Fazia quase um mês desde que morri. E todo dia tinha que ver Kasamatsu-senpai chorar por minha causa. Ter que vê-lo chorar até dormir era doloroso demais, mas mais doloroso ainda seria ficar longe dele. Ele era meu tudo, minha força, minha inspiração, minha vontade. E eu era a dele também. Agora sem mim, eu não sabia o que seria dele.

Acontece que morri atropelado enquanto andava com Kasamatsu. Era um cara bêbado, ele perdeu o controle do carro e me atingiu. Tentaram me levar até o hospital, mas morri no caminho. Algumas horas depois, eu voltei; até que percebi que ninguém podia me ver ou falar comigo. Acho que virei um fantasma, espírito ou algo assim.

A partir daquele dia, passei a assombrar Kasamatsu.

Na semana de minha morte, ele não foi à escola. Ficava o tempo inteiro em casa, deitado na cama, segurando minha camisa do uniforme de basquete e chorando em cima dela. Tinha pesadelos e acordava gritando. Mal comia. E eu lá, sem poder fazer nada, somente seguindo cada passo dele, envolvendo-o com meus braços mesmo sabendo que ele não podia sentir. Mas tudo bem, de algum jeito eu sentia que ele sabia que eu estava lá.

Quando ele voltou a ir para a escola, não ficava mais tão triste. Pelo menos o resto do pessoal conseguia animá-lo. E eu sempre estava lá, vendo-o estudar e segurar as lágrimas em plena aula, arremessar a bola na cesta e errar por causa das mãos tremendo. Eu sempre o abraçava e sempre estava lá para ele, queria muito acabar com essa dor dele e vê-lo sorrir de novo. O que antes já era raro, agora era impossível, Kasamatsu não sorrira nenhuma vez desde que morri.

Depois de mais algumas semanas, ele já não chorava mais. A vida dele continuou. Doía em mim saber que ele estava conseguindo me superar tão depressa, mas ao mesmo tempo me deixava feliz. Eu o amava tanto, me surpreendia saber que ele não conseguia sentir. Mas tudo bem, se ele estava feliz, eu estava feliz. Moriyama conseguia animar um pouco o capitão, mas não o suficiente. Quando chegava em casa, quando ficava sozinho de novo, ele desabava. As pernas perdiam a força e ele caía de joelhos, enterrando o rosto nas mãos e suspirando meu nome. Isso doía tanto. Eu simplesmente abaixava e o apertava forte contra mim. Era doloroso demais.

Aquele dia estava ensolarado e calor. Fazia exatamente um mês desde que eu tinha morrido. Kasamatsu foi até o cemitério e eu o acompanhei. Ele parou na frente do meu túmulo e ficou olhando a lápide com meu nome por uma hora. Eu não sabia se era porque ele estava lá, mas eu conseguia sentir os pensamentos dele. Eram tristes e pesados, um ou outro alegre, eu não sabia explicar direito o que ele sentia. Depois de um tempo, ele foi para casa.

Fechou a porta do quarto e sentou na cama. Sentei ao lado dele. Ele esticou a mão e pegou o porta-retratos de cima de sua mesa de cabeceira. Era uma foto de nós dois, no dia do aniversário dele. Kasamatsu olhou a foto por uns dez minutos.

–Kise...

Os dedos dele apertaram o porta-retratos. Ele mordeu o lábio com força.

–Kise...

Uma de suas mãos tapou seus olhos enquanto lágrimas escorriam rosto abaixo. Apressei-me para limpá-las, mas elas passaram reto pelos meus dedos.

–Kise, eu... Eu... Eu sinto tanto a sua falta. - ele soluçou e mordeu mais forte o lábio - Kise...

–Senpai... - sussurrei, afagando a cabeça dele.

–Já faz um mês. Um mês desde que você morreu na minha frente - mais lágrimas escapavam - E eu ainda não superei isso. Como eu sou fraco - e riu - Kise... Meu Deus, você não sabe o quanto eu sinto sua falta. Sinto falta de te ver no vestiário, de te ver jogando, de ouvir suas piadas idiotas, de te ver me provocando, de te abraçar e beijar, de ouvir você dizendo que me ama... - a mão dele escorregou pelo rosto e caiu na cama. Os olhos marejados dele fizeram meu peito se apertar.

–Eu te amo, senpai.

–Kise... Onde será que você está? - ele olhou para cima.

–Eu estou bem aqui, senpai. Olhe pra mim! Olhe pra mim!

–Será que está feliz? Bom, eu não estou muito feliz por aqui. Tá sendo bem difícil, sabe? - ele riu de novo, e de novo começou a chorar - Mas tudo bem, né? O Moriyama diz que tudo sempre passa, seja tristeza, seja amor... Tomara que um dia essa dor passe, né? - seu rosto se contorceu - Kise...

–Eu estou aqui, olhe pra mim, por favor.

–Será que eu consegui expressar bem o suficiente o quanto eu te amo?

–Sim, senpai!

–Onde quer que você esteja... - ele abaixou os olhos e olhou para a foto, passando o dedo em cima de mim - Eu te amo. Eu te amo muito, Kise Ryouta.

–Eu também te amo, Kasamatsu.

Ele deitou na cama, ainda olhando a foto. Deitei ao lado dele. Eu não conseguia deixar de olhar seu rosto.

–Kise... Pode parecer estranho - ele sorriu para a foto - Mas eu sei que você está por aqui. Eu sei que você está perto. Kise... Se você pode me ouvir - ele olhou ao redor, passando os olhos pelos meus - Eu te amo, e sinto muito sua falta. Pelo menos o que me consola é saber que você está me vigiando.

–Claro, senpai - sorri, e afaguei sua bochecha - Eu estou tomando conta de você.