Make Me Wanna Die escrita por Amy K Rose


Capítulo 1
Capítulo 1




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Faltavam menos de cinco minutos para a meia-noite de sábado. Ela estava na velha casa abandonada em que ela morava desde algum tempo. Ela tinha cabelos castanhos que insistiam em cair em seus olhos, pele muito pálida e seus olhos tinham um tom de vermelho escarlate - algo que ela chegou a odiar por um tempo, pois sempre fez todos se afastarem dela, assustados.

Seu aniversário de dezoito anos havia sido hoje. Como há muito tempo, havia o passado sozinha. Estava na varanda do último andar da casa, olhando para o céu. O chão rangeu ao ela entrar de volta na casa. Começava a temer que aquele lugar pudesse desabar à qualquer momento.

Entrou no quarto que considerava seu e abriu o guarda-roupa, olhando as antigas roupas que o antigo dono havia deixado lá. Muitos vestidos sem mangas, de saias longas esvoaçantes e corsets - as únicas roupas que ela usava desde que fora embora do orfanato.

Pegou um "novo" vestido que algum dia devia ter sido branco e um corset da mesma cor. Após trocar de roupa, viu que aquele vestido era um dos únicos que ainda estava em seu modo original. Então rasgou-o acima do joelho, como fazia com todos os outros vestidos. Pôs o corset por cima do vestido e calçou seu allstar que tinha pelo menos uns três anos.

Olhou sua imagem refletida em um grande espelho quebrado. Seu cabelo desfiado, passando um pouco da altura dos ombros e que ela mesma cortava, estava bagunçado, mas ela nem se importava em pentear-se. Passou um batom vermelho que fazia sua pele parecer ainda mais branca. Ela parecia um zumbi, ou talvez fosse um demônio, como muitos haviam dito quando ela ainda ia à escola.

Ah, os tempos de escola. Os tempos do orfanato - simplesmente horríveis.

Seu nome era Anellise Nevermore, mas quando morava com seus pais quando era criança, seus amigos sempre à chamaram de Anne - a junção das duas primeiras letras de cada um de seus nomes. Não consideravam seus olhos uma coisa estranha e muitos até achavam legal por ser algo diferente. O problema era que quando comentavam isso com seus pais, mandavam parar de falar com Anne. Portanto Anne nunca conseguia ter um mesmo amigo por muito tempo. O único amigo que ela teve por pelo menos mais de um ano foi Matt - aliás, foi seu melhor amigo por bastante tempo. E isso por que os pais de Matt achavam que seu filho era louco. Quando ele começou a falar que tinha uma amiga de olhos vermelhos, acharam que era uma amiga imaginária, pois nunca a conheceram pessoalmente.

Quando Anne tinha quase seis anos, seus pais sofreram um acidente e faleceram. Sem nenhum parente próximo que pudesse adotá-la, foi parar em um orfanato. Até então ela era uma criança considerada até "normal" pelas outras, mas a partir daí, as coisas mudaram.

Foi levada ao orfanato Nancy's House, que era apenas para crianças de até dez anos. Lá, absolutamente todas as crianças tinham medo dela. Só por causa de seus olhos. Os professores e outros funcionários do colégio não se cansavam de perguntar para Anne o motivo de seus olhos serem assim. "Eu não sei, eu nasci assim", ela dizia.

Não podia negar que sentia muito a falta de Matt, pois não tinha amigos na Nancy's House. Quando pegava alguma de suas bonecas para brincar com as outras meninas, elas a olhavam de modo assustado, como se pensassem que Anne ia matá-las. Desistindo de ter amigos, ela já nem ia mais brincar no playground do orfanato fora do horário das aulas. Também não ia nos passeios de fim de semana. Passou a preferir ficar sozinha em seu quarto do que ter que encarar aquelas dezenas de olhares assustados. Aliás, cada quarto geralmente era dividido por até três crianças, mas Anne era a única que não tinha colegas de quarto. Mas ela até preferia assim, pois tinha seu quarto só para si.

Como já sabia ler, de vez em quando saía para pegar livros na biblioteca da escola que ficava no orfanato. Passava o dia lendo. Inicialmente lia as mesmas histórias que as outras crianças, mas uma vez que achou as mesmas muito tediosas, quis ler livros de "pessoas mais velhas", como ela chamava na época. Em certo ponto as bibliotecárias lhe falavam que esses livros eram muito "avançados" para ela, mas de qualquer jeito não podiam impedi-la de pegá-los. Aos nove anos, já havia lido diversos livros que envolviam assassinatos e crimes.

Ficou um pouco triste ao completar dez anos e ter que ser transferida de orfanato. Já havia se acostumado à viver na Nancy's House e até gostava de lá.

Foi levada de carro à onde passaria a viver por um tempo: um local que chamavam de "Instituição Groupius". O pior orfanato de todos!

