Deus Nosso Senhor que você já encontrou um homem para o resto da sua vida. A propósito, um comentário tímido: nós não falamos em momento algum sobre você, percebeu? Quem era afinal Kag Higurashi? Falamos mais sobre isso amanhã.

Com todo o carinho,

Inuyasha

20 segundos depois

Re: O quê? Agora você me deixa assim sozinha? Inuyasha, você não pode fazer isso comigo! Escreva! Agora mesmo! Por favor!

Uma hora e meia depois

Re: Ele realmente não vai escrever. Talvez fosse ele mesmo o tal monstro peludo...


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