St. Louis, Estados Unidos.

- Que droga! Ninguém vai atender essa maldita porta?!

Somente após remover os fones de ouvido Joshua Lambert se lembrou de que estava sozinho em casa. Seus pais estavam no trabalho e sua irmã mais nova na faculdade. Havia dito que iria a uma entrevista de emprego naquela manhã, mas a verdade era que estava aproveitando um pouco do ócio antes de se lançar verdadeiramente ao mercado de trabalho. Havia acabado de se formar, caramba! Merecia um descanso!

O rapaz de 26 anos se levantou preguiçosamente da cama onde estivera digitando a atualização de uma fic de seu perfil normal do Santuário das Fanfics (“G. I. Josh”) e foi atender descalço, mesmo. Normalmente nem se daria ao trabalho, mas estava esperando por uma compra que havia feito na Internet. Ergueu uma sobrancelha ao ver o homem de cabelos curtos e arrepiados o encarando com um sorriso estranho.

- Não fazemos caridade, tenha um bom dia.

- Você é o Duque Von Rip, certo?

Joshua engoliu em seco.

- Por que quer saber?

- Não está me reconhecendo, cara? – O sorriso do desconhecido aumentou.

- Deveria...? – Joshua buscou a maçaneta com a mão. O outro soltou uma risada sem muita alegria... uma risada sádica que fez o rapaz estremecer.

- Prazer em conhecê-lo, caro duque. Sou o RealDeathMask69... o verdadeiro Máscara da Morte. E vim tomar um champanhe com você...

 

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Londrina, Brasil.

Eduardo Nogueira, 19 anos, cursava o primeiro ano de Artes Visuais. Naquele momento, porém, mal se lembrava da faculdade... aproveitava o feriado e o apartamento vazio (seus colegas iriam passar o feriado prolongado com suas famílias em suas cidades) para se dedicar a seu passatempo favorito: a Internet. Já eram três da manhã, mas não se importava – não teria de acordar cedo na manhã seguinte, mesmo...

Não acredito que perdi 5 minutos da minha vida vendo essa bosta de vídeo. Que lixo!

Vocês não tem nenhuma notícia importante pra postar, não? Quanta merda!

Ah, o supremo prazer da “trollagem”... Eduardo se espreguiçou na cadeira, pensando em talvez jogar um pouco online.

- Depois preciso ver se já dá pra baixar aquele filme...

- Qual filme?

Eduardo quase caiu da cadeira ao ouvir uma voz curiosa se manifestar no quarto escuro. Virou-se, dando de cara com um homem sentado despreocupadamente sobre sua cama, o sorriso iluminado pela luz do monitor.

- Como você entrou aqui? Quem é você?

- Como se fosse impossível entrar em um apartamento no décimo andar pela janela, né?

Eduardo ajeitou os óculos sem saber o que responder.

- Olha, cara, pode levar o que quiser, mas fica de boa, tá? Não vou reagir nem nada...

- Ei, não vim limpar seu apê! Você é o “Sua mãe”, certo? Gosta de comentar fics de Saint Seiya, pelo que sei...

- Cara, nem me lembro dos apelidos que eu uso pra comentar fic. Você escreve fics? Por que tá me procurando?

- Já vi que nem deve se lembrar do “RealDeathMask69”, né? Tudo bem, nem precisa. Bom, já te conheci. Só falta pegar o que vim buscar...

- E... e o que seria? – Eduardo se encolheu ao ver o homem se levantar com um brilho sinistro nos olhos.

- Ora... sua cabeça, o que mais seria?

Eduardo sequer teve tempo de gritar.
 

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Salisbury, Inglaterra.

A esguia loira cavalgava pelas terras de sua família aproveitando a temperatura amena daquela manhã. Havia completado 23 anos na semana anterior e, como presente, ganhara aquele belíssimo puro-sangue. Certamente conseguiria um bom resultado nas próximas provas de equitação.

De forma repentina, o antes obediente cavalo empinou, fazendo Alice Smith quase cair da montaria. Estranhando o comportamento assustado do animal, a jovem olhou mais à frente da trilha, percebendo um vulto que se aproximava através da neblina matinal até que o rosto ficasse visível.

- Esta é uma propriedade particular. Quem é você?

O homem sorriu para ela.

- Tão shakete que até se parece com ele... prazer, milady - Fez uma reverência cínica, vendo a loira empalidecer.

- Do que está falando...?

- Ora, você é a caríssima Lady Virgo Shaka, não é? Não reconhece seu grande amigo? Até cedi uma fic minha pra você ripar com seus amiguinhos... RealDeathMask69, a seu dispor!

- V-você é louco... – Tentou instigar seu cavalo a se mover, mas o animal parecia paralisado de terror.

O homem sorriu sádico, aproximando-se de Alice e a arrancando do cavalo pelos longos cabelos.

- Não sei por que todo esse espanto. Eu realmente gosto de cabeças loiras...
 

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Jack the Reaper… confere. “Eu”… confere. Kanonic Hero… (o sorriso de Máscara se alargou ao se lembrar do choque de um de seus ripadores) confere.

Após duas semanas intensas e bastante sangrentas, Máscara da Morte estava finalmente de volta ao Santuário. A lista com os nomes, apelidos e endereços dos ripadores, dos comentaristas da ripagem e dos flammers de sua fic estava totalmente riscada. Não havia imaginado que viajaria por tantos lugares diferentes – Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, Itália, Japão, África do Sul, Turquia... só no Brasil foram vinte vítimas.

Não podia simplesmente cortar as cabeças e abandonar os corpos para trás, pois poderia facilmente despertar suspeitas no Santuário – que já estava mais do que familiarizado com seu modus operandi. Pródigo em limpar cenas de crimes (quando queria, é claro), fazia parecer com que suas vítimas tivessem apenas desaparecido. Uma vantagem de ter viajado tanto é que seria impossível conectar tantos desaparecimentos em locais tão diferentes do planeta.

Só não pôde deixar as cabeças para trás. Eram seus troféis (troféus, uma voz irritante em sua cabeça o corrigiu) na guerra por sua reputação de cavaleiro sanguinário. Como não poderia mantê-las no Santuário, guardou-as em uma caverna isolada a alguns quilômetros dali, onde poderia visitá-las de vez em quando. Por sinal, aquele esconderijo tinha sido um excelente achado... quem sabe não poderia começar uma nova coleção?

Enquanto passava pelo templo de Áries, não conseguiu evitar uma risadinha baixa. Havia cogitado trazer uma cabeça consigo e deixá-la de presente a Kiki (que, diferentemente do imaginário civil, já era um adolescente de 14 anos). Aquela ripagem infame até tinha algumas coisas interessantes...

A única frustração de Máscara foi não ter conseguido rastrear dois integrantes do grupo de ripadores. O Centro de Inteligência do Santuário era o mais avançado do mundo, sem dúvidas – coletar dados no Pentágono americano era brincadeira de criança – mas aparentemente não era infalível. Talvez os dois sobreviventes fossem hackers particularmente escorregadios. Pena. Talvez um dia...

Não aproveitou o poder cibernético do Centro de Inteligência para apagar a ripagem, tampouco os comentários ofensivos de sua fic. Achou melhor deixar por ali, à espera de algum incauto que resolvesse zoar também. Afinal, outras folgas certamente viriam, e ele adoraria caçar novamente. Enquanto isso, continuaria postando suas histórias. Sabia que a M.E.R.D.A. não publicaria mais nada, mas adoraria conhecer outros grupos de ripagem.

Estava começando a gostar daquele negócio de fanfic.

FIM?