Um prédio velho com goteiras onde não havia uma única parede em que a tinta não estivesse descascando. A segurança de lá era tão "boa" que Anne nem chegava a guardar todas suas coisas em seu quarto - sempre guardava seus pertences mais valiosos em uma mochila preta que ela sempre tinha consigo. Cada quarto era dividido por quatro pessoas, e lá já havia ocorrido tantos assaltos que, de noite, sempre havia pelo menos uma pessoa acordada em cada quarto. Viu que havia um tipo de espírito de união em busca da "sobrevivência". Só para piorar, a Instituição Groupius não tinha uma escola como na Nancy's House. Todos tinham que pegar ônibus para ir para a escola, e o Groupius ficava no fim do mundo! Saíam mais ou menos uma hora antes da aula começar.

Logo no primeiro dia que Anne chegou, começaram a falar sobre ela. Mas jamais com ela.

- Ei, aquela não é a garota nova? - alguém sussurrou ao vê-la.

- Sim! - outra criança respondeu.

- Ela parece ser tão fofinha. Por que ainda não foi adotada?

- Está louca?! Não viu os olhos vermelhos dela?! Dizem que ela fez um pacto com um demônio e por isso tem os olhos assim. - uma criança disse sem ao menos ter ouvido esse boato, só tinha inventado alguma coisa para isso parecer mais emocionante.

Essa história de "pacto" acabou se espalhando, além de outras coisas que inventavam. Em poucos dias, ninguém ousava se aproximar mais de dois metros perto de Anne. Em Nancy's House, os professores até tentavam encorajar as crianças a fazer amizade com Anne, mas no Groupius ninguém nem se importava.

E a escola que eles iam também era tão "organizada" que Anne passou de ano sem ter assistido nem metade das aulas. Havia uma pequena biblioteca perto do orfanato em que ela sempre ia pegar livros, mas acabou fechando um ano depois. Anne acabou tendo que aprender a roubar livros nas pequenas lojas que haviam por lá.

Ela acabou aprendendo a se divertir com o medo que os outros tinham dela. Aparecia de noite e, ao dizer ou até sussurrar algo como "irei roubar sua alma enquanto estiver dormindo", qualquer um saía correndo apavorado. Todos realmente tinham passado à acreditar que Anne tinha alguma ligação com o mal.

Aos doze anos, começou a usar isso à seu favor, sendo para "pegar emprestado" livros (sim, ela era obcecada por livros!), maquiagem, jogos, etc., ou apenas para se divertir um pouco assustando algumas crianças.

Aos treze anos, novamente teve de "se mudar". "Já estava na hora de eu sair daqui!" foi a primeira coisa que ela pensou.

Isso foi quando, em um dia qualquer, passaram pelos corredores mandando todos juntarem todos os seus pertences para ir embora. O lugar seria fechado por falta de condições. Anne lembra-se perfeitamente de guardar suas duas facas na mochila, juntamente com algumas roupas. Também guardou as maquiagens e jogos que havia obtido dos outros. Levou todos seus livros em uma bolsa separada, e ainda teve que levar alguns na mão.

O serviço social determinou para onde cada um iria. Alguns ônibus foram buscá-los. Anne ficaria em um lugar chamado Helene D'Arcy Chateau. Quando lhe falaram o nome, ela já imaginou uma casa rosa cheia de frescuras e coisas fofinhas, mas ao chegar lá viu que até parecia uma escola normal. Era a única do Groupius que foi para o Helene D'Arcy. Uma assistente social lhe acompanhou até a recepção, explicando que sua guarda havia sido passada para sua "tia Carolyn", que havia a inscrito naquele colégio. Como se ela ao menos soubesse quem era essa Carolyn!

Anne estava usando óculos escuros, então ninguém podia reparar que seus olhos eram vermelhos como sangue. Arrumou seu quarto novo. Como era sábado, os corredores estavam praticamente vazios. Uma garota, super simpática, da mesma turma em que Anne ficaria (e que se apresentou como "líder da turma") lhe mostrou o colégio e sugeriu que fossem amigas. Também lhe apresentou seus amigos. Anne conversou e riu com eles como não fazia há muito tempo.

Mas é claro que ela, esse tempo todo, ainda não havia tirado seus óculos escuros.

Lembrando do Helene D'Arcy Chateou, Anne olhou seu reflexo no espelho novamente. Pegou a faca ensanguentada e por um momento comparou isso à cor de seus olhos. O escuro não lhe permitia ver muito bem, mas sabia que eram cores iguais. Uma cor também semelhante à pedra do anel que havia roubado de sua última vítima há algumas horas. "Sua última vítima". Então matar havia se tornado uma coisa comum para ela. Talvez ela realmente estivesse se tornando no que sempre disseram que ela seria: um anjo da morte.

Pegou o celular que estava em cima da penteadeira empoeirada (e o que é que não estava empoeirado naquela casa?). Um aparelho telefônico que não funcionava há bastante tempo, mas ela se recusava a livrar-se do celular.

Pois era a única coisa que havia restado... dele.


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